quinta-feira, 14 de junho de 2012

A energia que vem do futebol

Rio+20: A energia que vem do futebol
Quando Jessica Mathews, então com 20 anos, se dedicava aos estudos de Sociologia na Universidade em Harvard, em Cambridge, EUA, ela pensou que seria possível produzir energia brincando e levá-la a custo baixíssimo a lugares do mundo onde não havia nenhuma possibilidade de se levar um gerador. Essa sua ideia saiu do papel e se materializou em uma bola de futebol capaz de gerar energia, conforme é levada para lá e para cá pelos afoitos pés de crianças e adultos.
“A sustentabilidade pode ser divertida. E, ser for divertida, as pessoas vão usar mais e trabalhar mais para desenvolvê-la”, afirma Jessica ao participar da Tedx Rio+20, conferência sobre tecnologia, design e entretenimento, que discute sustentabilidade no Forte de Copacabana, no Rio, e faz parte da agenda paralela da conferência sobre meio ambiente da ONU, a Rio+20.
A Soccket, bola que transforma chutes a gol em energia
“Ao visitarmos a África, percebemos como todos gostam de jogar bola, principalmente as crianças, em qualquer horário, em qualquer lugar. É a brincadeira mais amada por lá. O que fizemos foi observar a cultura deles e a partir disso desenvolvemos o projeto”, explica a socióloga.
Hoje, quatro anos depois, a criadora da fundação UnchartedPlay, com ajuda de engenheiros, criou uma segunda versão da bola, batizada de Soccket. Agora a bola energética de Jessica é mais compacta, dura mais de três anos, não estraga na água, pesa apenas 65 gramas a mais que uma bola oficial de futebol e não precisa encher de ar. “Quanto mais a bola rola, mais energia gera”, afirma a inventora. Depois que a engenhoca armazena a energia, um de seus gomos é retirado e nele pode-se plugar uma lâmpada, um carregador de celular e até um ferro de passar. Jessica conta que meia hora de bola rolando proporciona quatro horas de uso de um ferro elétrico.
A UnchartedPlay já distribuiu bolas na Índia, no México e na Costa Rica, entre outros países, e agora chega ao Brasil. A fábrica fica em Nova York e produz sete mil bolas por mês. A precisão é chegar a produzir 13 mil unidades no mesmo período. “Até 2013, deveremos entregar 100 mil bolas”, afirma a socióloga. A fundação conta com grandes patrocinadores, mas também é possível fazer doações individuais através do site www.unchartedplay.org. “No fim do ano, quem quiser poderá comprar uma bola por US$ 60. A cada aquisição daremos outra unidade. Assim o indivíduo, além de se divertir, poderá também ajudar a financiar o projeto.” (valor)

‘Sustentabilidade pode ser divertida’

‘Sustentabilidade pode ser divertida’, diz criadora de bola que gera energia
Nigeriana Jessica Matthews participou de painel do TEDxRio+20.
‘Jogando bola, é possível acender lâmpadas e carregar o celular’, diz ela.
"Sustentabilidade pode ser divertida", disse Jessica O. Matthews, criadora da sOccket, a bola que que gera e acumula energia a cada chute, em apresentação no painel "Da ignorância à sabedoria", que, até agora, foi uma das mais aplaudidas do evento TEDxRio+20, que acontece em 11/06/12 no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro.
“O jogo é universal, pode ser encontrado no Iraque, na guerra; na África do Sul; no Brasil. Pensei então em juntar essa paixão pela bola com a solução para muitos problemas de energia”, disse ela. Jessica afirma que não é engenheira, apenas uma psicóloga natural da Nigéria, e cada vez que vai visitar a família em seu país sofre com as constantes faltas de luz, típicas da maior parte dos países da África.
Simpática, disparando frases inteiras num quase bom português, Jessica diz que não sabe jogar bola, mas quem gosta vai aproveitar muito a sOccket.
“Um jogo com a bola garante um ventilador ligado por 30 minutos. Você joga bola, ela fica carregada de energia, e com ela, você recarrega seu celular, acende lâmpadas de led, ou liga seu aparelho de som”. A sOccket já existe em países como Índia, Honduras e Costa Rica, onde adultos e crianças se divertem chutando bola.
Bola para comunidades carentes
Em 16 e 17/06/12 Jessica estará no Morro dos Prazeres, comunidade de Santa Teresa, na região central do Rio, para levar uma bola para as crianças. No sábado, dia 23, estará na comunidade de Cantagalo, em Copacabana, Zona Sul do Rio, para também presentear as crianças com a bola que pode até recarregar o celular.
Jessica disse que até o fim do ano haverá mil bolas sOccket pelo mundo. Já existem na Índia, no México, na Costa Rica, na Colômbia, na África do Sul e, em muito breve, no Brasil. Por enquanto ainda não se pode comprar uma bola para uso próprio, mas é possível adquiri-las pela internet (www.unchartedplay.com) ao custo de US$ 60 e doá-las a um dos grupos sugeridos pelo site.
Jessica Matthews, à esquerda, faz demonstração da bola sOccket, que gera eletricidade a partir de chutes
Marina emociona
A ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, emocionou o público do TEDxRio+20 ao falar no sobre seu passado nos seringais. Na tarde desta segunda-feira (11), no Forte de Copacabana, ela disse que é preciso separar ética de política e pôr fim ao projeto de poder pelo poder e do dinheiro pelo dinheiro. “Isso nos transforma em exterminadores do futuro”, disse.
Para ela, desenvolvimento sustentável não é apenas a criação de uma forma de energia mais limpa, mas sim, uma nova maneira de ser. “É preciso valorizar o ser, e não o ter. Vivemos o mal do excesso, o que nos falta é 'a falta da falta'. Estamos consumindo nosso planeta. A humanidade tem de se reencontrar com sua infância civilizatória. O modelo sustentável é usar com sabedoria recursos de milhares de anos”. (globo)

