terça-feira, 30 de agosto de 2011

Biogás: uma solução contra emissões

A microcentral termelétrica a biogás do Condomínio de Agroenergia da Agricultura Familiar do Rio Ajuricaba, em Marechal Candido Rondon, na região Oeste do Paraná, foi inaugurado em 19/07/11. Considerado inédito no país, o projeto vai gerar energia elétrica a partir de dejetos da agropecuária para pequenos produtores rurais. A iniciativa é resultado de uma parceria entre a Itaipu Binacional, a prefeitura de Rondon, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-Paraná) e a Companhia Paranaense de Energia (Copel).
“Este projeto é emblemático para o Brasil, visto que o País assumiu compromissos internacionais de redução das emissões de gases do efeito estufa. E com esse sistema, a agropecuária brasileira pode transformar um problema ambiental em uma solução e ainda lucrar com isso”, destacou o diretor-geral brasileiro da Itaipu, Jorge Samek.
A geração de energia a partir de efluentes não é novidade no Brasil. A Itaipu, em conjunto com diversos parceiros, conta com seis unidades de demonstração de grande porte no Oeste Paranaense. O ineditismo deste novo projeto está em viabilizar esse tipo de geração de energia para pequenos produtores. São 34 propriedades dotadas de biodigestores (que recebem os dejetos da bovinocultura de leite e da suinocultura), que por sua vez produzem biogás que é enviado para a microcentral termelétrica.
Na microcentral, os geradores produzem energia que abastece as propriedades com a possibilidade de vender o excedente para a rede pública (no caso, a Companhia Paranaense de Energia – Copel). O sistema ainda tem como subprodutos a energia térmica, utilizada para secar sementes, e o biofertilizante, que é a matéria orgânica tratada que sobra no biodigestor e pode ser aplicada em pastagens e em outras culturas.
Estima-se que os 34 produtores consorciados obtenham uma renda de aproximadamente R$ 270 mil anuais com sistema. Além dos equipamentos, obras e assessoria técnica para instalação do condomínio, a Itaipu, Prefeitura Municipal e Emater auxiliaram os agricultores a sanar passivos ambientais, readequando instalações nas propriedades. (ambienteenergia)

Dinamarca importará lixo para produzir biogás

Geração de Energia: Dinamarca vai importar lixo para a produção de biogás
Usina gigante que deve ficar pronta em 2016 absorverá mais do que Dinamarca é capaz de produzir em resíduos. País escandinavo já processa totalidade de dejetos; ideia é investir em queima de lixo para a produção de biogás.
A produção de biogás e outros produtos a partir de lixo estão dando tão certo na Dinamarca que o país deve importar resíduos a partir de 2016. Nesse ano ficará pronta uma nova usina de processamento de lixo da cooperativa Amagerforbrænding, hoje a segunda maior do País.
A ideia é comprar resíduos de países do norte e do leste da Europa, como Alemanha e Polônia, para dar conta da capacidade total da usina. Hoje, a Dinamarca processa 100% do lixo que produz em empresas privadas e em cooperativas sem fins lucrativos (esse é o caso da Amagerforbrænding).
A população separa o lixo em casa e também leva os recicláveis até postos de troca. “Os dinamarqueses estão bastante acostumados a trocar garrafas de plástico e latas de alumínio por moedas”, disse à Folha a ministra do Clima e Energia da Dinamarca, Lykke Friis. A Amagerforbrænding processou no ano passado cerca de 400 mil toneladas de lixo, ou 400 caminhões carregados todos os dias.
Adeus aos fósseis – O tratamento de lixo reduz a emissão de CO2, principal gás do aquecimento global. Além disso, no caso da Dinamarca, o biogás produzido a partir do lixo substitui os combustíveis fósseis que seriam usados para aquecimento das casas.
De acordo com Vivi Nør Jacobsen, da cooperativa, 4 kg de lixo processados na usina equivalem a 1L de óleo para aquecimento das casas.
“A atividade da usina está dentro da proposta do governo de acabar com o uso de combustíveis fósseis no país até 2050”, explica Jacobsen.
A Amagerforbrænding também tem uma proposta de aproximar o processamento do lixo da sociedade. A nova fábrica será em Copenhague, assim como a atual, que é de 1970 e se destaca por ser limpa e colorida. A diferença é que a usina que será inaugurada ficará ainda mais perto do palácio real dinamarquês e funcionará como um espaço público, tendo até pista de esqui.
“Queremos mostrar que uma usina de processamento de lixo não precisa ser feia e fedida”, explica Jacobsen. No Brasil, algumas iniciativas de reciclagem funcionam bem. Por exemplo, quase todas as latinhas de alumínio são recicladas no país. Os lixões a céu aberto continuam predominando no Brasil pelo menos até 2014. Esse é o prazo final estipulado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada no ano passado, para que todos os lixões sejam completamente fechados. O objetivo é ter aterros sanitários para os resíduos que não possam ser tratadas – e reaproveitar o restante. (EcoDebate)

domingo, 28 de agosto de 2011

Revisão nuclear no Brasil

Programa Nuclear Brasileiro: Revisão nuclear
Ao contrário do Japão, o Brasil tem o privilégio de não estar situado sobre limites de placas que possam gerar desastres do porte de um terremoto de grande impacto ou uma tsunami. Isso não impede, no entanto, que, em função do desastre nuclear de Fukushima, não seja o momento de rever o papel das usinas nucleares no país e as suas condições de segurança. Em um país onde chuvas, inundações e deslizamentos matam tantos, fica sempre a desconfiança se planos de emergência funcionarão tão bem no papel como na prática.
Devemos, sim, reavaliar se o país necessita de outras quatro usinas, conforme os planos do Programa Nuclear Brasileiro. Quando se trata de energia nuclear, há uma dimensão difícil de controlar quando algo sai errado: as possibilidades são pequenas, mas, quando ocorrem, as consequências são extensas no tempo, e os seus limites, indefinidos, com um grande número de afetados. Está na memória de muitos de nós o acidente com césio-137, em 1987, decorrente de um aparelho de radioterapia, abandonado como lixo hospitalar e encontrado por catadores de ferro velho em Goiânia. O atendimento e a descontaminação da área e população afetada (cerca de 110 mil pessoas, segundo a Comissão Nacional de Energia Nuclear) revelaram as dificuldades de tomada de decisões e suas incertezas. As mais de 13 toneladas de lixo atômico recolhidas, e lacradas em tambores, se mantêm perigosas pelos próximos 156 anos, um testemunho silencioso, e um tanto esquecido, daquele episódio.
O Brasil não precisa recorrer às usinas nucleares para reforçar sua matriz energética. Somos um país rico em outras formas de energia, como a eólica e a solar. Além de mais limpas, temos todo o potencial para desenvolver tecnologia nessas áreas, baratear os custos da energia assim gerada e sermos competitivos na exportação deste conhecimento e tecnologia, contribuindo com produtos de maior valor agregado na nossa pauta de exportações, hoje fortemente baseada em commodities.
Diferentemente do Japão, onde a energia nuclear é responsável por 30% da eletricidade gerada no país, temos que nos valer de nossas vantagens para oferecer ao mundo um exemplo a ser seguido. Investir em educação, segurança e na infraestrutura, promover o desenvolvimento econômico baseado em tecnologias limpas, incentivar a pesquisa e a criação de novas tecnologias e apoiar as diversas formas de energia possíveis são os caminhos a serem seguidos.
Enganam-se os que pensam que o abandono da energia nuclear pela Alemanha (um dos seus líderes de seu desenvolvimento) trata-se de uma atitude populista de seu governo atual. Como em nenhum outro país, a História ensinou a eles os riscos da leniência com o populismo. Se eles a abandonam, é porque já estão com o pé no futuro, enxergando um mundo onde a energia nuclear não será fundamental, não valendo o risco a correr e o preço a pagar. Aproveitemos para abandonar o desenvolvimentismo obsoleto dos anos 70 e entrarmos, definitivamente, no século XXI. (EcoDebate)

Radiação deixará áreas em Fukushima inabitáveis

Japão: Radiação pode deixar algumas áreas próximas à usina nuclear de Fukushima inabitáveis
O governo japonês pode declarar algumas áreas próximas à usina nuclear de Fukushima inabitáveis por mais de dez anos, por causa de níveis de radiação 500 vezes acima do limite recomendado.
“Estou ciente da possibilidade de haver áreas em que os moradores não poderão retornar às suas casas por muito tempo”, disse o secretário-chefe de Gabinete, Yukio Edano, a jornalistas em Tóquio.
Técnicos mediram uma radiação de 508,1 milisiervert por ano na cidade de Okuma, a 3 km da central danificada após o forte terremoto seguido de tsunami do dia 11 de março. O nível mundialmente recomendado é de 1 milisiervert por ano. Há uma crescente impressão dentro do governo de que levará mais de uma década para que moradores de Okuma e de Futaba, também a 3 km da usina, possam retornar a suas casas.
A população nessa região era de 1.131 pessoas antes dos desastres. Testes preliminares e relatórios indicaram altos niveis de radiação em amostras do solo em áreas além da zona de exclusão de 20 km ao redor de Fukushima.
Em 24 de maio, algumas amostras registraram mais de 1,48 milhão de becquerels por metro quadrado, padrão usado para a retirada de moradores após o acidente na usina nuclear de Tchernobil, na Ucrânia, em 1986. A informação consta de um relatório entregue ao governo por Tomio Kawata, da Organização para o Gerenciamento do Lixo Nuclear do Japão.
O tsunami que se seguiu ao tremor de 9 graus em março afetou o funcionamento da usina, de modo que três de seus seis reatores derreteram, o que provocou os vazamentos radioativos.
Moradores que não receberem autorização para voltar às suas casas poderão receber compensações financeiras, segundo a mídia local. O primeiro-ministro Naoto Kan deve explicar o plano para autoridades locais quando visitar a Província de Fukushima no final desta semana. (EcoDebate)

