terça-feira, 24 de setembro de 2013

Combustíveis fósseis e a econômica internacional

O pico dos combustíveis fósseis e a próxima crise econômica internacional
Ao contrário do otimismo da Agência Internacional de Energia, existem estudos mostrando que o pico da oferta de combustíveis fósseis e urânio estão mais próximo do que se imagina e contrasta com a visão panglossiana da mídia sobre este assunto. O preço do barril de petróleo (WTI) a mais de US$ 100,00 o barril, como se encontra atualmente, já reflete um aumento do custo de extração (em poços cada vez mais profundos) e é um motivo que ajuda a desacelerar a economia global.
Um estudo do Energy Watch Group, de março de 2013, mostra o cenário para todos os combustíveis fósseis e nuclear, medido em unidades de energia (1Mtoe = 1 milhão de toneladas de óleo equivalente). As produções de carvão e gás devem chegar a seus respectivos picos de produção por volta de 2020. O pico combinado de todos os combustíveis fósseis poderá ocorrer alguns anos mais cedo do que o pico de carvão e gás e deve coincidir com o início do declínio da produção de petróleo.
Desta forma, o declínio da produção de petróleo – que está previsto para começar em breve – vai levar a um crescente hiato de energia que poderá tornar-se demasiado grande para ser preenchido por gás natural e ou carvão. A contribuição da energia nuclear é muito baixa para ter qualquer influência significativa a nível global, embora isso possa ser viável para alguns países.
A conclusão do Energy Watch Group é que o fornecimento de combustível fóssil está perto do pico, pois a produção de petróleo declinante vai criar um fosso crescente na produção de energia, que outros combustíveis fósseis serão incapazes de compensar. Nos mêses de julho e agosto de 2013, o preço do barril de petróleo (WTI) ultrapassou US$ 100 dólares, em uma época em que o consumo dos Estados Unidos está diminuindo. Estudos mostram que um aumento de US$ 10 dólares no preço do barril significa uma diminuição de cerca de 0,5% no crescimento do PIB mundial.
No caso do Brasil, o governo apresentou o pré-sal como se fosse a fonte de milagrosos recursos fósseis capazes de fazer a redenção do país. Porém, depois de bilhões de dólares investidos, a balança comercial brasileira está deficitária no ano de 2013, exatamente porque a frota de carros cresceu mas tivemos de importar gasolina a alto preço. O governo descuidou dos biocombustíveis e das energias renováveis e agora está pagando o preço pelas escolhas erradas em busca de independência baseada em combustíveis poluidores e que devem ser superados pela energia limpa. Nem a Petrobras tem escapado, como mostra o preço de suas ações.
Se os cenários globais do pico do petróleo se confirmarem a economia internacional pode entrar em uma crise profunda, pois os países desenvolvidos são muito dependentes dos combustíveis fósseis e já estão passando por dificuldades macroeconômicas, devido ao aumento do endividamento público, aos enormes déficits fiscais e ao processo de envelhecimento populacional. Como mostrou Ronald Bailey, dez entre onze recessões econômicas dos Estados Unidos foram precedidas pelo aumento do preço do petróleo. Para complicar, um aumento das taxas de juros (na média internacional) teria consequências devastadoras.
Os países em desenvolvimento também vão sofrer, pois o aumento do preço da energia deve aumentar o preço dos alimentos e a inflação de bens e serviços. A desaceleração da economia deve aumentar o desemprego e pode reverter o processo de redução da pobreza extrema que vem caindo nos últimos 40 anos.
A Arábia Saudita, por exemplo, está enfrentando vários problemas e alto potencial de desestabilização. A sociedade saudita e os cidadãos ricos dependem de milhões de trabalhadores estrangeiros qualificados e não qualificados para a construção de infraestrutura e para manter casas, bancos e restaurantes funcionando perfeitamente. No entanto, os combustíveis fósseis são limitadas e a competição internacional é forte. Enquanto isso, a taxa de desemprego é alta. Muitos jovens sauditas inexperientes buscam altos salários e altos cargos, enquanto permanece a segregação das mulheres e uma alta desigualdade de gênero. O dinheiro do petróleo permitiu ao país evitar todos os tipos de crises, incluindo os protestos da Primavera Árabe, mas os líderes devem se preparar para uma economia alternativa com menos dependência do petróleo ou, provavelmente, vão ter que enfrentar uma revolução popular.
