terça-feira, 30 de junho de 2009

Produção Moderna de biocombustíveis: Visão Perspectiva IV

A Pirólise Rápida para a Obtenção de Bio-Óleo
Nas três últimas décadas, o uso potencial da biomassa como fonte de combustíveis líquidos, produtos químicos e materiais, deu um novo impulso ao uso conceitual da pirólise. O conceito de pirólise rápida para a produção de líquidos orgânicos desperta cada vez mais o interesse, junto às pesquisa e às aplicações comerciais dos diversos produtos obtidos a partir do bio-óleo, seu principal produto, os quais se desenvolvem rapidamente, principalmente na América do Norte e na Europa. A pirólise rápida é um conceito advindo da necessidade de se produzir insumos líquidos energéticos e não energéticos.
Através do controle dos principais parâmetros do processo tais como: taxa de aquecimento, temperatura de operação do reator, tempo de residência das fases dentro do reator, tempo de aquecimento das partículas de biomassa e da pressão de operação, dentre outras, é possível a condução do processo visando o maior rendimento gravimétrico da fase líquida.
As principais características do processo de pirólise rápida são: curtos tempos de aquecimento das partículas e de residência para os vapores que se formam dentro do reator, elevadas taxas de aquecimento, elevados coeficientes de transferência de calor e massa, e temperaturas moderadas da fonte de aquecimento. Em geral, o tempo de residência dos vapores no reator deve ser inferior a 2-5 segundos. Todas as tecnologias de pirólise em desenvolvimento no mundo aplicam estes princípios básicos visando maximizar o rendimento gravimétrico de bio-óleo. A produção de um derivativo líquido que poderia ser facilmente armazenado e transportado é, com certeza, a principal vantagem potencial da pirólise rápida em comparação aos outros processos de conversão termoquímica da biomassa.
O líquido da pirólise da biomassa produzido desta forma (o bio-óleo) é um “alcatrão” primário. Ele é formado a partir de sucessivas reações de decomposição, craqueamento, condensação e polimerização, e tem um elevado teor de água na sua composição (água procedente do próprio insumo e água de formação). Reações secundárias entre as fases dentro do reator de pirólise são evitadas procurando aumentar o teor de líquido na corrente trifásica. A obtenção do bio-óleo deve ser realizada fazendo-se um rápido resfriamento dos vapores. Porém, os aerossóis formados durante o próprio processo de resfriamento dos vapores da pirólise rápida são de difícil separação, necessitando-se de projetos específicos a partir da combinação de conceitos físicos, tais como, condensação, impacto, coalescência e separação nas fases gás-líquido, além da necessidade de se conhecer as propriedades químicas desta mistura líquida.
Nos últimos 20 anos têm sido realizadas muitas pesquisas e testes em reatores pilotos e demonstrativos, baseados em diversos conceitos tecnológicos de pirólise rápida. Alguns desses reatores ainda estão em operação, produzindo finos de carvão vegetal e bio-óleo. Porém, até hoje, nem o próprio processo nem a composição exata do bio-óleo são muito conhecidos. Isto porque as reações termoquímicas que ocorrem durante o processo são muito complexas Estudam-se os principais aspectos fenomenológicos, tecnológicos, industriais, econômicos e sócio-ambientais, na sua estreita relação com a qualidade requerida do produto para uma dada aplicação comercial.
Um dos principais objetivos na atualidade é o desenvolvimento em escala industrial de plantas para a produção de bio-óleo visando-se sua aplicação como combustível para a produção de entalpia e energia elétrica, através do uso de caldeiras, fornos e sistemas de geração estacionária.

domingo, 28 de junho de 2009

Produção Moderna de biocombustíveis: Visão Perspectiva III

A Pirólise de Elevado Rendimento Gravimétrico da Fase Sólida
Um rendimento de carvão vegetal entre 38 e 48% foi obtido no Hawaii Natural Energy Institute-HNEI, da Universidade do Havaí. O processo baseia-se na pirólise sob pressão elevada, com taxas de aquecimento e temperatura final controladas, em um reator de leito fixo. A mistura de biomassa age como um catalisador na reação de pirólise, aumentando o rendimento de carvão vegetal. Devido à alta pressão, as fases de vapor da pirólise (H2O e líquidos da pirólise) estão em contato efetivo com as fases sólidas, maximizando a formação de carvão vegetal. O poder calorífico, teor de carbono fixo e de voláteis no carvão foram semelhantes a outros carvões comercializados.
O Processo Contínuo de Produção de Carvão Vegetal e de Melhoramento Energético da Biomassa
A empresa ACESITA desenvolveu um processo contínuo de pirólise para a produção de carvão vegetal com recuperação de líquidos que esteve em operação no final da década de 80 e início dos anos 90. O conceito deste tipo de forno concebia a recirculação dos gases da pirólise para queima e aproveitamento da sua entalpia sensível. A tecnologia previa também a separação e recuperação dos líquidos da pirólise. Os rendimentos médios alcançados em carvão vegetal e alcatrão foram de 33 e 11% respectivamente. A planta, com capacidade de processamento de 0,5 tonh-1 de madeira, produzia em torno de 0,2 tonh-1 de carvão vegetal. Esta unidade se encontra atualmente desativada.
Nos últimos anos tem-se verificado também uma evolução em relação ao conceito de processo de torrefação. A torrefação é considerada um processo de pré-pirólise durante a qual são liberadas desde a partícula de biomassa durante seu aquecimento a taxas controladas, somente água e algumas das substâncias voláteis mais leves (menor peso molecular). Este procedimento tecnológico apresenta um potencial muito promissor quando se trata do desenvolvimento de novos materiais que possam competir no mercado dos energéticos densos de biomassa, como é o caso da lenha e o carvão vegetal de lenha.
A principal vantagem deste conceito é que a biomassa, previamente densificada, pode alcançar melhores propriedades energéticas através do tratamento termoquímico da sua estrutura morfológica, melhorando-se as suas propriedades físico-químicas. Trate-se, por outro lado, de uma alternativa tecnológica que tende a reduzir os negativos impactos ambientais produzidos pelas particulares atividades predatórias relacionadas com a produção de carvão vegetal de lenha.
Embora tem-se demonstrado que a tecnologia de torrefação de resíduos densificados é economicamente viável devido, principalmente, ao baixo custo dos resíduos de biomassa em estado polidisperso (de 9 a 20 R$/ton em função da distância de transporte), as expectativas para a tecnologia, num horizonte de curto prazo (próximos 10 anos), estão sustentadas na possibilidade de redução dos custos envolvidos nos processos intermediários, tratando-se só da utilização destes resíduos. Estes processos consideram a preparação da matéria-prima e a sua densificação. Para se ter uma idéia da importância dos processos de preparo da matéria-prima e sua densificação, são relevantes dizer que uma unidade de fabricação de briquetes de alta densidade (BAD) de 500 kgh-1 de capacidade de processamento de resíduos requer uma potência nominal instalada da ordem de 105 kW.
No mundo hoje, existem poucas opções tecnológicas conhecidas de equipamentos para a densificação de biomassa polidispersa. Por outro lado, estes equipamentos de densificação, pelo seu elevado preço no mercado, podem tornar inviável o projeto de uma unidade de torrefação de briquetes de biomassa.
Estimativas realizadas a partir de estudos técnico-econômicos e de viabilidade desta tecnologia mostram custos unitários de produção na fabricação de BAD em torno de US$38/ton. de madeira torrefada ou R$120/ton. de madeira torrefada (câmbio de US$1=R$3,14). O material torrificado tem em torno de 40% de carbono fixo e PCS-Poder Calorífico Superior variando entre 21e 24 MJkg-1. O processo demonstrou ter uma eficiência global de conversão de cerca de 90% [3].
Dadas as atuais restrições ambientais impostas aos recursos dendroenergéticos e as necessidades de melhoramentos efetivos dos processos de pirólise, principalmente na atual indústria mundial de fabricação de carvão vegetal a partir de lenha, a tendência para os próximos 10 a 15 anos é a modernização do parque tecnológico carvoeiro mediante a utilização de tecnologias modernas, mais eficientes e avançadas de produção de carvão vegetal, com sistemas integrados de recuperação de alcatrão e de produção de insumos energéticos e químicos.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Produção Moderna de biocombustíveis: Visão Perspectiva II