Referendo em Angra 3 é uma questão de ética

Submeter Angra 3 a referendo popular é uma questão ética
O referendo italiano que rejeitou maciçamente as usinas nucleares é modelo de participação popular; talvez seja o caso de imitá-lo aqui.
Angra 3 é uma questão ética – Se a construção de uma usina nuclear fosse apenas uma questão técnica, seria reduzido o número das pessoas capazes de opinar sobre o assunto. Mas os riscos a que estão sujeitas as populações que vivem perto dos reatores são inegáveis. Como nenhum cientista pode afirmar que o risco é zero, a questão passa a ser ética.
Como delegar a sorte de milhares de cidadãos à onipotência de alguns tecnocratas e aos interesses desta ou daquela empresa? Um programa sem o respaldo da opinião pública esclarecida é acintosamente antidemocrático. O referendo italiano que rejeitou maciçamente as usinas nucleares é modelo de participação popular. Talvez seja o caso de imitá-lo.
Na Alemanha, a decisão do governo de suspender o programa nuclear atendeu a um movimento cívico que exige investimento em formas de energia renováveis e seguras. Por que o BNDES se dispõe a malbaratar bilhões de dólares em Angra 3 em vez de aplicar esse capital, arrancado aos contribuintes, na difusão em larga escala daquelas formas de energia?
As empresas nucleares preferem privatizar benefícios e socializar prejuízos, no caso, perigos.
Mas não há dinheiro que possa indenizar câncer hepático ou leucemia nas crianças vítimas dos vazamentos. O cidadão brasileiro tem o direito de perguntar: o que será feito com o lixo de Angra 1, 2 e 3? Que direito temos de legar aos pósteros esse pesadelo?
O presidente Bush autorizou a remoção dos rejeitos para depósitos a serem cavados em Yucca Mountain, mas a população do Estado de Nevada e as comunidades indígenas que lá vivem há séculos rebelaram-se contra uma decisão que violava o seu território. Obama prometeu revogar o decreto do antecessor, mas o impasse continua.
Físicos da envergadura do saudoso Mário Schenberg (que condenou a instalação de uma usina em Iguape), J. Goldemberg, Pinguelli Rosa, Cerqueira Leite, Ildo Sauer e Joaquim Carvalho alertam para o caráter desnecessário da energia nuclear no Brasil. As potencialidades de nossa biomassa, bem como de outras fontes renováveis, fornecem base segura para um desenvolvimento sustentável.
Nossos cientistas são evidentemente favoráveis a pesquisas na área nuclear que tenham aplicações na biologia, na medicina e na agricultura. A energia nuclear é cara. Dados do Greenpeace: “O preço da tarifa ao consumidor pode sair por US$ 113/MWh, contra US$ 74/ MWh da energia gerada pela biomassa e US$ 82/MWh da eólica”.
Arriscada, desnecessária, cara…, mas dirão que é limpa; desde quando lixo atômico é sinal de limpeza?
O enriquecimento do urânio depende de eletricidade gerada por combustíveis fósseis, como o carvão. Duas das minas de carvão mais poluentes dos Estados Unidos, em Ohio e em Indiana, produzem eletricidade para enriquecer urânio. É o que informa B. Sovacool no número 150 da “Foreign Policy”.
Enfim, uma boa notícia. A OAB anunciou, em 4 de julho de 2011, que está recorrendo ao Supremo Tribunal Federal exigindo que a eventual retomada das obras de Angra 3 só possa fazer-se com autorização do Congresso Nacional e mediante nova legislação federal.
Assim o requer a Constituição de 1988. Que os parlamentares ouçam a voz dos eleitores e não se dobrem às pressões de empresários gananciosos e políticos desinformados. (EcoDebate)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Proteção das bacias hidrográficas

MPF ajuíza ação para proteger bacias hidrográficas brasileiras do impacto na geração de energia elétrica
Segundo a ação, o modo como vem sendo avaliado o impacto para geração de energia elétrica em cursos d’água é parcial e não reflete os riscos ambientais.
Preocupado com problemas na metodologia adotada para avaliação de impactos ambientais e socioeconômicos na geração de energia elétrica em rios brasileiros, o Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF/DF) propôs uma ação civil pública contra o Ministério de Minas e Energia (MME), a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
Eles descumpriram exigências constantes em termo de compromisso firmado em 2004, que orientou como devem ser os estudos para avaliar o potencial hidrelétrico em bacias hidrográficas brasileiras. O foco do termo de compromisso é que seja elaborado um método de estudo capaz de diagnosticar, de maneira integrada, as reais consequências da geração de energia elétrica em bacias hidrográficas brasileiras.
Esse estudo mais completo, chamado Avaliação Ambiental Integrada (AAI), deve estudar o conjunto de empreendimentos que estão construídos numa mesma bacia hidrográfica – que engloba rios principais e seus afluentes, riachos, nascentes e lençol freático.
Na ação ajuizada, o MPF/DF requer, em caráter liminar, a suspensão dos estudos em curso nas bacias hidrográficas do Brasil, realizados pela EPE. Pede, ainda, que seus resultados não sejam divulgados, pois são considerados incompletos e parciais devido à forma como vêm sendo obtidos.
A ação também pede a proibição de contratar empresas para realização de AAI em desacordo com a metodologia a ser regularmente aprovada. Outro pedido na ação é que o Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas seja revisado para retirada de disposições relativas à AAI enquanto não for concluída e aprovada a sua metodologia pelo órgão central do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama).
O MPF/DF aponta na ação que, além do grave dano ao meio ambiente, configura dano ao erário a elaboração de AAIs sem parâmetros técnicos adequados e com o investimento de altas quantias de recursos públicos em avaliações que pouco ou nada contribuem para a tomada de decisões quanto à utilização de recursos hídricos.
Segundo o Ministério Público, ao reproduzir esse modelo sem bases técnicas seguras, o MME dificultou a avaliação de impacto em outras importantes bacias hidrográficas brasileiras.
Avaliação Ambiental Integrada – Em 2003 foi iniciada a discussão sobre AAI, quando o IBAMA passou a exigir, no licenciamento ambiental de usinas hidrelétricas, que a bacia hidrográfica fosse considerada como área de influência dos estudos, conforme resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). A criação de um instrumento capaz de avaliar os efeitos cumulativos e integrados que um conjunto de barramentos poderia causar em uma bacia hidrográfica foi considerada necessária pelas entidades técnicas envolvidas no debate.
A primeira AAI, em âmbito federal, foi realizada pela empresa EPE como resultado de termo de compromisso firmado, em 15 de setembro de 2004, entre o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a Advocacia-Geral da União, a Empresa Energética Barra Grande S.A., o MME, o IBAMA e o MPF. O estudo “Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos localizados na Bacia do Rio Uruguai” frustrou a expectativa da elaboração de uma metodologia geral para a realização de AAIs em outras bacias hidrográficas brasileiras.
Ao não contemplar a avaliação do conjunto de empreendimentos na bacia hidrográfica nem do correspondente impacto cumulativo dos barramentos, gerou a equivocada conclusão de que todos os empreendimentos são considerados viáveis de licenciamento.
O excesso de intervenções em uma mesma bacia hidrográfica pode causar grande prejuízo à natureza e população local. Por exemplo, a fauna aquática perder o acesso a rios de sua rota migratória e a locais de reprodução devido a barreiras físicas instaladas no curso d’água – situação que pode causar impacto negativo na pesca da região, gerar transtornos para comunidades locais e desequilibrar a natureza da região.
O processo será julgado pela 15ª Vara da Justiça Federal no DF. Processo 0037138-35.2011.4.01.3400. Confira a íntegra da ação civil pública. (EcoDebate)

