quarta-feira, 30 de março de 2011

Baianos dizem não à energia nuclear

No belo entardecer da Praça Castro Alves, na capital baiana, “o poeta dos escravos” testemunhou uma comovente homenagem hoje, quando milhares de participantes do XI Grito da Água fizeram um minuto de silêncio em solidariedade às vitimas do terremoto japonês e aos afetados pela contaminação radioativa da usina atômica de Fukushima, que já alcança países da Europa e dos EUA. Na praça, cantada em prosa e verso, símbolo e cenário de episódios importantes da história e da cultura da Bahia, foi encerrada a manifestação do Dia Mundial, Estadual e Municipal da Água, que busca conscientizar a sociedade para abraçar as lutas “em defesa da água e do meio ambiente”.
Ali também, mais uma vez, dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores em Água Esgoto, promotor do evento, destacaram a grave situação dos baianos de Caetité, afetados pela única mineração de urânio em operação no Brasil, onde se produz a matéria prima para a fabricação do combustível das usinas atômicas do Rio de Janeiro. Por causa da catástrofe nuclear japonesa, cujas conseqüências ainda estão sendo calculadas, o Grito da Água funcionou como um levante contra o uso da energia nuclear no Brasil. As falas antinucleares e em defesa da exploração de energias limpas e renováveis começaram no inicio da manifestação, em frente ao Teatro Castro Alves, no Campo Grande, prosseguindo durante a caminhada por ruas do centro da cidade até o ponto final do ato.
Animada por dois carros de som, com presença marcante de muitos jovens, crianças, estudantes, baianas, bonecos gigantes, representantes de diversas organizações e movimentos sociais da capital e do interior, os manifestantes se posicionaram, com vigor, contra a usina nuclear na Bahia. Este foi o tema predominante durante a caminhada, que salientou a preocupação das populações de Caetité com a insegurança da mineração, a contaminação da água e do solo e o aumento dos casos de câncer na região e dos prejuízos sócio ambientais.
O que acontece no Japão hoje, infelizmente tendo como pano de fundo uma extraordinária tragédia humana e econômica, representa um dramático alerta para toda a humanidade sobre os perigos da energia nuclear. Os manifestantes desfilaram com um imenso balão com inscrição contra a implantação de usina nuclear na Bahia e uma faixa complementando que os baianos não querem “este perigo”. (EcoDebate)

Reator explode diferente de bomba nuclear

Reator nuclear não explode como uma bomba nuclear
Cidade fantasma de Pripyat com a usina nuclear de Chernobyl ao fundo.
Sim, de certa forma, isso serve de algum modo de consolo, pelo menos podemos nos tranquilizar quanto a uma possível explosão nuclear. A possibilidade de uma explosão é completamente inviável.
Na verdade, os reatores nucleares e as armas nucleares dependem das reações em cadeia.
Essas reações dependem da presença de materiais nucleares, que são todos isótopos atômicos e podem quando submetidos a uma determinada reação nuclear, criar as matérias-primas necessárias para as mesmas reações se repetir sequencialmente, em cadeia.
Existe somente um isótopo natural físsil útil para a energia nuclear, o urânio-235 que é raro em estado natural.
Os outros isótopos físseis, como isótopos de plutônio, têm de ser artificialmente criados a partir de isótopos naturais.
Vamos tomar como exemplo uma reação em cadeia, envolvendo o urânio-235, que é a reação em cadeia usada em reatores nucleares e muitas vezes em armas nucleares.
Um nêutron livre (parte do núcleo de um átomo) colide com o núcleo de outro átomo de urânio em movimento (de urânio-235) e é absorvido por ele. A fissão de urânio os transforma em dois isótopos mais ágeis e mais leves, recebendo normalmente os nomes de criptônio-92 e bário-141, além de produzir radiação gama.
O reator nuclear absorve essa energia, que é cerca de três milhões de vezes maior que a energia que o carvão pode produzir em uma queima convencional.
O resfriamento do reator é feito com água que, além de resfriar o reator, produz vapor para acionar as caldeiras geradoras de vapor que impulsionam as turbinas geradoras de energia elétrica.
Essa reação cria outros nêutrons livres, que são absorvidos por outros isótopos de urânio-235, dando inicio a todo o processo que se repede inúmeras vezes.
As reações vão se repetindo, entre os isótopos de urânio natural, mas somente o urânio-235 é físsil.
Os outros elementos radiativos não têm essa propriedade, não dão inicio as reações em cadeia.
Para evitar um acúmulo potencialmente perigoso de energia, os reatores nucleares possuem um grande número de dispositivos de segurança. Um dos métodos mais conhecidos é o uso de barras de controle, feitas de materiais como o boro, que absorvem nêutrons, mas não podem passar por reações nucleares.
O boro funciona como um depositário de nêutrons sem tornar-se radioativo.
No caso de um acúmulo de energia, essas barras de boro são manipuladas para cair sobre o núcleo do reator e absorver todos os nêutrons livres, interrompendo assim a reação em cadeia.
Possivelmente, o descuido ao manipular essas barras de segurança, foi a causa de um dos muitos fatores por trás do desastre de Chernobyl.
Se todas as medidas de segurança não interromperem o acúmulo de calor – como aconteceu em Chernobyl, e como pode acontecer no Japão – há efeitos bastante desagradáveis. A ameaça mais provável será a de fusão nuclear que acontece quando o acúmulo de energia (calor) faz com que o núcleo inteiro do reator derreta (entre em fusão), danificando as estruturas de proteção e liberando materiais radioativos no meio ambiente.
Caso isso aconteça, poderá provocar terríveis consequências. Felizmente, o reator jamais explodirá. A explosão nuclear num reator é impossível.
A tão falada “explosão” de Chernobyl foi apenas uma explosão de vapor.
Houve um super aquecimento, um aquecimento descontrolado do reator, coincidindo com uma refrigeração deficiente por falha humana e consequente pressão excessiva de vapor nas caldeiras que culminou com a explosão de vapor contaminado por radiação, espalhando a radioatividade no meio ambiente.
Há uma grande diferença entre reator nuclear e uma bomba nuclear.
O urânio natural é completamente inútil para reatores nucleares, mais ainda há, infelizmente, muito útil para fabricação das armas nucleares.
O urânio natural é representado por de cerca de 99,3% do isótopo urânio-238 e apenas 0,7% de urânio-235.
Só o urânio 235 é capaz de manter uma reação em cadeia e para tornar o urânio utilizável a reações em cadeia, ele precisa ser enriquecido.
Daí a necessidade separar cuidadosamente o urânio-235 do urânio-238, utilizando-se para isso complicada tecnologia.
Os reatores nucleares precisam de urânio pouco enriquecido, com uma concentração de até 20% de urânio-235.
Normalmente, as centrais nucleares só precisam de uma concentração de 3 a 4% de urânio 235.
As armas nucleares, por outro lado, exigem urânio altamente enriquecido para o tipo de reação em cadeia criar uma explosão nuclear. O ponto de médio para o alto enriquecimento é de apenas 20%, mas a grande maioria das armas nucleares de urânio chega a uma concentração de cerca de 80 a 95%. A bomba lançada sobre Hiroshima, por exemplo, usou 80% de urânio enriquecido.
A bomba nuclear é planejada para liberar toda a sua energia em uma única explosão, o que significa que o material tem que ser tão densamente embalado quanto for possível, e em uma esfera tão homogênea e compactada quanto possível.
Isso não se parece em absolutamente nada com o projeto dos núcleos de reatores, que se destinam a produzir uma versão estável e controlada de energia. Até mesmo o tipo de acúmulo de energia necessária para produzir uma fusão não pode nunca atingir a velocidade e intensidade de energia necessária para uma explosão nuclear.
O arranjo geométrico do urânio-235 em um reator nuclear não é um arranjo esférico necessário para uma reação em cadeia explosiva, e a quantidade de urânio-238 não-físsil também impede qualquer reação de fuga da radiação.
Porém, nada disto se destina a minimizar os perigos reais de acidentes em reatores nucleares. Como visto em Chernobyl, podem ter efeitos ambientais absolutamente devastadores. A cidade vizinha, Pripyat, permanece inabitável 25 anos após o acidente.
Ainda não podemos saber se a situação atual no Japão atingirá os níveis de Chernobyl, um fato é certo, mesmo em meio a desastres de proporções inimagináveis, o medo de uma explosão nuclear pode passar longe da cabeça dos japoneses porque esse perigo não existe!
Para fecharmos este comentário de forma bem explicita, podemos afirmar ainda:
A explosão de um reator mata lentamente, em maior ou menor tempo, dependendo da maior ou menor concentração do material radioativo e a explosão de uma bomba nuclear mata instantaneamente num determinado raio de ação, dependendo de seu poder destrutivo e os resíduos radioativos oriundo da explosão nuclear continuam matando por dezenas e até centenas de anos. (EcoDebate)