A Pirólise e o Processo Convencional: Conceituação
A pirólise pode ser definida como a degradação térmica de qualquer material orgânico na ausência parcial ou total de um agente oxidante, ou até mesmo, em um ambiente com uma concentração de oxigênio capaz de evitar a gaseificação intensiva do material orgânico. A pirólise geralmente ocorre a uma temperatura que varia desde os 400°C até o início do regime de gaseificação intensiva.
Os gases, líquidos e sólidos são gerados em proporções diferentes, dependendo dos parâmetros considerados como, por exemplo, a temperatura final do processo, pressão de operação do reator, o tempo de residência das fases sólidas, líquidas e gasosas dentro do reator, o tempo de aquecimento e a taxa de aquecimento das partículas de biomassa, o ambiente gasoso e as propriedades iniciais da biomassa. O principal objetivo no processo de pirólise é a obtenção de produtos com densidade energética mais alta e melhores propriedades do que àquelas da biomassa inicial. O processo de pirólise mais usado é a carbonização para a produção de carvão vegetal de madeira para a produção de energia.
No Brasil, maior produtor mundial de carvão vegetal do mundo, esse produto é usado, principalmente, na indústria como agente redutor e fonte de energia na fabricação de ferro-gusa e aço. Quantidades bem menores de carvão vegetal são usadas no setor residencial para a cocção de alimentos, principalmente em regiões rurais, além de aquelas comercializadas como carvão vegetal para churrasco.
No Brasil, a Vallourec & Mannesmann Tubes do Brasil (V&MT) desenvolveu um forno retangular de alta capacidade para a fabricação de carvão vegetal a partir de madeira e recuperação do alcatrão. Esse forno opera para o fornecimento de carvão vegetal para as empresas produtoras de ferro-gusa, substituindo os fornos redondos tradicionais usados nas suas antigas instalações. O forno aumenta o rendimento da carbonização, a utilização de produtos derivados, a produtividade, a qualidade do carvão vegetal, além de melhorar as condições ambientais e ocupacionais. A reciclagem de produtos (gases) é usada como fonte de energia durante a carbonização e para iniciar novos ciclos de carbonização.
O alcatrão é recuperado e armazenado para uso posterior para a produção de energia ou para a obtenção de produtos mais valiosos por meio da sua destilação. A empresa BIOCARBO INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. agrega valor a este subproduto da pirólise por meio da sua destilação fracionada, embora com rendimentos muito baixos de aproximadamente 50% (em massa), obtendo-se produtos químicos que já têm mercado na Europa e os Estados Unidos.
A partir da década de 90 começaram a ser desenvolvidas tecnologias e equipamentos de pirólise mais eficientes visando a sua utilização na produção de carvão vegetal. O principal objetivo destes empreendimentos tecnológicos foi o de aumentar o rendimento gravimétrico da fase sólida, diminuir o tempo de fabricação do carvão aumentando a eficiência energética do processo, melhorar tecnicamente alguns processos intermediários, além de recuperar os líquidos e gases como fontes de energia ou para outras finalidades. A seguir, são descritos alguns equipamentos e tecnologias desenvolvidas para melhorar a produção de carvão vegetal.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Produção Moderna de biocombustíveis: Visão Perspectiva I

Este material aborda o estado atual e as perspectivas de desenvolvimento para a tecnologia de pirólise no contexto mais abrangente das fontes renováveis de energia. Apresentam-se a tecnologia convencional para a obtenção de carvão vegetal, suas principais características técnicas e operacionais. A pirólise não convencional é considerada sobre a base do atual desenvolvimento tecnológico e suas perspectivas futuras.
No Brasil a tecnologia de pirólise rápida é uma novidade em termos de implementação, sendo verificada a existência de só uma unidade piloto para testes e demonstração da tecnologia. A planta tem uma capacidade nominal de 100 kgh-1 (base seca), e pertence à Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP. Tal unidade é operada na forma de testes para pesquisa e desenvolvimento da tecnologia pelo grupo de biocombustíveis da própria Universidade, o qual agrupa pesquisadores e professores do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético-NIPE e da Faculdade de Engenharia Agrícola-FEAGRI da UNICAMP, e os sócios da Bioware Tecnologia, pequena empresa de base tecnológica incubada na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica-INCAMP também da UNICAMP.
São abordados alguns dos aspectos mais relevantes na atual situação de desenvolvimento da tecnologia de pirólise rápida e que se constituem em barreiras, tais como, scale-up da tecnologia, redução de custos, aprendizado, disseminação de informações acerca do bio-óleo e da tecnologia, entre outros. Finalmente, são discutidas as possíveis tendências e os desafios para a tecnologia em um horizonte de curto e médio prazo.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Mamona, Biocombustível e a Política para a Agricultura Familiar no Semi-Árido - II