Assoreamento de rios e reservatórios

Assoreamento de rios e reservatórios prejudica geração de energia elétrica
Assoreamento diminui o armazenamento de água, interferindo na geração de energia.
O processo de assoreamento de rios e reservatórios interfere na geração de energia elétrica, como uma mostra pesquisa da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP. Uma simulação no reservatório da hidrelétrica de Três Irmãos, em São Paulo, mostrou que o assoreamento foi o responsável pela redução média mensal na geração de energia de 377 Megawatt-hora (MWh) entre 1993 a 2008.
“Essa perda energética de 377 MWh/mês poderia suprir o atendimento de 1.508 residências que apresentassem um consumo mensal de 250 quilowatt-hora [kWh]”, aponta o engenheiro eletricista Renato Billia de Miranda. Ele explica que o assoreamento é um processo natural. Trata-se da última etapa do processo de sedimentação que atinge o solo, arrastando sedimentos (terra, areia e outros) para o leito dos rios. Mas a ação do homem intensifica esse processo. “Atividades ligadas a agricultura e pecuária na região de entorno do reservatório são a principal causa dessa intensificação”, destaca.
Desta forma, areia, terra e outros sedimentos acabam indo para os reservatórios, interferindo na capacidade de geração de energia, ao reduzir a capacidade de armazenamento de água e levando, em alguns casos, sedimento para as turbinas e prejudicando o funcionamento das mesmas. “Em pequenas centrais hidrelétricas, o assoreamento pode até impedir o seu funcionamento”, aponta.
Miranda estudou o tema em seu mestrado A influência do assoreamento na geração de energia hidrelétrica: estudo de caso na Usina de Três Irmãos – SP, apresentado em fevereiro na EESC sob a orientação do professor Frederico Fábio Mauad. A usina hidrelétrica de Três Irmãos foi construída em 1993 entre os municípios de Andradina e Pereira Barreto, no Noroeste do estado. O reservatório tem 785 quilômetros quadrados e 150 quilômetros de extensão.
Para realizar a pesquisa, Miranda utilizou dados da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) referentes ao volume do reservatório em 1975. “Uma das dificuldades para realizar a pesquisa foi exatamente a falta de dados atualizados sobre o reservatório de Três Irmãos. É uma realidade presente na maioria dos reservatórios nacionais”, critica o engenheiro.
Atividades de pecuária (esq) e plantação de cana-de-açúcar (dir) nas margens do reservatório de Três Irmãos
Ele também utilizou um levantamento batimétrico feito pelo Núcleo de Hidrometria da EESC em 2008, que consiste na medição da profundidade e vazão da água de reservatórios e rios. A comparação desses dados mostrou que houve uma redução de aproximadamente 14,5% no volume do reservatório entre 1975 e 2008. Com esse resultado foi possível estabelecer a taxa de assoreamento registrado entre 1975 a 2008, e estimar as condições do reservatório para o período de 1993 (ano do início da operação da primeira turbina) a 2008.
“No primeiro cenário, foi considerado que o reservatório não foi assoreado no período. Observamos uma energia média mensal gerada de 198.797 MWh. Já no segundo cenário, consideramos o assoreamento do reservatório no mesmo período e verificamos uma energia média mensal gerada de 198.420 MWh. É uma diferença de 377 MWh”, revela o pesquisador, que utilizou o software AcquaNet para obter esses números.
Matas ciliares
Segundo o pesquisador, o correto seria a existência de Áreas de Proteção Ambiental (APP) no entorno dos reservatórios, pois a presença de matas ciliares funcionaria como uma barreira natural, impedindo que os sedimentos chegassem até o curso d’água. “No caso da Usina Três Irmãos, uma grande parte do seu entorno é utilizado para cultura de cana-de-açúcar e de pastagens. Durante a entressafra, o problema do assoreamento é intensificado, pois coincide com o período das chuvas e elas acabam por levar mais terra para o reservatório”, diz.
Outro ponto destacado pelo pesquisador é a falta de conscientização sobre a importância de se manter em equilíbrio os níveis de água dos reservatórios diante do aumento da demanda de energia elétrica. “As concessionária afirmam que distribuem mudas de árvores para os produtores realizarem o plantio no entorno do reservatório. Mas muitas vezes os produtores são resistentes a essa ideia, pois questionam que se podem plantar cana-de-açúcar e outras culturas, porque devem plantar árvores? Eles comparam a utilização destas áreas para atividades rentáveis como a cana-de-açúcar e a pecuária em relação ao plantio de mudas florestais para as matas ciliares do reservatório”, diz. “De um lado temos a omissão de algumas concessionárias de energia e, de outro, a falta de conscientização dos produtores”, aponta.
Ilustração simplificada de uma usina hidrelétrica (Fonte: Adaptada de WIKIMEDIA- 2010)
Para o pesquisador, “a conservação dos reservatórios e das usinas hidrelétricas que estão em operação atualmente é muito importante, pois há uma dificuldade cada vez maior em se encontrar locais para a construção de novas barragens. Além do mais, questões financeiras, ambientais e sociais que envolvem a construção de novos empreendimentos deste tipo sempre são um entrave para a sociedade, gerando discussões e dividindo opiniões sobre qual seria a melhor tecnologia para a geração de energia elétrica no Brasil”. (EcoDebate)

Hidrelétricas: prejuízos para a geração

O processo de assoreamento de rios e reservatórios interfere na geração de energia elétrica, como uma mostra pesquisa da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP. Uma simulação no reservatório da hidrelétrica de Três Irmãos, em São Paulo, mostrou que o assoreamento foi o responsável pela redução média mensal na geração de energia de 377 Megawatt-hora (MWh) entre 1993 a 2008.
“Essa perda energética de 377 MWh/mês poderia suprir o atendimento de 1.508 residências que apresentassem um consumo mensal de 250 quilowatt-hora [kWh]”, aponta o engenheiro eletricista Renato Billia de Miranda. Ele explica que o assoreamento é um processo natural. Trata-se da última etapa do processo de sedimentação que atinge o solo, arrastando sedimentos (terra, areia e outros) para o leito dos rios. Mas a ação do homem intensifica esse processo. “Atividades ligadas a agricultura e pecuária na região de entorno do reservatório são a principal causa dessa intensificação”, destaca.
Desta forma, areia, terra e outros sedimentos acabam indo para os reservatórios, interferindo na capacidade de geração de energia, ao reduzir a capacidade de armazenamento de água e levando, em alguns casos, sedimento para as turbinas e prejudicando o funcionamento das mesmas. “Em pequenas centrais hidrelétricas, o assoreamento pode até impedir o seu funcionamento”, aponta.
Miranda estudou o tema em seu mestrado A influência do assoreamento na geração de energia hidrelétrica: estudo de caso na Usina de Três Irmãos – SP, apresentado em fevereiro na EESC sob a orientação do professor Frederico Fábio Mauad. A usina hidrelétrica de Três Irmãos foi construída em 1993 entre os municípios de Andradina e Pereira Barreto, no Noroeste do estado. O reservatório tem 785 quilômetros quadrados e 150 quilômetros de extensão.
Para realizar a pesquisa, Miranda utilizou dados da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) referente ao volume do reservatório em 1975. “Uma das dificuldades para realizar a pesquisa foi exatamente a falta de dados atualizados sobre o reservatório de Três Irmãos. É uma realidade presente na maioria dos reservatórios nacionais”, critica o engenheiro.
Ele também utilizou um levantamento batimétrico feito pelo Núcleo de Hidrometria da EESC em 2008, que consiste na medição da profundidade e vazão da água de reservatórios e rios. A comparação desses dados mostrou que houve uma redução de aproximadamente 14,5% no volume do reservatório entre 1975 e 2008. Com esse resultado foi possível estabelecer a taxa de assoreamento registrado entre 1975 a 2008, e estimar as condições do reservatório para o período de 1993 (ano do início da operação da primeira turbina) a 2008.
“No primeiro cenário, foi considerado que o reservatório não foi assoreado no período. Observamos uma energia média mensal gerada de 198.797 MWh. Já no segundo cenário, consideramos o assoreamento do reservatório no mesmo período e verificamos uma energia média mensal gerada de 198.420 MWh. É uma diferença de 377 MWh”, revela o pesquisador, que utilizou o software AcquaNet para obter esses números.
Matas ciliares
Segundo o pesquisador, o correto seria a existência de Áreas de Proteção Ambiental (APP) no entorno dos reservatórios, pois a presença de matas ciliares funcionaria como uma barreira natural, impedindo que os sedimentos chegassem até o curso d’água. “No caso da Usina Três Irmãos, uma grande parte do seu entorno é utilizado para cultura de cana-de-açúcar e de pastagens. Durante a entressafra, o problema do assoreamento é intensificado, pois coincide com o período das chuvas e elas acabam por levar mais terra para o reservatório”, diz.
Outro ponto destacado pelo pesquisador é a falta de conscientização sobre a importância de se manter em equilíbrio os níveis de água dos reservatórios diante do aumento da demanda de energia elétrica. “As concessionária afirmam que distribuem mudas de árvores para os produtores realizarem o plantio no entorno do reservatório. Mas muitas vezes os produtores são resistentes a essa ideia, pois questionam que se podem plantar cana-de-açúcar e outras culturas, porque devem plantar árvores? Eles comparam a utilização destas áreas para atividades rentáveis como a cana-de-açúcar e a pecuária em relação ao plantio de mudas florestais para as matas ciliares do reservatório”, diz. “De um lado temos a omissão de algumas concessionárias de energia e, de outro, a falta de conscientização dos produtores”, aponta.
Para o pesquisador, “a conservação dos reservatórios e das usinas hidrelétricas que estão em operação atualmente é muito importante, pois há uma dificuldade cada vez maior em se encontrar locais para a construção de novas barragens. Além do mais, questões financeiras, ambientais e sociais que envolvem a construção de novos empreendimentos deste tipo sempre são um entrave para a sociedade, gerando discussões e dividindo opiniões sobre qual seria a melhor tecnologia para a geração de energia elétrica no Brasil”. (ambienteenergia)