Bola que produz energia

Bola de futebol produz mais energia a cada chute
Projeto de alunas de Harvard foi apresentado em evento paralelo à Rio+20
Imagine poder contribuir com a geração de energia elétrica enquanto se joga futebol. Em uma época em que atenções se voltam para ideias de sustentabilidade e para a busca por fontes renováveis de energia, estudantes universitários nos Estados Unidos criaram um inusitado instrumento gerador de eletricidade: uma bola de futebol.
Um mecanismo interno acoplado a uma bola funciona como um motor: conforme ela rola, esse mecanismo também gira e produz e captura a energia cinética gerada.
Meia hora de jogo para garante três horas de funcionamento de uma lâmpada de LED ou carregar a bateria de um celular.
Batizado de sOccket - junção das palavras soccer (futebol) e socket (conector de tomada) -, o invento surgiu quando as amigas Jessica Matthews e Julia Silverman estudavam em Harvard.
Embora fossem alunas de Ciências Sociais (Jessica estudava Psicologia Social e Economia, e Julia, Antropologia), no final de 2008 elas decidiram se matricular numa aula de Engenharia.
Surgiu então a vontade de contribuir com comunidades carentes. "Eu visito o meu povoado algumas vezes por ano e tenho visto em primeira mão a beleza do futebol no mundo em desenvolvimento", disse Jessica, descendente de nigerianos. "Com esse entendimento sobre o poder desse jogo, começamos a desenhar o primeiro protótipo."
Após um pequeno apoio financeiro da universidade durante os primeiros testes, elas investiram recursos próprios nos últimos quatro anos para chegar a uma versão de produção em massa. Atualmente contam com doações de empresas privadas e ONGs. "Por U$ 60 é possível patrocinar uma sOccket e uma lâmpada para uma criança."
Nos próximos meses, serão distribuídas 7,5 mil bolas. O invento está sendo testado na Nigéria, África do Sul, Haiti, Espanha, México, El Salvador e Libéria. Até o fim do ano, novas bolas chegarão a países como Honduras, Benin e Brasil.
"Estamos em contato com parceiros potenciais para avaliar o processo de produção, distribuição e venda no Brasil", disse Jessica. A expectativa é de que o invento esteja no mercado até o fim do ano, para venda no site unchartedplay.com. O preço de venda não foi definido.
Jéssica está no País para a TEDxRio+20, que integra o Humanidade 2012, um evento paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. "Com a minha palestra na TEDxRio+20, espero apoiar os objetivos da conferência, inspirando as pessoas a perceberem que a sustentabilidade é não só vital, mas divertida também."  (OESP)

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Rio+20 começa com falta de consenso

