sexta-feira, 30 de julho de 2010

Dinamarca é sucesso no uso de energia eólica

Exemplo a ser seguido: Dinamarca é exemplo de sucesso no uso de energia eólica.
Parque eólico marinho de Horns Rev 1, ao largo do porto de Esbjerg, no Mar do Norte, com 80 eólicas produzindo 160 MW.
A 30 quilômetros da costa oeste da Dinamarca, ao largo do porto de Esbjerg, as 91 turbinas do parque eólico de Horns Rev 2 giram dia e noite, faça chuva ou faça sol. No total, 209 MW são produzidos desde setembro de 2009 em quase 35 Km². Um pouco mais perto da costa, o parque Horns Rev 1, instalado em 2002, emprega 80 máquinas com uma potência de 160 MW. Esse conjunto constitui atualmente o maior parque offshore do mundo. Ele também é o mais recente exemplo da política da Dinamarca em matéria de promoção de energias renováveis.
Enquanto na França a tumultuosa adoção da lei Grenelle 2 abriu um período de incerteza para a energia eólica, os dinamarqueses exibem os resultados favoráveis de um desenvolvimento construído, há cerca de trinta anos, sobre uma mistura de vontade política, de simplificação administrativa e de cooperação com a população local.
Mais de 22% da eletricidade produzida na Dinamarca provêm da energia eólica, terrestre ou marítima, ante cerca de 1,5% na França. Para chegar lá, os dinamarqueses apostaram em diversas alavancas. Para começar, essa energia é aqui um pouco mais “problema de todos” do que em outros países. “O movimento pela energia eólica partiu do campo”, explica Ann Pedersen Bouisset, do ministério das Relações Exteriores, “os primeiros geradores eólicos foram instalados por cooperativas vindas de comunidades ou de municipalidades”.
O envolvimento da população
Essa iniciativa participativa está presente ainda no acordo da política energética, elaborado em fevereiro de 2008 pelo governo e pelo Parlamento a fim de traçar a estratégia energética do país. O texto permite que os cidadãos participem dos projetos de parques eólicos próximos de suas casas. E um fundo ajuda as associações de proprietários locais de turbinas a financiar os estudos preliminares sobre os projetos de implantação.
Esse método facilitou a aceitabilidade social da energia eólica, garantindo às populações que estas teriam poder de decisão. Dessa forma, 90% dos dinamarqueses citam a energia eólica como prioridade no desenvolvimento das energias renováveis, segundo recente pesquisa.
Para os parques Horns Rev 1 e 2, o diálogo com os pescadores também foi feito previamente. Os pescadores de Esbjerg não se opuseram ao projeto, certos de que seria melhor influenciá-lo em vez de tentar – provavelmente em vão – entravá-lo. Eles conseguiram com que fosse deslocado o esquema de implantação inicial para respeitar melhor as zonas de pesca, e 1 milhão de euros de indenização foi pago a eles.
Uma administração racionalizada
A simplificação máxima do processo de instrução dos projetos é outra chave do sucesso dinamarquês. Um guichê único, reunindo os diferentes ministérios interessados e a Energinet, a administradora de transporte de eletricidade, foi instaurado dentro da Danish Energy Authority. Ele administra a seleção de regiões onde serão desenvolvidas as capacidades de produção, coordena todos os estudos, inclusive a auditoria ambiental, e depois faz as licitações. A Energinet tem a obrigação de fazer a conexão de qualquer projeto autorizado desde sua instalação e de pagar uma penalidade se isso não for feito quando a produção de eletricidade começar.
A energia eólica tem um real impacto sobre a indústria dinamarquesa e sobre o emprego. Em 2010, as vendas de tecnologia eólica deverão representar mais de 10% das exportações. Especialmente graças aos projetos Horns Rev 1 e 2, que assumiram o lugar da atividade petroleira offshore, o porto de Esbjerg se impôs como “a primeira plataforma logística do país para os equipamentos offshore”, destaca John Snedker, um dos políticos da cidade.
A partir de suas plataformas, a dinamarquesa Vestas entrega dezenas de turbinas para todo o mundo, enquanto a alemã Siemens atualmente envia aerogeradores fabricados na Dinamarca e destinados a serem instalados na Inglaterra.
Enquanto a França dá seus primeiros passos, a Dinamarca já pensa na renovação de um parque ultrapassado. Um programa de modernização sustentado por subsídios governamentais foi lançado. As indústrias dinamarquesas, por sua vez, veem o futuro em parques cada vez maiores e em máquinas cada vez mais potentes. (EcoDebate)

Energia verde para a comunidade

No passado, as pessoas tinham acesso à energia barata (ou gratuita) quando utilizavam o carvão vegetal e havia ampla disponibilidade de matas. Porém, além dos danos ambientais causados pelo desmatamento, esta alternativa deixou de ser viável com o crescimento populacional e para quem passou a morar nas grandes cidades. A produção e distribuição de energia ficaram concentradas em grandes empresas e/ou nas mãos do Estado. O povo passou a ser simples consumidor pagando pela energia utilizada.
Todavia, isto pode estar mudando, concomitantemente ao começo de uma revolução energética verde. Por exemplo: o governo britânico anunciou detalhes sobre as taxas que serão pagas para energia renovável gerada pelos proprietários e comunidades. Chamado de Clean Energy Cashback, ou “Feed-in Tariff” (FIT), o objetivo é proporcionar um bônus acima do mercado, que incentive os indivíduos e grupos a investir em painéis solares, turbinas eólicas e outras formas de energia verde.
Paul King, chefe executivo da UK Green Building Council, disse à CNN que o anúncio vai ajudar a tornar as energias renováveis em pequena escala uma opção mais atraente e viável para as famílias, comunidades e empresas. Ele também acredita que ele irá também apoiar uma indústria verde emergente e gerar empregos de alta qualidade. Quando a Alemanha introduziu um esquema similar ao FIT, 10 anos atrás, foi o marco para a revolução da energia verde no país, transformando-o em um líder europeu em energias renováveis.
Segundo a CNN, uma pesquisa no final de janeiro de 2010 feita para a Associação de Energia Renovável Amigos da Terra revelou que 71% dos proprietários de casas no Reino Unido disse que iriam considerar a instalação de sistemas de energia verde se fossem pagos em dinheiro o bastante. Isto é, se for adotado a micro geração de energia poderiam transformar a forma como as habitações são construídas, significando não apenas construir casas novas, mas também incluir pelo menos alguns tipos de geração de energia renovável em pequena escala.
Atualmente as tecnologias mais susceptíveis de serem utilizados tem sido painéis solares térmicos e painéis fotovoltaicos que podem ser acomodados ou integrado em telhados. Mas pode-se olhar para frente, no futuro, à escala da comunidade e perceber o potencial de eletricidade e calor que podem ser gerados a partir de tecnologias renováveis.
Outro exemplo de produção de energia controlada pela comunidade vem da Dinamarca. A ilha de Samso iniciou os esforços para se tornar auto suficiente em termos energéticos, em 1997, dependendo apenas das energias renováveis. Hoje está perto de consegui-lo e os habitantes não só cobrem as suas próprias necessidades energéticas como vendem energia à rede pública.
Embora tenha havido alguma resistência inicial por parte da população, majoritariamente dedicada à agricultura, hoje os habitantes de Samso são entusiastas da causa das energias renováveis, dispondo a nível doméstico de painéis fotovoltaicos ou pequenos aerogeradores que não só suprem as suas necessidades como ainda lhes dão lucro através da venda do excesso de energia produzido. Samso dispõe de 11 cataventos que podem fornecer a energia elétrica necessária a toda a ilha, a par de quatro estações de biomassa e 2500m² de coletores solares que cobrem 70% dos gastos associados ao aquecimento. A estes há ainda que adicionar os aerogeradores situados 3,5 km da costa.
A ilha de Samso continua ligada à rede elétrica da Dinamarca, mas a energia que chega à ilha é muito menor do que a energia que sai, sendo que a exportação de energia superou a de batatas.
Estes exemplos mostram que, paralelamente à revolução verde na energia, pode haver uma revolução no tipo de propriedade de sua produção, possibilitando que o povo tenha poder sobre o futuro energético de cada país e do Planeta. (EcoDebate)

As lições de um país verde

O que o mundo tem a aprender com a Alemanha, nação que prevê produzir 100% de sua eletricidade com fontes limpas até 2050.
O país que produz quase metade da energia solar no mundo tem mais dias nebulosos que ensolarados. Parece, no mínimo, um investimento equivocado, mas o motivo de as coisas serem desse jeito explica, em grande parte, o porquê de a Alemanha estar à frente na batalha contra a dependência dos combustíveis fósseis – intensificada com o combate ao aquecimento global e, agora, ainda mais urgente depois do vazamento de petróleo no Golfo do México. Desde muito cedo, os alemães reconheceram a importância da transição para uma economia mais limpa e, recentemente, começaram a colher os frutos de seu pioneirismo.
A Alemanha parece estar em um ritmo completamente diferente das grandes potências. Enquanto a maré negra se espalha e o Brasil só tem olhos para a exploração do pré-sal, os alemães anunciaram uma meta arrojada: em 2050, a previsão é de que toda a eletricidade produzida no país venha de fontes renováveis, como solar, eólica ou biomassa. No ano passado, as fontes alternativas responderam por 16,1% da eletricidade gerada no país.
O segredo alemão não é nenhum mistério, e a própria Alemanha busca disseminar as experiências que deram certo para o resto do mundo. O primeiro fator foi uma mudança de postura, que para os europeus ocorreu já na década de 70. Ao contrário dos demais países, a Alemanha resolveu responder à crise do petróleo da época com o investimento em energias limpas. O resultado são décadas de estudos que levaram o país à liderança em tecnologia no setor. Grande parte dos mais modernos equipamentos – de células solares fotovoltaicas a turbinas eólicas – é produzida em território alemão.
“Há muito intercâmbio com a Alemanha, mandamos muitos pesquisadores para universidades de lá. Inclusive, temos aqui na UFRGS um pequeno gerador eólico de uma empresa alemã” diz o peruano Harold Deza Luna, pesquisador em energias renováveis do Laboratório de Transformação Mecânica da UFRGS.
Mas não é só tecnologia que a Alemanha exporta. A legislação criada pelo país para impulsionar a produção de energia renovável foi copiada por cerca de 70 nações mundo afora. A principal delas entrou em vigor em 2000: a Erneuerbare-Energien-Gesetz, conhecida pela sigla EEG – que, segundo Luna, é a maior lição alemã para o Brasil. É o que pensa também a americana Piper Foster, da Sopris Foundation, dos EUA.
“Essa é a medida isolada mais poderosa para combater as mudanças climáticas e incentivar as energias renováveis”, disse a pesquisadora, que está há mais de um ano em Berlim para estudar as experiências alemãs no desenvolvimento de energias limpas.
Pela EEG, todo cidadão pode montar uma pequena central de energia de fontes renováveis, que é ligada à rede elétrica. As operadoras do país são obrigadas a comprar o que for produzido em excedente, pagando tarifas preestabelecidas, que valem por 20 anos. Os valores variam de acordo com o tipo de energia, sendo mais altos para as fontes que custam mais e que precisam ser mais desenvolvidas, como a solar fotovoltaica. A diferença de preço é repassada para os consumidores, que têm um pequeno aumento na conta de luz. Assim, o custo-benefício da instalação da tecnologia para esse tipo de energia torna-se muito interessante.
Muitos governos ainda não fazem grandes investimentos em energias renováveis devido ao alto custo. Isto, segundo Piper, é um erro que poderá colocar empresas e países em uma situação muito vulnerável no futuro.
“Quando as pessoas dizem que energia renovável é cara, ignoram o fato de que o preço dos combustíveis fósseis está aumentando e que carvão, gás natural e petróleo estão acabando. Apesar de o custo das energias renováveis serem mais alto no início, podemos prever seu custo no longo prazo, porque vento e sol são gratuitos”, finaliza. (EcoDebate)