Desastre natural X Desastre nuclear

O desastre natural e o desastre nuclear no Japão
O “sarcófago” que abriga o reator 4, construído para conter a radiação liberada pelo acidente em Chernobyl.
É assunto atualíssimo a ampla tragédia ocorrida no Japão. Ali houve três desastres seguidos que causaram muita destruição e diversos tipos de aflição na população. Mas os acontecimentos não foram exatamente assim. Vamos ampliar um pouco o ângulo de visão para podermos clarear as condições essenciais dos fatos.
Percebemos que houve uma acomodação geológica da placa tectônica do Pacífico a 130 km da costa nipônica, com força classificada de 8,9 pontos na Escala Richter. Previsível pela ciência. Só isso. No âmbito natural, foi apenas isso, sem danos significativos à situação geológica. O mais foi apenas resultado da atuação irresponsável da atual civilização materialista, tecnológica e agressiva.
Aquela acomodação tectônica se manifesta, aleatoriamente, no correr de borda de todas as placas geodinâmicas em que o planeta é dividido. É uma conformação natural, própria e adequada de um planeta vivo. A terra pode ser comparada, para melhor entendimento, a um ovo rachado em diversas partes, no qual as inferiores são cobertas por água e as superiores são secas e chamadas de continentes. A crosta terrestre, constituída de rochas, é proporcionalmente tão fina quanto à do ovo.
Voltemos a analisar as consequências do maremoto. Houve, por extensão e concomitantemente, um terremoto em áreas densamente habitadas que teria causado alguns poucos danos se ali não fosse ocupado por tanta gente com seus queridos bens materiais. Esse ajustamento geológico provocou em seguida uma elevação das águas, numa altura de apenas 10 metros, que invadiu o território indevidamente ocupado pelos humanos e suas incontáveis quinquilharias. Produziu um entulho de roupas, móveis, coleções de figurinhas, taças esportivas, aparelhos tecnológicos, carros, casas, arbustos, aviões, barcos e demais invenções e artigos supérfluos, a cujo conjunto damos o nome de lixo civilizatório.
Enquanto isso, os pássaros voavam tranquilamente em seus espaços naturais sem qualquer dano. Se fossem realmente inteligentes e em quantidade muito menor – compatível com os recursos naturais – os homens deveriam alojar-se em nível superior a 100 metros, reconhecendo sua submissão e respeito às manifestações naturais.
Há lamentações por perdas humanas, como é natural nessas ocasiões. Há compaixão e solidariedade com os irmãos de mesma espécie porque tal sentimento é herdado na corrente existencial. Contudo, todos esses danos são, ou consertáveis, ou recuperáveis, ou recompostos, ou conformáveis. Não são eternos. Têm um fim em curto prazo e deixam uma lição muito grande, de ordem sócio- administrativa que não cabe aqui desenvolver, mas sobre a qual cada um pode fazer suas próprias ilações.
Mas nosso objetivo central aqui é analisar um aspecto que não está na programação natural e suas consequências civilizacionais. O maremoto causou, sem culpa, um mal imenso, com possível extensão à própria humanidade, cuja inserção na tragédia é de responsabilidade exclusiva da ação humana que segue o compasso da atual linguagem econômica na busca insana de progresso e crescimento ilimitados.
Referimo-nos à construção de usinas nucleares para produção de energia elétrica, fator alimentador dos confortos do corpo, objetivo inglório do sistema econômico que desnatura o próprio homem – sem qualquer proveito para as ânsias espirituais. Se pensarmos racionalmente, ante a atual encruzilhada ambiental por que passamos, a energia elétrica é inteiramente dispensável para a normal movimentação dos seres viventes. A Natureza nos proveu das condições próprias de locomoção pelo sistema muscular.
A Natureza nos deu o dia para as atividades normais e simples da vida. E nos deu a noite para o descanso e recomposição das energias despendidas no dia. Viver é incorporar-se ao ciclo próprio que ela nos oferece sabiamente. Os músculos são o repositório das energias vitais necessárias para a movimentação de busca de alimentos. A vida é muito simples para ser vivida. A atual civilização é que a complicou pela corrida aos ganhos materiais e eleição de castas econômicas, valorizando culturalmente o individualismo em detrimento do conjunto de seres vivos.
A construção de uma usina nuclear fica em aproximadamente 10 bilhões de reais. Um desastre nuclear acarreta dispêndios em vidas e bens equivalentes a valor tão grande que se torna incalculável, além de destruir as condições mínimas para existência da ecologia. O desastre da espécie libera na atmosfera elementos radioativos enriquecidos como os isótopos de estrôncio, xenônio, césio, iodo, plutônio, que duram tempo imenso.
O conteúdo da usina de Chernobyl continua vivo, ativo. Só que contido num sarcófago de cimento e ferro. Mas até quando? Ninguém sabe. Não deixa de ser uma bomba com relógio incerto. Nas usinas de Fukushima, ainda não temos uma definição da radioatividade a ser liberada para o envenenamento da vida. Oxalá consigam os nipônicos estancar as fontes incontroladas.
Todos nós, quando criança, aprendemos na pele que “com o fogo não se brinca”. Devíamos saber também que “com a fissão do átomo, não se brinca”. O mundo já tem “na pele” e nos genes suas consequências. Qualquer das 441 usinas em atividade está sujeita a provocar a libertação de seu núcleo mortífero e incontrolável. É só entrar em ação o fator da imponderabilidade.
E o lixo proveniente das operações dessas usinas, que é todo radioativo, está sendo lacrado em tambores especiais para uma destinação a que os cientistas ainda não sabem. O lixo atômico americano, depois de encarcerado em tambores de chumbo, está (oh, quanta irresponsabilidade!) sendo lançado no Oceano Pacífico, longe da costa continental. “Longe dos olhos, longe do coração político”. Está sendo jogado dentro da “casa” (hábitat) dos nossos irmãos viventes na água.
Afinal, a força forte contida no íntimo do átomo, que aglomera forças de carga positiva e negativa, constitui um dos segredos da Natureza. A civilização famélica por lucro violou esse sacrário, acorrentando-o em seu proveito, sem o menor respeito e submissão aos mistérios da sábia Natureza. O sistema econômico vigente age e pensa exclusivamente em função do lucro imediato dos tempos presentes. O futuro, eles não conseguem enxergar. Estamos deixando para as gerações vindouras apenas lágrimas para chorar.
As ocorrências naturais do planeta são do conhecimento geral. As tragédias consequentes montadas pela ganância do sistema econômico também são previsíveis. A tragédia global proveniente do envenenamento do meio ambiente pelo progresso materialista deveria ser perceptível por toda a humanidade; não somente pelos ambientalistas.
Neste exemplo que estamos vendo no Japão, as pessoas estão fugindo do país. Muito bem. Quando os brinquedos nucleares do mundo – usinas, foguetes militares, submarinos – e as outras atividades irracionais que destroem nosso ar, água e solo entrarem em colapso, ocasionado por causas não previstas pelos “técnicos”, nós vamos fugir para onde?
Só há um lugar: a tumba. (EcoDebate)