Rio+20 começa em 13/06/12 com falta de consenso
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, começa em 13/06, no Rio de Janeiro, com incertezas, falta de consenso e sem grandes expectativas de que o documento final estipule metas ambiciosas. Até ontem, havia confirmação da participação de representantes de 186 dos 193 países-membros da ONU – a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, representará o presidente Barack Obama.
Os principais impasses continuam em torno do fortalecimento do programa das Nações Unidas para o Ambiente (Pnuma) e sobre os temas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) - pelos quais os países avançariam como uma segunda etapa dos Objetivos do Milênio, um conjunto de oito metas estabelecidas pela ONU em 2000 e que devem ser atingidas por todos os países até 2015. Mas até a última reunião preparatória, no início do mês, em Nova York, não havia acordo nem mesmo sobre quantos deveriam ser os temas desses objetivos sustentáveis.
A ONU já dá como certo que as negociações não se encerram ao longo dos três dias de reunião preparatória do documento final, a partir de hoje. Por enquanto há acordo em relação a menos de um quarto dos parágrafos do documento. Como a decisão é por consenso entre os 186 países participantes, fica claro o tamanho do desafio. Já se inscreveram para fazer discursos durante a cúpula 76 presidentes, 6 vices, 44 primeiros-ministros e 7 vice-primeiros-ministros.
O Brasil defendeu ontem o fortalecimento de princípios acordados há 20 anos e que não haja retrocessos em pontos conquistados na Eco-92. A informação foi passada em uma entrevista sem muito entusiasmo concedida pelos ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores) e Izabella Teixeira (Meio Ambiente) no Riocentro, sede do evento.
Patriota disse que o País chega à última etapa de negociações defendendo a manutenção de pontos estabelecidos na Eco-92, como ter o ser humano como o centro das atenções e o princípio das "responsabilidades comuns, porém diferenciadas".
Em linhas gerais, esse princípio prevê que todos os países têm compromisso com as mudanças, mas os ricos têm mais, porque historicamente contribuíram mais com a degradação do planeta.
"A crise econômica há 20 anos afetava, sobretudo os países em desenvolvimento. Hoje, o que antes era considerado periferia está trazendo respostas. A periferia de certa maneira virou o centro", disse Patriota.
Polarização
Sobre a divergência entre países ricos e pobres, um representante da ONU disse que hoje não dá mais para falar em polarização Norte-Sul. "Em que categoria Brasil, a sexta economia do mundo, China e Índia se colocam, como pobres? Claro que ainda existe muita pobreza. E há um medo dos países em desenvolvimento de serem forçados a tomar atitudes imediatas que possam prejudicar o seu crescimento. É mais complicado que Norte x Sul. O mundo está muito diferente."
Mais cedo, Izabella havia comparado a falta de acordo nas negociações com o que ocorreu no ano passado durante a conferência do clima (COP-17), em Durban, África do Sul. "Todos diziam que Durban não ia dar em nada, mas conseguimos reverter a situação", lembrou a ministra, sobre o acordo fechado em dezembro por representantes de 194 países de renovar o Protocolo de Kyoto para pelo menos até 2017. (yahoo)

Rio+20 terá eventos paralelos

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, terá três momentos distintos e alguns deles ocorrerão paralelamente. Nos primeiros dias, de 13 a 15 de junho, a capital fluminense sediará a 3ª Reunião do Comitê Preparatório, quando técnicos de todos os países se reunirão para elaborar os esboços dos documentos que serão examinados pelos presidentes e primeiros-ministros.
De 16 e 19 de junho, integrantes da sociedade civil, como representantes de organizações não governamentais e universidades, participam de 18 mesas de discussões. A ideia é buscar alternativas sobre políticas sociais associadas à economia verde e ao desenvolvimento sustentável. As propostas apresentadas durante esses debates serão encaminhadas aos presidentes e primeiros-ministros.
Os debates sociais se concentrarão na Arena da Barra, na qual há dez salas de reunião, e no Parque do Flamengo, com espaço para receber até 15 mil pessoas. Há, ainda, espetáculos e eventos organizados no Museu de Arte Moderna e Pier Mauá.
Na última etapa da conferência, de 20 a 22 de junho, ocorrerão as reuniões dos presidentes da República e primeiros-ministros, além dos dirigentes da Organização das Nações Unidas (ONU). As autoridades vão analisar todos os documentos elaborados ao longo da conferência e definir um texto para a declaração final.
Pelos dados dos organizadores, pelo menos 115 chefes de Estado e de Governo confirmaram presença no encontro. A expectativa é que mais de 50 mil pessoas participem do evento. Cerca de 1,4 mil jovens selecionados pela organização da Rio+20 atuarão como voluntários na recepção em aeroportos, hotéis e nos espaços da conferência.
As discussões globais são coordenadas pelo subsecretário-geral da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais e secretário-geral da Rio+20, o embaixador chinês Sha Zukang, e pelos coordenadores executivos do evento, Elizabeth Thompson (ex-ministra de Energia e Meio Ambiente de Barbados) e Brice Lalonde (ex-ministro do Meio Ambiente da França).  (OESP)