Energia solar faz subir preço de terra no deserto

Índia: Interesse em energia solar faz subir preço de terra no deserto Thar.
A sede da Índia por energia solar transformou as terras inóspitas do deserto Thar em uma tomada elétrica em potencial, com grandes promessas para empresas do setor e para um país às voltas com cortes regulares de eletricidade.
“Vou abrir meu próprio hotel”, disse Vijay Singh, um homem que acaba de ganhar US$ 60 mil após vender parte de sua fazenda, um pedaço de terra seco e empoeirado.
O deserto Thar ocupa um território de 200 mil km² na região noroeste da Índia. E como explica o especialista PC Pnda, do Central Arid Zone Research Institute, no Estado do Rajastão, sol é algo que não falta no local.
“Aqui na região temos radiação solar em abundância. Mais de 300 dias de sol por ano, nove horas por dia”.
Recentemente, o governo indiano lançou sua Missão Solar Nacional, um plano de US$ 19 bilhões cuja meta é gerar 20 mil megawatts de eletricidade solar por volta de 2022.
No momento, a energia solar contribui com uma pequena fração disso menos de 1%.
AbundânciaSegundo um vendedor de imóveis da região, Multan Parihar, a terra local pode ser usada para produzir energia solar. Mas não é apenas o sol que está atraindo o governo e investidores ao Rajastão.
A área também possui o que grandes projetos energéticos precisam: terra.
“Nessa área, tem muita terra do governo disponível e terra privada também”, disse Parihar.
Segundo ele, nos últimos tempos, o Rajastão se tornou um bom lugar para se fazer negócios imobiliários. Preços em algumas regiões triplicaram nos últimos seis meses.
“As pessoas não usam a terra para agricultura, o lugar é desolado. Mas pode ser usado para produzir energia solar”.
A revolução solar no deserto Thar deve ter início em breve, quando uma das maiores empresas de energia da Índia, a Reliance Industries, ativar sua usina solar de cinco megawatts na cidade vizinha, Khimsar.
Demanda
Projetos envolvendo energia são prioritários se a nação quiser manter seu grande crescimento econômico, segundo grandes empresários indianos.
“A indústria de manufatura está diretamente associada à energia”, disse Hari Bhartia, um dos mais bem-sucedidos empresários do país, dono de um império que envolve produtos farmacêuticos, energia e varejo.
“Não acho que você pode construir uma indústria manufatureira a menos que tenha um suprimento estável de energia. Energia faz parte do crescimento econômico”.
Mas apesar de estar envolvido na operação de campos de petróleo e gás na Índia, Bhartia não pretende investir no deserto.
“Hoje, esses projetos solares são movidos principalmente por subsídios governamentais. A longo prazo, essas tecnologias precisam ficar auto-suficientes”.
Apesar da cautela de alguns, o fazendeiro Singh está confiante de que cidades barulhentas vão surgir na terra solitária que um dia foi sua. E um número constante de técnicos em energia solar vai querer se hospedar em seu hotel. (EcoDebate)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ônibus a hidrogênio chegam a SP e RJ

Popularização de veículos com combustível que não emite poluentes, porém, deve ocorrer só nas próximas décadas, dizem especialistas.
Ônibus movidos a hidrogênio, que têm como principal vantagem ambiental emitir somente água do escapamento, já chegaram a São Paulo e ao Rio. A expectativa é que o País utilize esses veículos na Copa do Mundo, em 2014, e na Olimpíada, em 2016. Entretanto, segundo especialistas, a popularização de carros que usam esse tipo de combustível e evitam a poluição do ar nas cidades e danos à saúde da população só deve ocorrer nas próximas décadas.
No Rio, a previsão é de que o ônibus desenvolvido pela Coppe (pós-graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) circule neste mês na Cidade Universitária e atenda professores, alunos e funcionários. Depois, ele deve operar em uma linha da zona sul.
Em São Paulo, o ônibus está em testes com peso (3 toneladas de areia) em várias linhas do corredor ABD (São Mateus/Jabaquara). A intenção é que em três meses comece a andar com passageiros.
"Não existem diferenças significativas de desempenho operacional entre esse ônibus e os convencionais. A diferença se dá no aspecto da poluição ambiental, pois o ônibus movido a hidrogênio não apresenta nenhuma emissão de material particulado (mistura de poeira e fumaça) ou gases de efeito estufa", diz Ivan Carlos Regina, da gerência de planejamento da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU).
Segundo ele, serão adquiridos mais três ônibus, que devem entrar em operação em 2011. Além do Brasil, quatro países fizeram uso desses ônibus: EUA, China, Alemanha e Canadá. Nos Jogos de Inverno de Vancouver, ocorridos em fevereiro, ônibus a hidrogênio fizeram o trajeto entre o aeroporto da cidade e a estação de esqui Whistler.
Mas o avanço tem sido lento. Ennio Peres da Silva, chefe do laboratório de hidrogênio da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), lembra que o projeto em São Paulo foi feito há dez anos e só agora está sendo concluído. "Acho que o aumento da frota vai demorar muitos anos."
As montadoras, porém, estão atentas à tecnologia. Todos os grandes fabricantes já têm seus modelos tecnicamente prontos para comercialização e tentam reduzir os custos. "Isso deverá ocorrer principalmente com uma grande escala de fabricação."
Michael Fowler, da Universidade de Waterloo, no Canadá, reforça que a tecnologia para a economia do hidrogênio está pronta. "Naturalmente, a construção da infraestrutura de produção de hidrogênio e de distribuição será necessária, e isso vai ser feito ao longo de um período de várias décadas", afirma.
Apesar de acreditar que os veículos a hidrogênio se tornarão comuns no futuro, ele aponta o petróleo como o principal atrasador do processo. "O petróleo continua a ter um custo competitivo para uso como combustível no transporte. No entanto, traz um grande custo ambiental."
Para ele, agora a transição é uma decisão política. "Quanto tempo a sociedade está disposta a viver com má qualidade do ar urbano, com os danos ambientais da exploração de combustíveis fósseis e com os riscos das mudanças climáticas?"
Verde ou negro. O hidrogênio pode ser produzido a partir de diversas fontes. Essa versatilidade, porém, nem sempre é positiva ao ambiente. O Ministério do Meio Ambiente demonstra preocupação com a questão no Brasil, é comum produzir hidrogênio a partir do gás natural, que é um combustível fóssil. Nesse caso, a pasta não vê vantagem no uso como combustível. Mas é possível gerar hidrogênio por meio de fontes mais limpas, como hidrelétrica, eólica, solar, biomassa e etanol. "Costumamos dizer que existe o hidrogênio "verde", produzido de fontes renováveis e mais limpas, e o hidrogênio "negro", de fontes fósseis (petróleo, carvão, gás natural), com grandes impactos ambientais", explica o professor da Unicamp. O gás também pode ser criado a partir da energia nuclear. "Nesse caso, seus problemas são os riscos de acidentes e o que fazer com o lixo radioativo", diz Silva.
Para evitar a emissão de poluentes e gases-estufa do hidrogênio que vêm de fontes fósseis seria preciso fazer o sequestro do carbono e enterrá-lo sob a terra ou no fundo dos oceanos. Existem métodos para isso, entretanto, um dos grandes desafios é garantir que os gases armazenados não escapem para a atmosfera. (OESP)

Ônibus movido a hidrogênio que não polui

Lançado ônibus movido a hidrogênio que não polui, nem faz barulho.
O futuro do transporte coletivo chega quase sem fazer barulho. No lugar do motor à combustão, entra um silencioso conjunto de baterias, carregado na tomada. Em vez de fumaça, o cano de descarga elimina vapor d'água que, se condensado, poderia ser bebido normalmente. Assim funciona o ônibus a hidrogênio, que será apresentado hoje pela Coppe/UFRJ no Aterro do Flamengo - o primeiro a rodar no país. O invento ganha as ruas no próximo semestre. E, embora tenha custo maior do que os tradicionais veículos a diesel, espera-se que sua presença cresça exponencialmente até a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas, dois anos depois.
O preço do ônibus a hidrogênio é cinco vezes maior do que o dos movidos a diesel, mas o investimento na nova frota prova-se mais barato em cerca de três anos, segundo seus idealizadores. Ao contrário do transporte já disponível, o novo modelo, com tecnologia 100% nacional, tem aparato mecânico menor e custo irrisório de abastecimento.
O veículo, que não emite poluentes - um ganho e tanto em tempos de aquecimento global e necessidade de redução de emissões de gases-estufa - também gera uma economia significativa para o sistema de saúde pública. Se toda a frota paulistana fosse substituída por ônibus a hidrogênio, a cidade deixaria de desembolsar R$ 600 milhões com o tratamento de doenças respiratórias.
Três fontes de energia disponíveis
O veículo, que tem autonomia para percorrer 300 quilômetros, usa três fontes de eletricidade: conexão prévia à rede (feita por baterias carregadas na tomada), pilha a combustível (alimentada com hidrogênio) e energia produzida a bordo.
- Um ônibus a diesel desperdiça energia cinética produzida quando o motorista freia ou não pisa no acelerador. No veículo a hidrogênio, ela transforma-se em energia elétrica, armazenada em ultracapacitores, explica Paulo Emílio de Miranda, coordenador do Laboratório de Hidrogênio da Coppe.
Um condutor reúne essas fontes aos diferentes equipamentos do veículo - ar condicionado, sistema de tração, acionamento de portas. A divisão do espaço interno foi idealizada para que houvesse o menor gasto de energia possível. Ainda assim, foi possível dar ao ônibus um aspecto semelhante ao de seus antepassados a diesel. Dentro dele cabem 68 pessoas, sendo 27 sentadas. Há, também, rampa e uma área reservada para deficientes físicos.
O ônibus começará, no mês que vem, a transportar alunos e professores pela Cidade Universitária, onde foi construído. A Petrobras vai instalar um posto de abastecimento na região, com cilindros que armazenem hidrogênio gasoso.
Até o fim do ano, o veículo será incorporado à frota de uma empresa de ônibus comercial, provavelmente cumprindo o trajeto entre os aeroportos do Galeão e Santos Dumont.
Antes de produzir veículos semelhantes, a Coppe vai se dedicar à fabricação de outros dois protótipos: um ônibus elétrico híbrido a álcool e outro exclusivamente elétrico. Segundo Miranda, cada modelo tem as suas vantagens.
- O veículo 100% elétrico não produz resíduo algum. Sequer tem cano de descarga. Mas sua autonomia é a menor entre os três, e, por isso, ele é apropriado para trajetos mais curtos - compara. - O híbrido a álcool conta com uma infraestrutura instalada, que são os atuais postos de abastecimento. Mas o ônibus de hidrogênio, que inauguramos agora, me parece o mais sustentável, o que vai perdurar.
O projeto da Coppe junta-se a um seleto grupo, composto por cerca de dez iniciativas no mundo (a maioria ainda em fase de protótipos), visando ao desenvolvimento de ônibus movidos a hidrogênio. Estima-se que tenham sido produzidos cerca de 50 veículos semelhantes ao que será usado no Rio.
O ônibus contou com financiamento de empresas privadas, Petrobras e Finep. Agora, a Coppe negocia investimentos para a construção de pequenas frotas com a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros (Fetranspor), a prefeitura e o governo estadual.
- É uma grande demonstração de capacidade tecnológica e preocupação ambiental do país - elogia Miranda. - A mudança da frota de ônibus começará timidamente, mas, na Copa do Mundo, podemos ter um transporte limpo, ao menos em alguns corredores urbanos. (oglobo)