Risco atômico vale a pena?

Para ativista antinuclear francesa, risco atômico não vale a pena
Militante defende descentralização da matriz energética e prevê desfecho sombrio em Fukushima
Fukushima
Garota desabrigada passa por teste de radiação
Na França, que é o segundo país que mais usa energia nuclear no mundo, com 58 reatores em funcionamento e mais um em construção, a ONG Sortir du Nucléaire se dedica a contestar a segurança das atuais usinas atômicas. Para a porta-voz do grupo, a física e engenheira Perline Noisette, de 55 anos, que esteve no Brasil fazendo um doutorado sobre o acidente com o césio-137 retirado de um aparelho radiológico em Goiânia, em 1987, o uso desse tipo de tecnologia "sempre envolve risco". A solução, diz a ativista, é descentralizar a matriz energética - e não investir em projetos de grande porte com enorme geração de energia em um único local, sejam eles nucleares ou hidrelétricos.
De que maneira sua tese influenciou sua visão sobre o uso da tecnologia nuclear?
Eu já estava engajada na causa antinuclear antes de ir ao Brasil. Tive uma formação em física que me permitia trabalhar no campo nuclear e, embora nessa época - anos 70 e 80 - não existisse propriamente um movimento verde, já havia muita gente preocupada com os riscos (da energia atômica). Eu estava entre eles. Em 1993, poucos anos depois do acidente com o césio-137 em Goiânia, fui ao Brasil para fazer meu doutorado - durante o qual trabalhei com o (físico brasileiro e ex-presidente da Eletrobrás) Luiz Pinguelli Rosa. No estudo, analisei aspectos econômicos, tecnológicos, psicológicos e midiáticos envolvendo o acidente. O que mudou para mim foi a visão de que um acontecimento desses é banal: salta aos olhos a falta de controle no que se refere ao uso e ao descarte desses equipamentos que representam grande risco à saúde humana. Algo que não ocorre apenas no Brasil.
Até que ponto o incidente em Fukushima pode ser considerado excepcional, tendo em conta a catástrofe natural que o precedeu? Os vazamentos radioativos são a prova de que não existe segurança na questão nuclear?
Há a causa dos problemas na central nuclear, que foi o terremoto, e problemas posteriores que decorreram dele. Do ponto de vista da resistência ao terremoto, a coisa funcionou bem: os reatores pararam imediatamente, como previsto nas medidas de segurança. Aí, vem o depois, porque um reator não é uma bicicleta. Uma usina tem dejetos radioativos armazenados em piscinas, que precisam ficar resfriados. E esses sistemas de segurança, que manteriam as piscinas resfriadas, é que falharam. Primeiro, pararam os sistemas elétricos. Depois, a alimentação de emergência. E, quando começa o aquecimento, todo aquele bonito sistema de segurança começou a fazer água. Nada mais funcionou direito. As consequências se tornaram incontroláveis. Lendo os relatórios técnicos sobre a situação atual, nota-se que as seis piscinas dos seis reatores correm o risco de sofrer fusão e liberar material radioativo.
Ou seja, o comissário europeu de Energia, Günther Oettinger, não exagerou ao chamar a situação de "apocalíptica".
Nem um pouco. Como ele é um técnico, não um político, vê bem as coisas como elas são. Já é evidente para mim que haverá, na melhor das hipóteses, a liberação de um monte de radioatividade no meio ambiente. A diferença para Chernobyl é que lá o reator explodiu sem qualquer chance de controle e as partículas radioativas subiram muito alto, sendo levadas pelo vento. Em Fukushima, ninguém está 100% certo de que algum reator não exploda. E, pela quantidade de radioatividade liberada até agora, me parece claro que pelo menos 50 pessoas irão morrer nas próximas semanas.
A sra. fala dos "50 de Fukushima", os trabalhadores da usina que estão tentando resfriar os reatores?
Se é que as informações até agora divulgadas pelos japoneses podem ser consideradas inteiramente confiáveis. Os americanos já recomendam a seus cidadãos um afastamento de 80 quilômetros da usina por causa dos efeitos da radiação. É uma catástrofe, realmente. Quando penso nas 50 pessoas que estão lá... Elas já não estão vivas, estão mortas. Eu me sinto muito mal por elas, não tenho sequer conseguido dormir. Veja que praticamente todos os jornalistas franceses que foram participar da cobertura do terremoto, voltaram para a França. Repórteres que se dispõem a cobrir terremotos, guerras, inundações, tiveram medo e abandonaram o país.
Esses acontecimentos, em um país considerado de alto grau de segurança, afetarão a percepção que o mundo tem do uso da tecnologia nuclear?
Sim. E, infelizmente, essa tragédia teve de ocorrer para a verdade vir à tona. A Alemanha anunciou que encerrará as atividades dos reatores com mais de 30 anos. A Suíça também está revendo o seu programa nuclear. Quando o problema ocorreu em Chernobyl, em um lugar pobre (Ucrânia), de gente atrasada, em uma ditadura, foi mais fácil de relevar. Mas o Japão era referência nesse tipo de tecnologia, especialmente por sua condição de país passível de terremotos, tsunamis, etc. A França garante que sua tecnologia é segura, embora os franceses jamais tenham sido consultados sobre o uso desse tipo de tecnologia, que sempre envolve risco. Nem antes nem depois da instalação de nossas usinas.
O Brasil tem duas usinas nucleares, Angra 1 e Angra 2, e planeja a construção de uma terceira. Nos últimos anos, a opção nuclear passou a ser vista de maneira menos negativa no País em razão dos grandes danos ambientais na construção de hidrelétricas, por exemplo. Qual a solução para lidar com o déficit de energia?
A solução é descentralizar a energia. O Brasil tem sol, vento e muito boa tecnologia. Se o País pode construir centrais nucleares, pode perfeitamente construir geradores de energia eólica, por exemplo. Ou disseminar painéis solares em casas e edifícios. Argumenta-se que essas fontes ainda são caras - o que é verdade, se você faz poucas unidades. Se você as produz em grande escala, porém, é possível baixar consideravelmente seus custos. E descentralizar a produção de energia significa também evitar o enorme desperdício no transporte dessa energia. Há uma perda enorme nas linhas de transmissão entre as hidrelétricas e as usinas nucleares para o local onde a energia será de fato usada. Quando se fala nos "baixos custos" da geração de eletricidade em uma usina nuclear, frequentemente se subestima o preço do armazenamento, por décadas, dos dejetos radioativos. Sem falar do risco de um incidente como o que estamos vendo. Recentemente, uma lei na Europa tornou obrigatório o uso de lâmpadas econômicas. Uma boa estratégia energética atua, simultaneamente, na redução do consumo e na adoção de produção local da energia necessária. Projetos gigantescos, com enorme geração de energia em um único local, são coisas do passado. O Brasil deve aproveitar os equipamentos hidrelétricos de que já dispõe, mas construir novos. O impacto catastrófico na fauna, flora e povos indígenas, não é exatamente uma política moderna. (OESP)