Brasil abre Rio+20

Brasil abre Rio+20 sem expectativa de grandes avanços em relação à Rio-92
Na véspera da abertura da conferência, os ministros Antonio Patriota e Izabella Teixeira admitem dificuldades para obter avanços e buscam evitar retrocessos do que foi alcançado 20 anos atrás
Sustentável, a Rio+20, começa em 13/06/12, no Rio de Janeiro, com o Brasil sem grandes expectativas de avanços em relação à Eco-92. Até ontem, havia confirmação da participação de representantes de 186 dos 193 países-membros da ONU – a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, representará o presidente Barack Obama.
A Conferência das Nações Unidas começa em 13/06/12 no Rio de Janeiro
Em uma entrevista sem muito entusiasmo, os ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores) e Izabella Teixeira (Meio Ambiente) afirmaram no Riocentro, sede do evento, que o País chega à última etapa de negociações antes da cúpula dos chefes de Estado (que ocorre na semana que vem) com a posição de fortalecer as conquistas dos últimos anos e não retroceder em pontos conquistados na Rio-92.
Em especial, exemplificou Patriota, ter o ser humano como o centro das atenções e manter o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Ou seja, todos têm compromisso com as mudanças, mas os ricos têm mais, porque historicamente contribuíram mais com a degradação do planeta.
“Há 20 anos a crise econômica afetava os países em desenvolvimento. Agora os países que estavam na periferia trazem as respostas para a crise. A periferia virou o centro”, disse Patriota em coletiva à imprensa.
Mais cedo, Izabella havia comparado o impasse atual nas negociações com o que ocorreu no ano passado durante a conferência do clima (COP-17), em Durban, África do Sul. “Fomos para Durban e todos diziam que não ia dar em nada, mas conseguimos reverter a situação”, lembrou a ministra. Em dezembro último, representantes de 194 países concordaram, após exaustivas negociações concluídas no fim da conferência, em renovar o Protocolo de Kyoto para, pelo menos, até 2017.
Consenso. A ONU já dá como certo que as negociações não se encerram ao longo desses três dias de reunião preparatória e continuarão até a reunião dos chefes de Estado, no final da semana que vem. Por enquanto há consenso em relação a menos de um quarto dos parágrafos do documento.
Sobre a divergência entre países ricos e pobres, um representante da ONU disse que hoje não dá mais para falar em polarização Norte-Sul nos mesmos termos que se falava na ECO-92.
“Quando se fala de Brasil, sexta economia do mundo, de China, de Índia, em que categoria eles se colocam como pobres? Claro que existe muita pobreza ainda. E há um medo dos países em desenvolvimento de serem forçados a tomar atitudes imediatas que possam prejudicar o desenvolvimento deles. É mais complicado que Norte x Sul. O mundo está muito diferente.”
Os principais impasses continuam em torno do fortalecimento do programa das Nações Unidas para o Ambiente (Pnuma) e sobre os temas dos objetivos do desenvolvimento sustentável. Uma das principais apostas da Rio+20 é que a conferência possa definir áreas prioritárias para os países avançarem, como uma segunda etapa dos objetivos do milênio. Mas até a última reunião preparatória, no início do mês, em Nova York, não havia consenso nem mesmo sobre quantos deveriam ser esses temas.
Discursos
Já se inscreveram para fazer discursos durante a cúpula 76 presidentes, 6 vices, 44 primeiros-ministros e 7 vice-primeiros-ministros.
Programação
Desafio Rio/Clima
Acadêmicos, parlamentares e ambientalistas vão preparar propostas com alternativas para evitar o aquecimento global e elaborar recomendações que serão encaminhadas para os chefes de Estado reunidos na cúpula.
Local: Sede da Firjan e Forte de Copacabana
Encontro preparatório
Último de uma série de três encontros realizados ao longo do ano para aperfeiçoar o rascunho zero do documento final. Devem sair amarrados os principais temas que vão constar do documento final.
Local: Riocentro
Abertura oficial dos debates
Cerimônia indígena do fogo sagrado ocorrerá às 18 horas.
Local: Aldeia Kari-Oca
Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável
Local: PUC (OESP)