Ônibus brasileiro a hidrogênio

Primeiro ônibus brasileiro a hidrogênio é apresentado em São Paulo.
Água no escapamento
O Ônibus Brasileiro a Hidrogênio foi apresentado em São Paulo, circulará em testes na Região Metropolitana.
A novidade é o uso do hidrogênio como combustível, liberando apenas vapor de água no escapamento. O hidrogênio é o elemento químico mais abundante da Terra, embora ele não ocorra livre na atmosfera, devendo ser produzido industrialmente.
Com a construção do primeiro veículo do tipo na América Latina, o Brasil passa a ter posição global de destaque nesta tecnologia, ao lado dos Estados Unidos, da Alemanha e da China.
Como funciona o ônibus a hidrogênio
O ônibus brasileiro a hidrogênio é movido a tração elétrica. O processo de propulsão (movimentação) do veículo ocorre quando o hidrogênio armazenado nos tanques do ônibus é injetado na célula a combustível. Lá ocorre um processo eletroquímico que produz energia elétrica por meio da fusão do hidrogênio com o oxigênio do ar, liberando água como subproduto.
O sistema de célula a combustível não produz nenhum tipo de poluente. É diferente dos ônibus com motores a diesel, no qual a energia térmica é transformada em energia mecânica, ao mesmo tempo em que o combustível queimado gera resíduos poluentes.
A energia elétrica, depois de armazenada nas baterias, movimenta o motor elétrico de tração (similar ao de um trólebus), instalado no eixo traseiro do ônibus, gerando energia mecânica.
Propulsão híbrida
O ônibus é híbrido (célula a combustível a hidrogênio + três baterias de alto desempenho) e possui autonomia de rodagem de 300 km com o uso do hidrogênio. Se necessário, consegue rodar mais 40 km utilizando a energia reservada nas baterias. Pode ser operado exclusivamente com as células a combustível, somente com as baterias ou utilizar os dois sistemas simultaneamente.
O veículo tem capacidade para armazenar 45 kg de hidrogênio em nove tanques e sua média de consumo é de 15 kg de hidrogênio a cada 100 km percorridos.
O ônibus também conta com um dispositivo de regeneração do sistema de frenagem (aproveitamento do calor), semelhante ao empregado na Fórmula 1, no qual a energia é armazenada nas baterias e usada na necessidade de maior potência na movimentação do veículo (em subidas, por exemplo).
"O Brasil é um dos cinco países do mundo que dominam a tecnologia e que têm ônibus movidos a hidrogênio. Também é importante salientar que somos o único, entre esses países, que detém uma tecnologia híbrida, como segunda opção para o ônibus a hidrogênio: a eletricidade", disse o governador José Serra durante a apresentação.
Produção de hidrogênio
Construído em Caxias do Sul (RS) pela Tuttotrasporti e pela Marcopolo, o protótipo passou pelos testes automotivos necessários para a sua homologação. Os outros três veículos serão incluídos no sistema a partir de 2010.
O projeto prevê a fabricação de até quatro veículos, mais a montagem da estação de produção de hidrogênio e abastecimento dos ônibus, em São Bernardo do Campo, com o apoio técnico da Petrobras, da BR Distribuidora e da AES Eletropaulo.
O projeto começou há 15 anos quando a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo, empresa vinculada à Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos (EMTU/SP), e o Ministério das Minas e Energia iniciaram estudos para o uso do hidrogênio como combustível em ônibus urbanos.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) destinou US$ 16 milhões do Global Environmental Facility (GEF) para a iniciativa. O Brasil foi beneficiado com o financiamento por ser um país de economia emergente, maior produtor (50 mil unidades por ano) e o maior mercado consumidor de ônibus do mundo.
Testes dos ônibus a hidrogênio
A EMTU/SP, coordenadora nacional do projeto, será responsável pelo acompanhamento e avaliação do desempenho dos veículos que circularão nas 13 linhas do Corredor Metropolitano ABD (São Mateus / Jabaquara), operado pela concessionária Metra.
"Será um teste muito importante do ponto de vista operacional, pois é preciso examinar a economicidade e a viabilidade econômica do projeto. O projeto vale um grande investimento inicial porque se trata de uma tecnologia e uma forma nova de transporte", disse Serra.Esse trabalho será feito até 2011 com os quatro ônibus previstos no projeto. Após o período de testes, os veículos serão incorporados à frota operacional do corredor.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Novas possibilidades de energia

Mar de mudança com novas possibilidades de energia.
O desastre ambiental causado pelo derramamento de petróleo no Golfo do México enfatizou nossa necessidade urgente por fontes de energia alternativas. Mas as opções existentes – como o vento, as ondas e a energia solar – têm suas desvantagens, enquanto a fusão nuclear continua abortada apesar de sua promessa antiga de energia quase ilimitada. Durante algum tempo houve esperança de transformar a biomassa de plantações de milho e beterraba representasse uma grande redução do consumo de combustíveis fósseis, mas é provável que esta continue sendo uma solução marginal, uma vez que essas plantações exigiriam muita terra além das usadas para produzir alimentos. Agora as microalgas – organismos unicelulares que vivem no mar ou em água doce – emergem como a mais nova e promissora alternativa para a biomassa.
Há cerca de 500 mil espécies de microalgas nos oceanos, rios e lagos. Como são organismos unicelulares, eles são altamente eficientes em converter luz em energia – processo conhecido como fotossíntese – diferente de plantas mais complexas que constituídas de milhões de células. Durante a fotossíntese, a microalga também produz hidrogênio para se proteger do excesso de energia da luz, e é esse elemento que interessa aos pesquisadores norte-americanos, porque o hidrogênio pode ser usado como combustível e também para gerar eletricidade. Os experimentos já mostraram que células de microalga podem ser modificadas para gerar quantidades bem maiores de hidrogênio do que fazem naturalmente e que podem até mesmo gerar eletricidade diretamente. As células também produzem naturalmente óleos orgânicos, ou lipídeos, que podem ser transformados em biodiesel que lembra muito o diesel usado no aquecimento e na combustão dos motores.
Há também a possibilidade em longo prazo de ir além disso, modificar as microalgas para produzir biocombustíveis (incluindo o biodiesel) diretamente, sem ter o passo intermediário de gerá-lo a partir dos óleos orgânicos. Isso pode eventualmente ser atingido modificando o processo da fotossíntese para produzir hidrocarbonetos como a gasolina e o diesel, combinando água e dióxido de carbono e retirando o oxigênio através da redução. Isso transformaria as microalgas numa fonte potencialmente eficaz de biocombustíveis e talvez até em geradores diretos de eletricidade. Refinar esses processos é um trabalho em andamento, mas que alguns especialistas, como os do Laboratório Nacional de Energia Renovável dos EUA, a maior agência federal dedicada à pesquisa em energia sustentável, recusaram-se a comentar porque estão atualmente pedindo a patente. De fato, Craig Venter, que recentemente afirmou ter criado “vida artificial”, enfatizou a produção de biocombustíveis a partir de algas como uma importante aplicação futura de seu trabalho. Ele acredita que as técnicas que estão surgindo para transplantar genomas inteiros entre diferentes espécies de bactérias poderiam facilitar o desenvolvimento de tipos de algas que produzem hidrogênio numa quantidade bem maior do que as espécies existentes.
Os pesquisadores estabeleceram que as algas pudessem teoricamente usar 10% da energia solar que absorvem e transformar em biocombustíveis, em comparação com digamos, os apenas 0,05% do etanol de milho. Relembrando os anúncios falsos associados à energia nuclear depois da 2ª Guerra e, mais recentemente, com os próprios biocombustíveis, há boas razões para duvidar de qualquer promessa de energia ilimitada. Há bons motivos para suspeitar de quaisquer afirmações de desenvolver uma fonte totalmente sustentável de energia, dado que a maior parte das fazendas de algas certamente seria no oceano, onde nossa ação ambiental tem sido fraca. Seria necessária muita engenharia para coletar o combustível para a terra em grande escala.
Mas também há motivos para ser otimista. Foi demonstrado que as algas podem ser coletadas em tanques “bio-reatores de alga” que cobririam uma superfície bem menor do que as plantações para biocombustíveis – o que reservaria as terras férteis para a produção de alimentos. Mike Seibert, pesquisador associado da NREL, estima que para substituir toda a gasolina usada nos EUA por etanol de milho exigiria uma plantação de milho de 1.600 quilômetros de extensão e outros 1.600 de largura. Com as algas, a mesma quantidade de energia pode ser produzida numa área de “cerca de 177 quilômetros por 177 quilômetros” – 1% do espaço. E diferentemente das plantações em terra, os recursos naturais cruciais para o processo, como fósforo, nitrogênio e ferro, existem na água, então eles estariam permanentemente disponíveis. Isso significa que as algas poderiam até mesmo limpar a poluição ao mesmo tempo, retirando metais pesados da água. O impacto ambiental, então, poderia na verdade ser positivo.
Mas há problemas, e eles se resumem em três frentes: coletar a luz do sol, convertê-la em uma forma de combustível ou energia apropriada e depois coletar essa energia. A pesquisa até agora se concentrou nos dois primeiros problemas. Um dos principais problemas da coleta está perto de ser resolvido por uma equipe da Universidade da Califórnia, Berkeley. As algas produzem clorofila, que deixa a água verde. Ao cultivar algas amarelas em vez de verdes, a quantidade de luz solar absorvida por cada célula é reduzida para um nível em que a conversão de energia é muito mais eficiente. Ao mesmo tempo, mais luz atravessa e penetra a água, para outras células mais abaixo, então mais energia luminosa pode ser transformada em biocombustíveis.
Enquanto isso, uma equipe da Universidade de Stanford vez outra descoberta potencial importante mostrando que as algas podem ser conectadas a nano-eletrodos feitos de ouro para gerar uma corrente elétrica. Captar a energia elétrica de bilhões dessas células pode parecer algo distante, mas pelo menos foi comprovado que é possível. A possibilidade mais imediata, entretanto, é a de gerar biocombustíveis em vez de eletricidade.
Nesse estágio inicial, é impossível prever quando isso funcionará, mas, diferentemente da fusão nuclear, o processo não significa tudo ou nada: há uma chance de começar com pouco e produzir pequenas quantidades de energia e combustível em projetos piloto. E alguns já estão sendo implementados. O NREL, por exemplo, pediu recentemente a patente de técnicas de bioengenharia para microalgas. Os projetos de biocombustíveis de algas também estão começando a ganhar impulso na Europa, e devem ser mais estimulados graças a um relatório de 3 milhões de euros financiado pela UE sobre tecnologias de biocombustíveis de algas que deve ser concluído em outubro de 2010. Em março, o Carbon Trust da Inglaterra, uma organização encarregada de acelerar a transição para uma economia de baixo carbono, anunciou o financiamento de um desafio de duas fazes que envolverá várias universidades para desenvolver a produção de biocombustíveis de algas em lagos de água salgada, com a meta de atingir a produção de biocombustíveis em escala comercial em 2020. A primeira fase, com financiamento de até 8 milhões de libras, envolve a pesquisa de base que deve ser concluída em 2012. A segunda fase de 10 milhões de libras será testar a produção de biocombustíveis em pequenos projetos-piloto entre 2013 e 2016; os processos de produção em grande escala virão logo depois.
Se qualquer um desses projetos funcionarem, o futuro poderá de fato ser verde. Ou talvez amarelo. (EcoDebate)