Sustentabilidade e impacto de hidrelétricas

Protocolo de adesão voluntária vai avaliar sustentabilidade e impacto de usinas hidrelétricas
A adesão é voluntária, mas pode ajudar a melhorar a imagem de consórcios e empresas responsáveis pela construção de hidrelétricas. Brasileiras disseram que querem passar pela avaliação, mas Belo Monte não está na lista.
O convite é da Associação Internacional de Hidroeletricidade (IHA), e a decisão de participar ou não do desafio é das próprias construtoras de usinas: demonstrar o quão sustentáveis são os projetos que levantam enormes barragens em rios para gerar uma energia renovável tida como limpa e responsável por 16% de toda a eletricidade produzida no mundo.
O chamado Protocolo de Avaliação de Sustentabilidade de Hidrelétricas avalia novos projetos em quatro áreas vitais: social, econômica, ambiental e técnica. Em parceria com organizações como Transparência Internacional, WWF, Oxfam e Nature Conservancy, a IHA espera despertar mais engajamento no setor privado, para que ele se comprometa em projetos que tenham o menor impacto possível.
O histórico de Belo Monte resume em si as questões que acompanham a construção de uma usina hidrelétrica. A fonte de energia, tão importante para o abastecimento brasileiro, traz degradação ambiental, afeta populações tradicionais e provoca o deslocamento de povos indígenas.
Avaliação inédita
“O protocolo é uma ferramenta que ajuda a olhar para um projeto de usina e determinar, a partir dos 20 pontos em análise, o que está indo bem e que não está. É uma ferramenta muito importante para o debate entre investidores, empreiteiras e sociedade civil, para que fiquem claras as deficiências e qualidades dos projetos de hidrelétricas”, disse à Deustche Welle Donal O’Leary, da Transparência Internacional.
Até o lançamento do protocolo, apenas instituições financeiras, como o Banco Mundial, exigiam que alguns padrões fossem observados em projetos de hidrelétricas, com a mera finalidade de liberar ou não um financiamento. Comissões específicas também faziam vistorias de projetos. O ineditismo do protocolo está no fato de ele passar a lupa no setor de produção de energia – e de este ter a chance de provar que quer associar sua imagem à sustentabilidade.
A avaliação gera uma nota que vai de 1 a 5, sendo esta a melhor pontuação. Até o momento, o protocolo foi aplicado na hidrelétrica de Shardara, no Cazaquistão, usina com capacidade de gerar 100 MW e que tem um reservatório que cobre uma área de 900 km2.
A hidrelétrica recebeu a pior nota no critério “biodiversidade e espécies invasivas”, e a máxima para “gerenciamento do reservatório”, “saúde pública” e “patrimônio cultural”. Em aspectos como “erosão e sedimentação”, “segurança de infraestrutura” e “gerenciamento ambiental e social”, entre os demais contidos na avaliação, a nota obtida foi 2.
No Brasil
A Itaipu Binacional e a Odebrecht são as primeiras a manifestar interesse em adotar o protocolo no Brasil. “Nós fomos visitar o projeto Santo Antônio, que a Odebrecht conduz, e vimos o que eles estão fazendo em termos de construção, de gerenciamento ambiental. E, pelo que vimos lá, os impactos ambientais do projeto parecem ser razoáveis, maleáveis”, disse O’Leary.
A Odebrecht faz parte do consórcio de construção da usina hidrelétrica Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia, com capacidade de 3.150 MW. A companhia tem participação na edificação de 70 centrais hidrelétricas, de 17 usinas termelétricas e de Angra 1 e Angra 2.
Entre as empresas que formam o consórcio Norte Energia, responsável pela obra da usina de Belo Monte, nenhuma manifestou, até o momento, interesse em aderir ao Protocolo de Avaliação de Sustentabilidade de Hidrelétricas, informou à Deutsche Welle a assessoria da IHA. (EcoDebate)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Sobra de energia no Brasil

Brasil terá sobra de energia elétrica até 2015, prevê ONS
O Brasil vai conviver com sobra estrutural (relação produção/consumo) de energia elétrica até 2015. A previsão foi feita pelo diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS), Hermes Chipp, em 01/08/11 em entrevista coletiva.
Somente este ano, disse Chipp, o país deverá registrar uma sobra estrutural de energia da ordem de 2,5 mil megawatts (MW) médios, para uma previsão de oferta de 58 MW médios no ano.
Para 2015, Chipp prevê uma sobra de 5 mil MW médios, para uma oferta de 71 mil MW médios. As projeções levam em consideração um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) médio de 5% nos próximos cinco anos.
Na avaliação do diretor-geral do ONS, a exceção acontecerá este ano quando a expectativa de crescimento do PIB do país, e por extensão do consumo de energia elétrica deverá ser menor: em torno de 4%.
“Estas sobras estão garantidas pelas fontes de energia contratadas nos leilões da Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica], que propiciam a garantia física do fornecimento. Evidentemente que essas sobras do Sistema Interligado se distribuem nas regiões. Vale lembrar que somente em energia eólica teremos 500 MW sendo adicionado no sistema”.
As projeções do ONS também levam em conta a hidrologia favorável vivida atualmente no país, onde os reservatórios encontram-se acima de 80% de sua capacidade plena. (EcoDebate)

Consumo de energia e o mundo capitalista

Aumento do consumo de energia no mundo contrapõe capitalismo e meio ambiente
Ensaio de Harald Welzer, no Der Spiegel – Os alemães querem acabar com a energia nuclear e buscar e energia renovável, mas continuam comprando SUVs. As emissões globais de carbono e o consumo de petróleo aumentaram drasticamente durante as duas últimas décadas ambientalmente conscientes – e as tendências continuarão enquanto os ocidentais continuarem a descobrir novas “necessidades”.
Desde o anúncio da nova redução nuclear da Alemanha e de sua revolução energética vindoura, um fantasma vem assombrando o país. Ele se chama “eco-ditadura”. As pessoas que nos alertam contra seus perigos, ironicamente, não são conhecidas como defensoras passionais do processo democrático.
Liderando o caminho está o dinossauro da indústria Jürgen Grossmann e seu leal assistente na frente energética Fritz Vahrenholt, ambos altos executivos da grande companhia energética alemã RWE. Num artigo recente no jornal alemão “Die Welt”, Vahrenholt criticou o que ele chama de “jacobinismo” ambiental e fez referência indireta ao artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ele argumentou que a revolução energética demandaria dos alemães o “mais alto idealismo, altruísmo e disposição para fazer sacrifícios”, que “não pode ser atingido por meios democráticos”. Por que, perguntou Vahrenholt retoricamente, “as pessoas do mundo todo deveriam renunciar a suas demandas de bem-estar material e segurança?”
De fato, a Declaração Universal dos Direitos Humanos diz: “todos têm o direito de ter um padrão de vida adequado para a saúde e o bem-estar de si mesmos e suas famílias, incluindo alimentação, vestuário, moradia, cuidados médicos e serviços sociais necessários, e o direito à segurança no caso de desemprego, doença, incapacidade, viuvez, velhice ou falta de meio de sobrevivência em circunstâncias além do seu controle”. Isso levanta duas questões que Vahrenholt presumivelmente não tinha em mente. Primeiro, o que é um padrão adequado de vida de acordo com padrões universais de direitos humanos? E segundo, como seria se fôssemos “padronizados mundialmente?
Reinterpretando o artigo 25
Quando a Assembleia Geral da ONU ratificou o artigo 25 em 10 de dezembro de 1948, é quase certo que não tinha em mente o direito humano a um padrão de vida que considera normal o direito de uma família a quatro férias por ano, três carros e um desperdício de comida diário. Na verdade, a maior “disponibilidade para fazer sacrifícios” entre as elites alemãs de hoje consiste provavelmente em concordar em esperar 12 meses pela entrega de um Porsche Cayenne.
Por algum motivo todo mundo parece querer ridicularizar o aquecimento global dirigindo SUVs. As vendas de SUVs não estão apenas estourando entre os chineses, que tendem a não se entusiasmar muito em relação à proteção do meio ambiente, mas também entre os alemães, que compraram 20% mais SUVs no último ano do que em 2009, para que possam correr pelo centro das cidades e amedrontar os corações de crianças e ciclistas. Ao comprar esses bebedores de gasolina, os consumidores contribuem significativamente para um dado medido em 2010 e pouco noticiado: o maior uso de energia da história da humanidade. O consumo global de energia aumentou 5,6% em 2010, enquanto as emissões que afetam o clima cresceram 5,8%.
Esta é uma reviravolta energética? Dificilmente. Apesar de Kyoto, Copenhague e Cancun, o consumo de energia e as emissões aumentam a cada ano. Com apenas uma breve interrupção durante a crise econômica global, o ser humano continua acelerando a degradação dos recursos e a destruição do planeta e de sua atmosfera. As emissões mundiais de gases de efeito estufa quase dobraram nas últimas duas décadas, e levará apenas uma década para que elas dobrem novamente, assumindo que a sede por energia das economias industrializadas e emergentes continue a crescer tão rápido quanto está crescendo hoje. De acordo com prognósticos atuais, o consumo de petróleo – que responde por um terço do uso primário de energia – aumentará de 84 mil barris por dia em 2005 para 116 milhões de barris até 2030, apesar do acesso cada vez mais difícil ao petróleo e os altos riscos para o meio ambiente.
Telas planas e desperdício de comida
Mas como isso é possível, especialmente na Alemanha, onde a revolução verde se espalhou pela sociedade e entre todos os partidos políticos, com exceção do eternamente retrógrado Partido de Esquerda? Ou melhor, como é possível depois que a sociedade foi exposta a quase 40 anos de esclarecimento sobre a proteção ambiental, proteção ao clima e sustentabilidade? (O trabalho pioneiro “Os Limites do Crescimento” foi publicado em 1972.) Por que os gráficos de consumo e recursos ambientais apontam drasticamente para o alto se os alemães são tão conscientes do meio ambiente e do uso de energia que apoiam orgulhosamente a decisão de seu governo de reduzir a energia nuclear? E balançam a cabeça em desgosto quando veem pessoas em lugares como Kuala Lumpur ou Dakar jogando lixo nos rios e nas ruas?
A resposta é simples. O consumo aumentou constantemente nessas mesmas décadas, trazendo um aumento correspondente no lixo e nas emissões. Por exemplo, 50 anos atrás um Mini não era apenas um carro pequeno, mas também leve (617 quilos) e conseguia transportar quatro pessoas com apenas 34 cavalos de potência. Hoje, o Mini está disponível nos modelos compacto, conversível, station wagon e coupé, e até como um SUV de 1.470 quilos com até 211 cavalos de potência.
Os lares alemães agora têm várias TVs de tela plana, ar condicionados, um refrigerador norte-americano que produz gelo (no caso de Dean Martin aparecer), e o tipo de cozinha que inclui equipamento suficiente para atender a dois albergues da juventude totalmente ocupados. Numa década, os moradores do mundo ocidental dobraram a quantidade de roupas que compram. A IKEA-ização do mundo, ou seja, a transformação de bens de consumo duráveis em bens de consumo não duráveis, progride num ritmo furioso. Graças aos esforços incessantes de Steve Jobs e Bill Gates, a vida útil dos aparelhos eletrônicos continua reduzindo. E por fim, cerca de 40% da comida nos EUA e 30% da comida na Europa é jogada no lixo antes de ser comida.
Perfeitamente natural – para uma economia do crescimento
Essa é precisamente a forma como as coisas deveriam acontecer numa economia de crescimento, que só pode funcionar com a invenção de novas necessidades uma vez que nossas necessidades vitais – aquelas referidas pelo Artigo 25 – foram supridas.
Sociedades ricas percebem como um direito humano o fato de seus membros se submeterem a esse tipo de manipulação e serem capazes de preencher seu mundo com itens inúteis. Quando eu sugeri num programa de entrevistas há alguns anos que as pessoas deveriam considerar passar as férias em casa em vez de voar constantemente para outros lugares, recebi telefonemas furiosos, até de alguns de meus amigos. A ideia de que simplesmente temos direito a tudo que é vendido na nossa sociedade de consumo está profundamente arraigada. Mas não é sábio aceitar todas as ofertas dessa sociedade, porque elas são o resultado da exploração predatória dos recursos dos quais outras pessoas precisam para sobreviver, tanto hoje quanto no futuro.
A globalização tinha como reputação aumentar a riqueza geral, permitir que novas classes médias se desenvolvessem e reduzir a desigualdade social e a pobreza. Mas a verdade de que um sétimo da humanidade é desnutrida, dois bilhões de pessoas não têm cuidados médicos adequados, um bilhão não têm acesso a agua limpa, e mais de 200 milhões de crianças são soldados, prostitutas, trabalhadores migrantes e fabricantes de tapetes.
Visto sob essa luz, o Artigo 25 não é nada além de uma utopia para o bilhão de pessoas no final da pilha. O maior escândalo é que as disparidades não estão diminuindo nem numa escala nacional nem global. Hoje cerca de 1.200 pessoas são donas de cerca de 3% de todos os títulos privados do mundo, enquanto metade da humanidade é dona de menos de 2%.
Qualquer um que disser que a cultura de consumo e desperdício dos países industrializados influenciada pelo Ocidente deve ser reduzida a um nível compatível com a sobrevivência recebe prontamente o contra-argumento de que não se pode negar às pessoas nas economias emergentes o padrão de vida que nós damos por certo.
Este é um argumento ideológico, porque ignora convenientemente a enormidade de diferenças nas circunstâncias e no consumo de recursos no mundo todo, e porque o argumento repetido constantemente de que todos querem ser como nós não é nada além de um esforço claro para legitimar nosso estilo de vida idiótico. A lógica falha desse argumento é de que se todos imitarem nosso estilo de vida, isso deve ser correto, mesmo que o futuro seja destruído como resultado.
De fato, é precisamente isso que está acontecendo. Não só a destrutividade crescente das sociedades de consumo é atingida ao custo dos vencedores ficarem mais ricos e os perdedores ficarem mais pobres; mas também constitui uma injustiça geracional de proporções históricas. Como continuamos abusando dos recursos em todos os aspectos, não haverá muito disponível para as crianças e os jovens de hoje. Com certeza não haverá liberdade para moldar o futuro com tanta facilidade quanto tinham os membros da minha geração.
Um trabalho para os políticos
Recuperar o futuro – e a redenção do Artigo 25, tanto num senso global quanto temporal – são desafios políticos. Uma “revolução energética” não é suficiente. O que precisamos é de uma nova intolerância de nossa violação crônica do direito humano de sobrevivência futura. Quando o movimento ambientalista ascendeu nos anos 70 ele era bem mais político do que é hoje. E quando os críticos sociais e pensadores como Ivan Illich, André Gorz, Hans Jonas e Carl Amery conduziram o debate, não foi sem uma visão só voltada para os recursos, mas também em direção ao contexto social no qual eles são usados. Sem uma mudança radical em nossa economia e modo de vida, não conseguiremos passar do século 21.
Há alguns anos, o escritor Robert Menasse escreveu que “mesmo o capitalismo de Manchester não era civilizado pelo fato de que os tomadores de decisões políticas perguntavam submissamente aos capitalistas o que precisavam para continuar competitivos e assegurar Manchester como um local de produção, mas, ao contrário, pelo fato de que os políticos impuseram limites sobre o capital e gradualmente produziram mais condições básicas razoáveis. Se os capitalistas fossem questionados, eles afirmariam honestamente e, infelizmente, razoavelmente (de acordo com as suas leis da razão) que nada poderia funcionar sem o trabalho infantil e jornadas de 12 horas. Decisões políticas foram necessárias, decisões que tiveram de ter tomadas em face de uma resistência massiva. Mas elas foram tomadas de qualquer forma. O trabalho infantil foi banido, e a jornada de 8 horas foi introduzida.”
Nem a abolição da escravidão nem a aquisição de direitos humanos nos Estados Unidos foram fruto do diálogo livre e agradável entre o governo e as grandes empresas. São precisamente esses exemplos, na verdade, que mostram como a modernização só resulta da eliminação dificilmente conquistada de privilégios.
É por isso que nossa sociedade contemporânea e suas políticas são tão antiquadas: elas se recusam a restringir os privilégios sobre o uso de recursos da forma como sempre foi feito durante a história da era moderna. A política não está fazendo progresso porque proteger privilégios se tornou o principal propósito da atividade política. Pode-se descrever isso como uma ditadura do presente à custa do futuro. Ou talvez como o oposto da inteligência. Mas certamente não como um direito humano. (EcoDebate)