Os maiores desafios da Rio+20

Se não recalibrarmos nossa visão econômica, levaremos o planeta a ultrapassar o limiar crítico.
Muitos especulam a respeito do número de líderes mundiais que estarão presentes à cúpula Rio+20 e do tipo de acordos que serão concluídos: a criação de uma "economia verde" e o estabelecimento de um "arcabouço internacional para o desenvolvimento sustentado".
O termo "economia verde" foi cunhado há alguns anos, a fim de oferecer uma nova perspectiva por meio da qual fosse possível examinar a relação entre economia e sustentabilidade. Mas ganhou recentemente um novo impulso com as mudanças climáticas que se tornaram realidade, os preços das commodities em alta, e recursos básicos como ar puro, terra para cultivo e água potável se tornando mais escassos. Um conjunto cada vez mais abrangente de dados científicos confirma o que pudemos vislumbrar na Rio há 20 anos.
Os que investiram em uma estratégia econômica e em processos de produção com base em modelos do século 19 e até mesmo 20 estarão compreensivelmente temerosos com a perspectiva de uma mudança de paradigma. Mas alguns segmentos da sociedade civil também estarão preocupados com a possibilidade de que uma transição para uma economia verde afete de maneira negativa os países pobres e os exponha a riscos e a um grau de vulnerabilidade maiores.
Estratégias
Outros questionam a eficácia de estratégias com base no mercado com vistas à sustentabilidade, pois os mercados nunca trazem resultados sociais e ambientais ideais. Concordamos totalmente. As crises sistêmicas nos alimentos, combustíveis e finanças que explodiram em 2008 - e prosseguem em muitos países - têm suas origens num paradigma econômico que não levou em conta o valor da natureza e suas inúmeras contribuições para a sustentação da vida. Como mostra o relatório "Rumo a uma economia verde: caminhos para o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza", a economia de mercado atual resultou na alocação equivocada do capital numa escala sem precedentes.
Na realidade, os graves erros dos mercados - em termos de emissões de carbono, biodiversidade e serviços ao ecossistema - estão acelerando os riscos para o meio ambiente e a escassez ecológica, e solapando o bem-estar dos homens e a igualdade social. É por isso que sua vinculação com a governança e as instituições na Rio+20 é tão importante quanto a transição para uma economia verde.
Uma preocupação dos críticos é que uma transição para a economia verde acabe essencialmente monetizando com a natureza, expondo as florestas, a água potável e a pesca à busca do lucro empreendida por banqueiros e operadores de bolsa, cujos erros contribuíram para desencadear a tempestade financeira e econômica dos últimos quatro anos. Mas será que se trata de uma questão de atribuir um valor à natureza? Ocorre que a natureza já está sendo objeto de compras e vendas, já é explorada e comercializada a preços mínimos que não traduzem seu valor real, principalmente quando se trata da subsistência dos pobres. Em grande parte, isso reflete a existência de mercados não regulados ou inexistentes, que não traduzem os valores que a natureza nos proporciona diariamente.
Futuro
Concretamente, o que está em jogo no Rio é o futuro do planeta. Sem uma solução concreta e duradoura que permita recalibrar nossa atual visão econômica a um nível sistêmico, a escala e o ritmo da mudança dentro em breve poderão levar o planeta a ultrapassar o limiar crítico tornando o desenvolvimento sustentável um sonho impossível onde quer que seja.
Algumas questões são de tamanha gravidade que transcendem os limites de um país. Por que, por exemplo, o mundo segue um paradigma de crescimento econômico com base na corrosão da própria base dos sistemas que servem à sustentação da vida da terra? Poderá a riqueza ser redefinida e reformulada para incluir o acesso aos bens e serviços básicos, como os que a natureza nos oferece gratuitamente, como ar limpo, clima estável e água potável? Não estará na hora de atribuir ao desenvolvimento humano, à sustentabilidade do meio ambiente e à igualdade social um valor igual ao do crescimento do PIB? Nós sabemos que as novas tecnologias e a inovação preparam mudanças na produção de energia, estão surgindo novos mercados de alimentos e água potável, e serviços ecológicos básicos começam a escassear e a ser dotados de um valor monetário.
A Rio+20 é o momento no qual serão compartilhados o conhecimento e a experiência com vistas à transição bem-sucedida para uma economia mais verde e uma maior economia de recursos. O desafio consistirá em reconciliar a realidade econômica emergente com os valores sociais e a ética necessários para gerar uma economia verde equilibrada e abrangente. (OESP)