Radiação no mar de Fukushima atinge pico

Concentração de iodo radioativo é 1.250 vezes superior à registrada normalmente
Destruição
Carros arrastados pelo tsunami se aglomeram em um estacionamento de Sendai, uma das cidades mais afetadas
A situação na usina atômica Fukushima se agravou ontem, com a identificação de iodo radioativo no mar em concentração 1.250 vezes superior à registrada normalmente no local e pela incerteza sobre a origem do material tóxico.
A sucessão de emergências registrada nas duas últimas semanas indica que crise nuclear que assola o Japão poderá durar meses ou anos e deixará sequelas para os que vivem a dezenas de quilômetros da usina de Fukushima, diz Philip Walter, do Centro de Informação Nuclear dos Cidadãos, entidade com sede em Tóquio que se opõe ao uso de energia atômica.
O primeiro-ministro Naoto Kan reconheceu que a situação na usina é "imprevisível", enquanto o porta-voz de seu governo, Yukio Edano, disse ser difícil estimar quando a crise estará controlada.
Os engenheiros desconhecem o real estado dos reatores que estão em risco e suspeitam que o de número 3 sofreu danos na sua estrutura, com possíveis rachaduras. Essa poderia ser a origem do material encontrado no mar e também na poça de água que contaminou dois funcionários do complexo na quinta-feira. O reator número 3 desperta mais preocupação por utilizar plutônio, combustível mais tóxico que o urânio empregado nas demais máquinas.
"Essas são as únicas certezas que temos no momento: será difícil colocar os reatores sob controle, haverá emissão de radioatividade por um bom tempo e a limpeza posterior será extremamente difícil", disse Walter por telefone ao Estado.
A Tokyo Electric Power (Tepco) enfrenta o dilema de como armazenar de maneira segura a água contaminada que foi encontrada em três dos seis reatores. A lâmina de 15 centímetros de profundidade na qual os dois operários foram contaminados na quinta-feira tinha concentração de material radioativo 10 mil vezes superior ao normal. Outras poças semelhantes foram encontradas nos reatores 1, 2 e 4.
A amostra de água do mar com iodo radioativo foi coletada 330 metros ao sul da planta, onde testes realizados ao longo da semana haviam indicado concentração 100 vezes superior ao limite legal - o resultado de ontem foi 1.250 vezes.
Segundo a agência de segurança nuclear, não há risco de contaminação de vida marinha, já que a radiação se dilui na grande quantidade de água no oceano. Mas sua presença é uma indicação de problemas nos reatores.
Material radioativo foi detectado na água encanada de Tóquio e outras cinco cidades, no solo de regiões próximas a Fukushima, em vegetais e no leite. As autoridades afirmam que os níveis identificados não apresentam riscos à saúde. A única exceção é a água, que em certas localidades continua imprópria para consumo por bebês com menos de 1 ano.
O terremoto seguido de tsunami que afetou a costa nordeste do Japão no dia 11 de março deixou pelo menos 28 mil pessoas mortas ou desaparecidas.
CRONOLOGIA
Pesadelo nuclear
11 de março
Terremoto e tsunami arrasam nordeste do país
Tremor de 9 graus na escala Richter cria onda de 10 metros de altura.
Abalo afeta reator da usina atômica de Fukushima.
12 de março
Risco nuclear
Explosão em usina causa temor de contaminação nuclear. Nível de radiação estava oito vezes maior que o usual.
13 de março
Reatores em colapso
Engenheiros correm contra o tempo para encontrar uma maneira de interromper aquecimento dos reatores.
14 de março
Ajuda da ONU
Japão pede ajuda aos EUA e à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para conter o vazamento de material nuclear para a atmosfera. Segundo reator explode, ferindo seis.
15 de março
Desabastecimento
Faltam alimentos e combustível em cidades afetadas. Em Tóquio, o nível de radiação atinge cerca de 20 vezes o normal.
16 de março
Risco extremo
Com novas explosões, autoridades afirmam que os níveis de radiação na região de Fukushima são "extremamente altos".
17 de março
Corrida contra o tempo
Helicópteros militares e caminhões-pipa tentam evitar derretimento do núcleo dos reatores de usina atômica de Fukushima. (OESP)

segunda-feira, 28 de março de 2011

Fukushima põe na berlinda modelo de usinas

Explosão em Fukushima põe na berlinda modelo de usinas do Japão. E no Brasil?
TRAGÉDIA DO JAPÃO
Explosão põe na berlinda modelo de usinas do país.
Planta de Fukushima deveria ter sido capaz de suportar terremotos.
Japão possui rede de 55 reatores nucleares em 17 usinas, que responde por 36% da energia consumida.
O Japão tem 55 reatores nucleares que funcionam em 17 usinas distribuídas pelo país. Juntas, elas geram 36% de toda a energia consumida pelos japoneses.
Mas, de acordo com um dos principais especialistas do Brasil em energia nuclear, a explosão da usina de Fukushima 1 deixou a segurança nuclear -do Japão e do mundo- na berlinda.
"A usina Fukushima 1 deveria suportar terremotos e tsunamis", diz o engenheiro Aquilino Senra Martinez, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
"Ela ficou em pé com um terremoto muito intenso, de escala Richter 8,9, mas não suportou o tsunami na sequência", completa.
A central de usinas nucleares composta por Fukushima 1 e 2 fica a cerca de 250 km da capital Tóquio, em uma das regiões mais afetadas pelos tremores de sexta-feira.
Ao todo, 11 usinas japonesas estão nas regiões atingidas pelos sismos.
De acordo com Martinez, é provável que tenha havido uma falha no sistema de esfriamento do reator de Fukushima 1 por causa da água do tsunami.
Com o terremoto, o trabalho da usina foi interrompido automaticamente.
Mas o reator, assim como o motor de um carro que estava em movimento, precisa ser esfriado, o que deveria ser feito por um sistema de energia alternativa que falhou ao ser atingido pelo tsunami (veja o infográfico).
A usina se transformou numa espécie de bomba-relógio. "Por isso, houve o superaquecimento do reator e a posterior explosão [no sábado de manhã, horário de Brasília]", explica Martinez.
Antes do acidente, vapores com material radioativo de alto risco-incluindo césio- já estavam sendo liberado para o meio ambiente como uma tentativa de reduzir a pressão excessiva no reator da central nuclear.
RISCOS
O Japão ainda não divulgou informações sobre a quantidade de material radioativo que escapou com a explosão de Fukushima 1.
De acordo com o especialista da UFRJ, a avaliação poderá ser feita a partir do momento que o acidente for definitivamente interrompido.
"Nos próximos dias, deverá ser feito um mapeamento do local da usina, com análise de solo e de água, para que se verifique o tamanho do estrago", diz Martinez.
Isso deve levar de dez a 15 dias, aproximadamente.
Desde o acidente de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, existe um sistema de acompanhando em tempo real das situações de risco nuclear.
"Em Chernobyl, houve uma lentidão até que as autoridades divulgassem o vazamento", diz Martinez.
Com isso, morreram de imediato 50 pessoas e houve um aumento de 4.000 casos de câncer nas redondezas.
SOB "SUSPEITA"
A Fukushima 1 fica num complexo nuclear que é bastante ativo no Japão.
Ao todo, três reatores estavam em funcionamento na região quando aconteceu o terremoto de sexta-feira.
Apesar de ter aguentado a intensidade do tremor, a estrutura da usina pode estar ultrapassada.
De acordo com Martinez, o projeto da Fukushima 1 é antigo, da década de 1960.
"O acidente que aconteceu no Japão vai fazer todo mundo repensar o uso de usinas nucleares", analisa o especialista da UFRJ.
Hoje, os EUA são o país com maior número de usinas nucleares: são 104 no total. Isso representa 18% da matriz energética daquele país.
A França está no topo do países com maior dependência desse tipo de energia: 80% da matriz é nuclear.
No Brasil, o uso de energia nuclear não chega a 3% do total que é consumido. (parquessustentaveis)