O artigo Trouble in fracking paradise de Chris Nelder, no site Smart Planet (7/08/2013) mostra as dificuldades para a exploração de gás de xisto e apresenta uma previsão de que o preço do barril de petróleo (WTI) vai chegar a US$ 150,00 até 2015, puxando para baixo o ritmo de crescimento do PIB global. A ideia de que os Estados Unidos iria apresentar independência energética é uma fantasia, assim como é fantasioso acreditar que os combustíveis fósseis podem continuar incrementando as atividades econômicas sem uma mudança na matriz energética.
A notícia boa de tudo isto é que uma crise internacional pode dar um alívio ao efeito estufa, com menos emissão de gazes poluidores da atmosfera. Ou seja, o esfriamento da economia internacional poderá evitar que o mundo sofra um rápido processo de aquecimento global do clima e pode forçar uma aceleração da mudança da matriz energética, rumo à utilização de fontes renováveis e limpas. Para acelerar este processo, urge reduzir os subsídios ao consumo de combustíveis fósseis que, em 2010, alcançaram o valor global de 523 bilhões de dólares. A transição para uma economia de baixo carbono é uma condição necessária para que se possa construir uma alternativa de sustentabilidade no mundo. (EcoDebate)

domingo, 22 de setembro de 2013

Diversificação da matriz energética brasileira

A urgência da diversificação da matriz energética brasileira
“Em vez de olhar para o projeto de construção das hidrelétricas, é preciso olhar para a bacia hidrográfica onde se quer construí-las”, diz engenheiro.
A possível construção de hidrelétricas pela Eletrobras na Guiana e Suriname deve ser vista como “uma potência técnica interessante” tanto para o Brasil quanto para os países vizinhos, diz Pedro Bara àIHU On-Line, em entrevista concedida por telefone. Segundo ele, para o Brasil, esse “projeto tem um aspecto interessante de complementariedade hidrológica, porque o hemisfério Norte tem uma hidrologia diferente ao longo do ano”.
Para os demais países, as vantagens são econômicas e ambientais, porque eles ainda são dependentes de fontes energéticas não renováveis. “São países pobres que gastam muito, vivem importando petróleo, óleo. No momento a Guiana gasta algo em torno de 30% do PIB com importações de óleo”, informa.
Na entrevista a seguir, Bara assinala que, caso as hidrelétricas sejam construídas, é preciso adotar princípios ambientais que considerem a preservação futura. “Propomos o mesmo princípio que estamos aplicando para conservar a bacia do Tapajós no futuro, ou seja, perguntar o que queremos conservar da bacia dos Tapajós no futuro. Esse questionamento faz com que se tenha uma visão de futuro da região do ponto de vista ecológico”.
Pedro Bara é engenheiro, mestre em Ciências pela Universidade de Stanford, líder da estratégia de infraestrutura da Iniciativa Amazônica da Rede WWF. Participou da elaboração de planos nacionais e regionais de integração e desenvolvimento da Amazônia sob a liderança dos principais bancos de fomento da região, BNDS, BID e CAF.
Confira a entrevista
Foto: http://abr.ai/15Y07CF
IHU On-Line – Como avalia a proposta da Eletrobras de construir hidrelétricas no Suriname e na Guiana? Esse projeto é viável?
Pedro Bara – Esse projeto tem um aspecto interessante de complementariedade hidrológica, porque o hemisfério Norte tem uma hidrologia diferente ao longo do ano. Um dos maiores problemas do sistema energético brasileiro é que ele é muito dependente de hidroeletricidade, porque têm épocas em que chove e épocas em que não chove. É por isso que o país tem um sistema interligado. No Sul, por exemplo, chove mais em julho, e em outras cidades do Brasil chove mais nos meses de janeiro e fevereiro. A metodologia do hemisfério Norte é parecida com a do Sul: chove mais em julho e agosto.
A possível construção de hidrelétricas nesses países é uma potência técnica interessante tanto para o Brasil quanto para eles, porque o Suriname e a Guiana ainda queimam bastante óleo. São países pobres, que gastam muito, vivem importando petróleo, óleo. No momento a Guiana gasta algo em torno de 30% do PIB com importações de óleo.