Os problemas mundiais de energia

Viena, a bela capital do Império Austro-Húngaro, foi um dos mais importantes centros culturais da Europa desde o século 18 até 1938, quando a Áustria foi incorporada pelos nazistas à Alemanha. Nesse longo período, em Viena brilharam Mozart, Beethoven, Strauss e inúmeros outros expoentes da música e da cultura. Sigmund Freud, que viveu desde os 4 anos de idade nessa cidade, ali criou a psicanálise.
Hoje em dia Viena é a sede de numerosas organizações internacionais, como a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido), a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). E também de renomadas instituições dedicadas à pesquisa, como o Instituto Internacional para a Análise de Sistemas Aplicados (Iiasa), que durante a guerra fria foi o único local de encontro de cientistas americanos e soviéticos. O Brasil recentemente se tornou um dos países-membros do Iiasa.
Ao que parece, estamos presenciando um renascimento das contribuições de Viena à ciência e à governança mundial. Lá se realizou, há cerca de um mês, um Fórum de Energia promovido pela Unido, no qual foram apresentados os resultados de um grupo de mais de cem técnicos e cientistas reunidos no Iiasa, que, depois de quatro anos de trabalho, relataram as conclusões de um estudo intitulado Energia, uma Avaliação Global.
Como se sabe, a energia que a nossa civilização exige origina-se em grande parte de combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo e gás natural). Apesar de sua enorme contribuição para promover o conforto de parte importante da população mundial, esse sistema está criando problemas que ameaçam a estabilidade e a continuidade do tipo de civilização que temos hoje.
Isso porque os combustíveis fósseis são a principal fonte de poluição nas grandes cidades e em regiões inteiras do mundo, com sérias implicações para a saúde. Emitem gases que estão provocando o aquecimento do planeta. E são a origem de inúmeros problemas que comprometem a segurança de abastecimento energético, uma vez que muitos países não têm reservas de petróleo e gás e ficam dependentes de pressões políticas dos fornecedores, como os países do Oriente Médio e a Rússia.
Além disso, pouco se faz, por causa do seu custo, para resolver o problema de quase 3 bilhões de pessoas sem acesso a formas modernas de energia nas regiões mais pobres do mundo.
As propostas que existem para solucionar tais problemas se originam, de modo geral, nos países industrializados, que têm acesso a combustíveis fósseis, mas estão preocupados com o aquecimento da Terra - o que só vai ocorrer a médio prazo, havendo ainda tempo para corrigir os rumos atuais. Daí o entusiasmo de alguns deles pela energia nuclear, que contribui para resolver essa questão, mas cria várias outras, de gravidade maior e imediata, como se viu no recente desastre nuclear de Fukushima, no Japão.
Já nos países em desenvolvimento os problemas são mais amplos, incluindo a necessidade de incorporar ao sistema os bilhões de habitantes que não têm acesso a serviços de energia moderna, além da necessidade de pagarem pela importação de combustíveis fósseis, o que compromete suas economias.
O Fórum de Energia de Viena analisou os resultados daquele grupo de cientistas reunidos no Iiasa e as soluções propostas. Esses estudos mostram que existem várias combinações de recursos naturais e tecnologias que permitiriam resolver simultaneamente os problemas acima mencionados sem a necessidade de energia nuclear nem de outras tecnologias ainda não completamente testadas, como a captura de carbono ou tecnologias planetárias ainda mais problemáticas.
A declaração ministerial que emergiu de Viena adotou três decisões básicas, recomendando aos países que adotem medidas para:
# Garantir acesso universal de serviços de energia aos 3 bilhões de pessoas que não os possuem e a toda população mundial até 2030;
# melhorar a eficiência no uso de energia em 40% até 2030;
# aumentar a contribuição das energias renováveis no sistema para 30% até 2030.
A base técnica que deu origem a essas metas não vai exigir muito mais recursos do que os que são usados atualmente, mas seu redirecionamento. Ficou evidente no estudo que energias renováveis, como a eólica, a solar e a biomassa, que em geral são consumidas no local onde são produzidas, reduzem a insegurança energética.
Há também uma sinergia, isto é, uma complementação favorável entre maior eficiência energética e energias renováveis, porque maior eficiência permite realizar as mesmas tarefas com menos energia, o que favorece o uso das renováveis.
As metas do Fórum de Energia de Viena têm caráter global e cada país deverá tentar cumpri-las de acordo com suas características próprias. Para o Brasil elas não apresentam nenhum problema, porque nossa matriz energética já é renovável em 45%. Onde novos esforços poderão ser feitos é no uso mais eficiente de energia, o que pode ser conseguido etiquetando todos os equipamentos usados - como, aliás, já é feito com muitos eletrodomésticos - e aos poucos eliminando do mercado os menos eficientes.
No plano geral, as metas de Viena deverão ter grande impacto na conferência das Nações Unidas, em junho de 2012, no Rio de Janeiro, para marcar o 20.º aniversário da Convenção do Clima e da Convenção da Biodiversidade realizadas, também no Rio, em 1992. Com isso deverão tomar novo impulso os esforços para orientar o desenvolvimento energético numa direção sustentável. (OESP)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Solução para economizar energia