Uma pesquisa complementar sobre o comportamento dos preços da mamona foi realizado junto a um importante comprador ou atravessador na região e, segundo ele, no período de existência do Real desde 1994, a variação dos preços de compra por ele oferecidos por um quilo de mamona foi desde um mínimo de R$ 0,16 até um máximo de R$ 1,50. Essa variação de 937% ou de quase 10 vezes o valor de um quilo, mostra com evidência as dificuldades e o desestímulo que podem experimentar os agricultores familiares. Em dezembro de 2007, o quilo de mamona estava sendo pago na região a R$ 1.00, nos meses anteriores estava a R$ 1,30. A perspectiva é que os agricultores continuem plantando e a tendência do preço continue a baixa. Nesta recorrente situação de preços instáveis, que traz como consequência dificuldades periódicas para os agricultores e uma oferta incerta da matéria prima, parece razoável refletir sobre uma política de estabilização mediante a garantia de um preço socialmente justo. Talvez se pudesse pensar num novo programa de “Bolsa Trabalho” ou de “Bolsa Produção” para incentivar a agricultura familiar, nos moldes do programa da “Bolsa Família” e, por meio do qual, os agricultores mais pobres pudessem receber um subsídio para garantir um preço estável de compra e a produção permanente da mamona. Programa desse tipo não teria o caráter de um subsídio assistencialista, na medida em que se estaria estimulando o trabalho e a produção.
É amplamente conhecida a antiga e árdua luta que o Brasil e os países em desenvolvimento tem livrado contra os enormes subsídios que os países capitalistas desenvolvidos fornecem a seus ricos agricultores, já de por si favorecidos pelos avançados recursos tecnológicos a sua disposição. Além disso, sabe-se que esses processos produtivos são grandes consumidores de combustíveis fósseis e em essa medida pouco contribuem ao clima global do planeta. Então, caberia perguntar-se se não é socialmente justo e ambientalmente correto subsidiar as famílias dos agricultores mais pobres do Brasil para a produção de uma matéria prima que pode contribuir a combater o aquecimento global mesmo sendo ainda baixo o balanço energético do processo da produção do biocombustível. O denominado balanço energético “estabelece a relação entre o total de energia contida no biocombustível e o total de energia fóssil investida em todo o processo de produção desse biocombustível, incluindo-se o processo agrícola e industrial. Somente culturas de alta produção de biomassa e com baixa adubação nitrogenada, como a cana de açúcar e dendê, tem apresentado balanços energéticos altamente positivos (media de 8,7). No caso do biodiesel de mamona, o balanço energético é baixo (<2), o que poderia ser melhorado mediante a seleção de variedades para alto rendimento e substituição e ou redução da adubação nitrogenada com o uso de leguminosas-adubos verdes em rotação ou consórcio ” .
As sugestões anteriores para alcançar um balanço energético mais favorável na cultura da mamona, já estão sendo aplicadas nas unidades de produção dos monitores e agricultores participantes do projeto da policultura na Bahia. Além da inexistência de processos mecanizados para preparar a terra, a adubação e a cobertura vegetal do solo se faz com leguminosas plantadas por eles mesmos, incluindo a palha da própria mamona e o material orgânico dos restos das outras culturas.
Segundo a opinião de alguns dos entrevistados na pesquisa e as visitas de campo realizadas, a mamona não se cultiva muito em consórcio porque é uma planta “egoísta” que se desenvolve melhor cultivada “solteira” ou sozinha. O fato de se realizar o cultivo da mamona de maneira individual e não em consórcio eleva os custos de manejo do cultivo e do produto final, além do impacto sobre o desgaste do solo. Esses aspectos de caráter técnico também podem ser considerados para justificar uma política de apoio aos agricultores familiares para a produção da mamona.
Adicionalmente deve ser considerado que nas condições atuais de produção dessa cultura, no âmbito da agricultura familiar no nordeste, o valor da força de trabalho representa 80% do custo de produção. Esse fato significa na realidade uma sobre-explotação da força de trabalho familiar, pois boa parte da energia investida no processo produtivo é a força de trabalho dos membros da família, incluídos mulheres e crianças como de fato acontece na cultura da mamona e nas outras culturas. Esse é um motivo a mais para se formular e implantar uma política pública que incorpore a “Bolsa Trabalho” e se subsidie os custos de produção da mamona dos agricultores mais pobres.
Entretanto essa política pública para apoiar a produção da mamona não pode considerar unicamente os aspectos relativos à estabilidade dos preços. Deve levar em consideração outros aspectos levantados como críticos pelos próprios agricultores e também por pesquisadores da cultura da mamona. Alguns defendem com razão a necessidade de evitar a monocultura desse cultivo, promover novas alternativas de produção e a expansão da policultura para garantir a produção de alimentos, promover um melhor manejo dos solos e contribuir para uma tendência a sustentabilidade no semi-árido.
Com relação ao conteúdo de uma política de apóio a mamona, além da majoritária opinião sobre o problema de instabilidade dos preços, uma parte considerável dos consultados opina que é indispensável fornecer aos produtores mais conhecimentos e assistência técnica, bem como cursos de treinamento e capacitação sobre os diversos aspectos do processo de produção. É indispensável considerar que os agricultores devem ser treinados, capacitados e assistidos para que o balanço energético da produção do biocombustível da mamona melhore e seja ainda mais favorável. Esse é um aspecto formativo e educativo fundamental que deve se tornar um propósito em todos os processos de produção de biocombustíveis para contribuir realmente ao clima global do planeta.
Ainda no âmbito da pesquisa dos monitores e agricultores, outros entrevistados mencionam a necessidade de organizar a produção coletiva ou associada, dada a perda de recursos para o agricultor com a presença do comerciante intermediário ou atravessador no processo de comercialização. Outras opiniões referem-se à necessidade de melhorar as sementes da mamona e a conveniência de construir postos de compra ou depósitos para tirar o atravessador no caminho da comercialização.
Desta forma, a política pública de apoio à produção da mamona deverá incorporar a mobilização e organização dos produtores em associações, de maneira que essas entidades coletivas funcionem como centros de referência e pontos de apoio para os próprios processos de treinamento e formação técnica, bem como lugares de intercambio de conhecimentos e de experiências nas práticas agro-ecológicas e na vida social.
Outras sugestões mencionam à necessidade de contar com financiamento para o plantio, o qual seria a própria “Bolsa Trabalho” ou “Bolsa Produção” e que de fato deve constituir o eixo da política. Sugere-se a necessidade de agregar valor localmente a mamona mediante a sua industrialização. Essa idéia refere-se á construção nas regiões de mini-usinas para esmagamento e obtenção do óleo, o qual seria uma fonte nova de emprego com maior especialização e perspectiva de trabalho para os jovens, que em geral continuam emigrando da região.
Convém ressaltar que o fato de existirem tão diversas sugestões demonstra que uma política pública de apoio à produção da mamona, implica vários aspectos como os já comentados e que incluem, entre outros, um mecanismo financeiro para a estabilização dos preços; a capacitação e assistência dos produtores para melhorar o processo produtivo e o balanço energético; a organização coletiva ou associada para a produção e comercialização buscando evitar os atravessadores; a melhoria das sementes da mamona e a sua efetiva distribuição entre os agricultores; a construção de postos de compra e depósitos que podem estar localizados nas sedes das entidades associativas e a construção de usinas regionais para o esmagamento da mamona e a agregação de valor para a geração de emprego. Todas essas idéias foram sugeridas pelos próprios produtores de mamona, as quais demonstram tanto as diversas necessidades e a complexidade de uma política pública para apoiar o seu cultivo, bem como o conhecimento que os produtores têm da sua própria realidade e problemática sócio-ambiental e da esperança de uma vida melhor a partir do trabalho e da produção.
Finalmente cabe mencionar, que além de todos esses aspectos indispensáveis para que a mamona se constitua numa verdadeira alternativa de renda para melhorar as condições de vida dos agricultores familiares, é necessário contar com a disponibilidade de água, na medida em que o rendimento do cultivo depende da intensidade das chuvas, as quais são a cada ano mais escassas.
Infelizmente as chuvas não dependem dos homens, nem de uma política pública. Esse impedimento de ordem maior somente será resolvido assumindo e trabalhando para o futuro numa idéia já lançada há algumas décadas por um visionário considerado loquaz: “irrigar as terras potenciais do nordeste com água da bacia amazônica”. Na realidade essa idéia tem sido retomada recentemente pelo Gabinete de Assuntos Estratégicos do Governo Lula e embora tenha sido criticada mesmo como uma ação para o futuro, é verdade que as demandas das próximas décadas de alimentos e de biocombustíveis no planeta justificarão um dia os estudos para essa obra de manejo e condução de águas. O propósito dos estudos deverá ser a viabilidade sócio-ambiental das obras, de forma que a condução das águas seja ambientalmente racional e socialmente beneficie as populações pobres do semi-árido.