Portanto, esse projeto pode favorecer todos os países envolvidos, porque, se tiver uma hidrelétrica na Guiana, eles não vão mais precisar queimar óleo, terão acesso a uma energia mais limpa. O Suriname tem uma hidrelétrica, mas não dá conta de gerar a energia necessária para o país.
IHU On-Line – Quais as possíveis implicações desse projeto?
Pedro Bara – O que me preocupa é o fato de que quase toda a população da Guiana vive na costa, então, para construir uma hidrelétrica na floresta, é preciso fazer uma estrada de acesso e a área também poderá ser alagada. Foi isso o que aconteceu em Brasília, e aí acabou avançando para o Norte, degradando o estado do Pará. Também há uma diversidade aquática, mas não é tão grande como as do Brasil. Não sei se existem muitas espécies migratórias nos rios da região, mas é preciso verificar.
IHU On-Line – Como o senhor vê a discussão sobre hidrelétricas de reservatório e fio d’água?
Pedro Bara – Parte do problema energético brasileiro está relacionada ao fato de que se exploraram muito os rios de planalto. Nesses rios foi possível fazer reservatórios de maiores volumes de água com menos áreas alagadas, porque se trata de rios mais encaixados. Na Amazônia estão os rios menos encaixados de todos, por isso, em períodos de cheia, alaga uma área imensa, porque o território é muito plano. Então, essa mudança para a planície amazônica é complicada, porque ela dificulta muito a criação de grandes reservatórios, por isso se constroem hidrelétricas de fio d’água.
A discussão sobre qual modelo hidrelétrico é melhor parece culpa dos ambientalistas. Isso é um pouco ridículo. A questão é geográfica. Que culpa os ambientalistas têm se o potencial do planalto está se esgotando e não é tão viável economicamente construir barragens nessas áreas? Por isso é preciso diversificar a matriz energética, investindo em eólica, solar e biomassa.
IHU On-Line – Qual desses dois projetos de reservatórios é o mais adequado para a estrutura geográfica brasileira?
Pedro Bara – O Brasil não está investindo em hidrelétricas simplesmente porque quer, mas sim porque não temos outras opções. Hoje se utiliza o modelo fio d’água porque hidrelétricas com reservatórios alagam uma área grande e comprometem muitas coisas. Além do mais, a geografia dos lugares não é a mesma.
Então, uma mudança no projeto energético requer mudanças políticas. Hoje o Estado já percebeu o crescimento da energia eólica, a qual pode complementar a hidroeletricidade. Na época de seca, quando os reservatórios estão vazios e gerando menos energia, temos de ter alternativas complementares como a solar, a biomassa, a eólica. Com isso, também economizamos a água.
IHU On-Line – Qual é o investimento em energia eólica e solar no país?
Pedro Bara - A eólica está indo bem. O mercado oferece bom preço, e as empresas têm ganhado os leilões. O ideal seria que todos pudessem gerar energia de suas casas através de placas solares e pudessem vender para uma rede. Ocorre que isso ainda não tem financiamento.
IHU On-Line – Quais são os aspectos fundamentais a serem discutidos sobre esse projeto de construção de hidrelétricas no Suriname e na Guiana?
Pedro Bara – Caso essas hidrelétricas sejam construídas, propomos o mesmo princípio que estamos aplicando para conservar a bacia do Tapajós no futuro, ou seja, perguntar o que queremos conservar da bacia dos Tapajós no futuro. Esse questionamento faz com que se tenha uma visão de futuro da região do ponto de vista ecológico.
Em vez de olhar para o projeto de construção das hidrelétricas, é preciso olhar para a bacia hidrográfica onde se quer construí-las. É importante reconhecer o que deve ser preservado. Ou seja, antes de discutir o projeto, nossa proposta é aprimorar o planejamento hidrelétrico na Amazônia. (EcoDebate)

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Térmicas a carvão: mal desnecessário

Depois de quatro anos fora dos leilões de energia, o carvão volta à cesta de compras das concessionárias na rodada de leilão A-5, em 29/08/13. Dos 3.535 MWh habilitados no leilão, 8.840 MWh são de térmicas a carvão.
Em 2009, o próprio governo federal baniu o carvão dos leilões, por considerá-lo fonte altamente poluidora, com impactos diretos na qualidade do ar e nas emissões de gases de efeito estufa. A explicação para a retomada é a segurança energética do país.