O Brasil emite 2,2 bilhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera todos os anos. Quanto disso é sua responsabilidade? Um invento desenvolvido na UnB permite saber quanto cada aparelho da sua casa gasta de energia, e qual a emissão de carbono correspondente. A Eco2Box foi criada pela IPe, empresa incubada no Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da universidade.
O produto coleta informações das tomadas e as direciona ao computador, onde são apresentados gráficos simplificados que mostram inclusive quantas árvores teriam de ser plantadas para compensar aquele banho demorado ou uma noite com a tv ligada. O morador pode ter informações de cada aparelho conectado ao sistema, como geladeiras, televisões e conta também com gráficos de medições diárias, mensais e de variação de gastos.
A IPe é formada por ex-alunos do curso de Engenharia de Redes. Eles tiveram a ideia em 2007, mas foi com o apoio do CDT que eles desenvolveram o primeiro protótipo. “Tínhamos formação técnica, mas lá conseguimos uma visão empreendedora e também fizemos diversos contados importantes”, diz Roberto Mascarenhas Braga. Ele diz que o objetivo da empresa com a Eco2Box é auxiliar na redução em até 15% o consumo de energia em casa.
O invento baseia-se em tecnologias existentes, mas fornece informações que não eram disponíveis ao morador. “O usuário podia ter medições locais, mas com os dados puros não é possível fazer muita coisa”, explica.
Wireless – A Eco2Box utiliza adaptadores plugados às tomadas. Com uma pequena antena, eles enviam as informações sobre o consumo para o aparelho, uma pequena caixa ligada a um computador por um cabo USB. Esta caixa reúne as informações e um programa de computador criado pela empresa faz o cruzamento dos dados. O computador precisa estar conectado à internet para obter o consumo em dinheiro, baseado na taxa de energia de cada estado. O aparelho também identifica problemas em tomadas ou se está havendo desperdício de energia.
O kit básico da Eco2Box deve sair entre R$ 200 e R$ 250, incluindo três adaptadores para tomadas e o programa para computador. O preço pode cair se for produzido em larga escala. Os próximos passos são criar adaptadores para a medição nas tomadas em formas de réguas, para que vários aparelhos possam ser ligados ao mesmo tempo. Além disso, a empresa está desenvolvendo um aplicativo para celulares.
O invento está participando do IBM SmartCamp Brasil, competição em oito capitais brasileiras para novas empresas que tenham viés ambiental. Dos 80 projetos apresentados nacionalmente, 10 irão para a final no Rio de Janeiro. O ganhador conhecerá o Vale do Silício, a meca da tecnologia mundial. Além disso, ganhará apoio da IBM para que o projeto seja comercializado. O resultado sai no final deste mês. (ambienteenergia)

Um selo para energia sustentável

Além de propor um novo olhar sobre temas de fronteira do setor elétrico, como oferta de energia, política tarifária e meio ambiente, durante o Brazil Energy Frontiers, o Instituto Acende Brasil lança selo de desempenho para empreendimentos das áreas de Geração, Transmissão e Distribuição.
O Selo Energia Sustentável, que será lançado durante a Conferência e Exposição Brazil Energy Frontiers 2011, traz embutido o compromisso com o investimento em fontes complementares renováveis de energia e entre as suas principais características o fato de não ser autodeclaratório e estimular a melhora contínua das empresas a cada empreendimento – o empreendimento pode sair de um nível inicial de intenção e chegar ao nível mais alto de sustentabilidade, que é o nível 3, sempre a partir de certificação realizada por meio de auditoria externa.
O lançamento do Selo Energia Sustentável será durante a Conferência e Exposição Brazil Energy Frontiers 2011 que, durante dois dias, vai combinar a visão de especialistas nacionais e estrangeiros, com bagagem profissional e reconhecimento global do setor, de modo a esboçar os melhores caminhos a serem trilhados pelo setor elétrico no longo prazo. O que inclui respostas sobre o melhor modelo de leilão – se genérico ou específico; o investimento em segurança energética versus expansão da transmissão com transferência de grandes blocos de energia de longa distância; fronteiras da regulação; políticas públicas adequadas em ambiente compartilhado por empresas privadas e estatais.
Jeremy Rifkin, consultor econômico da União Europeia em questões ligadas a Mudanças Climáticas e Segurança Energética e principal arquiteto da Terceira Revolução Industrial da União Europeia; Christopher Flavin, presidente emérito do Instituto Worldwatch e uma das principais vozes no mundo a defender a necessidade de construir uma economia de baixo carbono para atender às necessidades humanas e dos sistemas da Terra; Christopher Garman, diretor de Mercados Emergentes da Eurasia Group, empresa de consultoria e pesquisa global dedicada à análise de Risco político e geopolítico, e Stephen Littlechild, primeiro diretor geral da agência reguladora do setor elétrico do Reino Unido, reconhecido como formulador da política tarifária de Telecom na Inglaterra, são os conferencistas nacionais.
Os professores-doutores José Goldemberg, ex-ministro, selecionado pela “Time Magazine” como um dos treze “Heroes of the Environment in the category of Leaders and Visionaries 2007″; Roberto Schaeffer, associado do Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC) das Nações Unidas, e Eduardo Gianetti, da Ibmec Educacional, ao lado do engenheiro José Mario Abdo, primeiro diretor da Aneel, formam o time de conferencistas nacionais. (ambienteenergia)

Eficiência energética é para valer

A eletricidade é um vetor de energia que permite atender à maioria das necessidades, de uso final, notadamente a iluminação, calor, frio ou movimento. Estes serviços, por sua vez, são fornecidos por lâmpadas, geladeiras, aquecedores, motores elétricos e outros equipamentos que convertem a energia elétrica. Suas eficiências e a maneira de utilizá-los afetam significativamente a demanda final de energia elétrica.
Portanto, o atendimento da nova demanda por serviços de energia elétrica pode ser feito, expandindo sua oferta com novos geradores, linhas de transmissão e sistemas de distribuição ou, em certa medida, aumentando a eficiência dos aparelhos consumidores e/ou evitando usos perdulários.
Em condições normais, empresas e planejadores do setor elétrico trabalham com a perspectiva da expansão da oferta. No entanto, em 2001, um racionamento de energia foi evitado com base no uso mais eficiente da energia. O Brasil foi o único país do mundo a usar, de maneira tão abrangente, esta forma de redução da demanda com um resultado tão importante. Passados quase dez anos é fácil perceber que o resultado foi impactante e consistente: em pouco mais de um mês, ações dos consumidores adiaram em uns três anos o crescimento da demanda anual de energia elétrica de cerca de 50 TWh (5 Mtep ~), adiando a necessidade de investimentos de uns R$ 20 bilhões.
Eficiência
A ação foi possível porque um programa de governo (PROCEL) tinha medido a eficiência dos aparelhos mais usados, estimado o potencial de redução do consumo e formado quadros de especialistas que atuaram durante a crise.
Não obstante, superados os problemas hidrológicos que desencadearam a crise, a visão da oferta entendeu que a redução do consumo era transitória e associada à moeda muito desvalorizada na época, à eleição presidencial no ano seguinte e à crise econômica da Argentina. Entendiam que o mercado voltaria logo aos níveis históricos e que era importante evitar uma nova crise alugando centenas de geradores diesel para montar um dispensável sistema emergencial a um custo de alguns bilhões de reais. A conta, naturalmente, foi paga pelos consumidores cujas tarifas, além disso, foram reajustadas para recuperar o “equilíbrio financeiro” das empresas cujo mercado encolheu. Curiosamente, pouco se falou sobre a alocação dos ganhos econômicos associados ao adiamento dos investimentos.
Curioso, também, que, em seguida à crise, foram criados grupos de trabalho para discutir porque ela tinha ocorrido e como prevenir uma nova situação. Os sofisticados relatórios usaram até conceitos de Nash, Prêmio Nobel de Matemática que, na época, devido a um filme sobre a sua vida, estava na moda. No entanto, apesar das evidências de que a solução para a crise não se deu pelo lado da oferta, nem um tostão foi gasto para fazer uma pesquisa de opinião entre consumidores, principais responsáveis pelos resultados alcançados, para entender a sua participação, respondendo a perguntas do tipo: “sua casa (firma) atendeu os limites impostos?”; “que providências tomou para enfrentar a crise?”; “depois da crise continua a se preocupar com o consumo: ainda compra lâmpadas eficientes?”; “agiu com a intenção de ajudar o país ou com medo das punições anunciadas?”; etc.
A eficiência energética, na verdade, embora reconhecida como um tema “politicamente correto”, não integra as políticas de planejamento energético com a profundidade e a extensão, particularmente do lado da demanda, que sua potencialidade justifica. Isto é até compreensível nas estruturas de governo que foram montadas e formadas com a visão de gerenciar a oferta e onde a “estratégia 2001” seria uma solução de bolso do colete para a hipótese de outra crise.
Não obstante, a eficiência energética afeta a economia do setor elétrico, além do meio ambiente e afetará, fatalmente, os negócios das empresas que apostarem em uma continuidade de crescimento da demanda. Ao longo da história não há registro de marcha-a-ré na eficiência energética: tecnologias ineficientes cedem espaço para as eficientes. Entender bem essa questão e tirar proveito das oportunidades que se colocam, porém, exige que empresas e governo entendam e se preparem para vencer algumas barreiras tanto políticas quanto culturais. Mas isso é assunto para outro artigo. (ambienteenergia)