sábado, 20 de junho de 2009

Mamona, Biocombustível e Política para a Agricultura Familiar no Semi-Árido - I

O cultivo da mamona tem uma longa trajetória histórica no Brasil e na década dos 70 teve a sua maior importância quando a área cultivada chegou a 600 mil hectares. Na década de 1980 o Brasil ocupava a segunda posição mundial com uma participação de 26% da área cultivada e em 1999 estava reduzida a 8%, ocupando o terceiro lugar após a Índia e a China. Na atualidade esses dois países são responsáveis por aproximadamente 90% da produção mundial. A perda de competitividade do Brasil no mercado mundial é explicada por vários autores pela impossibilidade do produtor utilizar melhor tecnologia e insumos para a produção, incluindo a mecanização, sementes melhoradas, preparo da terra, plantio, colheita, armazenamento e comercialização.
Da mamona se obtém como principal produto o óleo e como subproduto a torta, a qual é utilizada como adubo. O óleo tem numerosos usos, dentre os quais se destaca sua utilização na fabricação de tintas, vernizes, cosméticos e sabões, bem como na produção de plásticos e fibras sintéticas. É reconhecido como lubrificante de alta qualidade dada a sua insuperável viscosidade, motivo pelo qual é usado em motores de alta rotação e de avançada tecnologia. Também é utilizado na fabricação de corantes, anilinas, desinfetantes, germicidas, óleos lubrificantes de baixa temperatura, colas e aderentes; serve de base para fungicidas, inseticidas, tintas de impressão, nylon e matéria plástica. São muitos os usos da mamona, incluindo as folhas da planta misturadas à forragem para alimentar o gado e como cobertura do solo e adubo natural para cultivos.
A mamona tem conseguido novamente notoriedade no Brasil por conta da possibilidade de o óleo ser utilizado na produção de biocombustíveis. Essa alternativa bem sendo propalada pelo governo e têm criado enormes expectativas, particularmente nos agricultores familiares do nordeste e da Bahia, em cujo estado se produz hoje o 85% do total nacional.
Entretanto, diversas opiniões discutem as possibilidades da mamona se tornar uma alternativa de renda viável sem afetar como monocultura o meio ambiente do semi-árido. Muitos pesquisadores defendem o uso de consórcios e a rotação de cultivos para um melhor manejo da terra.
Na revista de Política Agrícola, do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento se afirma que “O potencial brasileiro para a produção de biocombustíveis, que inclui o cultivo de oleaginosas e de cana de açúcar, é imensurável. No nordeste, além da cana de açúcar, é possível cultivar mamona, amendoim, gergelim, babaçu, entre outras oleaginosas. Somente para mamona existe uma área de mais de 3 milhões de hectares aptas ao seu cultivo”. Os mesmos autores afirmam “que considerando a necessidade de se aumentar, significativamente, o plantio de oleaginosas, será possível o assentamento de milhares de famílias, com uma perspectiva de negócios atraente”.
Em “Biocombustíveis, uma Oportunidade para o Agronegócio Brasileiro”, no item “Estado Atual e Potencial das Principais Oleaginosas”, prevê-se uma expansão acentuada no plantio destas culturas e afirma-se que o mercado de óleos combustíveis será superior ao do etanol, em especial pela sua maior densidade energética. Assinala-se a necessidade de fazer mais investimentos em pesquisa para superar as deficiências tecnológicas e formular sistemas de produção sustentáveis. Sugere-se também a análise e estruturação dos segmentos das cadeias produtivas, adequando-as ao novo cenário, com o ingresso da demanda energética.
Em “Políticas Públicas de Fomento ao Biodiesel na Bahia e no Brasil: Impactos Sócio-Econômicos e Ambientais com a Regulamentação Recente”, a prioridade do Plano Nacional de Produção e Uso de Biodiesel – PNPB tem sido fomentar a ampliação da produção e o consumo em escala comercial do biodiesel como aditivo ao diesel petrolífero no Brasil. O programa tem enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional por meio da diversificação de fontes de matérias-primas vegetais e de regiões produtoras. A Lei 11.097, de treze de janeiro de 2005, instituiu juridicamente o início de implementação do PNPB, introduzindo o biodiesel na Matriz Energética Brasileira ao estabelecer a obrigatoriedade da adição de 2% desse biocombustível ao óleo diesel de origem fóssil no país a partir de 2008 (mistura também conhecida como B2). Tal regulamentação prevê ainda a ampliação da mistura obrigatória para 5% a partir de 2013. O autor assinala também que O PNPB busca assim, estimular a produção de biodiesel a partir de diferentes oleaginosas, incluindo, além da mamona e outras, a palma ou dendê, o girassol, o algodão e a soja.
Concluiu-se uma pesquisa encomendada pelo Instituto de Permacultura da Bahia, IPB realizada nos municípios de Umburanas, Ourolândia, Cafarnaum e Morro do Chapéu, do semi-árido do Estado, principal região produtora de mamona do país. A pesquisa foi realizada junto aos monitores e Agentes Comunitários Rurais – ACRs do projeto Policultura no Semi-Árido desenvolvido por esse instituto e que recebeu o premio de Melhor Tecnologia Social 2007 da Fundação Banco do Brasil. Além de agricultores, os monitores são também assistentes técnicos de quase mil famílias que praticam a policultura e na sua maioria são produtores de mamona. Essa atividade lhes há permitido aos monitores e ACRs conhecer muito bem a problemática da agricultura familiar e as dificuldades para tornar esse cultivo uma verdadeira alternativa para melhoria das condições de vida de numerosas famílias nordestinas.
Dentre as perguntas formuladas aos monitores e ACRs sobre as suas práticas agro-ecológicas e as dos agricultores aos quais dão assistência, lhes foi consultado o papel que a mamona desempenha nos campos de policultura e na economia familiar e sobre as falências e necessidades que impedem que a mamona funcione melhor no seu processo produtivo global, incluindo a comercialização. As respostas são muito ilustrativas da situação real da mamona no âmbito da agricultura familiar.
Cabe ressaltar em primeira instância que as respostas demonstram claramente a importância da mamona na renda desses agricultores, já que a maioria dos entrevistados a considera como o único produto orientado exclusivamente para a comercialização e apoio financeiro da família. Entretanto, são diversos os problemas mencionados como obstáculos pelos entrevistados para que a mamona cumpra o papel sócio-ambiental que poderia cumprir no semi-árido sendo matéria prima para a produção de tantos derivados, incluindo o biocombustível. Nesse sentido, a opinião mais representativa dos entrevistados considera como principal problema a instabilidade dos preços e por esse motivo ocorre um desestímulo periódico para plantar mamona. Esse fato é comprovado hoje pela escassez atual do produto no mercado nacional.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Petrolíferas apoiam pesquisas com o etanol