Com uma matriz muito dependente de hidrelétricas — 67% da capacidade instalada em 2011 — e a falta de uma política integrada para novas renováveis, o governo decidiu diversificar a matriz energética com energia suja. Entre todas as fontes de energia disponíveis, não poderia ter escolhido uma mais inapropriada. A queima de carvão está diretamente associada a problemas como smog (nevoeiro contaminado por fumaças), chuva ácida e mudanças climáticas.
Segundo dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), o carvão emite 84 vezes mais CO2 que a energia eólica e 22 vezes mais que a energia solar. Se todas as usinas térmicas fósseis (carvão e gás) forem contratadas no leilão, mesmo operando a 50% do tempo, elas emitirão 15 milhões de toneladas de CO2 por ano, o equivalente a toda a emissão da cidade de São Paulo em 2011, segundo cálculos do consultor Tasso Azevedo.
A simples troca de hidrelétrica por térmicas a carvão é a retroalimentação de um falso dilema, que se baseia em achar que o Brasil não tem outras fontes alternativas de energia. De fato, não é desejável que a matriz energética brasileira siga na dependência de uma única fonte. Mas o governo e o setor elétrico precisam entender que diversificar a matriz energética nacional significa investir em fontes seguras, limpas e renováveis, nas quais o Brasil tem potencial de sobra, como solar, eólica e biomassa.
Para a solar, as condições são invejáveis, com ótimos índices de radiação e pouca variação entre as estações do ano. Se aproveitássemos entre 5% e 10% do potencial, seria o suficiente para atender toda a demanda nacional de energia. A Alemanha, por exemplo, país muito menos favorecido pelo Sol, já consegue atender cerca de 4% de sua demanda total de eletricidade somente com a fonte solar. Nos Estados Unidos, essa é a fonte que mais cresce, a uma taxa de 50% nos últimos anos. O aumento da produção fez com que seu preço caísse, em média, 9% ao ano em todo o mundo.
Há 10 anos, a capacidade de geração de energia solar fotovoltaica no mundo era de apenas 2,8 gigawatts. Hoje, essa capacidade superou a barreira dos 100GW, e a indústria prevê que a capacidade global de geração de solar dobre até 2016. Enquanto isso, o potencial de geração eólica é superior a 300 mil MW, ou seja, mais do que o dobro da atual capacidade instalada no país (115 mil MW) e maior do que o potencial remanescente de energia hidrelétrica (260 mil MW).
A energia vinda dos ventos cresceu 10 vezes no Brasil entre 2007 e 2013 e hoje já corresponde a 2% da nossa matriz. A explosão da produção eólica no país criou um círculo virtuoso, fazendo com que o preço caísse da faixa dos R$ 300/MWh para menos de R$ 100/MWh em 2012, tornando-a altamente competitiva.
Ao contrário do que alguns críticos colocam, as fontes renováveis são seguras e têm toda a capacidade de complementar nosso sistema. Além disso, a possibilidade que as renováveis oferecem de se gerar energia perto dos centros consumidores torna mais segura sua distribuição, evitando apagões como os que atingiram as regiões Norte e Nordeste em outubro do ano passado e outro em dezembro, quando mais de 3,5 milhões de pessoas no Brasil ficaram sem energia.
Não se justifica o país voltar ao passado e seguir no caminho de retrocesso ambiental. Investir na geração de energia térmica a carvão não é estratégico, nem garante a segurança energética de que os brasileiros tanto precisam. Descentralizar a geração de energia, investir em novas tecnologias e priorizar políticas de eficiência energética é o norte que o Brasil deve seguir. O carvão é um mal desnecessário. (EcoDebate)

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Energia no Brasil e no mundo

Poucos são os países no mundo autossuficientes na produção de energia. O Japão importa praticamente toda a energia que consome e até os Estados Unidos, com seu enorme território e seus recursos naturais, importam metade do petróleo que consome.
A dependência de importações implica envolvimento ativo em atividades comerciais, diplomáticas e até militares. Isso é verdade para importações de alimentos, mas não há nada mais essencial, nos dias de hoje, do que garantir um suprimento regular de combustíveis e eletricidade, sem os quais uma civilização moderna não sobrevive.