sábado, 24 de julho de 2010

Aprimorar processo de combustão

Projeto busca aprimorar o processo de combustão em motores movidos a etanol.
Melhores queimas – Aumentar a economia no consumo de combustível e reduzir a emissão de poluentes é a meta de qualquer fabricante de motor a combustão. É também o foco de uma pesquisa em andamento no Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), em Campinas (SP), e no Departamento de Física da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais.
A pesquisa tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), tendo sido aprovada na chamada lançada em julho de 2008 no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) e do convênio entre as instituições.
“Para aprimorar a combustão, temos que estudar o processo de ignição dos motores”, disse Jayr de Amorim Filho, pesquisador do CTBE que lidera o trabalho em São Paulo, à Agência FAPESP. O estudo é realizado junto à Divisão de Aplicações do Etanol para Motores Automotivos do BIOEN. O grupo mineiro é liderado por Maria Cristina Lopes, professora associada da UFJF.
A pesquisa envolve experimentos com plasma, o quarto estado da matéria e que está presente no processo de ignição. A interação da faísca emitida pela vela de ignição com as moléculas de combustível gera o plasma que provoca a explosão liberadora de energia – que, por sua vez, faz o motor funcionar.
O processo de ignição envolve três fases. Na primeira, é feita a ruptura do gap (espaço vazio) entre os eletrodos da vela. Depois, ocorre a transição para um arco voltaico por meio da aplicação de uma alta corrente com baixa voltagem. Por fim, é obtida uma descarga elétrica rápida, da ordem de milissegundos – nessa última etapa se concentra 90% da energia envolvida no processo.
Para estudar o ciclo está sendo construída uma câmara hiperbárica que pode trabalhar até 14 atm (atmosferas) de pressão para simular as condições de queima. Nela, serão empregados os gases metano e hidrogênio.
“Não usaremos combustível nessa fase porque isso exigiria um sistema mais caro para absorver a energia que seria gerada”, explicou Amorim, ressaltando que a etapa será importante para o levantamento das temperaturas envolvidas no processo.
Para fazer o mapeamento térmico, o CTBE conta com um monocromador com câmera CCD. Por meio da aquisição de espectros, esse equipamento registra vários parâmetros, como temperatura eletrônica, temperatura do gás e densidade eletrônica.
O trabalho também exige um osciloscópio digital de alta performance. “Lidamos com altas correntes que ocorrem em curtíssimos espaços de tempo, por isso os osciloscópios convencionais não dão conta do trabalho”, disse Amorim.
O grupo de pesquisa também desenvolveu o seu próprio gerador de pulsos de alta tensão. Um microprocessador roda um programa em linguagem C (de computação), que gerencia os sinais gerados de acordo com os parâmetros desejados.
Um dos objetivos com o aparato é conseguir controlar o tempo e o volume do plasma e, com isso, encontrar as melhores condições para uma queima mais eficiente do combustível.
O projeto de uma nova vela, que envolverá também um software de controle, deverá ser um dos frutos dessa primeira etapa do projeto. “Na segunda etapa, utilizaremos cilindros transparentes para poder visualizar o experimento”, apontou Amorim.
Colisão de elétrons
A 500 quilômetros do CTBE, a equipe de Juiz de Fora detalha as sessões de choque, que são as áreas de probabilidade de os elétrons colidirem com as moléculas do combustível e assim gerar o plasma.
Para isso, são estudados os processos envolvidos na ignição do plasma e as consequências na pós-descarga em um motor de combustão interna. “O objetivo é encontrar parâmetros adequados para serem aplicados em carros que funcionem com misturas mais pobres de ar-combustível”, explicou Maria Cristina.
Isso significaria um carro mais econômico e menos poluente, uma vez que mais moléculas seriam quebradas durante a combustão. “Quebrando mais moléculas emitiríamos menos partículas danosas ao meio ambiente”, disse a professora da UFJF.
Para chegar a esses resultados, é preciso entender em detalhes o processo de ignição. Isso é feito por meio de equipamentos específicos projetados e construídos na própria universidade. De acordo com Maria Cristina, a ideia é desenvolver tecnologia nacional nessa área e promover a formação de recursos humanos especializados.
O aparelho de sessão de choque total, o espectrômetro de perda de energia de elétrons e o espectrômetro de captura eletrônica são exemplos de equipamentos desenvolvidos na própria UFJF.
O primeiro mede a reatividade como um todo, sem separar os processos. O espectrômetro de perda de energia de elétrons detalha cada um dos processos envolvidos na ignição. E, ao aprisionar por alguns instantes um elétron gerado pela faísca de ignição, o espectrômetro de captura eletrônica é capaz de fornecer a energia contida nessa partícula.
Além das simulações em laboratório, são feitos também modelamentos teóricos que descrevem a colisão dos elétrons com as moléculas de combustível.
O cálculo teórico é feito por meio da colaboração com pesquisadores de outras instituições que também atuam no projeto. São especialistas da Universidade Estadual de Campinas, da Universidade de São Paulo, das universidades federais do Paraná e do ABC e de duas instituições norte-americanas, o Instituto de Tecnologia da Califórnia e a Universidade do Estado da Califórnia em Fullerton.
“Cada reação é estudada a fundo nos experimentos aqui no laboratório em Juiz de Fora. Depois, o professor Michael Ballester, também da UFJF, utiliza-os para fazer a modelagem do plasma e o professor Jayr Amorim reproduz esse plasma no CTBE”, resumiu Maria Cristina.
A ideia é dividir o problema em diferentes especialidades para aumentar as chances de entendê-lo e de apresentar uma resposta eficiente. São ao todo dez pesquisadores colaboradores de seis diferentes instituições de pesquisa além de estudantes de vários níveis, da iniciação científica ao pós-doutorado.
Um convênio bilateral entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos, auxilia o intercâmbio entre estudantes brasileiros e norte-americanos.
Desde o início do projeto, cinco estudantes dos Estados Unidos e dois do Brasil fizeram o intercâmbio atuando nesse projeto. “Isso é muito importante porque precisamos formar recursos humanos qualificados em todos os níveis para essa área de conhecimento”, disse Maria Cristina. (EcoDebate)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A economia azul é possível