Grandes empresas unem-se a pequenas companhias para desenvolver tecnologia nova para biocombustível
Durante décadas, as grandes companhias de petróleo e o lobby agrícola disputaram sobre o etanol, com os fazendeiros promovendo uma maior produção dele e os refinadores argumentando que ele era ineficiente e pouco faria para solucionar os problemas energéticos do país.
Então, por que técnicos da gigante BP estão trabalhando numa usina experimental de etanol em Jennings, ajudando-a a se tornar mais eficiente? Os inimigos de outrora estão gradualmente aprendendo a se entender porque parece que os refinadores veem uma necessidade cada vez maior de se envolver na produção de etanol. O etanol, fabricado principalmente a partir do milho, representa hoje cerca de 9% do mercado de combustíveis do país. E essa porcentagem está crescendo. Com a sede por gasolina do país, e pelo etanol que é misturado a ela, que deve se reanimar quando a economia o fizer, as companhias de petróleo querem estar em posição de tirar plena vantagem da situação.
O interesse manifestado pelas grandes petrolíferas está chegando no momento oportuno para pequenas empresas que precisam desesperadamente de capital e não o conseguem em mercados privados.
Tome-se o caso da Verenium Corp., uma pequena companhia de Cambridge, Massachusetts, que está testando em Jennings biocombustíveis em cooperação com a BP. Em vez de etanol produzido a partir de culturas de alimentos, os parceiros estão idealizando uma versão a partir de gramíneas da família da cana-de-açúcar.
Os experimentos são uma preparação para construir uma segunda usina de US$ 250 milhões na Flórida com a capacidade de produzir 36 milhões de galões por ano de novos biocombustíveis - a primeira usina comercial de seu tipo construída com dinheiro e expertise de companhias petrolíferas. Cientistas da Verenium já desenvolveram um caldo secreto de enzimas e micróbios que fermentam e destilam biomassa em etanol. Agora a BP está contribuindo com expertise técnica para regular as temperaturas e pressões nos tanques.
O sucesso comercial não é garantido, é claro. Mas o fato de uma grande petrolífera fazer uma aliança com objetivos comerciais com a Verenium é considerado uma inovação para muitos executivos do etanol.
Há dois anos apenas, a BP contabilizava apenas um investimento minúsculo em biocombustíveis. Mas desde então, a companhia comprometeu US$ 1,5 bilhão em vários projetos. Além de seu trabalho com a Verenium, ela entrou numa parceria com uma empresa brasileira no ano passado para produzir o etanol de cana-de-açúcar.
As lições aprendidas na Louisiana poderão ajudar a converter a cana brasileira em biocombustíveis mais avançados, dizem pesquisadores, produzindo uma nova reserva potencialmente enorme para a BP.
A BP também fala com otimismo sobre uma parceria com a DuPont para testar a produção de biobutanol, um combustível de álcool líquido avançado que é produzido das mesmas plantas alimentícias que os etanóis avançados e é compatível com os oleodutos e os motores existentes. Executivos dizem que o combustível poderá começar a ser produzido em grandes quantidades até 2013.
Podemos ver os biocombustíveis como um reservatório potencial realmente grande. Uma empresa de energia entrar na agricultura de cana-de-açúcar é uma medida muito significativa. As companhias de petróleo ainda estão céticas sobre o etanol convencional, especialmente o tipo produzido do milho, que, segundo elas, corrói oleodutos e é ineficiente.
A usina de Jennings é apenas um sinal de que as grandes companhias de petróleo estão aceitando os biocombustíveis ainda que de mal grado - em particular, aqueles feitos de restos e fontes não alimentares, que não carregam o estigma do etanol de milho de elevar o preço dos alimentos.
As petrolíferas dizem também que à medida que o petróleo bruto vai se tornando cada vez mais difícil e caro de encontrar, os biocombustíveis poderão reforçar suas reservas.
Haverá uma demanda para todos esses combustíveis, 1% dos combustíveis de transporte do mundo que é hoje biocombustível poderia facilmente ser 10% na próxima década. A Shell foi a primeira grande petrolífera a se aventurar significativamente nos novos biocombustíveis, em 2002 quando forneceu dinheiro uma companhia canadense, a Iogen Corp., para pesquisar a fabricação de etanol de sobras vegetais.
A Shell formou parcerias com pequenas companhias que trabalham melhorando enzimas que decompõem várias plantas, materiais e dejetos para etanol, produzindo combustíveis de algas e biogasolina de líquidos açucarados derivados de vegetais. A Chevron formou uma joint venture com a Weyerhaeuser para desenvolver biocombustíveis de sobras de madeira.
Valero Energy Corp., a maior refinadora de petróleo do país, abocanhou sete usinas de etanol de milho da VeraSun Energy nos últimos meses desde que a VeraSun entrou com pedido de concordata no final de 2008.
Se dependermos demais das grandes petrolíferas para avançar a agenda do biocombustível, estaremos usando grandes volumes de petróleo ainda por muitos e muitos anos. Mas, tomados em conjunto, os projetos de pesquisa e acordos são um forte contraste com os projetos reduzidos de petrolíferas em outras fontes de energia alternativas como hidrogênio e solar. E a ajuda é bem-vinda para pequenas companhias empreendedoras que são boas em novas tecnologias, mas fracas em capital.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Crise azeda aniversário do etanol

Os problemas financeiros que atingiram o setor sucroalcooleiro desde o aprofundamento da crise, em setembro do ano passado, estragaram a festa dos 30 anos do início de comercialização do etanol no Brasil, comemorados neste mês. Foi em maio de 1979, quatro anos depois do lançamento do Proálcool, que 16 postos da Petrobrás começaram a abastecer dois mil automóveis adaptados ao combustível. De lá pra cá, o produto passou por vários altos e baixos, como o desabastecimento da década de 80, que desmoralizou o setor por vários anos.
A partir de 2002, com o avanço das discussões em torno do Protocolo de Kyoto (acordo que estabelecia metas de controle dos gases causadores do efeito estufa a partir de 2008) e, mais tarde, com o lançamento dos veículos flex, o Proálcool foi revitalizado. Uma nova onda de investimentos favoreceu o setor e centenas de usinas foram construídas para elevar a produção nacional.
O etanol ganhou importância no contexto do esforço contra o aquecimento global e virou alternativa para a alta do petróleo. Investidores do mundo inteiro, inclusive do mercado financeiro, despejaram bilhões de dólares no País em novas plantas para produzir álcool. Mas a euforia deu lugar à frustração. Primeiro veio o bombardeio de críticas que relacionava o aumento da produção de biocombustíveis ao aumento de preços dos alimentos. Depois, a crise mundial.
Altamente endividadas no curto prazo, muitas empresas passaram a ter problemas de liquidez uma vez que o mercado de crédito mundial se fechou, destaca o presidente do Sindicato de Açúcar e Álcool de Minas Gerais, Luiz Custódio Cotta. Algumas companhias entraram com pedido de recuperação judicial, a exemplo do que ocorreu terça-feira com a Infinity, que detém dívida de R$ 1 bilhão.
Outras decidiram declarar, temporariamente, uma moratória com o Fisco. Sem recursos para capital de giro e até para pagar o salário dos funcionários, algumas empresas estão usando o dinheiro dos tributos para sobreviver, explica o diretor da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Antônio Pádua Rodrigues. Segundo ele, porém, essa situação tem sido mais comum no Nordeste. "Sem acesso ao crédito, eles foram pedir um empréstimo-salário para o governo federal para honrar seus compromissos."
Em São Paulo, maior produtor do País, a solução encontrada pelos usineiros foi inundar o mercado de combustível. A decisão derrubou o preço do litro do combustível para abaixo de R$ 1 em alguns postos da cidade, na semana passada. "Hoje estamos vendendo etanol abaixo do custo de produção", afirma o presidente da União dos Produtores de Bioenergia (Udop), José Carlos Toledo.
Essa iniciativa, no entanto, pode ter consequências no futuro, afirmam os especialistas. Isso porque o preço do combustível estimula o aumento do consumo. O problema é que, com os prejuízos do etanol, a indústria decidiu elevar a produção de açúcar, cujo preço está mais atrativo no mercado internacional por causa da quebra de safra da Índia, que de exportadora passou a importadora este ano. Segundo Pádua, a produção do setor em 2009 será 45% voltada para o açúcar e 55% para o álcool. Em 2008, esses porcentuais eram de 40% e 60%, respectivamente. Os dois fatores somados - maior consumo de álcool e maior produção de açúcar - devem representar uma escalada do preço do combustível para o consumidor no segundo semestre.
Outro fator que jogou um balde de água fria nos planos dos investidores foi a dificuldade para abrir o mercado internacional para o etanol. Com queda do petróleo, as discussões diminuíram enquanto a produção aumentou. "O etanol não vai virar commodity num estalar de dedos", diz Pádua. "Vai ocorrer, mas num prazo mais longo".
Segundo ele, o que o setor precisa, no momento, é de uma política energética clara. "De tempos em tempos, o governo elege um tipo de combustível para incentivar. Na década de 70, foi o etanol, depois a gasolina. Mais tarde, decidiu-se pelo gás natural veicular." A dúvida agora é se o pré-sal promoverá mais alguma mudança.