terça-feira, 12 de junho de 2012

Uma ‘usina’ de biomassas

A professora Katia Tannous, da Faculdade de Engenharia Química (FEQ), orienta um grupo de pesquisadores que avaliam tipos de biomassa disponíveis no Brasil como fontes alternativas para geração de energia. Foi com este objetivo que o físico Francisco Otávio Miranda Farias, professor do Centro de Estudos Superiores de Parintins, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), abordou em sua tese de mestrado seis biomassas de diferentes regiões do país: a casca de arroz do Sul, o bagaço de cana do Sudeste, a fibra de coco do Nordeste, a madeira caixeta do Centro-Oeste e do Norte, o ouriço de castanha do Brasil e a madeira jequitibá rosa.
Segundo Katia Tannous, que orientou a pesquisa, as seis biomassas mostraram grande potencial para fins de aproveitamento energético, mas ela pondera que a geração de energia é o processo final de uma planta química. “Para garantir alta eficiência no processo, é preciso que a biomassa esteja em condições apropriadas. Existe um nível de complexidade nos estudos, por conta de questões tecnológicas envolvendo a transformação das biomassas em energia, seja elétrica ou como combustível sólido, líquido ou gasoso. O grande desafio é o conhecimento fundamental da matéria-prima com que iremos trabalhar”.
A pesquisadora explica que este processo químico começa com o resgate da matéria-prima no meio ambiente (cadastramento das biomassas), passando ao pré-tratamento (moagem e separação) e depois à etapa físico-química (secagem). “No caso das madeiras, por exemplo, não vamos derrubar árvores e sim recuperar resíduos produzidos em indústrias moveleiras ou mesmo podas de árvores no meio urbano. A serragem, o pó mais fino gerado na fabricação de móveis, é um grande contaminante do meio ambiente que podemos aproveitar transformando-a em um granulado maior, como os chamados peletes. No momento, nosso interesse é a obtenção de uma madeira triturada para que consigamos caracterizá-la dentro das técnicas disponíveis no laboratório.”
A casca de arroz e o bagaço de cana, por outro lado, advêm de processamento agroindustrial, ao passo que a casca do coco verde é simplesmente descartada depois de consumida sua água (albúmen líquido), o mesmo acontecendo com o ouriço da castanha do Brasil depois de extraídas as sementes. “A casca do coco verde é um resíduo bastante poluidor. No entanto, devido à alta resistência, sua fibra já vem sendo utilizada em parte no estofamento de veículos e na manufatura de colchões – destino mais nobre do que apenas queimá-la. É o que também buscamos com estas caracterizações, mapeando as biomassas para outras finalidades”, observa Katia Tannous.
Para se projetar um conversor químico – como um combustor ou gaseificador – é importantíssimo que o material a ser utilizado tenha padronizações. O trabalho de Francisco Farias foi de grande abrangência ao envolver as caracterizações física, química e térmica das seis biomassas, bem como de escoabilidade – parâmetro importante para transporte (escoamento de sólidos) – e de estocagem em silos. “O interesse dele, que vive na região amazônica, é o fornecimento de energia elétrica a um custo compatível para as comunidades ribeirinhas. A estimativa é de que 1,5 milhão de brasileiros ainda não possuem energia elétrica em casa”, diz a orientadora da tese.
Passos no laboratório - Em seu laboratório na FEQ, a docente apresenta amostras de outras biomassas, como de eucalipto proveniente de reflorestamento no Sudeste e de ouriço da sapucaia (castanha da região Norte), que vêm sendo estudadas por outros alunos de graduação e de mestrado, dando continuidade ao trabalho de Farias e aprofundando as particularidades de cada etapa deste grande projeto. “A primeira etapa é a recepção da matéria-prima, que é trazida de outra região ou gerada na própria planta industrial, a exemplo do bagaço de cana. Em geral, as biomassas são estocadas em pilhas no próprio pátio e armazenadas em silos após o pré-tratamento mecânico (quando for o caso). Um problema é que, depois de moído, o material ganha novas propriedades físicas, como na sua forma, ou especificamente com a madeira, na largura, comprimento e espessura. A questão é como deslocar facilmente esse novo material até o processo de conversão.”
Por isso, observa Katia Tannous, o próprio processo de estocagem já representa um desafio, visto que o silo é somente um reservatório, necessitando de instrumentos auxiliares para o transporte do material. “A ideia, então, é caracterizar a matéria-prima para que ela tenha a propriedade de se deslocar por si só (como por gravidade), até a próxima etapa do processo. Estudamos vários parâmetros e metodologias a fim de determinar o ângulo de repouso (escorregamento) da biomassa, onde ele será aplicado na confecção da base cônica do silo. As técnicas diferem e é importante diagnosticar quais resultados podem ser aplicados para cada biomassa.”
Da estocagem e transporte passa-se à unidade de secagem, pois é sabido que o poder calorífico da biomassa é dependente do teor de umidade. O processo de secagem pode ser feito através da tecnologia de leito fluidizado, onde o material particulado entra em contato com um gás quente que elimina a umidade existente na amostra. A mesma tecnologia é muito utilizada nas indústrias de petróleo, farmacêutica e de minério, por sua alta eficiência. “As biomassas são consideradas difíceis de suspender e por isso, em muitos casos, usa-se um material inerte, como areia, para auxiliar na sua movimentação e tornar mais eficiente o processo”, explica a docente da FEQ.
Ela informa, a título de ilustração, que a madeira do jequitibá rosa e a casca de arroz não se sustentam dentro do reator, necessitando de um suporte para se movimentar e promover uma troca térmica eficiente. “Se processarmos apenas a casca, criam-se canais preferenciais e o material fica estacionado. Há biomassas mais complicadas de manusear, por causa de uma estrutura química mais complexa, como é o caso da casca de arroz, que possui alto teor de cinzas (15%) e se solidifica em temperatura elevada.”
Katia Tannous acrescenta que leitos fluidizados permitem a obtenção das condições ótimas de operação, mediante o controle das vazões de ar, pressão e temperatura do sistema. Agora, quando se fala em mistura entre materiais distintos, sem condições de operação controláveis nos geradores, a separação entre a biomassa e o inerte é inevitável – situação geralmente desfavorável para obtenção do material energético. “Cada material apresenta uma particularidade e temos que fazer trabalhos experimentais, já que a literatura não nos traz estas informações. Também queremos evitar o arraste de materiais poluentes para o meio ambiente de onde já foram resgatados.”
Planta térmica - A professora da FEQ anuncia que o próximo passo em laboratório será a montagem do que chama de planta térmica, exatamente para gerar energia com estas biomassas que estão devidamente caracterizadas. “São todas biomassas com grande potencialidade, tanto que Francisco Farias dará continuidade à pesquisa no doutorado, procurando fechar a cadeia de produção. Ele deve usar estas e outras matérias-primas que já estamos resgatando na região Norte. Uma das possibilidades é o ouriço da sapucaia, que largam no ambiente depois de retirar a castanha, quando não o queimam em fornos justamente para secar o fruto. A ideia é evitar o deslocamento de materiais, fazendo com que as próprias comunidades montem uma pequena unidade de geração de energia elétrica em suas regiões.”
Segundo a pesquisadora, devido ao curto tempo para a realização de um mestrado e à diversidade e amplitude do tema, outros alunos de graduação e pós-graduação estão complementando e inovando os trabalhos já iniciados. “A tese de doutorado de Vadson Bastos do Carmo, por exemplo, discutirá a questão custo-benefício na utilização de um conjunto de biomassas para geração de energia durante a entressafra nas usinas de cana-de-açúcar. É preciso um volume muito grande de matéria-prima para gerar a mesma quantidade de energia elétrica vinda de uma fonte não renovável.”
Katia Tannous considera que seu grupo está cada vez mais estimulado a estudar novas fontes renováveis, por acreditar que está contribuindo para a melhoria do meio ambiente e o desenvolvimento do país. “Sabemos que, a curto e médio período de tempo, precisaremos de alternativas para ter uma cadeia energética equilibrada.” (ambienteenergia)