O Brasil tem, por isso, posição privilegiada por ser ao mesmo tempo um grande produtor de alimentos e de quase toda a energia que consome. Mais ainda, quase 50% dessa energia é renovável e praticamente não contribui para a produção de poluentes, seja em nível local ou em âmbito global. Isso se deve em parte ao fato de a eletricidade ser produzida em grande parte em usinas hidrelétricas.
Já países como a China, onde quase toda a eletricidade é produzida a partir do carvão, enfrentam sérios problemas de poluição urbana, uma vez que a queima de carvão é acompanhada de emissões de óxidos de enxofre e outros poluentes que estão tornando intolerável a vida nos grandes centros urbanos. O governo chinês está plenamente consciente da gravidade desses problemas para a saúde e tomou medidas sérias para reduzir o uso de carvão, melhorando a eficiência com que ele é utilizado. Um ganho adicional é a redução das emissões de gases como o dióxido de carbono, responsável pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas. Não há dúvida de que a China, hoje o maior país emissor mundial de dióxido de carbono, vai reduzir suas emissões nos próximos anos.
Essa é uma nova realidade. Desde o início do governo de Mao Tsé-tung, em 1948, a política seguida na China era a da industrialização a qualquer custo, sem considerar os impactos ambientais.
Já os Estados Unidos, onde poluição urbana já vem sendo controlada há anos, têm revelado preocupações crescentes com o aquecimento global, uma das prioridades do presidente Barack Obama, apesar de o Senado americano não ter aprovado sua proposta de limitar as emissões de carbono.
Sucede que, com o apoio de decisões da Suprema Corte, a agência ambiental americana (equivalente à Cetesb, em São Paulo) tem poderes de limitar o uso de carvão ou exigir que seja usado com maior eficiência. Além disso, o uso crescente de gás de xisto, que substitui o carvão e o petróleo, contribui para a redução das emissões.
Portanto, no panorama mundial, os dois grandes países, que desde 1992 se opuseram a adotar medidas sérias para reduzir emissões, mudaram suas políticas nessa área. Com isso, os argumentos utilizados pelos diplomatas de vários países em desenvolvimento há mais de 20 anos – os do Brasil incluídos -, e que sempre apoiaram a posição da China, estão perdendo sua validade, se é que já a tiveram em alguma ocasião.
Esses argumentos eram basicamente os seguintes:
Os responsáveis pelo aquecimento global são os países ricos, que já estão emitindo há mais de cem anos. Os países em desenvolvimento precisam desenvolver-se e, portanto, têm o direito de emitir. Juridicamente, esse argumento é questionável, porque até a adoção da Convenção do Clima, em 1992, emissões de carbono não eram consideradas perigosas. Punição retroativa aos grandes emissores do passado é difícil de aceitar.
As emissões por habitante são muito maiores nos países ricos do que nos países em desenvolvimento. Na realidade, as emissões da China por habitante são hoje tão elevadas como as da Alemanha e as emissões acumuladas dos países em desenvolvimento já representam quase metade de todas as emissões. Além disso, para se desenvolver eles podem usar tecnologias modernas que não poluam como no passado, baseando seu crescimento econômico em tecnologias “limpas”.
Na prática, com as novas políticas dos Estados Unidos e da China estamo-nos encaminhando para um acordo tácito com vista à redução das emissões. Uma consequência óbvia é que esses dois grandes países provavelmente começarão a tomar medidas para impedir que os poluidores nos países em desenvolvimento ponham por terra os seus esforços, aumentando as suas emissões.
Uma dessas medidas poderia ser a aplicação de uma taxa sobre carbono “embutido” nos produtos que importam. Por exemplo, uma boneca produzida na Índia exige para sua produção determinado consumo de energia elétrica que é produzida com carvão. Já a mesma boneca produzida no Brasil terá um conteúdo menor de carbono, porque a eletricidade é produzida em usinas hidrelétricas. Os países em desenvolvimento que exportam para os Estados Unidos terão uma vantagem competitiva se sua energia for produzida por fontes renováveis.
Com isso as negociações sobre mudanças climáticas passam a um novo nível, que não é o adotado até agora, em que estão envolvidos os 194 países-membros da Organização das Nações Unidas, os quais precisam adotar acordos por consenso. Quando isso foi feito no passado, na Conferência do Clima em 1992, no Rio de Janeiro, ou na Rio+20, em 2012, as decisões tomadas foram vagas e não comprometeram realmente os governos signatários a cumpri-las.