O professor Jorge Alberto Vieira Costa é tão defensor da economia azul que faz parte de um seleto grupo no Brasil que já desenvolve pesquisas que estão dentro dessa ideia. Segundo ele, “a economia azul é uma economia voltada ao ambiente, ao social e requer poucos gastos”. Diferente da economia verde, a azul foi pensada por Gunter Pauli, fundador do Zero Emissions Research and Initiatives, que em seu mais recente artigo usou a pesquisa desenvolvida pelo professor Jorge Alberto como um exemplo real da sua teoria econômica. A ideia da pesquisa do professor gaúcho é reutilizar o dióxido de carbono residual de uma usina elétrica movida a carvão para alimentar a alga Spirulina, que por sua vez produz alimento rico em proteínas e é usada para fabricar biocombustíveis.
Na entrevista a seguir, realizada por telefone, Jorge Alberto explicou as funcionalidades e resultados da sua pesquisa com a spirulina. “Quando os espanhóis chegaram ao México, os astecas comiam a Spirulina, uma massa verde que até então não se sabia o que era, e viviam muito mais que outros povos”, relatou.
Jorge Alberto Vieira Costa é graduado em Engenharia de Alimentos pela Universidade Federal do Rio Grande. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul fez especialização em Biotecnologia Moderna e é doutor em Engenharia de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas.
IHU On-Line – O que é a economia azul?
Jorge Alberto Vieira Costa – É uma visão diferenciada da economia. Esperamos que ela mude a forma como está sendo conduzida a questão do capital. A economia azul é uma economia voltada ao ambiente, ao social e requer poucos gastos.
IHU On-Line – O senhor pode nos explicar como funciona e para que serve a pesquisa que desenvolve com dióxido de carbono residual de uma usina elétrica movida a carvão?
Jorge Alberto Vieira Costa – Para produzir energia, utiliza-se a maneira biológica e sustentável ou combustíveis fósseis. Estes existirão durante algum período. Ao queimar combustível fóssil, gera-se CO2 que estava no subsolo durante milhões de anos e que vai para atmosfera. O que fazemos é tentar utilizar a biologia para trazer de volta esse CO2.
Então, queima-se o carvão e usamos microalgas para se alimentarem do CO2 através da fotossíntese. Assim, elas produzem energia e crescem. Crescendo, geram uma biomassa que terá várias utilidades, como a criação de novos biocombustíveis ou até alimentos. Como o carvão pode estar contaminado por metais pesados, só estamos produzindo biocombustíveis, como biodiesel, biometano e biohidrogêngio. Com isso, esse biocombustível vai para a caldeira, substituindo aquele que, inicialmente, era queimado em quantidade maior. Ou seja, há um ciclo completo. Vamos diminuindo cada vez mais a quantidade de combustível fóssil queimado e de CO2 jogado na atmosfera.
IHU On-Line – Que impactos os resultados dessa pesquisa pode ter sobre a economia local?
Jorge Alberto Vieira Costa – O Rio Grande do Sul tem 90% das reservas de carvão do país, que é um dos mais baratos do planeta. No futuro, se não for resolvida a questão do CO2, ele se tornará inviável. Hoje já existem tecnologias para diminuir outros gases que são produzidos durante a queima do carvão, como os responsáveis pela chuva ácida. Além disso, equipamentos resolvem o problema da grande quantidade de cinzas. Mas ainda não existe uma tecnologia disponibilizada comercialmente que resolva a questão do gás carbônico.
Há duas soluções por enquanto: injeção de CO2 em poços de petróleos e em minas de carvão desativados e a outra é a biofixação. Os poços de petróleo mais próximos do Rio Grande do Sul estão a milhares de quilômetros, por isso essa primeira hipótese está descartada. Além disso, as minas de carvão brasileiras são a céu aberto, diferentes de outros países. No Brasil não há muitas outras alternativas a não ser a fixação biológica.
IHU On-Line – É possível manter a ideia de crescimento que o Brasil e países em desenvolvimento têm a partir da economia azul?
Jorge Alberto Vieira Costa – Sim, é possível. Mas as autoridades responsáveis e os órgãos reguladores precisam começar a tomar atitudes. Não estou vendo isso, por exemplo, nas termoelétricas que estão sendo instaladas na Amazônia, por exemplo. Existe preocupação com o dióxido de enxofre, com o SOx [1], mas não há preocupação com o CO2.
Essa não é uma questão que deve ser tratada só pelo Ministério de Minas e Energia. Deve vir do Ministério do Meio Ambiente, que é o grande responsável por este tema. Fazer os empresários entenderem a economia azul me parece mais difícil do que fazer os organismos controladores entenderem e passarem a ideia para todos.
IHU On-Line – Qual a viabilidade técnica da utilização de microalgas para a redução da emissão de gás carbônico proveniente da geração termelétrica?
Jorge Alberto Vieira Costa – Toda essa questão de não deixar o gás carbônico chegar à atmosfera ou retirá-lo de lá é feita pelas árvores e microalgas. Todo oxigênio que respiramos vem daí também. As microalgas são responsáveis por cerca de 70% do oxigênio que respiramos, mas todo mundo pensa que são as árvores. É fácil observar isso, é só pegar um mapa mundi e ver onde há área verde e onde há área azul, que corresponde a dois terços do planeta. Onde há área azul, há microalgas.
IHU On-Line – O que é a Spirulina?
Jorge Alberto Vieira Costa – Spirulina é uma microalga que se adapta muito bem ao consumo humano. Ela tem liberação em todos os órgãos internacionais relacionados à saúde humana e alimentação. Foi uma descoberta riquíssima. Quando os espanhóis chegaram ao México, os astecas comiam a Spirulina, uma massa verde que até então não se sabia o que era, e viviam muito mais que outros povos.
Ela é rica em aminoácidos essenciais e uma das principais fontes de proteínas existentes. Mais de 50% da biomassa dela é composta por proteína. Além disso, a Spirulina tem uma série de ácidos graxos essenciais, como o ômega-3 e o ômega-6, que são tão falados, e também tem uma quantidade de antioxidante muito grande. O antioxidante é a substância da moda, que diminui os problemas relacionados ao envelhecimento celular.
IHU On-Line – Como ela pode mudar nosso padrão de consumo alimentar?
Jorge Alberto Vieira Costa – Esse padrão tinha de ser modificado com uma reeducação alimentar. Isso passaria, entre outras coisas, pelo aumento do consumo de fontes ricas de aminoácidos, ácidos graxos e antioxidantes. A Spirulina caberia muito bem nesse sentido. O ser humano não precisaria, por exemplo, deixar de comer um bolo de chocolate, que é algo que todo mundo gosta. Nós já formulamos o bolo com a Spirulina, receita que até já saiu no Globo Repórter. As crianças adoram tomar leite com achocolatado, então formulamos o achocolatado com Spirulina. Tentamos adaptar na alimentação diária das pessoas a Spirulina sem mudar alguns padrões alimentares. Claro, não vai dar para fazer um churrasco com microalgas. Mas até não acho que o churrasco seja o maior problemas, mas sim os “fast-foods”.
IHU On-Line – De que forma a economia azul pode resolver os problemas atuais em relação ao meio ambiente?
Jorge Alberto Vieira Costa – Economia Azul passa a ser um passo além do desenvolvimento sustentável. Se já pensávamos no desenvolvimento sustentável como forma de corrigir as coisas erradas que fizemos no planeta nos últimos 150 anos, quando começamos a destruir o meio em que a gente vive, o que é uma burrice muito grande, a Economia Azul já passa a ser o passo seguinte. O meio ambiente irá agradecer.
Notas:[1] A principal perturbação humana no ciclo global do enxofre é a libertação de SOX (SO2 mais uma pequena quantidade de SO3) para a atmosfera como resultado da queima de carvão e óleo contendo enxofre. O gás SOX prejudica a respiração nos humanos em elevadas concentrações e é moderadamente tóxico para as plantas. (Ecodebate)

terça-feira, 20 de julho de 2010

Energias ‘verdes’ foram vítimas da crise

As energias "verdes" foram uma das maiores vítimas da crise em 2.009.
Apesar de um esfriamento em 2009, as energias renováveis continuam a ganhar terreno no mundo. A apresentação dia 15/07/2010, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), das “Tendências Mundiais de Investimento nas Energias Sustentáveis” mostra que os investimentos tendem a subir em médio prazo.
No mesmo dia, o estudo feito pela rede mundial REN21, que busca promover essas energias, confirma que “apesar dos ventos contrários causados pela recessão econômica, pela baixa do preço do petróleo e pela ausência de um acordo internacional sobre o clima, as energias renováveis conseguiram se segurar bem”.
O montante dos investimentos em energias renováveis no mundo em 2009 – US$ 162 bilhões (R$ 287 bilhões) – recuou 7% em relação ao ano anterior, mas ele é quatro vezes maior do que o mostrado em 2004, segundo o Pnuma. As dificuldades de financiamento encontradas pelos investidores são a principal explicação do mau desempenho de 2009.
“As energias limpas não são uma bolha criada pelos últimos episódios de um boom do crédito, mas representam um setor de investimento que continuará sendo importante nos próximos anos”, afirmam os especialistas do Pnuma.
A observação dos primeiros meses do ano vem confirmar essas declarações, uma vez que no primeiro semestre US$ 65 bilhões foram gastos em energias verdes, um crescimento de 22% em relação ao mesmo período de 2009. Esse belo início de ano acontece apesar da crise que agita determinados países europeus dinâmicos no setor das energias verdes e da volatilidade dos mercados financeiros.
Em 2009, pelo segundo ano consecutivo, os gastos para instalar novas capacidades de produção renováveis (incluindo a hidrelétrica) foram superiores aos dedicados às energias fósseis. Quase 50 GW de capacidade de geração de energia verde foram criados no mundo, sem contar as grandes instalações hidrelétricas, contra 40GW em 2008, segundo estimativas da agência da ONU. Com a contribuição da hidroeletricidade (mais 28GW), as energias renováveis se aproximam do nível de novas capacidades à base de energias fósseis (83GW). Além disso, em 2009, as energias renováveis forneceram 18% da eletricidade consumida no mundo, segundo a REN21.
O ano de 2009 também foi marcado pela entrada em vigor dos planos de retomada adotados para fazer frente à crise econômica. Uma parte – US$ 188 bilhões, segundo o Pnuma – foi dedicada às energias verdes e à economia de energia. Mas esse empurrãozinho ainda não surtiu todos seus efeitos, uma vez que somente 9% do orçamento previsto para as energias verdes foram gastos em 2009. O resto deve a princípio ser desbloqueado em 2010 e em 2011, contanto que os planos de rigor que se espalham pelos países desenvolvidos não comprometam esses programas.
A parte dos investimentos dedicados em 2009 à pesquisa e ao desenvolvimento em energias limpas pelas empresas e pelos governos chegou a US$ 24,6 bilhões, contra US$ 24,2 bilhões em 2008, um recuo de 16% em relação a 2008 para os primeiros (com US$ 14,9 bilhões) e um crescimento de 49% para os segundos (com US$ 9,7 bilhões). Os governos mostraram voluntarismo político para apoiar a emergência desse novo ramo de energia ao mesmo tempo em que criam empregos verdes.
A evolução dos gastos varia de acordo com a região. Dos US$ 119 bilhões gastos fora de orçamento de pesquisa e desenvolvimento, a China assumiu a liderança na classificação mundial com US$ 33,7 bilhões, um aumento de 53%. Os Estados Unidos (US$ 17 bilhões), o Reino Unido (US$ 11,7 bilhões) e a Espanha (US$ 10,7 bilhões) vêm na sequência.
A energia eólica atraiu a maior parte desses investimentos em 2009, representando na Europa e nos Estados Unidos 39% da potência recém-instalada, ao passo que a China dobrou sua capacidade eólica com a adição de 18,8 GW em 2009. No período 2005-2009, o relatório de REN21 mostra que a potência instalada em energia eólica progrediu em média 27% por ano.
Apesar de os investimentos nas tecnologias verdes tenderem a subir em médio prazo, o futuro poderá ser caótico. A conclusão decepcionante da cúpula de Copenhague, a dificuldade da administração Obama em ter aprovada sua lei sobre o clima ou a vontade dos governos europeus de reduzir os subsídios para as energias renováveis mostram que o crescimento dos investimentos pode sofrer contratempos conjunturais. (EcoDebate)

domingo, 18 de julho de 2010

Populismo e instabilidade atrapalham muito

Populismo e instabilidade criam nó energético na América do Sul.
Chance perdida. Calotes, tensões fronteiriças e legislações nebulosas atrasam energética numa das regiões mais ricas do mundo em fontes de gás e petróleo; dos 58 projetos mais importantes elaborados há 10 anos, apenas 11 foram concluídos.
Uma mistura de disputas seculares por fronteiras, instabilidade econômica e presidentes imprevisíveis está dando um nó de pelo menos US$ 274 bilhões no comércio de energia da América do Sul. O embaraço ameaça frear o desenvolvimento de uma região que poderia não apenas ser autossuficiente, mas aumentar suas exportações de gás, petróleo e biocombustíveis em um século que será marcado pela escassez de energia não-renovável.
Apesar da fartura de suas reservas, os governos sul-americanos vivem perdidos em um roteiro de apagões elétricos, racionamento e crise que afasta investidores estrangeiros e castiga seus próprios consumidores. Nem a riqueza de recursos hídricos e o pioneirismo do biodiesel foram capazes de reverter esse quadro.
O cenário é rico em contradições, como a da Venezuela, país superprodutor de energia que, desde fevereiro, apaga as luzes por 4 horas diárias em dias alternados por não ter investido no setor no momento em que o país crescia 6% ao ano.
Ou como o Equador, que também impôs apagões diários a seus cidadãos, entre novembro e janeiro, um mês depois de embargar uma hidrelétrica que era construída pela brasileira Odebrecht e de negar-se a pagar um crédito de US$ 243 milhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que financiava a obra.
A Bolívia do presidente Evo Morales colocou o Exército nas portas da Petrobrás, em maio de 2006 e, quatro meses depois, confiscou as instalações e o fluxo de caixa das refinarias da estatal brasileira.
"Estamos passando por um ciclo de governos que mesclam seus objetivos políticos e ideológicos de curto prazo com as estratégias de energia, que, para funcionar, exigiriam segurança jurídica e estabilidade por períodos muito longos, que transcendam a duração de um ou dois mandatos presidenciais", disse ao Estado Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Um dos sinais mais evidentes do fracasso da política de integração energética é o resultado da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (Iirsa), criada há dez anos para resolver não apenas os nós energéticos, mas também os entraves nas áreas de transporte e comunicações.
O último relatório do Iirsa revela que dos 58 projetos na área de energia, apenas 11 foram concluídos. O potencial de negócios, só para a construção de barragens, linhas de transmissão e gasodutos, chega a US$ 70 bilhões, mas, mesmo assim, poucas construtoras se aventuraram em investir no setor.
O nó energético, contudo, não é recente, muito menos restrito ao governo bolivariano. O Chile, país que, do fim da ditadura, em 1990, até março deste ano, foi governado por uma coligação de centro-esquerda, ocupa a pior posição no ranking energético sul-americano, mesmo tendo enorme potencial hidrelétrico e sendo vizinho da Bolívia, o maior produtor de gás natural da região.
Uma guerra entre os dois países, há 131 anos, fez com que as relações diplomáticas entre La Paz e Santiago fossem cortadas e o gás boliviano tivesse de tomar um desvio de 4.500 quilômetros pela Argentina, até voltar ao Chile. No inverno, quando o consumo de gás aumenta em Buenos Aires, os chilenos têm de recorrer à lenha para se aquecer.
Crise. Depois de o quinto pior terremoto já visto na história ter destruído parte do país, em 27 de fevereiro, os chilenos parecem ter abandonado definitivamente qualquer plano de instalar usinas nucleares em seu território. Portanto, a alternativa ao gás boliviano poderia estar mais ao norte, no Peru, que atualmente consome 6 mil megawatts de energia hidrelétrica, embora tenha um potencial para gerar três vezes mais.
No entanto, uma polêmica desatada em maio pela simples menção da intenção de exportar gás peruano para México e Chile foi suficiente para que o líder nacionalista e virtual candidato à presidência peruana Ollanta Humala dissesse que os peruanos "já estão vivendo uma crise energética". Para ele, Lima "não garantiu um horizonte de segurança energética que atenda sequer os próximos 20 anos". (estadão.com.br)