Catracas do metrô podem produzir energia limpa

Cerca de 2.56 milhões de pessoas passaram, diariamente, pelas catracas do metrô paulistano em 2010, segundo dados da prefeitura da cidade. Já pensou se toda essa movimentação pudesse ser transformada em energia elétrica?
Essa é a ideia de três alunos de Administração da FEI – Faculdade de Engenharia Industrial, de São Paulo: juntos, Renato Góis Figueiredo, Lucas Rodrigues Lamas e Tatiana da Silva desenvolveram um projeto que prevê a instalação de geradores elétricos nas catracas das estações de metrô e trem, para garantir que a energia cinética – ou seja, de movimento – produzida pelo giro das catracas seja reaproveitada e convertida em eletricidade.
Os estudantes focaram o projeto nas catracas do transporte coletivo, mas a ideia pode ser aplicada em muitos outros lugares: por exemplo, na entrada dos estádios – imagine quanta energia limpa poderia ser produzida em dia de clássico ou de shows internacionais! – ou nas portas giratórias dos bancos, que seguem o mesmo princípio das catracas. Você consegue pensar em algum outro lugar onde a técnica pode ser aplicada?
O projeto dos brasileiros venceu, em 2010, o concurso EDP University Challenge, que premia as melhores iniciativas, pensadas por universitários, para a produção de energia elétrica e, agora, os estudantes estão aprimorando o projeto, com o auxílio de uma bolsa de estudos. Já pensou se a ideia pegar? (planetasustentavel)

Banda gera energia com pedaladas

Banda que gera energia com pedaladas rende prêmio
Os shows da banda CO2 Zero têm baixa pegada ecológica: a energia que abastece os instrumentos é gerada por Renan de Oliveira, ciclista oficial. Uma bicicleta conectada a geradores elétricos, uma criação do engenheiro José Carlos Armelin, baterista do quarteto (quinteto, com Renan), permite energia suficiente para o show com uma hora de pedaladas.
O estudante Carlos Giannoni (foto), de 25 anos, venceu a sétima edição do Concurso Universitário de Jornalismo da CNN com a reportagem Pedal sustentável. Seu vídeo mostra o trabalho da banda, de Santa Bárbara d’ Oeste (SP). Carlos, que estuda no Instituto Superior de Ciências Aplicadas (Isca) em Limeira, considera os contatos o prêmio mais importante do concurso. "Até mais que a viagem para Atlanta [SEDE DA CNN]", conta.
A cerimônia de premiação aconteceu na capital paulista em 17/08/11. A jornalista Afra Balazina, repórter de ambiente do Estado, participou da comissão de triagem.
Carlos queria fazer algo diferente para a competição com o tema "energia renovável". "Não queria falar de energia solar, energia eólica", explica. "Essas coisas já são conhecidas. Eu queria algo mais lúdico e tinha ouvido falar numa banda que usava bicicleta para gerar energia." Pelo Google, conseguiu contato com os membros da banda. Acompanhado de dois amigos, ele produziu uma hora de gravação, transformada em um vídeo de 2 minutos, que postou no YouTube. (OESP)

A banda mais sustentável da cidade

A plateia também pode pedalar e ajudar na produção de energia para os instrumentos. Banda CO2 Zero

A banda CO2 Zero encontrou uma maneira inusitada de envolver cultura, educação ambiental e energia. No palco, o grupo pedala quatro bicicletas ergométricas para gerar energia para seus instrumentos, enquanto entoam letras de teor ambiental.
Dois integrantes do grupo são administradores, um é engenheiro elétrico e o outro é químico. O grupo formado em 2009 é de Santa Barbara d’Oeste, no interior de São Paulo. No site da banda, eles dizem que escolheram uma forma diferenciada, alegre e divertida para se apresentarem e interagirem com o público.
Nas apresentações um ciclista profissional se exercita com ou sem apoio do público. A plateia também pode pedalar e ajudar na produção de energia para os instrumentos, destacando a importância das soluções coletivas.
As letras das canções variam entre uso responsável da água, carona solidária, plantio de árvores, consumo consciente, economia de energia, entre outros, sempre com mensagens acerca da sustentabilidade.
No site do grupo também é possível encontrar uma mensagem positiva para os interessados nas questões ambientais: “Todos nós podemos e devemos fazer algo efetivo para diminuir os impactos ambientais causados por nós mesmos”.
A banda nomeou as bicicletas que utilizam como “Pedal Sustentável”. As pedaladas nessa bike também podem gerar energia suficiente para um notebook, TV e aparelho de som.
A capacidade de produção de energia da bicicleta depende da pessoa que pedala. Uma pessoa sedentária, por exemplo, pode produzir 50 watts hora, enquanto um atleta pode alcançar 250 watts hora.
Na semana do meio ambiente deste ano a banda fez 17 shows dedicados ao tema, em São Paulo, Jundiaí, Campinas, Porto Feliz, Piracicaba, Jaguariúna, São Caetano e Uberaba.
Em 2010, a bicicleta sustentável concorreu aos prêmios: EDP 2020 (Eletricidade de Portugal) e Ambiental RAC (Rede Anhanguera de Comunicação). (ciclovivo)

Eficiência energética para reduzir gastos

Papel e Celulose aposta em eficiência energética para reduzir gastos com energia
Associação do setor negocia forma de viabilizar projetos, como troca de equipamentos, com o governo.
As empresas produtoras de papel e celulose têm na energia um de seus principais custos. Os gastos com eletricidade correspondem a algo em torno de 20% do total. Para tentar amenizar este problema e ter indústrias mais eficientes do ponto de vista do consumo, a Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel busca incentivar as companhias a adotarem medidas como o uso do licor negro – obtido na produção de celulose – e a queima da lignina para obtenção do vapor que irá gerar a energia para a unidade fabricante.
O estudo da entidade, Guia Técnico de Eficiência Energética, aponta que resultados obtidos em ações de eficiência energética no âmbito do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) foram poucos expressivos e, ainda de acordo com o estudo, são deixadas de lado oportunidades com potencial para economia de energia.
O diretor técnico da ABTCP, Afonso Moura, explicou, porém, que também negocia com o governo outras formas de baratear o custo da energia para o setor de papel e criar incentivos para viabilizar a eficiência. Ele propõe o uso de incentivos e redução de impostos para compra de equipamentos mais modernos e mais eficientes no consumo energético. Mas ressaltou que medidas simples podem resultar em um ganho entre 5% e 8% no uso de energia. “São medidas de ganho fácil”, completou.
Sobre esses equipamentos, Moura explicou que estuda com o governo formas de criar linhas de financiamento específicas e incentivos tributários para esses gastos, que variam entre US$ 30 milhões e US$ 300 milhões. Ele lista como um dos mais importantes, a caldeira de recuperação de vapor, que custaria algo em torno de US$ 300 milhões. O vapor é importante para a autogeração, segundo Moura, porque é capaz de gerar a energia na intensidade que a produtora de papel precisa.
Fazem parte das negociações com o governo outros pontos defendidos em um estudo da ABTCP, além do financiamento, obtenção de facilidades para o licenciamento ambiental, isenção de impostos - tanto tributos federais quanto estaduais -, criação de incentivos e regulamentação para venda de excedente de 30 MW em energia gerada pelas indústrias do setor.
Moura afirmou também que a associação irá elaborar um mapa de eficiência no setor de celulose e papel para o Ministério de Minas e Energia. O objetivo é identificar ações para que o MME possa desenvolver técnicas nacionais para atingir essa eficiência no consumo. Ele adiantou que a associação fará um workshop para expor as linhas de ações do mapa. (canalenergia)