domingo, 14 de junho de 2009

Empresa de etanol ligada à GM busca parceria no Brasil

Coskata, uma das líderes na pesquisa da nova tecnologia, começa neste ano a produzir o etanol de segunda geração.
Com uma fábrica-piloto já em testes na Pensilvânia (EUA), a Coskata iniciará no segundo semestre a produção de etanol de segunda geração derivado de diferentes tipos de dejetos, como grama, palha de milho e cana, restos de pneus, plásticos e madeira. A empresa informa que seu processo produtivo é inédito e que busca parceiros no Brasil para joint venture ou licenciamento de sua tecnologia.
O objetivo da empresa é vender o etanol no mercado americano por menos de US$ 1 o galão, ante US$2,50 a US$2,80 cobrado pela gasolina, que há um ano chegou ao pico de US$ 4. Com o fomento do uso, o etanol pode se transformar em commodity, o que facilitaria a exportação do produto brasileiro, aqui chamado de álcool.
No Brasil, explica o diretor de marketing e relações governamentais da Coskata, Wesley Bolsen, a vantagem seria o uso do bagaço da cana, subproduto da própria produção do álcool. Nos EUA, a empresa está fechando parceria com a companhia US Sugar Corporation para criar a maior fabricante de etanol de celulose usando folhas da cana de açúcar e bagaço. Também já ocorreram conversas com a Petrobrás.
A General Motors é sócia da Coskata nos EUA e será a primeira montadora a utilizar em seus automóveis o etanol produzido pela Coskata. "Queremos retirar o automóvel do debate ambiental", diz o Pedro Bentancourt, gerente de relações com a indústria da GM do Brasil ao explicar a parceria da matriz, anunciada em 2007. "Mesmo que a sede americana entre em concordata, os planos conjuntos não serão alterados, pois os investimentos já foram feitos", informa Bentancourt.
Segundo Bolsen, com uma tonelada de dejetos orgânicos é possível obter 400 litros de etanol, eficiência próxima à obtida na produção com cana-de-açúcar e superior ao obtido com milho, hoje a principal matéria-prima usada nos EUA.
A diferença maior está na obtenção do produto final. Com o método Coskata - cuja tecnologia é mantida em segredo -, o resultado é 50% a 60% de etanol concentrado. Com a cana, a concentração é de cerca de 20%, próximo ao obtido com o milho, que tem como desvantagem, um maior uso de água. O processo da Coskata usa menos de um litro de água por galão de etanol, enquanto o milho e outros cereais precisam de três a quatro litros.
Nos EUA, o etanol é usado apenas como mistura à gasolina, numa proporção de 85%. Veículos movidos com esse combustível são chamados de E85. O país tem cerca de 4 milhões desses carros, menos de 2% da frota circulante. O galão dessa mistura custa entre US$ 1,60 e US$ 1,95, mas está disponível em poucos postos.
As principais tecnologias da Coskata são os micro-organismos e o projeto do biorreator, ainda não patenteado. O objetivo da empresa é desenvolver, na produção de biocombustível com gasogênio, uma vantagem competitiva sustentável no longo prazo. As emissões no processo de produção e também no uso do etanol são inferiores aos demais processos e combustíveis. Criada em 2006, a Coskata tem entre seus parceiros, além da GM, a empresa de capital de risco Khosla Ventures, entre outras.
Poucas usinas têm ajuda do BNDES
Apenas um pequeno número de usinas conseguirá obter os recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo Banco do Brasil para o programa de estocagem de álcool. Elas vão atuar como compradoras do etanol das usinas que não obtiverem os recursos. A afirmação é do diretor técnico da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), Antônio Pádua Rodrigues. Segundo ele, apenas as grandes empresas têm conseguido obter os recursos de R$ 2,3 bilhões para a estocagem e também para capital de giro. "Os bancos não estão aceitando novas garantias, o que cria um gargalo."

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Empresa produz diesel da cana-de-açúcar

Combustível já é fabricado em Campinas/SP, com tecnologia desenvolvida na Califórnia/EUA.
Tudo começou com uma doação de US$ 42 milhões da Fundação Bill & Melinda Gates para a Universidade de Berkeley, na Califórnia (EUA), desenvolver alternativas que barateassem o custo de medicamentos contra a malária no mundo, em 2003. Por meio de uma reengenharia genética, o grupo de pesquisadores não só encontrou a solução para reduzir o preço do remédio como também descobriu a fórmula para produzir diesel 100% feito de cana-de-açúcar - considerado biocombustível de terceira geração.
Foi assim que surgiu a empresa californiana Amyris, hoje com subsidiária em Campinas, no interior de São Paulo. O projeto foi apresentado no Fórum de Davos, em 2005, e caiu nas graças de megainvestidores, que decidiram financiar a inovação. Entre os sócios da empresa estão os fundos de investimentos Kleiner Perkins (do americano John Doerr), Texas Pacific Group (TPG), Khosha Venture (do indiano Vinod Khosha) e a brasileira Votorantim Novos Negócios. Até pouco tempo, a empresa tinha uma parceria também com a trading brasileira Crystalsev, mas recomprou as ações da companhia.
A partir de 25 de junho de 09, a Amyris inaugurará uma planta demonstração para a produção do diesel de cana-de-açúcar em escala maior, que permitirá inclusive a comercialização do combustível. Em primeiro momento, a empresa comprará o melaço (cana esmagada) de outras usinas para fabricar o diesel, afirma o diretor-geral da Amyris, Roel Collier.
O objetivo é adquirir duas usinas para facilitar a produção. Estamos conversando com alguns possíveis vendedores, mas ainda não fechamos nada. O executivo também não quis informar o volume de investimento que a empresa está disposta a investir no setor. Ele apenas frisou que, até 2011, a expectativa é produzir 150 milhões de litros de diesel. Isso exigiria entre 2 e 5 milhões de toneladas de cana.
A tecnologia da Amyris pode ser usada não só na produção do diesel de cana-de-açúcar como também na da querosene de aviação e hidrocarbonetos, livres de enxofre. Para chegar ao produto, usa o processo de fermentação da sacarose da na cana, utilizando praticamente a mesma infraestrutura da produção do etanol. O setor sucroalcooleiro subestima o potencial da cana, a melhor matéria-prima para desenvolvimento de uma nova rota tecnológica de combustíveis renováveis.
Mesmo caminho está sendo seguido pela BP Biofuels, que estuda nova tecnologia para produção de biobutanol a partir da conversão de açúcares. Por enquanto, as experiências estão sendo feitas no exterior em parceria com a Du Pont. Mas o Brasil está nos planos da companhia, diz o presidente da BR Biofuels, Mario Lindenhayn. Ele destaca que, em 2008, a empresa comprou 50% de uma usina no Estado de Goiás, com capacidade para moer 2,4 milhões de toneladas.
O projeto é duplicar essa capacidade nos próximos anos, além de adquirir, mas uma nova unidade no País. O Brasil tem uma posição privilegiada em biocombustíveis. O mercado interno tem grande potencial de crescimento. Lindenhayn comenta que a BP também desenvolve tecnologia para produção do etanol de segunda geração na Flórida, onde uma planta será inaugurada em 2012.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