Metas do Milênio

Metas do Milênio deveriam incluir questão energética.
Países em desenvolvimento precisam agir contra a 'enorme lacuna' no fornecimento de energia, diz líder do IPCC.
O fornecimento de energia aos pobres deveria constar das Metas de Desenvolvimento do Milênio e uma "negligência evidente" ao setor está prejudicando a luta mundial contra a pobreza, disse o indiano Rajendra Pachauri, chefe do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), da Organização das Nações Unidas (ONU).
Pachauri afirmou que os países em desenvolvimento, como a Índia, precisam agir contra a "enorme lacuna" no fornecimento de energia à população pobre, ao mesmo tempo em que devem se preparar para os efeitos agudos da mudança climática. Pachauri, cujo painel dividiu o Prêmio Nobel da Paz com Al Gore em 2007, disse que satisfazer as necessidades de energia dos pobres deveria constar da lista das Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDM), quando a questão foi debatida em uma importante reunião de cúpula há mais de seis anos.
"Como resultado da insistência dos governos de alguns países, na verdade do governo de apenas um país, todo o setor de energia foi retirado das Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDM)", disse Pachauri em um seminário em Nova Délhi.
"Hoje a energia permanece como a MDM que falta."
A questão energética foi discutida na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, em Johanesburgo, em 2002, disse Pachauri, sem especificar quais países barraram a inclusão do tema nas metas.
"Sem a previsão de fornecimento adequado e apropriado de energia... permaneceremos distantes do desejado e do que precisamos alcançar para a eliminação da pobreza nas áreas rurais ao redor do mundo", afirmou Pachauri.
No mundo, hoje, 1,6 bilhão de pessoas vivem sem eletricidade, causando impacto à saúde, educação e capacidade de trabalho delas, disse Pachauri. (OESP)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Educação e consumo sustentável

Projeto cria política para educação e consumo sustentável.
O país poderá ganhar, em breve, uma Política de Educação para o Consumo Sustentável, se o PLC 270/09, de autoria da deputada Rebecca Garcia (PP-AM) for aprovado pelo Senado Federal. Segundo informações da Agência Senado, um dos objetivos da Política de Educação para o Consumo Sustentável é incentivar mudanças de atitude dos consumidores na escolha de produtos que sejam produzidos com base em processos ecologicamente sustentáveis. A matéria será votada em caráter terminativo.
O projeto, já aprovada pela Câmara dos Deputados, determina a promoção de campanhas para a população em geral, por meio dos meios de comunicação de massa. Também estipula a capacitação de docentes para serem multiplicadores nos programas de educação ambiental dos ensinos fundamental e médio. Em 30 de abril de 2010, o relator, senador Gilberto Goellner (DEM-MT), apresentou parecer favorável à matéria por entender que obedece a Constituição quando ela atribui ao poder público a incumbência de “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.
O projeto tem ainda outros objetivos: estimular a redução do consumo de água, energia e de outros recursos naturais, renováveis e não renováveis, no âmbito residencial e das atividades de produção, de comércio e de serviços; promover a redução do acúmulo de resíduos sólidos, pelo retorno pós-consumo de embalagens, pilhas, baterias, pneus, lâmpadas e outros produtos considerados perigosos ou de difícil decomposição; e estimular a reutilização e a reciclagem dos produtos e embalagens.

Brasil mira mercado de US$ 25 bi

Apesar dos riscos, Brasil mira mercado de US$ 25 bi.
FIESP publica estudo inédito para encorajar empresários brasileiros a aumentar investimentos nos países vizinhos.
Nenhuma região é mais instável que o Oriente Médio, de onde vem a maior parte do petróleo consumido no mundo. Irã, Iraque e Kuwait foram palcos de guerras recentes, mas não deixaram de atrair investimentos internacionais.
Embora a instabilidade sul-americana seja muito menos grave, com recessão, tensões fronteiriças, mudanças repentinas de contrato e calotes, investidores brasileiros pretendem seguir a mesma receita das grandes companhias estrangeiras: buscar grandes negócios, apesar dos grandes riscos.
Para abrir esse caminho, o Departamento de Energia da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP) produziu um relatório de 50 páginas analisando os principais aspectos da segurança energética em dez países da América do Sul. A ideia é que o documento encoraje os brasileiros a investir nesses mercados.
"O transporte de energia depende da construção de estruturas físicas de transmissão. Isso significa que a região precisa ter relações fluidas, regras comuns e grandes investimentos para horizontes longos, de mais de 30 anos", disse ao Estado o diretor-geral do Departamento de Infraestrutura da FIESP, Carlos Antônio Cavalcanti. "Só dentro da América do Sul, o comércio energético chega a US$ 25 bilhões e deve crescer ainda mais."
O diretor da construtora brasileira Odebrecht no Peru, Jorge Barata, disse esperar que o documento da Fiesp encoraje os brasileiros. "A integração viária da América do Sul teve início em 1974 e, por isso, avançou mais rapidamente. A área de energia terá um desenvolvimento semelhante daqui para frente. Temos de estar atentos às oportunidades", disse.
O estudo elaborado pela FIESP revela que pelo menos sete países da América do Sul já dispõem de leis que obrigam a mescla de combustível renovável à gasolina e ao diesel, o que "representa uma oportunidade extraordinária para as empresas brasileiras", de acordo com Cavalcanti.
Na Colômbia, os carros deverão ter, a partir de 2012, 20% de álcool misturado à gasolina. No Paraguai, esse índice é de 24%. Na Argentina, a mescla chega a 5%, enquanto no Chile não passa de 2%.
A novidade pode animar um avanço dos empresários brasileiros sobre esses mercados, algo semelhante ao que ocorre atualmente na América Central. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) estima que os empresários brasileiros poderiam, até 2011, instalar destilarias e usinas no Haiti, Guatemala, Honduras, República Dominicana, Jamaica, Nicarágua, El Salvador e São Cristóvão e Névis. Só na República Dominicana, calcula-se que essa medida possa criar um mercado para 67 milhões de litros de álcool brasileiro por ano. (OESP)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Alemanha terá 100% de energia renovável

Alemanha poderá ter 100% de energia renovável até 2050.
A Alemanha irá produzir toda a sua eletricidade com fontes de energia renovável até 2050 e se tornar a primeira grande nação industrial a eliminar a dependência sobre combustíveis fósseis, disse a Agencia Federal do Meio Ambiente.
A Alemanha já é uma liderança em energia renovável e exporta tecnologia verde para o mundo todo. O país produz 16% de sua energia de fontes eólicas, solares e outras fontes renováveis, três vezes o índice de 5%, há 15 anos. “Uma conversão completa para a energia renovável até 2050 é possível do ponto de vista técnico e ecológico”, disse Jochen Flasbarth, presidente da Agência Federal do Meio Ambiente, ao apresentar um novo estudo a jornalistas na quarta-feira.
“É uma meta muito realista baseada em tecnologia já existente, não é uma previsão abstrata”, acrescentou, dizendo que o cronograma poderia até ser acelerado com novas inovações tecnológicas e uma maior aceitação do público.
Graças ao Ato de Energia Renovável, a Alemanha é o líder mundial de fotovoltaicos com metade da capacidade instalada. O país espera acrescentar mais de 5 mil megawatts de capacidade fotovoltaica neste ano para um total de 14 mil megawatts.
A Alemanha também é a segunda maior produtora de energia eólica depois dos Estados Unidos. Cerca de 300 mil empregos no setor de energia renovável foram criados na Alemanha na última década.
O governo pretende cortar a emissão de gases de efeito estufa em 40% entre 1990 e 2020, e de 80 para 85% até 2050. Esse objetivo pode ser atingido se a Alemanha converter completamente para fontes renováveis até 2050, disse Flasbarth.
Cerca de 40% dos gases de efeito estufa produzidos pela Alemanha vem da produção de eletricidade, particularmente de usinas de carvão.
Flasbarth disse que o estudo da Agência do Meio Ambiente descobriu que a conversão para energia verde até 2050 teria vantagens econômicas, especialmente para a importante indústria manufatureira voltada para exportação. Além disso, também criaria dezenas de milhares de empregos.
“O custo da conversão total para renováveis é muito menor que o custo para futuras gerações causado pelas mudanças climáticas”, disse ele. (EcoDebate)