Uma alternativa para geração limpa

A Usina Termelétrica de São Borja, no Rio Grande do Sul, foi inaugurada no final do mês passado. A planta é a maior do Brasil com geração de energia a partir de casca de arroz e está em condicionamento desde abril de 2010. A usina pertence ao fundo de investimento alemão MPC Bionergie Brasilien GmbH & Co. KG e é operada pela Dalkia Brasil, subsidiária da Veolia Environnement e da Eletricité de France (EDF).
A capacidade de geração é de 85 mil MWh ao ano e deverá ser atingida até o final de 2012, com consumo de cerca de 100 mil toneladas de casca ao ano. Desde 2010, a planta opera com 100% de seu potencial. A estimativa é que, do total de energia gerado, 10% seja destinado à alimentação da usina e 90% seja comercializado à rede pública.
A escolha da matriz energética deve-se ao fato de o Rio Grande do Sul ser o maior produtor brasileiro de arroz. A casca do grão é um insumo descartado em aterros e não tem valor comercial. A utilização da casca no processo de geração soluciona um problema ambiental e diminui o custo global da energia.
A UTE de São Borja é a primeira planta de biomassa operada pela Dalkia no Brasil. No mundo, a expertise da companhia abrange cerca de 280 projetos com geração de energia a partir de biomassa. A Dalkia é responsável pela operação e manutenção da planta e atua desde a preparação da matéria-prima à manutenção das instalações. O objetivo do trabalho é garantir a produção do volume de energia esperado.
“Estamos trabalhando em parceria com os pequenos produtores do entorno da usina, o que tem auxiliado a região de forma econômica, ambiental e social. Outro benefício é o da redução do descarte da casca de arroz no ambiente, atribuindo-lhe uma utilidade”, explica Philippe Roques, diretor industrial da Dalkia. (ambienteenergia)