Embaixada busca 400 brasileiros no Japão

Embaixada busca 400 brasileiros nas cidades mais atingidas do Japão
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil está organizando missões às áreas mais afetadas pelo terremoto e o tsunami de sexta-feira no Japão, com o objetivo de prestar apoio aos brasileiros que moram lá. São mais de 380 na cidade de Sendai e aproximadamente 20 em Fukushima, onde uma central nuclear apresenta sérios problemas. O Itamaraty recebeu relatos de que brasileiros estão em locais sem abastecimento de água e luz.
Por decisão do Ministério da Justiça, a Força Nacional de Segurança convocou 80 bombeiros especialistas em resgates e 30 peritos que, com 30 cães farejadores, vão embarcar para o Japão com o objetivo de ajudar no socorro às vítimas. O Ministério da Justiça ainda não anunciou quando a tropa viajará.
Os dados oficiais mais recentes sobre as vítimas da catástrofe japonesa, divulgados na noite deste domingo, dão conta da morte de 1.353 pessoas e do desaparecimento de mais de 1.400. Informações extra-oficiais divulgadas nas últimas horas indicam que em apenas duas cidades foram encontrados, pelo menos, 2.000 corpos.
A população de Fukushima foi orientada pelo governo a só sair às ruas usando máscaras e capas de vinil descartáveis, para minimizar os riscos de contaminação pela radiação que ainda vaza das usinas nucleares. As autoridades pedem que as capas e as máscaras não sejam reutilizadas, mas jogadas no lixo. Os moradores também são instruídos a não usar sistemas de ventilação com aparelhos de ar-condicionado, que traz ar de fora para dentro das casas.
O governo japonês prepara uma espécie de política de apagão de energia elétrica para a Região Norte do país, a mais afetada pelo terremoto e pelo tsunami. A ideia é implantar nas cidades uma escala de cortes de energia de três horas por dia.
Um novo e forte terremoto foi sentido por volta das 10 horas da manhã desta segunda-feira (noite de domingo no Brasil). O epicentro foi registrado no mar, 150 km a nordeste de Tóquio, e fez balançar prédios altos na capital japonesa. Um alerta de tsunami chegou a ser emitido, mas foi cancelado. (brasiliaconfidencial)

Ampliada área de risco em Fukushima

Governo japonês pede às pessoas que moram em um raio de 20 a 30 km da usina nuclear que se retirem espontaneamente da região
O governo japonês aconselhou ontem as pessoas que moram no raio de 20 km a 30 km da usina atômica de Fukushima-Daiichi a deixarem a região voluntariamente, em mais um indício de que a crise nuclear provocada pelo duplo desastre natural que atingiu o país no dia 11 está longe do fim.
O primeiro-ministro Naoto Kan reconheceu ontem em entrevista coletiva que a situação na usina continua "extremamente grave e séria" e não dá margem ao "otimismo". Horas antes, o porta-voz da agência de segurança nuclear, Hidehiko Nishiyama, havia declarado que os altos níveis de radiação detectados em 24/03/11 indicam que a estrutura do reator 3 da planta foi danificada. A possível consequência do dano é a redução da capacidade do reator de conter vazamentos de material radioativo em grandes proporções, observou Nishiyama.
A água que contaminou dois funcionários da usina que apresentava radiação em um nível 10 mil vezes superior ao registrado normalmente no local. Com botas curtas, os operários ficaram expostos durante 50 minutos a uma poça de água de 15 centímetros, que queimou a pele de suas pernas.
Um dos homens tem cerca de 30 anos e recebeu 180,7 milisieverts de radiação. O outro, na casa dos 20 anos, foi exposto a 179,37 milisieverts. Habitantes de países industrializados recebem em média 3 milisieverts de radiação por ano.
No começo da crise, o Ministério da Saúde do Japão elevou de 100 milisieverts para 250 milisieverts o limite máximo de exposição à radiação por trabalhadores de usinas nucleares, mudança que permitiu a presença de operários na usina de Fukushima para tentar evitar o superaquecimento dos seis reatores da central.
Nós últimos dias, 536 pessoas trabalhavam no local, incluindo integrantes do Corpo de Bombeiros e do governo japonês. Até ontem, 17 delas haviam sido contaminadas com nível de radiação superior a 100 milisieverts.
Fukushima entrou em colapso após o terremoto seguido de tsunami que atingiu o Japão no dia 11. O tremor de terra interrompeu o fornecimento normal de energia às bombas que garantiam o fluxo de água para resfriar os reatores e as piscinas de armazenamento de combustível usado. O tsunami impediu a operação dos geradores que deveriam entrar em ação ni caso de falha no abastecimento regular de eletricidade. Com isso, o nível de água na usina baixou, desencadeando um processo de aquecimento do material nuclear. Desde o início da crise, o Japão tem usado água do mar para tentar evitar o derretimento dos reatores, o que poderia causar um vazamento de radiação de grandes proporções.
Os EUA anunciaram ontem que enviarão ao Japão um navio carregado com água doce para realizar a operação de resfriamento da usina. Os americanos acreditam que o uso de água do mar pode danificar ainda mais os equipamentos da planta.
Diferentes níveis de radiação foram detectados nos últimos dias em vegetais, verduras, água do mar, água encanada e solo de regiões localizadas até 300 km de distância da usina de Fukushima. Ao menos seis cidades constataram a presença de iodo-131 na água encanada em níveis superiores ao considerado seguro para bebês com menos de 1 ano.
O porta-voz do governo Yukio Edano ressaltou que a retirada dos moradores no raio de 20 km a 30 km da usina não é obrigatória, mas é uma precaução para o caso de os níveis de radiação no local subirem nos próximos dias.
PESADELO NUCLEAR
11 de março
Terremoto e tsunami arrasam o nordeste do país
Tremor de 8,9 graus na escala Richter cria ondas de 10 metros de altura. Abalo afeta reator da usina de Fukushima
12 de março
Risco nuclear
Explosão em usina eleva temor de contaminação nuclear.
Nível de radiação estava oito vezes maior que o usual.
13 de março
Reatores em colapso
Engenheiros correm contra o tempo para encontrar uma maneira de interromper o processo de aquecimento dos reatores.
14 de março
Ajuda da ONU
Japão pede ajuda dos EUA e à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para conter o vazamento de material nuclear para a atmosfera. Segundo reator explode, ferindo seis.
15 de março
Desabastecimento
Faltam alimentos e combustível em cidades afetadas. Em Tóquio, o nível de radiação estava 20 vezes superior ao normal.
16 de março
Risco externo
Com novas explosões, níveis de radiação em Fukushima são “extremamente altos”.
17 de março
Corrida contra o tempo
Helicópteros militares e caminhões-pipa tentam evitar derretimento do núcleo doa reatores de usina atômica.
18 de março Eletricidade
Engenheiros conseguiram restabelecer a energia elétrica no sistema de resfriamento dos reatores.
19 de março
Alimento contaminado
Níveis excessivos de material radioativo são encontrados em alimentos
24 de março
Água sob risco
Contaminação na água encanada de Tóquio (OESP)