A Conferência do Rio de 1992 ainda teve resultados positivos, por causa da adoção da Agenda 21, que conscientizou toda uma geração de governantes e motivou muitos municípios e Estados a se reorientarem na direção de um desenvolvimento sustentável. A Rio+20 ficou apenas na retórica.
Agora, com as ações concretas da China e dos Estados Unidos, temos uma nova oportunidade, que o Brasil não deve perder.
*José Goldemberg é professor emérito da Universidade de São Paulo e foi ministro do Meio Ambiente durante a Conferência do Clima em 1992. (EcoDebate)

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Tecnologia nuclear entre Japão e o Brasil

Nota Pública contrária ao acordo de tecnologia nuclear entre Japão e o Brasil
Coalizão por um Brasil livre de Usinas Nucleares
Articulação Antinuclear Brasileira
No dia 13 de setembro de 1987 ocorreu na cidade de Goiânia, no Brasil, um grave acidente radiológico, com grande difusão de radioatividade.
No 26º, aniversário dessa tragédia, 13 de setembro de 2013, 114 organizações da sociedade civil japonesa, 107 organizações brasileiras e 32 Prêmios Nobel Alternativo, solidarizando-se com suas vítimas, assim como com as vítimas dos atuais vazamentos de radioatividade da usina nuclear de Fukushima, divulgarão uma Declaração conjunta, contrária a um eventual acordo nuclear entre o Brasil e o Japão, por considerarem que a opção nuclear para gerar energia elétrica deve ser definitivamente abandonada.
Essa Declaração entregue simultaneamente no Brasil e no Japão em 13/09/13, juntamente com a lista completa dos seus signatários, aos Governos, Consulados e Embaixadas desses dois países.
No Brasil as entregas se darão nos seguintes locais e horários:
- em Brasília na Embaixada do Japão, na SES – Avenida das Nações, Q.811, lote 39 e depois no Palácio do Planalto (da Embaixada seguimos para fazer uma entrega).
- em São Paulo, houve um ato nas escadarias da Fundação Cásper Libero – TV Gazeta, na Avenida Paulista 900, e a entrega ao Consulado feita na sua entrada da rua Eugenio de Lima 424.
- em Porto Alegre na Av. João Obino, 467 (Petrópolis), Porto Alegre – RS (contato: Eliege Fante, eliege_f@yahoo.com.br)
- em Recife no Consulado do Japão, à R. Padre Carapuceiro, 733 – 14º andar. Ed. Empresarial Center I, Boa Viagem (contato: Heitor Scalambrini Costa heitorscalambrini@gmail.com)  
- em Curitiba à Rua Marechal Deodoro 630, 18º andar (Shopping Itália), Curitiba – PR (contato: Zuleica Nycz – zuleica.nycz@gmail.com)
- em Salvador, a Declaração foi entregue ao Cônsul Honorário do Japão no dia 12, à rua Campinas de Brotas, 104, Brotas, Salvador (contato: Zoraide Vilas Boas – assmpj@gmail.com)
No Japão, a entrega à Embaixada Brasileira no dia 13 (Endereço: 2-11-12 Kita Aoyama, Minato-ku, Tokyo) e houve uma manifestação em frente ao Gabinete do Primeiro Ministro das 16 às 18 horas (contato: INYAKU Tomoya tomo@jca.apc.org).
O texto da Declaração está reproduzido abaixo. A lista de signatários estará disponível no site da Coalizão (www.brasilcontrausinanuclear.com.br), a partir de 13/09/13.  
Maiores informações escrever a xonuclear@uol.com.br ou a Chico Whitaker (chicowf@uol.com.br).
Somos contrários ao acordo de tecnologia nuclear entre Japão e o Brasil
A Declaração abaixo, contra um eventual acordo nuclear Brasil-Japão, foi entregue em 13/09/13, concomitantemente no Brasil e no Japão, aos governos desses países e às suas embaixadas e consulados. O dia 13 de setembro é a data do 26º aniversário do mais grave acidente radiológico ocorrido no mundo, com um aparelho de radioterapia abandonado em Goiânia, Brasil.
Essa Declaração foi subscrita por 86 organizações da sociedade civil japonesa e 58 da sociedade civil brasileira, e recebeu o apoio de 30 Prêmios Nobel Alternativo, de 20 países (ver nomes abaixo).