Complexos industriais e a converção da biomassa

Biorrefinarias: Complexos industriais estão se tornando capazes de converter a biomassa em uma série de produtos.
Biorrefinarias polivalentes - As biorrefinarias – como são chamados os complexos industriais que produzem combustível, eletricidade e produtos químicos a partir de biomassa – estão se tornando empreendimentos capazes de converter uma grande variedade de matérias-primas, incluindo resíduos agrícolas, em diversos produtos. Isso com maior eficiência energética, economia e benefícios ambientais em comparação com processos tecnológicos convencionais que só dão origem a um ou dois produtos.
A avaliação foi feita por Jonas Contiero, professor do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro, em palestra no workshop conjunto do Centro Paulista de Pesquisa em Bioenergia, da Universidade de Nottingham e da Universidade de Birmingham, realizado no dia 14 de maio no Auditório da FAPESP.
Realizado pelo Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), o evento teve o objetivo de apresentar resultados das pesquisas em bioenergia em andamento na Universidade de São Paulo (USP), na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na Unesp, na Universidade de Nottingham e na Universidade de Birmingham – ambas do Reino Unido –, com o objetivo de discutir a pesquisa em colaboração e planejar futuros projetos conjuntos.
De acordo com Contiero, as primeiras biorrefinarias eram caracterizadas por usinas de produção de álcool etílico por trituração seca, que utilizam cereais como matéria-prima e possuem uma linha de produção fixa, que consiste no álcool etílico, em coprodutos e em dióxido de carbono.
Tempos depois, começaram a despontar as biorrefinarias de segunda geração, que utilizam uma tecnologia de trituração “molhada”, a qual possibilita a produção de diversos produtos finais, dependendo da demanda, utilizando principalmente grãos como matérias-primas.
Atualmente estão em fase de pesquisa e desenvolvimento as biorrefinarias de terceira geração, como as que utilizam a biomassa lignocelulósica encontrada em resíduos agrícolas – por exemplo, o bagaço da cana-de-açúcar – para obter produtos químicos e biocombustíveis.
“Em uma biorrefinaria, uma única matéria-prima, como o bagaço da cana-de-açúcar, é convertida em produtos químicos como glucose, bioetanol, ácido cítrico, antibióticos, vitaminas, enzimas, biocorantes, bioetanol e bioplásticos”, exemplificou Contiero.
Dessa relação de produtos, um dos que mais vêm se destacando são os bioplásticos, ou plásticos biobased. Produzidos a partir de outras matérias-primas, os principais tipos desse plástico são à base de amidos, de polihidro-alcanoatos, de ácido polilático, como de cana-de-açúcar, e os derivados de celulose.
De acordo com dados de mercado, apesar de ainda representar apenas 0,5% dos 230 milhões de toneladas de plásticos consumidos atualmente no mundo, o segmento de bioplásticos tem registrado crescimento de 20 a 25% ao ano, com expectativa de produzir 230 mil toneladas ao ano durante a próxima década.
“Os países com maior capacidade de produção estimada de plásticos biobased são os da Europa, com 140 mil toneladas ao ano, seguidos dos países da América do Norte, com 80 mil toneladas, da Ásia, com 40 mil toneladas, e da América do Sul, com 500 toneladas”, disse Contiero.
O produto é utilizado em diversos setores, como os de embalagem, vestuário e biomédico. No Brasil, entre as empresas que produzem esse tipo de plástico a partir da cana-de-açúcar estão a Braskem, PHB Industrial e Usina da Pedra.
Em agosto de 2011, Contiero iniciou um projeto, realizado com apoio do Programa Parceria para Inovação Tecnológica (PITE), no âmbito de um acordo de cooperação entre a FAPESP, a Braskem e a Ideom, para produzir e extrair ácido lático por fermentação a partir de subprodutos da indústria sucroalcooleira e da produção de queijo para obtenção de ácido polilático.
De acordo com dados do pesquisador, o processo é mais barato do que os que estão sendo desenvolvidos nos Estados Unidos e na Bélgica, que obtêm o ácido polilático a partir do uso, respectivamente, do amido de milho e do açúcar de beterraba.
“A quantidade de fibras lignocelulósicas dos resíduos ou subprodutos da agroindústria da cana-de-açúcar, representada pelo bagaço e pela palha, dá a ela uma enorme vantagem competitiva em relação às outras fontes de carbono, uma vez que esse resíduo pode ser utilizado para geração de energia para a operação da planta de produção”, disse Contiero.
Segundo Contiero, por trabalharem com matérias-primas agrícolas, as biorrefinarias devem ser consideradas como uma extensão da cadeia de produção agrícola, e precisam estar integradas fisicamente aos processos de plantio, colheita, processamento e transformação das plantações. (EcoDebate)