Água de Tóquio é perigosa para bebês

Premiê orienta famílias a não a usarem na preparação de comida para crianças com menos de 1 ano e a não consumir verduras de Fukushima
Níveis de radiação acima do considerado seguro para bebês foram detectados ontem na água encanada de Tóquio, maior região metropolitana do mundo, com 35 milhões de habitantes. A cidade está a 250 km da usina nuclear Fukushima Daiichi, que entrou em colapso depois do terremoto seguido de tsunami que atingiu o país no dia 11/03/11.
Vazamentos ocorridos no local já haviam contaminado água do mar, vegetais, leite e solo, em patamares que as autoridades japonesas afirmavam não ser nocivos à saúde. Mas a preocupação com traços de radiação aumentou ontem, com o primeiro-ministro Naoto Kan orientando a população a não consumir verduras e legumes produzidos nas proximidades de Fukushima, onde testes detectaram radiação superior aos limites normais em 11 produtos.
O caso mais grave foi o da verdura "kukitachina", na qual foi identificada a presença de 82 mil becquerels de césio, o equivalente a 164 vezes o nível considerado seguro. Segundo o governo japonês, se um adulto consumir diariamente 100 gramas da verdura por 10 dias, vai ingerir metade da radiação que uma pessoa normalmente recebe de fontes naturais no período de um ano.
O governo metropolitano de Tóquio informou ontem que 210 becquerels de iodo-131 foram encontrados em amostra de um litro de água de uma central de purificação no norte da cidade colhida na terça-feira. Novo teste realizado ontem indicou presença de 190 becquerels na mesma quantidade de água.
Esses patamares estão abaixo dos 300 becquerels que marcam o limite de segurança para adultos, mas acima dos 100 becquerels estabelecidos para bebês. O governo de Tóquio orientou as famílias da região metropolitana a não usar água da torneira na preparação de alimentos para crianças com menos de 1 ano.
Os primeiros casos de contaminação de alimentos e água por radiação foram detectados no dia 19, aumentando ainda mais a ansiedade dos japoneses.
A cada dia aparecem novos casos de presença de radiação em locais cada vez mais distantes de Fukushima. O governo suspendeu a venda de verduras, legumes e vegetais produzidos na região e países como os EUA proibiram a importação de produtos de quatro prefeituras próximas.
Desde a catástrofe natural, técnicos tentam evitar o derretimento total dos seis reatores da usina de Fukushima, cujo sistema de resfriamento foi prejudicado pela interrupção no fornecimento de energia.
As fontes normais de eletricidade foram afetadas pelo terremoto de 9 graus da escala Richter. O tsunami que veio em seguida provocou pane no gerador de segurança que deveria ter entrado em ação, o que deixou a usina totalmente sem energia.
A falta de eletricidade levou à interrupção do bombeamento de água para o resfriamento das hastes de combustível dos reatores e das que ficam nas piscinas de combustível usado. Isso levou ao aumento da temperatura e ao derretimento parcial dos reatores, o que trouxe risco de vazamento de radioatividade em grande escala.
Maior catástrofe a atingir o Japão desde a 2.ª Guerra, o terremoto seguido de tsunami deixou 23 mil pessoas mortas ou desaparecidas. Pouco mais de 300 mil japoneses estão vivendo em abrigos provisórios, depois que suas casas foram varridas ou declaradas em área de risco. (OESP)

Risco de radiação em alimentos

OMS alerta para risco de radiação em alimentos no Japão
O governo do país também suspende a venda de itens vindos de Fukushima
Pessoas se amontoam para comprar alimentos em Sendai, uma das cidades mais devastadas pelo Tsunami. Há temores de que a radiação afete a qualidade da comida no Japão (Toru Yamanaka / AFP)
A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse nesta segunda-feira que a radiação nos alimentos após o terremoto que danificou uma usina nuclear no Japão é mais séria do que o previsto. O alerta diminui o clima de otimismo que predomina desde que engenheiros conseguiram conectar cabos de energia a todos os seis reatores do complexo de Fukushima e ligaram uma bomba de água em um deles para reverter o superaquecimento que desencadeou a pior crise nuclear mundial em 25 anos.
Também nesta segunda, o governo japonês proibiu a distribuição de alguns alimentos procedentes de Fukushima e três províncias vizinhas, que foram contaminados pela radiação da central nuclear. Enquanto prosseguiam os esforços para controlar a temperatura dos reatores, a radioatividade na região contaminava alguns alimentos, como o leite, o espinafre e uma verdura local similar, conhecida como "kakina".
A descoberta alarmou os consumidores, mas o governo insistiu que o nível de radiação, mesmo acima dos limites legais, não é prejudicial à saúde, exceto se certos alimentos forem consumidos repetidamente. Ainda assim, por precaução, as autoridades restringiram a distribuição de leite, espinafre e kakina procedentes de Fukushima. Nas províncias vizinhas, como Ibaraki, Gunma e Tochigi, a venda dos dois vegetais também foi limitada.
O porta-voz do governo, Yukio Edano, pediu aos cidadãos que não entrem em pânico e mantenham a calma e assegurou que os produtos que já foram para os mercados "não vão causar nenhum dano à saúde dos consumidores". As medidas são temporárias e sua duração dependerá do que for determinado nas verificações de radiação, disse Edano, que ressaltou que a prioridade agora é "solucionar a situação na usina nuclear".
A contaminação dos alimentos também se tornou um sério problema para os agricultores. Por isso, o governo japonês anunciou nesta segunda-feira que haverá indenizações para aqueles que foram afetados e assegurou que adotará medidas para evitar a disparada dos preços.
Água - Os danos nos reatores da central de Fukushima I fazem com que, diariamente, os níveis de radioatividade tenham que ser medidos em toda a região. Segundo o governo, no entanto, os índices não aumentaram. Foi detectada a existência de substâncias radioativas na água de nove províncias, incluindo Tóquio, embora também neste caso as autoridades insistam que os níveis estão muito abaixo dos limites e não representam perigo à saúde. A única exceção fica na própria província de Fukushima, onde as autoridades recomendam não beber água corrente. (veja.abril)