sábado, 20 de agosto de 2011

A vez do veículo elétrico no Brasil

O Plano Brasil Maior, a nova política industrial anunciada pelo Governo Federal com a MP 540, no contexto da Política de Desenvolvimento de Competitividade – PDC, poderá abrir espaço para a produção em escala do veículo elétrico (VE) no país, que sofre com o garrote tributário, sem políticas públicas setoriais, o que inibe a entrada do VE na pauta do desenvolvimento sustentável no Brasil.
Na tecnologia veicular elétrica encontra-se caminho novo para diminuir o uso da combustão interna nos transportes, principal emissor de poluentes e gases do efeito-estufa. Políticas públicas podem induzir sustentabilidade pela inserção dos VEs na mobilidade, como já vem acontecendo na Europa, Ásia e América do Norte, onde grandes investimentos são direcionados para essa área estratégica, permitindo criação de emprego, trabalho e renda, pois a cadeia produtiva abrange a metal-mecânica, eletrônica, elétrica etc., com o uso mais eficiente de combustíveis.
Além de crédito, o Programa promete redução do IPI para as montadoras e indústrias de autopeças que investirem em inovação e nacionalização de componentes; notoriamente, o VE representa novidade tecnológica no Brasil e o índice de brasilidade dos veículos nacionais se imporá induzida pela política pública fiscal de incentivo anunciada.
Em meados de junho, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em parceria com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), promoveu na Assembleia Legislativa fluminense um esclarecedor debate com uma das maiores autoridades mundiais no assunto, o Dr. Robert Stüssi, ex-presidente das associações Mundial e Europeia do Veículo Elétrico e atual presidente da Associação Portuguesa do Veículo Elétrico, em seminário presidido pelo deputado Alcebíades Sabino.
No Brasil, urgem aperfeiçoamentos da legislação automotiva. Não há definição adequada de VE no Código de Trânsito; é pobre a regulamentação do Denatran sobre o VE; não há infraestrutura de postos de abastecimento (eletropostos); não se sabe qual a tarifa adequada a pagar pelo carregamento das baterias dos VEs; é deficiente a regulamentação do descarte ambientalmente correto das baterias veiculares, cujo custo pode representar até 40% do preço do VE.
A maior parte da energia elétrica produzida no Brasil é renovável, mas o transporte utiliza só 0,2% de energia elétrica. Isto se contrapõe à produção majoritária de energia hidrelétrica; e o país possui outros imensos potenciais que podem ser explorados O modo rodoviário de transporte é predominante e responsável por quase 90% das emissões de dióxido de carbono.
Os danos ambientais causados pelas emissões de poluentes atmosféricos nos seis maiores centros urbanos custam pelo menos R$ 2,3 bilhões à sociedade brasileira por ano em decorrência de mortes, tratamento de enfermidades, ausências ao trabalho etc. Cerca de 80% dessas emissões se devem aos veículos à combustão interna.
Há várias fontes de energia que podem ser otimizadas priorizando-se as renováveis, abundantes no Brasil, para o abastecimento do VE. E o VE minimiza emissões de gases de efeito estufa.
Os impostos existem para que a sociedade, com base na sua capacidade contributiva, mantenha o Estado a quem o povo delega o Poder, que em seu nome é exercido. Mas esses tributos têm um grande potencial estimulante da atividade econômica quando deixam de onerar iniciativas meritórias.
O Brasil, economia emergente que quer exercer liderança, não se pode dar ao luxo de, com seus altos impostos, perder espaço na tecnologia promissora e louvável do ponto de vista ambiental e energético, que é inerente ao veículo elétrico: o incentivo fiscal como instrumento de política pública, especialmente ambiental, é indutor de boas escolhas econômicas.
Há que reduzir a desproporcional carga tributária de 25% de IPI – a mesma dos veículos mais poluidores a combustão (35% para as motos) – e de 18% a 19% de ICMS, mais PIS-Cofins de 11,6%, IPVA de até 4% etc., sobre o VE, o que inviabiliza sua produção em escala, impedindo seu uso na despoluição do ar nas grandes cidades.
É preciso primeiro zerar temporariamente e depois minimizar, para otimizar, a alíquota desses tributos, não apenas do IPI, o que tornará o VE atrativo para o mercado e gerará investimentos no setor.
Há, e nisso acerta o Governo Federal, que considerar as emissões na graduação do IPI, mas também no PIS-Cofins. Os estados devem seguir o exemplo em matéria de ICMS e IPVA. Todos esses tributos podem ser calibrados com justiça fiscal, parte referenciada ao preço dos veículos, como é hoje, e parte considerando o seu mérito ambiental e energético; e não apenas diferenciando o combustível usado na combustão, mas também a despoluição e a eficiência energética proporcionada pelos VEs, que rodariam com energia de matriz limpa e economia em torno de 60% de energia em relação aos veículos convencionais.
E os municípios podem isentar ou minimizar o IPTU sobre imóveis onde se produzam ou consertem VEs, ou onde se estabeleçam eletropostos; o ISS sobre serviços de oficinas de conserto de VEs também precisa ser eliminado ou reduzido.
O setor público parece começar a fazer a sua parte para atender à indústria e aos consumidores. O setor privado tem manifestado o desejo de produzir VEs no Estado do Rio de Janeiro. Oxalá aqui se fabriquem veículos elétricos com capital nacional e marca brasileira.
Com expressivo parque tecnológico, no setor veicular elétrico destacando-se a Uerj, o Rio de Janeiro sediará inúmeros eventos internacionais nos próximos anos e precisa capitanear um movimento nacional em prol da superação das barreiras ao VE.
No chamado Primeiro Mundo, o VE tem boa regulação e recebe estímulos financeiros para garantir produção e emprego, e transporte limpo. O Brasil não pode perder terreno na corrida pelo Saber, que faz emergir riqueza e bem-estar. Investindo em ciência, tecnologia e inovação, como no caso do VE, agrega-se valor e escala à nossa economia, gerando mais qualidade de vida para a geração atual e para as que virão. (EcoDebate)

Para acelerar o carro elétrico

O carro elétrico, particularmente aquele cuja bateria é carregada a partir da rede elétrica, vem despertando interesse crescente dos possíveis usuários, indústrias, ambientalistas e governo. Suas características: nenhuma emissão de efluentes onde circula, pouco ruído, baixo custo de utilização, redução da contribuição dos transportes para o efeito estufa e a possibilidade de impulsionar novas linhas de desenvolvimento tecnológico e de produção industrial, justificam a atenção que vem recebendo.
Esse interesse, no Brasil, é atestado, por exemplo, pelo estudo realizado no ano passado pelo Ministério da Fazenda e apresentado no Fórum Nacional do INAE e pela participação do Secretário Executivo desse Ministério, bem como de outras autoridades, além de representantes de diversas indústrias, acadêmicos e estudantes em recente seminário – TEC-VE, sobre essa matéria.
Entretanto, apesar de suas vantagens, para que a participação desses veículos nas vendas de automóveis alcance níveis significativos, alguns entraves, além dos elevados preços de baterias que proporcionem autonomias satisfatórias para a maioria dos usuários urbanos, terão de ser superados. Com efeito, e para que as grandes vantagens do carro elétrico sejam auferidas, será necessário resolver questões de natureza fiscal, industrial e da infraestrutura de recarga, fortemente imbricadas.
No plano fiscal, a comercialização de carros elétricos é penalizada por uma alíquota de 25% do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI. Se forem importados (o que inicialmente será provável) os custos de importação, inclusive o imposto homônimo, de 35%, encarecerão ainda mais o produto. Atualmente esses carros, se importados, custariam no Brasil mais do triplo do que custam em países industrializados, a maioria dos quais subsidia sua aquisição. Observa-se ainda que, atualmente, carros importados, acionados por motores de combustão, estão sujeitos a IPI menor do que o modelo elétrico mais eficiente e menos poluente que seja vendido no Brasil.
Entende-se que caberá ao governo, mediante políticas fiscal, financeira, industrial e tecnológica específicas, dar o primeiro passo para viabilizar e estimular a demanda e, portanto, a oferta nacional de carros elétricos, em quantidades que contribuam efetivamente para a melhoria do meio ambiente, reduzir a dependência de combustíveis fósseis e incentivar a nacionalização desses veículos.
Se não houver demanda significativa, dificilmente sua produção local será viabilizada em termos econômicos, particularmente num mercado automobilístico aquecido como o brasileiro, pois não haverá motivação para que as montadoras invistam, a curto prazo, em nova tecnologia se seu produto será mais gravado do que aquele produzido com a tecnologia convencional. Em suma, os impostos precisam diminuir para que a escala de produção se torne suficientemente elevada, de modo a alcançar custos competitivos e não prejudicar o desenvolvimento da produção local desses veículos.
A necessária desoneração fiscal será provavelmente mais complexa do que aquela praticada há décadas, para promover a nacionalização do setor automotivo, quando o carro nacional competia apenas com o importado, pois será indispensável evitar entraves à nacionalização do carro elétrico. Observa-se que, se de um lado o produto nacional vai concorrer tanto com o importado quanto com o carro convencional nacional, de outro, pelo menos inicialmente alguns componentes críticos desses veículos terão de ser importados, como ocorre na indústria eletrônica e aeronáutica.
Além dos impostos e da escala mínima de produção, há outro fator relevante para a viabilização dos carros elétricos, que é a infraestrutura de recarga das baterias. Esta deverá ser constituída principalmente nos locais de estacionamento dos veículos, dado o tempo relativamente longo, de várias horas, necessário para a recarga normal. Será necessário instalar pontos de carregamento (coloquialmente denominados tomadas) em garagens de prédios residenciais, centros comerciais e outros estacionamentos, além de eletropostos localizados em vias públicas para atendimentos eventuais.
É possível que se não houver número suficiente de carros elétricos, haja relutância em criar pontos de carregamento de baterias – exceto junto às residências dos eventuais proprietários desses veículos. E se houver poucos pontos de carregamento, particularmente em estacionamentos, os interessados em carros elétricos relutarão a adquiri-los.
Todavia, é possível que junto, ou mesmo antes de haver oferta significativa de carros elétricos puramente a bateria, objeto do presente artigo, entrem no mercado os carros híbridos plug-in, que tanto podem gerar a bordo a energia elétrica que aciona suas rodas quanto podem carregar sua bateria a partir da rede elétrica. Analogamente aos carros a GNV (que também podem utilizar gasolina), que estimularam a expansão do número de postos de abastecimento desse combustível, os carros híbridos plug-in, que também contam com duas fontes de suprimento, poderão contribuir para o aumento do número de pontos de carregamento.
Em conclusão, percebe-se que tanto a mobilização da indústria para oferecer carros elétricos, quanto dos consumidores, para comprá-los, bem como a destes e das empresas distribuidoras de energia elétrica, para construir a infraestrutura de recarga, carecem de um sinal forte e claro da parte do governo no sentido de comunicar sua determinação duradoura de fazer com que se difunda o emprego de carros elétricos no país e que a indústria automobilística brasileira se mantenha alinhada com as mais avançadas tendências tecnológicas mundiais. (ambienteenergia)