Energias renováveis: empresas e governos

Energias renováveis: empresas, governos e negócios da China
1- Carvão, Petróleo, Chuva Ácida e Lixo Atômico
A Revolução Industrial se baseou em fontes energéticas que não eram renováveis: no século XVIII até meados do XIX a principal fonte de energia foi o carvão. A partir daí e principalmente no século XX, o petróleo sustentou o desenvolvimento industrial e dos mercados de consumo, inclusive nos países do “socialismo real” do leste europeu e da ex URSS, que eram (e continuam) tão dependentes do petróleo e das fontes não renováveis como os países capitalistas ocidentais.
Durante a Revolução Industrial e a internacionalização dos capitais, as experiências relacionadas com as fontes alternativas e a conservação energética foram localizadas, experimentais, sem projetos integrados e viáveis. As energias renováveis e auto sustentáveis não passavam de boas idéias, experimentos interessantes que pertenciam a um futuro exótico e de difícil visualização, utopias do mundo da física, passatempos de curiosos geniais. A natureza, assim como a disponibilidade de energia pareciam inesgotáveis, estando o desenvolvimento e o progresso contínuos garantidos, bem como o crescimento econômico dos agentes capitalistas ocidentais de livre mercados e seus rivais de economias planificadas do leste.
As alternativas para a geração de energia elétrica, indispensável ao desenvolvimento industrial e tecnológico, tinham (e tem) como principais fontes as hidrelétricas, que requerem grandes áreas inundadas, a destruição de riquezas naturais e de culturas locais; usinas nucleares, em que os riscos de acidentes graves são constantes e o lixo atômico um efeito colateral de difícil solução; e as termoelétricas, que utilizam carvão vegetal e são poluidoras do ar, causando chuvas ácidas em amplos territórios.
Nos anos 60 do século XX iniciou-se um processo de revisão dos valores, métodos, padrões, leis e costumes que geriam a sociedade, inclusive as relações de produção e consumo. Eram atitudes e movimentos mais idealistas que pragmáticos, contestatórios, populares, que se identificavam com o consumo alternativo, defesa do meio ambiente, combate aos preconceitos, solidariedade internacional, multiculturalismo, liberdades pessoais e direitos humanos. “Um movimento de massas surgiu demandando que políticas destrutivas de todos os tipos fossem modificadas” (SILVERSTEIN, 1993, p. 18). Um dos principais alvos das críticas e do ativismo destes movimentos eram as corporações industriais e financeiras e seus métodos de produção, armazenamento, transporte, comercialização e financiamento, que estimulavam o desperdício, inclusive de energia, mascarando o valor dos produtos e tornando-os altamente poluentes.
2 – Sol, Ventos, Ondas e Petróleo
Com o novo contexto, começa a tornar-se viável um mercado alternativo para produtos e empresas que evitam o desperdício, estando o valor agregado na possibilidade de se produzir mais com as mesmas matérias primas e o aumento da eficiência energética, adequando a produção para mercados mais exigentes quanto às origens e destinos finais dos produtos. Nos anos 70 e 80 do século XX muitos empreendedores, principalmente no Japão e na Alemanha, foram bastante eficientes em aumentar a produção de bens e serviços sem desperdiçar recursos energéticos e insumos. Investimentos em pesquisas, tecnologias e programas educativos de conservação permitiram melhorar a eficiência na utilização da energia, desenvolver fontes energéticas alternativas e racionalizar o consumo. Isto contribuiu para tornar estes países competitivos no mercado global, enquanto seus trabalhadores possuíam boa qualidade de vida, com salários altos e direitos sociais assegurados.
As sucessivas crises causadas pela oscilação dos preços do petróleo, a instabilidade de muitos países produtores e a possibilidade concreta de esgotamento deste recurso natural não renovável, obrigou empresas e governos a investir em pesquisas de fontes alternativas, principalmente renováveis como eólica, solar, biomassa, maremotriz, conversão de energia térmica oceânica (OTEC) e células combustíveis. O metano de aterros sanitários também pode ser utilizado para produção de energia elétrica, gerando inclusive recursos para os empreendedores através dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpos (MDL).
O fortalecimento de mercados que valorizam a eficiência pode consolidar muitos investimentos voltados para a conservação e geração alternativa de energias, estimulando a ampliação da demanda de tecnologias, produtos e serviços que utilizam estas fontes. É quase unânime que as energias renováveis são uma alternativa segura para a racionalização da produção, armazenamento e distribuição de mercadorias e serviços, sendo suas possibilidades extensíveis para muitas atividades, inclusive o transporte público, iluminação e geração complementar da demanda tradicional.
O desenvolvimento das energias renováveis estará cada vez mais na pauta de governos e empresas, desde pequenos investimentos locais, até grandes projetos que serão essenciais para a competitividade e o bom funcionamento de atividades indispensáveis como iluminação, transporte, aquecimento e conservação. No entanto, neste início de século XXI o modelo energético ainda está dependente das fontes não renováveis (petróleo, carvão, gás natural).
3 – Empresas, Governos & Negócios da China
Mas grandes investimentos estão programados por empresas e governos para nos próximos anos ampliar consideravelmente o consumo de energias renováveis. Nos EUA, a proposta de governo de Barack Obama prevê investir US$ 150 bilhões em projetos de desenvolvimento econômico que respeitem o meio ambiente, sendo grande parte destes investimentos em geração e pesquisa de energias renováveis. Grandes investimentos em geração de energia termossolar nos EUA estão principalmente na Califórnia e Arizona. O custo para adotar até 2030 uma matriz energética renovável nos EUA é de aproximadamente US$ 3,86 trilhões e para o planeta inteiro, US$ 20 trilhões (ALVES, 2010 em: http://www.ecodebate.com.br/2010/05/2010/05/14/a-corrida-do-ouro-da-energia-renovavel-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/). Grandes investimentos na geração de energia termossolar na Espanha, principalmente na Andaluzia, onde está a PS20, maior torre solar em funcionamento, com capacidade para abastecer 10 mil residências, e em Sevilha onde está a usina Solúcar do grupo espanhol Abengoa, a mais atualizada estrutura da indústria solar, servem de protótipos para projetos e sistemas ousados de geração e distribuição de energia neste século XXI.
O mais ousado destes projetos é o Desertec, que propõe fornecer para a Europa energia termossolar a partir de usinas instaladas no norte da África. O Desertec não é exatamente um projeto ou empresa, é mais um mecanismo articulador das possibilidades. Como expressou seu presidente executivo Paul Van Son: “Nós não somos investidores e não somos desenvolvedores de projetos. Nós somos uma ideia, um movimento”. (http://www.ecodebate.com.br/2010/06/2010/06/04/energia-termossolar-projeto-desertec-de-extrair-energia-solar-do-deserto-ganha-forma/). Quem movimenta esta ideia, investe e desenvolve projetos é um consórcio de 12 empresas que em 2009 inauguraram a Iniciativa Industrial Desertec. Os principais participantes desta iniciativa são a Munich Re, Siemens, E.on, RWE, Deutsche Bank, e outras especializadas em equipamentos, serviços e projetos como Erlangen, Flagsol, Solar Millenniun e Schott Solar. A iniciativa do projeto Desertec é principalmente das empresas alemãs, que controlam um terço do mercado mundial de energia termossolar, com apoio da Agencia Alemã para a Cooperação Técnica (GTZ), que está tratando de amenizar as questões entre os cristãos ocidentais e o islã norte africano. Como complementou Paul Van Son: “Então nós entregaremos tudo ao mercado”. Outros projetos inovadores que utilizam o diferencial das temperaturas da superfície e do fundo do oceano para gerar energia elétrica (Ocean Thermal Energy Conversion – OTEC) estão sendo implantados em ilhas do Pacífico (Nova Caledônia, Vanuatu, Polinésia Francesa). Também existem estudos para o aproveitamento da energia mecânica das marés, sendo o Parque de Ondas de Aguçadouro em Povoa do Varzim, Portugal, o empreendimento mais avançado.
O governo da China é atualmente o maior investidor em energias renováveis e suas tecnologias com um investimento provável de US$ 34 bilhões em 2009. Uma das metas chinesas é ter 100 mil megawatts de capacidade instalada de energia eólica até 2020. Os investimentos e pesquisas dos chineses também são direcionados para a criação de uma indústria de equipamentos e serviços em energias renováveis e alternativas, possibilitando avançar na substituição de sua matriz energética (uma das mais poluentes, movida principalmente a carvão) e tornar-se uma liderança internacional neste setor.
O Brasil é um dos principais participantes deste clube de investidores em alternativas energéticas sustentáveis e investiu R$ 13,2 bilhões em 2009, ficando em quinto lugar entre os países do G-20. Estes investimentos foram principalmente em biocombustíveis, setor em que o país é liderança mundial: metade da demanda de combustíveis em veículos leves do país é de etanol e os veículos flex-fuel, que utilizam combinação de gasolina e etanol são 34% da frota. Está prevista a instalação de 43 novas usinas de biodiesel e 78 usinas de etanol nos próximos anos. A expansão da energia eólica deve ter um investimento de 9,4 bilhões em 71 empreendimentos, possibilitando acrescentar ao Sistema Interligado Nacional 1.805,7 megawatts, porém, existem poucos empreendimentos, pesquisas, tecnologias e projetos em energia solar. Novas usinas hidrelétricas também estão para serem construídas, apesar dos inconvenientes ambientais e sociais que causam. O Brasil está bem situado na utilização de energias sustentáveis, com 47% de sua matriz energética originada em fontes renováveis. “Os produtos da cana de açúcar, o etanol e o bagaço da cana, passaram a ocupar o primeiro lugar na matriz brasileira em 2007 e deslocaram a energia hidráulica para a segunda posição” (Brasil 2009, publicação informativa da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, p. 28).
Mas fontes renováveis não significam que sejam ecologicamente equilibradas e/ou economicamente justas, podendo originar passivos ambientais e sociais que em algumas situações podem comprometer a sustentabilidade geral de regiões e municípios. Apesar do zoneamento agroecológico da cana de açúcar que impede investimentos e cultivos em biomas como a Amazônia, Pantanal, e Mata Atlântica, da redução das queimadas nas áreas de cultivo, dos progressos trabalhistas através do Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Cana de Açúcar, da Política Nacional sobre Mudança Climática que prevê redução entre 36% e 39% dos gases de efeito estufa até 2020, o Brasil enfrenta diversos problemas ambientais e agrários relacionados com o seu programa de biocombustíveis. A construção de algumas hidrelétricas também está sob contestação da sociedade e do Ministério Público, que consideram os benefícios de longo prazo menores que os prejuízos ambientais e sociais imediatos (de longo prazo também).
4 – Usuários, Clientes, Consumidores e Cidadãos
Com a diminuição das reservas de petróleo, carvão e gás, certamente a utilização de energias de fontes renováveis será o caminho para garantir o abastecimento necessário ao desenvolvimento tecnológico, produção, armazenagem, transporte, comercialização e serviços indispensáveis às sociedades do século XXI. As grandes empresas e governos estão com seus negócios, investimentos e sonhos apontados na direção do sol, do mar, dos ventos e dos trópicos, onde tudo que se planta dá. Grandes investimentos que certamente visam lucratividade para os investidores, mas que podem possibilitar um futuro mais limpo e saudável para os consumidores e usuários dos serviços de geração e distribuição de energia.
Os cidadãos podem pressionar os poderes públicos para que ações concretas de apoio ao uso de energias sustentáveis sejam implementadas: Legislação adequada ao aproveitamento de energias alternativas nas novas construções, incentivos fiscais para empresas e cidadãos que realizarem investimentos em suas instalações e residências, financiamentos à adequação de instalações consumidoras, programas de racionalização e conservação de recursos energéticos, incentivos a pesquisadores e indústrias de equipamentos, capacitação profissional para os setores de geração, armazenamento e distribuição de energias renováveis, formação de conselhos de usuários e consumidores de energia, e vontade política para enfrentar desafios essenciais ao século XXI (e aos próximos) é um caminho que necessariamente terá de ser construído por processos democráticos e participativos, ou seja, por mim e por você(s).
Indispensável destacar que experiências autônomas e autosuficientes em residências, empresas e pequenas comunidades também são essenciais para a racionalização do consumo, custos e produção, contribuindo para novas tecnologias, o desenvolvimento sustentável e o bem estar coletivo. (EcoDebate)