sábado, 26 de março de 2011

OMS alerta sobre séria radiação nos alimentos

Especialista russo checa radiação de alimentos importados do Japão; OMS pediu ação rápida
Governo japonês ordena a suspensão da venda de leite e espinafre em quatro prefeituras próximas a Fukushima.
Tóquio
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou, ontem, que a contaminação por radiação nos alimentos no Japão é mais séria do que anteriormente imaginado. A instituição pediu para o governo agir rapidamente e proibir a venda de alimentos caso eles estejam contaminados com níveis excessivos de radiação.
O governo japonês já identificou níveis maiores de radiação do que o normal em espinafre e leite na região próxima à usina nuclear de Fukushima Daiichi, que sofre vazamento após danos causados pelo terremoto do último dia 11. Há preocupação crescente de que partículas radioativas já liberadas na atmosfera tenham contaminado fontes de alimento e água.
"Está claro que a situação é séria. É muito mais sério do que qualquer um pensava nos primeiros dias, quando achávamos que este tipo de problema pode estar limitado a 20 ou 30 quilômetros. É seguro supor que uma parcela de produtos contaminados tenha saído da zona de contaminação", afirmou o porta-voz do escritório regional do Pacífico Oriental da OMS, Peter Cordingley.
Ele disse, entretanto, não haver evidência de que alimentos contaminados oriundos de Fukushima tenham chegado a outros países.
O governo japonês ordenou, ontem, a suspensão da venda de leite e espinafre em quatro prefeituras próximas à usina nuclear. Segundo o secretário de Gabinete japonês, Yukio Edano, a medida é válida para as prefeituras de Fukushima, Ibaraki, Tochigi e Gunma.
O governo japonês já alertara no fim de semana que havia encontrado níveis acima do normal de radiação por iodo em leite e espinafre a até 120 Km da usina, mas garantiu que os alimentos não chegaram ao mercado. O Ministério de Saúde do Japão já havia pedido aos moradores próximos da usina nuclear que não bebessem água de torneira, contaminada com altos níveis de iodo radioativo.
Não há ainda relatos de comida contaminada na capital Tóquio, com cerca de 13 milhões de moradores. Autoridades, contudo, identificaram níveis acima do normal de radioatividade em um crisântemo.
Saúde
Segundo outro porta-voz da OMS, Gregory Hartl, a radiação na comida pode se acumular no corpo e representar um risco maior à saúde do que partículas radioativas no ar, que se dispersam após alguns dias.
O Japão é um importador de comida e não tem exportações significativas - a maioria frutas, vegetais, laticínios e frutos do mar e peixes. Seus maiores mercados são Hong Kong, China e Estados Unidos. No último domingo, autoridades em Taiwan encontraram radiação em uma carga de vagens importada do país, mas dentro dos limites de segurança alimentar e não oferecia riscos à saúde.
FALTA DE MANUTENÇÃO
Operadora mentiu em relatório nuclear
Tóquio
Dez dias antes do terremoto e subsequente tsunami que provocaram o acidente na central nuclear de Fukushima, a companhia Tokyo Electric Power (Tepco), operadora da usina, admitiu que havia mentido nos relatórios de controle de suas instalações.
A Tepco entregou às autoridades japonesas um documento no qual confessava ter manipulado os dados de controle de manutenção. A empresa afirmou que havia inspecionado cerca de 30 peças que, na verdade, não foram checadas.
A operadora confessou que, em 11 anos, não inspecionou a peça que alimenta uma válvula de controle da temperatura do reator, apesar dos técnicos, que se contentaram em fazer apenas controles rotineiros, garantirem o contrário.
Outras peças, cujo controle não é necessariamente obrigatório, tampouco foram submetidas a uma inspeção, sobretudo as partes ligadas ao sistema de resfriamento e ao fornecimento elétrico de emergência. As autoridades solicitaram o relatório à Tepco justamente para saber se o procedimento padrão de segurança estava sendo respeitado.
"O plano de controle das instalações e a gestão da manutenção eram inapropriados", concluiu a Agência de Segurança Nuclear, que assegurou que "a qualidade das inspeções era insuficiente".
Antes da catástrofe, a agência reguladora do setor havia alertado a Tepco, exigindo uma mudança de comportamento e a aplicação de um novo plano de manutenção antes do dia 2 de junho.
Os operadores dos reatores não são obrigados a cobrir os danos que um acidente nuclear pode ocasionar nas próprias instalações. Em troca, a lei os obriga a assinar um seguro para os danos que um acidente pode causar a terceiros.
Para qualquer instalação nuclear, a lei japonesa fixa um teto de indenização de 120 bilhões de ienes (1,040 bilhão de euros).
Mas as seguradoras excluem da cobertura as catástrofes naturais maiores, como um terremoto ou um tsunami.
Recuperação
A reconstrução do Japão pode levar até cinco anos, ante um prejuízo que pode chegar a US$ 235 bilhões (R$ 392 bilhões), informou um relatório do Banco Mundial divulgado ontem.
O terremoto e o tsunami, seguidos de uma crise nuclear ainda em curso, prejudicaram as cadeias produtivas de indústrias automotivas e eletrônicas. Além disso, "os danos ocorridos em habitações e infraestrutura foram sem precedentes", informa o relatório.
O governo já confirmou 8.805 mortes e 12.664 pessoas desaparecidas na tragédia. (diariodonordeste)

Ativistas protestam e funcionários defendem Angra

Ambientalistas criticam problemas de segurança da usina, como o plano de retirada em caso de acidente como o do Japão.
Luto
Estudantes de Angra protestam contra usinas e manifestam apoio às vítimas do Japão: 'protesto pacífico e silencioso'
De um lado, ambientalistas e estudantes da rede municipal com uniformes por baixo de camisetas pretas. Do outro, funcionários da Eletronuclear, alguns com crachás da empresa pendurados no pescoço, vestindo branco. O centro de Angra dos Reis, no litoral fluminense, foi palco ontem de manifestações opostas e simultâneas, contra e a favor da expansão do programa nuclear brasileiro com a prometida construção da usina Angra 3.
"Nossa manifestação é pacífica e silenciosa", avisou Rafael Ribeiro, um dos conselheiros da ONG Sociedade Angrense de Proteção Ecológica (Sape), pouco depois de os manifestantes dos dois grupos se cruzarem na Praça General Osório.
Cerca de 40 estudantes de duas escolas públicas engrossaram o coro de duas dezenas de ambientalistas, que percorreram ruas carregando faixas, velas acesas, uma coroa de flores e um caixão cenográfico até a Praça da Matriz, em passeata, usando máscaras brancas no rosto e cobertos por panos pretos.
O grupo do "sim" era menor, cerca de 25 pessoas ao todo. "Nossa intenção não é o embate, mas o contraponto. Eles (os ambientalistas) estão tirando proveito da tragédia no Japão", disse o técnico de edificações Donato Borges, de 51 anos, que trabalha há 34 na Central Nuclear de Angra. Vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil na região e um dos coordenadores do Movimento Pró-Angra 3, ele reconheceu que o ato foi motivado pelo anúncio do protesto ambientalista, na véspera. Borges disse que o objetivo era mostrar a importância da construção da terceira usina para a criação de empregos. "Sem as obras, serão 3 mil pessoas na rua em Angra." Para Ribeiro, o ato dos funcionários foi "uma provocação apelativa". "São pessoas ligadas ao PT que estão penduradas na Eletronuclear e fazem esse papelão."
Outro participante da marcha dos de branco alardeava a "segurança" das instalações. "Nós temos uma Ferrari, eles (os japoneses) tinham um Fusca. Estamos aqui para mostrar as diferenças entre as usinas", disse o funcionário da Odebrecht Marcelo Vidal, de 39 anos, que trabalha há 15 anos em Angra 2 e preside o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil no município.
Segundo o ambientalista, o objetivo era chamar a atenção para os "problemas e a insegurança nuclear" em Angra. "O raio de 5 km para retirada em caso de emergência é ridículo, uma farsa", afirmou.
Segundo ele, além de uma "revisão profunda" para criação de um plano de fato seguro, é preciso melhorar as informações divulgadas à população, as vias de acesso e a infraestrutura.
"No Japão, também sempre disseram que não ia ter problema. Precisamos considerar o imponderável. O risco da usina é pequeno, mas o impacto é devastador", disse Ribeiro. "A população em Angra não está preparada para agir diante de um acidente. Exigimos do governo que, se não tem condições de oferecer segurança, não mantenha as usinas."
Um grupo de três voluntários do Greenpeace no Rio acompanhou a manifestação. "A gente veio apoiar", disse o estudante de engenharia mecânica Rodrigo Batista, que pretende se especializar em energias renováveis. "O projeto de lei de 2008 que trata disso está parado."
Alexandre Silva, do Comitê de Defesa da Ilha Grande, alertou para a dificuldade de remoção dos moradores da ilha em caso de emergência na central nuclear. Segundo ele, hoje esses moradores não são considerados nos planos de prevenção. Convocados por professores da rede municipal, os estudantes receberam um lanche após a participação no ato dos ambientalistas, que teve apoio da fundação alemã Heinrich Böll. (OESP)