A segunda revolução do etanol

Empresas disputam uma corrida tecnológica para produzir combustível a partir de bagaço da cana, capim e até lixo.
Quem considera o etanol produzido de fontes primárias (como cana-de-açúcar e milho) uma revolução da agroenergia nem imagina o que vem pela frente. Dentro de alguns anos, os biocombustíveis também serão feitos a partir do bagaço da cana-de-açúcar, sabugo de milho, capim, casca de árvore, pneus e até lixo urbano. Para isso, os principais centros de inovação do mundo, financiados por governos e grandes empresas, como a petrolíferas BP e Shell, estão travando uma verdadeira corrida tecnológica.
Será o vencedor aquele que encontrar a rota mais viável para transformar os diferentes tipos de biomassa em etanol. Os primeiros litros do biocombustível já foram produzidos em escala experimental. Falta encontrar a fórmula perfeita para a produção em larga escala com custo competitivo aos combustíveis atuais.
No mercado, essa tecnologia tem sido chamada de segunda geração (o etanol feito de fontes primárias é de primeira geração) ou etanol de celulose. O processo consiste em usar enzimas, micro-organismos ou ácidos para separar os açúcares existentes na biomassa e a partir daí produzir o combustível. O potencial é elevado, mas ainda há dúvidas em relação ao tempo para transformar os testes em produção comercial.
Todos os avanços e desafios da nova tecnologia serão expostos a partir de amanhã na segunda edição do Etanol Summit, que contará com cerca de 130 palestrantes de várias partes do mundo, incluindo o ex-presidente americano Bill Clinton, um entusiasta dos biocombustíveis. Eles darão um panorama de quando essa tecnologia poderá sair do papel.
Nos Estados Unidos, as pesquisas do etanol de segunda geração começaram há algum tempo e foram reforçadas pela nova política energética que estabelece limite para o uso do etanol feito a partir do milho com tecnologia convencional. A produção, que hoje está em 40 bilhões de litros, poderá chegar a 57 bilhões. Para complementar a oferta, que atingiria 136 bilhões de litros em 2022, seria usado o etanol de segunda geração e outros biocombustíveis.
Embora o consumo de combustível do país tenha caído por causa da crise econômica, grandes empresas mantiveram suas pesquisas. Até porque a meta do governo americano é produzir no ano que vem cerca de 400 milhões de litros de combustíveis de segunda geração. Ásia e Europa também desenvolvem tecnologias, que estão sob segredo industrial. Além do discurso sobre o aquecimento global, o objetivo da busca por um novo biocombustível é diminuir a dependência do petróleo.
No Brasil, por causa do enorme potencial de crescimento do etanol de primeira geração, a corrida tecnológica ainda está um pouco mais lenta e com orçamentos mais modestos comparados aos do mercado externo, que tem irrigado as pesquisas científicas com bilhões de dólares. Apesar disso, alguns empreendedores acreditam que possam sair na frente para manter a liderança brasileira no mundo dos biocombustíveis.
O etanol de segunda geração, a partir do bagaço e da palha da cana-de-açúcar, teria capacidade para dobrar o volume de etanol produzido no País com a mesma área plantada, destaca-se que este ano o setor alcançará 27 bilhões de litros. Foi de olho nesse potencial que o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) firmou uma parceria com a dinamarquesa Novozymes Latin America, especialista em enzimas industriais.
Juntos, inaugurou em janeiro uma usina piloto, com capacidade para produzir 200 litros de etanol de segunda geração. A rota tecnológica usada chama-se hidrólise enzimática, em que as moléculas de celulose são transformadas em açúcares por meio de enzimas.
Hoje o grande desafio é evitar que essas enzimas encareçam demais o produto final. A tecnologia já existe, mas, além do custo, ela exige aperfeiçoamentos e ajustes. Em meados de 2010, espera-se apresentar um modelo financeiro para vender essa tecnologia.
Um dos ajustes que ela terá de fazer até lá se refere ao tempo que a enzima leva para transformar a celulose em açúcar. O ideal seria ter um ciclo de 24 horas, como ocorre no etanol tradicional. A expectativa dele é que em três ou quatro anos a tecnologia esteja dominada, para produção em escala industrial.
O executivo acredita que, superada a fase de aperfeiçoamento tecnológico, o Brasil terá enorme competitividade no etanol de celulose, já que a matéria-prima não exige logística. Ela está ali, na própria usina. Nos Estados Unidos, a palha e o sabugo do milho ficam no campo.
Na Dedini, líder na fabricação de equipamentos para o setor sucroalcooleiro, a rota tecnológica adotada é a hidrólise ácida. Com estudos iniciados há cerca de 20 anos, a produção do etanol de celulose já passou pelos estágios de laboratório e piloto. Hoje a empresa espera firmar alguma parceria para iniciar uma fase semi-industrial. A fabricação do etanol já existe. O problema é o custo. O combustível custa, pelo menos, o dobro do etanol comum.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também entrou na corrida pela nova tecnologia do etanol de celulose e desenvolveu um tipo de enzima para o processo. Os testes já devem entrar em escala de demonstração (antes da escala industrial). Tínhamos duas alternativas: comprar a tecnologia ou entrarmos numa agenda de desenvolvimento. Ficamos com a segunda opção. A Embrapa fechou acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) para criar uma Empresa de Propósito Específico (EPE) para desenvolver negócios nessa área.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Setor vê cenário mais positivo a partir de agosto de 2009

Setor acredita que etanol terá preços melhores no segundo semestre.
O setor sucroalcooleiro já começa a vislumbrar um cenário mais positivo para o etanol no segundo semestre deste ano. Depois de sofrerem um grande baque por causa da escassez de crédito, provocada pela crise mundial, as empresas acreditam que os preços do combustível possam atingir patamares mais vantajosos a partir de agosto, o que ajudaria a recompor o caixa e melhorar a situação financeira. Uma das principais explicações para o otimismo está na produção de açúcar, cujo preço no mercado internacional está bastante atrativo por causa da quebra da safra da Índia, que passará de exportadora a importadora.
"Boa parte das empresas tem flexibilidade para produzir mais açúcar, que tem demanda e preço. Isso vai influenciar o mercado de etanol", disse ontem em São Paulo o diretor da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antônio de Pádua Rodrigues, durante a segunda edição do Etanol Summit. A expectativa para este ano é que 45% da safra seja destinada à produção de açúcar e o restante para o etanol. No ano passado, a participação era de 40% e 60%, respectivamente.
Pádua explica que a produção menor de etanol, aliada ao aumento do consumo, incentivado pelo preço baixo do produto e pela expansão da frota bicombustível, vai recuperar as receitas das empresas. "O fundo do poço já passou." Ele ressaltou, entretanto, que não se espera para este ano uma retomada aos níveis pré-crise.
O volume de investimentos continuará baixo este ano. O que deverá entrar em operação refere-se a projetos já iniciados no passado. O vice-presidente de Tecnologia e Desenvolvimento da Dedini, fabricante de equipamentos para usinas, confirma a informação. "Hoje, trabalhamos com 70% da capacidade instalada ocupada. Mas o problema não é agora, pois tínhamos encomendas feitas antes da crise. Nossa preocupação é a partir do último trimestre do ano."
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, afirmou que hoje há 84 projetos do setor aguardando avaliação da instituição para financiamento. Desses, 46 empreendimentos já estão em análise, afirmou o executivo. Todos eles, no entanto, são de antes da crise financeira.
Sobre a dificuldade que as empresas têm enfrentado para conseguir acessar a linha de crédito para capital de giro do banco, Coutinho afirmou que gostaria de ser informado dos problemas. "Se o sistema não está disponibilizando o dinheiro, queremos saber o porquê para encontrarmos uma alternativa."
O empresário Rubens Ometto, presidente do Grupo Cosan, maior conglomerado sucroalcooleiro do mundo, afirmou que o setor ainda se ressente da falta de crédito para capital de giro. "O setor é muito intensivo em capital e, por isso, demora mais para se recuperar. É um setor que produz em sete meses, vende em doze e você, sem sombra de dúvida, precisa de capital de giro para isso", disse Ometto.
Indagado se sua empresa enfrentava problemas na obtenção de recursos para a estocagem de álcool na safra, Ometto disse que não podia fazer uma avaliação, mas que outros representantes do setor tinham reclamado do atraso na liberação de créditos pelo BNDES, um total de R$ 2,5 bilhões.