Energias renováveis em evidência

Com o fracasso das negociações intermediadas pela ONU na COP-15, o Brasil anunciou medidas unilaterais para reduzir suas emissões de CO2, estabelecendo a meta de diminuir entre 36% e 39% até 2020 as suas emissões de gases de efeito estufa. A Lei de Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) de dezembro/2009, estabelece princípios, objetivos, diretrizes, instrumentos e metas, buscando a consolidação de uma economia de baixo consumo de carbono. A recuperação de 100 milhões de hectares de pastos degradados, que também está prevista na PNMC, pretende assegurar a expansão agrícola evitando o desmatamento e preservando as áreas naturais.
Outra contribuição indispensável do país para a sustentabilidade planetária são os biocombustíveis, setor em que o Brasil é a maior liderança mundial. O biodiesel que desde 2005 tinha 2% de adição ao diesel tradicional, passou para 5% em janeiro de 2010, meta que estava estabelecida para 2013. O etanol movimenta metade da frota leve do país. Os carros flex-fuel que permitem combinar etanol e gasolina correspondem a 34% da frota de veículos leves. Nos 30 anos em que o etanol está em uso no Brasil, 850 milhões de toneladas de CO2 deixaram de ser emitidas. Recentemente foi concluído o zoneamento agroecológico da cana de açúcar, que orienta os investimentos agrícolas desta cultura, impedindo o plantio em biomas como a Amazônia, Pantanal e áreas de vegetação nativa. As queimadas nas áreas de produção também foram reduzidas, possibilitando a diminuição de 6 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera.
O clima, relevo, hidrografia e extensão territorial possibilitam que quase 90% da oferta de energia elétrica do Brasil sejam de fontes renováveis. No conjunto da matriz energética brasileira, 47% são de fontes renováveis. A média mundial neste setor é de 14%. Em 2007, os produtos da cana de açúcar e o bagaço da cana passaram a ocupar o primeiro lugar, deslocando a energia hidráulica para a segunda posição. A energia eólica também está sendo considerada como estratégica para a autosuficiência, sendo que nos próximos anos devem acontecer investimentos de R$ 9,4 bilhões em 71 empreendimentos com capacidade para geração de 1.805,7 MW. Isto coloca o país no centro de uma mudança do paradigma energético e na vanguarda tecnológica da geração de energias renováveis.
Os municípios, através da gestão ambiental, conservação e eficiência energética, manejo adequado dos resíduos sólidos, estímulo aos Mecanismos de Desenvolvimento Limpos, formação de parcerias e consórcios, participação popular, educação ambiental e ações afirmativas, são fundamentais para que as metas brasileiras de redução de gases de efeito estufa se consolidem como um exemplo para a comunidade internacional, atraindo investimentos que podem melhorar a qualidade de vida e contribuir para o crescimento econômico e social das cidades e regiões brasileiras. (EcoDebate)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Avião solar: teste do voo noturno

Avião solar passa no teste do voo noturno.
Legenda: O avião solar abre novas perspectivas (Keystone)
Mesmo se a noite passada foi uma das mais curtas do ano, ela foi a mais longa para o Solar Impulse, o avião solar de Bertrand Piccard e André Borschberg.
Depois de 26 horas de voo, pilotado por Borschberg, o avião pousou na manhã de 08/07/10 no aeródromo militar de Payerne (oeste).
“Pela primeira vez, um avião movido exclusivamente a energia solar, voou um dia e uma noite.” Emocionado, Bertrand Piccard declarava na manhã de 08/07/10: “Hoje, Solar Impulse demonstrou que é possível.” O aparelho, pilotado por André Borschberg, pousou às 9 horas da manhã no aeródromo de Payerne no cantão de Vaud (oeste).
Em 07/07/10, o protótipo HB-SIA decolou em condições meteorológicas ideais. Subiu até 8.700 metros para acumular a energia solar necessária para voar durante a noite. Nas primeiras horas da noite, o avião desceu a 1.500 metros e praticamente não perdeu mais altitude até o pouso.
O aparelho passou a noite dando voltas entre o aeródromo de Payerne e o lago de Morat, a uma velocidade média de 50 km/h, para preservar o máximo de energia.
Objetivo é a volta ao mundo
Esse voo noturno era uma etapa crucial na aventura solar de André Borschberg e Bertrand Piccard.
Nas próximas semanas, o avião deverá fazer um voo de 36 horas, a fim de provar que é possível ficar muito tempo voando movido exclusivamente pelos raios solares.
O objetivo do projeto e conseguir, com uma segunda versão do aparelho, mais leve, dar a volta ao mundo em 20 a 25 dias, em cinco etapas, a partir de 2013.
"A finalidade não é bater recordes com a energia solar", explica Bertrand Piccard, que deu a volta ao mundo em balão, sem escalas, acompanhado pelo britânico Brian Jones, em 1999.
O piloto André Borschberg a bordo do Solar Impulse (Keystone)
Pilotagem delicada
Solar Impulse não voa rápido, entre 43 e 70 km por hora. Portanto é muito sensível às turbulências e aos ventos fortes, o que torna a pilotagem delicada.
"Esse avião exige muita atenção; não tem piloto automático, não se pode descansar ou dormir", explica Claude Nicolier, antigo astronauta de diretor de voos do Solar Impulse. "Como os comandos são todos manuais e que os movimentos são transmitidos por cabo, ele reage lentamente; é uma questão de hábito", continua.
Quanto aos instrumentos o relojoeiro Omega participou (com a EPFL) do desenvolvimento de um sistema de alerta para o piloto, em caso do avião se inclinar lateralmente mais de 5%. O blusão do piloto começa então a vibrar um alarme acústico toca na cabine.
Segunda versão também em monolugar
Dentro de algumas semanas, as equipes de Solar Impulse começarão a trabalhar nos planos do segundo avião, o que fará a volta ao mundo.
Ele terá uma outra cabine onde o piloto poderá ficar cinco dias e cinco noites. A aerodinâmica também será melhorada, assim como o desempenho em voo e o trem de pouso para aterrissar em qualquer lugar. A asa não deverá mudar, segundo Claude Nicollier.
Bertand Piccard e André Borschberg vão alternar no comando do avião. Mesmo com a velocidade em que evolui a tecnologia, um avião desse tipo ainda está longe de transportar duas pessoas.
Mais do que uma aventura aeronáutica
"É muito mais do que uma aventura aeronáutica, é uma demonstração tecnológica do que podemos oferecer à sociedade em energia renovável; queremos promover as mesmas tecnologias em automóveis, sistemas de calefação, computadores, ar condicionado etc", explica Piccard.
Para concretizar o sonho impossível a 100 milhões de francos suíços de Piccard e Borschberg da prancheta ao voo, foram sete anos de trabalho de 50 engenheiros, apoiados por uma centena de cientistas.
O desafio era fabricar um avião maior e mais leve do que todos os predecessores, que pudesse decolar e voar durante o dia e a noite, unicamente com energia solar.
Em 2006, a equipe apresentou um projeto que conciliava as exigências em aerodinâmica e em área disponível para as células solares, mas aberto aos desenvolvimentos tecnológicos futuros. O avião parece um planador, com envergadura de 63,4 metros (equivalente a um grande avião de linha) e com peso de somente 1600 kg (como um pequeno automóvel).
Conhecimento suíço
No início, Bertrand Piccard procurou nos Estados Unidos as competências aeronáuticas e solares necessárias, mas finalmente, a maioria de seus 80 parceiros são suíços. “É bom saber que em nosso país temos tudo para construir um projeto como este”, diz Piccard.
O esqueleto ultraleve do aparelho, a cabine e as asas foram fabricadas pela Decision SA, na região de Lausanne (oeste), que também fabricou o casco e as velas do barco Alinghi, em colaboração com a Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL).
"No começo, simplesmente não sabíamos como atender às exigências de peso: pensamos que era impossível", explica Bertrand Cardis, dono da pequena empresa de alta tecnologia.
Depois de um ano de testes, a Decision elaborou uma estrutura em fibra de carbono em várias camadas como um ninho de abelhas em que cada uma pesa apenas 93 gramas por m².
12 mil células solares
Os 200 metros quadrados da parte superior das asas são cobertos de uma "pele" flexível com 12 mil células solares em silício monocristalino de 150 mícrons de espessura. Elas foram desenvolvidas pela SunPower, em colaboração com a Universidade de Neuchâtel (oeste).
"Os progressos recentes da tecnologia de células e de baterias solares foram incríveis; comparadas com as de 2003, as células atuais tem um rendimento que passou de 16 a 22% e são duas vezes mais finas", afirma Bertrand Piccard.
Para estocagem da energia, os engenheiros da Solvay criaram um eletrólito (substância condutora) para ajudar o fabricante Kokam a aumentar a densidade energética das baterias em lítio de 150 a 240 wats/hora/kg.
As hélices foram desenhadas por especialistas alemães em aerodinâmica e a empresa suíça Etel construiu os quatro motores, o mais leve e eficiente possível. Juntos, eles têm potência equivalente apenas ao de uma lambreta.

Avião solar pousa na Suíça

Após completar 1º voo noturno, avião solar pousa na Suíça.
Solar Impulse, momentos antes de pousar em Payerne, na Suíça
Após aterrisar no aeroporto de Payerne, na Suíça, o avião Solar Impulse completou, nesta quinta, o primeiro voo movido unicamente por energia solar noturno da história. A nave conseguiu se manter no ar por 26 horas seguidas.
O protótipo de avião, dotado de 12 mil células fotovoltaicas, de uma envergadura de 63,4 metros e 1,6 toneladas, decolou na em 08/07/2.010 em condições meteorológicas ideais até os 8.700 metros de altura, um recorde para um aparelho deste tipo.
Seu objetivo era acumular energia solar suficiente para se manter no ar durante a noite. O avião realizou várias viagens e voltas durante seu voo noturno a uma velocidade de 50 km/h a fim de preservar ao máximo a energia que tinha acumulado.
Avião solar descola para primeiro voo noturno
É um sonho que se torna realidade. O primeiro avião movido a energia solar, já está no ar.
Eram precisamente 6h51 quando o avião solar descolou da base aérea de Payerne, Suíça, para cumprir o seu primeiro voo noturno. Aos comandos da aeronave está André Borscherg, diretor executivo e cofundador do projeto Solar Impulse .
"Durante os últimos sete anos, toda a equipa trabalhou apaixonadamente a sonhar com este dia", afirmou Borschberg momentos antes de entrar no cockpit.
Até às 19h30, a aeronave subirá até aos 8.500 metros de altitude, aproveitando para carregar as baterias com a energia necessária para continuar a voar durante a noite.
Duas horas antes do pôr do sol, altura em que os raios solares perdem a intensidade necessária para carregarem as baterias, o avião iniciará uma lenta descida. Pelas 23h estará nos 1.500 metros. Até ao nascer do dia, os motores serão alimentados com a energia, entretanto armazenada pelas baterias.
Caso o piloto seja capaz de gerir eficientemente a energia disponível e concluir com sucesso a missão, será a primeira vez que um avião solar voou durante tantas horas e alcançou tais altitudes.