Reparação da usina de Fukushima avança

Reparação da usina de Fukushima avança, mas radiação chega ao mar no Japão
No dia em que técnicos conectam cabos de força em todos os seis reatores, empresa confirma contaminação em águas litorâneas.
Fumaça é vista saindo da área de um dos reatores da usina nuclear em Fukushima (21/03)
No mesmo dia em que equipes conseguiram conectar cabos de força em todos os seis reatores da usina nuclear de Fukushima Daiichi, no leste do Japão, para restabelecer o sistema de resfriamento local, aumentam as preocupações sobre as consequências da crise nuclear do país com a constatação de que há radioatividade nas águas litorâneas da região.
Segundo Tokyo Electric Power Company (Tepco), que administra a usina, uma amostra de água marinha recolhida na segunda-feira a uma distância de 16 quilômetros da central revelou um nível de iodo radioativo I-131 16,4 vezes superior ao limite legal.
De acordo com a Tepco, água coletada a 330 metros da usina tinha um nível de iodo-131 126,7 vezes maior que o permitido, enquanto o césio-134 estava 24,8 vezes maior que o normal. Já o nível de césio-137 estava 16,5 vezes acima do permitido.
O governo japonês indicou que ainda é cedo para saber se os produtos pesqueiros da área estão contaminados e assinalou que, em breve, serão realizadas análises para avaliar o impacto da radioatividade no mar. O Executivo apontou que, no momento, não há no mercado produtos pesqueiros procedentes de Fukushima e pediu às províncias vizinhas de Ibaraki e Chiba que aumentem a fiscalização do setor de pesca.
O vice-presidente da Tepco Norio Tsuzumi visitou um abrigo de emergência em Tamura, onde estão cerca de 800 moradores da cidade de Okuma, cidade mais próxima à usina de Fukushima. Tsuzumi se desculpou aos desalojados, que foram obrigados a deixar suas casas por causa do risco da radiação.
Os esforços dos técnicos para manter sob controle os seis reatores de Fukushima avançaram nesta terça-feira com o sucesso em concluir as operações para conectar todos eles a fontes externas de energia e, assim, restituir o funcionamento administrável da usina.
Embora os cabos já estejam posicionados, reativar o fornecimento de energia elétrica pode levar um ou vários dias, já que antes é preciso revisar o estado de todos os instrumentos e motores para evitar um curto-circuito que complicaria ainda mais os trabalhos de manutenção.
Os técnicos trabalham em situações extremas, rodeados de elevados níveis de radioatividade, frequentemente às cegas e em um panorama de três reatores (os números 1, 2 e 3) destruídos por explosões de hidrogênio e um quarto (o número 4) danificado por um incêndio.
Para complicar, os reatores 1 e 2 foram mais danificados pela água do mar do que se acreditava originalmente, o que demandará mais tempo para que sejam consertados, disse a Tepco. O tsunami que se seguiu ao terremoto de 9,0 graus de 11 de março danificou componentes elétricos e bombas nas duas unidades, disse Sakae Muto, vice-presidente da Tepco, citado pela rede de TV CNN.
Segundo ele, o reator 2 tem mais danificado do que o 1, sendo que as primeiras substituições de equipamentos devem acontecer na quarta-feira. Ainda não se sabe a causa dos danos, mas água do mar foi bombeada neles para resfriar os equipamentos como medida de emergência depois do tremor.
Juntamente com militares e equipes de bombeiros convocadas de Tóquio e Osaka, funcionários da Tepco se esforçam há 11 dias para evitar que a temperatura do combustível nuclear aumente e emita elevadas quantidades de radioatividade.
Os trabalhos foram interrompidos na segunda-feira por temores de que radiação poderia estar vazando de Fukushima por meio de uma nuvem de fumaça. No entanto, os níveis de radiação na área caíram nesta terça-feira, depois de apresentar alta por um breve período no dia anterior.
Caminhões de bombeiros voltaram nesta terça-feira a jogar água no reator número 3, enquanto um veículo especial utilizado normalmente para bombear cimento se concentrou na unidade 4, onde causa preocupação a piscina de armazenamento, que guarda uma grande quantidade de combustível nuclear utilizado.
Enquanto são feitos os esforços para controlar a usina nuclear, operacional desde 1971, as autoridades verificam os níveis de radiação na região, na qual foi imposto um isolamento de 20 quilômetros. Também se recomendou aos moradores que estão entre 20 e 30 quilômetros que não saiam de suas casas e permaneçam com as janelas fechadas.
Equipe de Autodefesa do Japão retiram corpo envolto em cobertor durante cerimônia para as vítimas do terremoto de 11 de março
Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), na cidade de Namie, a 20 quilômetros da usina, o nível de radioatividade chegou a ser 1,6 mil vezes maior que o habitual, registrado a 161 microsievert por hora.
Nos lugares mais afastados, como as Províncias de Saitama, Chiba, Kanagawa, e na própria capital, Tóquio, as medições do governo japonês, da AIEA, da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de especialistas americanos indicam que os níveis de radiação estão muito abaixo do nível perigoso para a saúde.
As medições do governo japonês se estenderam aos alimentos da região, após radioatividade ser detectada em leite e espinafres, levando as autoridades a proibir a distribuição dos produtos.
Reconstrução
O prejuízo causado pela tragédia natural no Japão é estimado pelo Banco Mundial em US$ 235 bilhões (cerca de R$ 392 bilhões) e a reconstrução do país pode levar até cinco anos.
O terremoto e o tsunami, seguidos de uma crise nuclear ainda em curso, prejudicaram as cadeias produtivas de indústrias automotivas e eletrônicas. Além disso, “os danos em habitações e infraestrutura foram sem precedentes”, diz o relatório.
O número de mortos, que pode chegar a 15 mil, e os prejuízos devem ser mais do que o dobro dos causados pelo terremoto de Kobe, em 1995. As companhias de seguros devem arcar com apenas uma pequena parte dos custos, deixando a maioria do prejuízo a ser coberta pelo governo e pela população, aponta o documento.
Em contrapartida, a conclusão do relatório é que o impacto da tragédia no crescimento japonês provavelmente será “temporário” e terá efeito “limitado” na economia regional. (ultimosegundo)