sábado, 6 de junho de 2009

Brasil precisa provar que etanol é sustentável

Ex-presidente americano, afirma que País tem de mostrar que produção de cana não afeta o meio ambiente.
Convidado de honra do Ethanol Summit 2009, o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton falou o que ninguém queria ouvir em um evento feito para promover o combustível no mercado internacional. Na avaliação dele, o Brasil ainda precisa provar para o mundo que é capaz de produzir combustível renovável de forma sustentável.
"Se o mundo resolver ajudar o Brasil e importar mais etanol para resolver seu problema, poderemos aumentar a devastação da Amazônia", disse o ex-presidente, deixando a platéia meio desconcertada. Horas antes, representantes do setor davam como superada a polêmica sobre o impacto da cana-de-açúcar na Amazônia.
A palestra de Clinton foi a mais esperada do evento, que mais cedo contou com as presenças da ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff; do governador de São Paulo, José Serra; do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab; e do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, entre outros convidados.
Cerca de uma hora antes da apresentação do ex-presidente americano, os representantes do setor, que se inscreveram para participar da palestra, já faziam fila à porta do auditório. Antes que todos se acomodassem em seus assentos, no entanto, policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) vasculharam o local para assegurar tranquilidade ao palestrante.
Clinton foi recebido pelo presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Marcos Jank, que em seu discurso falou sobre as vantagens do etanol e da necessidade de o mundo derrubar as barreiras protecionistas contra o produto. "A energia limpa deveria circular pelo mundo sem barreiras, como ocorre com o petróleo, que é finito e caro."
Além de Jank, Clinton foi recebido também por crianças atendidas pelo projeto de Educação para a Paz, da cidade de Frutal, que lhe entregaram alguns presentes típicos do setor sucroalcooleiro. Em seguida, ele iniciou seu discurso e evitou falar muito sobre as tarifas que seu país impõe sobre o etanol brasileiro. Por outro lado, bateu bastante na tecla de que o Brasil precisa diminuir o desmatamento da Amazônia.
Segundo Clinton, o País tem de demonstrar que é possível reduzir as emissões de gás carbônico do mundo sem provocar danos à sua própria natureza. "O Brasil terá de resolver esse problema interno, local, para depois tentar resolver o problema global", disse o ex-presidente.
Ele destacou que 75% da emissão de gases poluentes causadores do efeito estufa no Brasil decorre da agricultura e do desmatamento - número que coloca o País em oitavo lugar no ranking de emissões, ao lado de China e Índia. "Se a importação de etanol aumentar, o País terá de elevar o plantio da cana em áreas de pastagem, o que vai empurrar a soja e o gado para a Amazônia."
Apesar da crítica, Clinton afirmou que o mundo já conhece o potencial do etanol feito da cana-de-açúcar, muito mais eficiente que os combustíveis feitos de outras fontes primárias, como o milho, nos Estados Unidos. Por isso, ele acredita que o Brasil precisa tomar algumas medidas que assegurem a sustentabilidade do combustível. "A partir daí vocês terão uma aceitação muito melhor no mundo."
O ex-presidente disse ainda que o Brasil pode ser líder mundial na questão da eficiência energética, assim como fez na produção de energia. "Vocês podem liderar nosso caminho para um futuro melhor", disse Clinton, que minutos antes havia brincado com a frase do presidente Lula de que "a crise mundial foi criada por homens de olhos azuis", arrancando risos da plateia.
Clinton cobrou trabalho conjunto entre Brasil e Estados Unidos para o desenvolvimento de um modelo de agricultura sustentável, que valorize a redução de emissões e o crédito de carbono.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Nos próximos 10 anos, País se manterá líder em etanol

No Ethanol Summit, físico diz que álcool brasileiro vai dominar mercado enquanto 2.ª geração não nascer.
O Brasil continuará líder do setor de etanol de cana-de-açúcar nos próximos 10 anos. A projeção é do físico José Goldemberg que, durante encerramento do Ethanol Summit 2009, disse acreditar que a produtividade no País tende a crescer com novas variedades geneticamente modificadas. Além disso, a área plantada deve aumentar sobre pastagens degradadas no Brasil e também em outros países na região tropical.
Goldemberg ainda vê uma grande janela de oportunidade para o País antes que o etanol de segunda geração chegue à maturidade tecnológica e comercial. Segundo ele, atualmente, os 22,5 bilhões de litros produzidos pelo Brasil já substituem 1% do consumo mundial de gasolina. ´É possível substituir 10% do consumo de gasolina em 10 anos´, afirma. Desde o início do Proálcool, em 1975, a produtividade do etanol tem crescido a uma taxa média de 4% ao ano.
A tese ganhou força no mesmo evento, após o conselheiro da delegação da Comissão Europeia no Brasil, Fabian Delcros, ter afirmado que a União Europeia está convencida de que não conseguirá produzir biocombustíveis suficientes para cumprir sua meta de redução de emissão de gás carbônico e terá de importar.
Aprovada no ano passado, meta europeia prevê adição de 10% de combustíveis renováveis em sua matriz até 2020. Mas, de acordo com o conselheiro, esse combustível, principalmente o etanol, terá de ser certificado e dentro dos padrões da União Europeia. Quem quiser exportar para a Europa precisa ter sustentabilidade e o Brasil até tem um programa nesse sentido.
A questão é se há a compatibilidade desses programas e, para isso, o Brasil precisa apresentar o realizado aqui para um debate com a União Europeia.
Delcros afirmou que a decisão da UE de importar biocombustíveis ocorre menos pelo impacto no aumento dos preços dos alimentos, que é mínimo e varia entre 3% e 10%, e mais pela falta de disponibilidade de área para o cultivo agrícola necessária para a produção.
COOPERAÇÃO
Diplomatas defenderam durante o evento, o aprofundamento da cooperação entre Brasil e Estados Unidos na pesquisa da tecnologia do etanol. Sem ter uma forte parceria na pesquisa tecnológica não conseguiremos avançar no desenvolvimento de novas gerações do etanol, afirmou o subsecretário de Energia e Alta Tecnologia do Itamaraty, André Amado.
O Brasil lidera a produção de etanol de primeira geração, mas os Estados Unidos contam com muito mais investimentos para produzir a segunda e a terceira gerações. Para o Brasil, é estratégico que a parceria com os Estados Unidos avance.
Um memorando de entendimento sobre cooperação entre Brasil e EUA foi assinado em março de 2007. Enquanto no Brasil cerca de 85% dos pesquisadores estão ligados ao governo, nos Estados Unidos, mais de 50% das pesquisas são amparadas pela iniciativa privada, o que garante maior aporte de recursos.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Brasil precisa provar etanol sustentável

O ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton afirmou hoje que o Brasil precisa provar para o mundo que pode produzir combustível renovável sem afetar seu próprio meio ambiente. Segundo ele, o Brasil vai ter de provar que pode reduzir as emissões de gás carbônico do mundo sem afetar sua própria sustentabilidade. "O Brasil terá de resolver este problema interno, local, para depois tentar resolver o problema global", disse ele, durante plenária do Ethanol Summit 2009.
Clinton disse que o mundo tem certeza de que o etanol de cana-de-açúcar é o biocombustível mais eficiente para combater os problemas de aquecimento global. Porém, ele ponderou que, se o etanol de cana começar a ser utilizado em larga escala, a produção de cana poderá se expandir de forma expressiva para as áreas de pastagem de gado, empurrando o gado e os grãos para a Amazônia. "O Brasil precisa provar para o mundo que isto não vai acontecer", disse.
O ex-presidente disse ainda que o Brasil pode ser líder mundial na questão da eficiência energética, assim como fez na produção de energia, e cobrou um trabalho conjunto entre o País e os Estados Unidos na criação de um modelo de sustentabilidade que valorize reduções de emissões e os créditos de carbono.
Durante a plenária, Clinton também cobrou do Brasil uma redução nas emissões vindas de agricultura e desmatamento, que correspondem a 75% das emissões totais do País, segundo ele. "Vocês têm uma eficiência grande na redução de emissões dos transportes e na produção de energia a partir de hidrelétricas", lembrou. "Mas vocês são o oitavo maior país em emissões e estão próximos de Índia e China", completou.
Para o ex-presidente norte-americano, a sustentabilidade é única forma de se reduzir a instabilidade e a desigualdade mundiais. Em relação à desigualdade social, Clinton lembrou que apenas países europeus que cumprem as metas do Protocolo de Kyoto, assinado em 1990, conseguiram reduzi-la.
Segundo Clinton, Dinamarca, Suécia, Alemanha conseguiram, ao mesmo tempo, reduzir a desigualdade e serem os únicos entre as mais de 140 nações signatárias do Protocolo de Kyoto a conseguir cumprir as metas previstas. "O Reino Unido também conseguiu cumprir as metas e só não conseguiu reduzir a desigualdade devido ao crescimento dos níveis salariais", concluiu.