Em São Paulo ela será entregue às 12 horas do dia 13 ao Consulado do Japão (Avenida Paulista, 854).
Bem-vindos todos que quiserem participar desse protesto.
Somos contrários ao acordo de tecnologia nuclear entre Japão e o Brasil
Os jornais noticiaram que o governo japonês vai assinar um acordo com o governo brasileiro para preparar o caminho para a exportação de usinas nucleares japonesas para o Brasil.
Passados mais de dois anos do acidente nuclear de Fukushima, sua verdadeira causa permanece desconhecida, o que nos obriga a uma profunda revisão da tecnologia nuclear japonesa. Não é por outra razão que a opinião pública no Japão tem se mostrado contrária não somente à construção de novos reatores, mas também à reativação dos existentes.
As usinas de Fukushima ainda estão liberando radioatividade no meio ambiente e o governo japonês não consegue controlar essas contaminações.  Assim, o Japão está causando sérios danos para o mundo.
Como o governo pode apoiar a construção de usinas nucleares fora do Japão em tal situação? Isto só pode ser entendido como uma maneira de dar uma saída para a indústria nuclear japonesa, impedida de construir novas usinas no seu país.
No Brasil, cresce o temor de acidentes em suas usinas nucleares de Angra dos Reis, localizadas entre as duas maiores cidades brasileiras, Rio de Janeiro e São Paulo. Ao mesmo tempo, cresce a pressão para que se passe a usar fontes de energia menos perigosas, para atender as necessidades do país em eletricidade.
Existem outras formas do Japão contribuir para a solução dos problemas de energia do Brasil e do mundo – por exemplo, pela cooperação em torno de energias renováveis.
As organizações da sociedade civil japonesa e brasileira, abaixo assinadas, são contrárias ao acordo anunciado, entre o Brasil e o Japão, em torno da tecnologia nuclear.
Nomes das 58 organizações brasileiras que assinam a presente Declaração
Amigos da Terra Brasil – Porto Alegre / Articulação Antinuclear Brasileira / Articulação Antinuclear do Ceará – Fortaleza / Articulação dos Povos e Organizações Indigenas do NE, MG e ES – Olinda / Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – Brasília / Associação Brasileira de Medicina Antroposófica – São Paulo / Associação das Vítimas do Césio – Goiânia / Associação Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça, Cidadania – Salvador / Centro de Apoio a Pesca e Pescadores do Maranhão – São Luis / Centro de Dharma da Paz Shi De Tchö Tsog – São Paulo / Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares – São Paulo / Comissão de Justiça e Paz – Macau, Rio Grande do Norte / Comissão Paroquial de Meio Ambiente – Caetité, Bahia / Comissão Pastoral da Pesca – Olinda / Comunidade dos Cristãos no Brasil – São Paulo / CPP Regional Ceará – Fortaleza / CPT Sudoeste da Bahia – Caetité, Bahia / CPT – São Francisco Vivo – Salvador / Fase –  Rio de Janeiro / Fase – Vitória / Fase Amazônia – Belém / Federação Waldorf no Brasil – São Paulo / Fórum Anti Petroleiro do Espírito Santo- Vitória / Fórum das Pastorais Sociais do Regional Sul 1 – São Paulo / Fórum dos Atingidos pela Indústria do Petróleo e Petroquímica nas Cercanias da Bahia da Guanabara – São João do Meriti/Caxias. Rio de Janeiro / Fórum Mudanças Climáticas e justiça Social – Brasília / Fórum pela Humanização do Social – São Paulo / Fundação Lama Gangchen para a Cultura de Paz – São Paulo / Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia – Salvador / Goetheanum.de – São Paulo / Greenpeace – Brasil / Grupo de Estudos e Pesquisa em Populações Pesqueiras e Desenvolvimento no Espírito Santo – Vitória / Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais da UFMG – Belo Horizonte / Grupo de Riscos Ambientais – Salvador / Grupo Pindorama – São Paulo / Ibase – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – Rio de Janeiro / INDESA – Instituto Nacional de Desenvolvimento Socioambiental – Rio Grande do Sul / Instituto Madeira Vivo — IMV – Rondônia / Justiça nos Trilhos – São Luis / Monteazul International.de – São Paulo / Movimento dos Pescadores e Pescadoras – Salvador / Movimento Ecosocialista de Pernambuco (MESPE) / Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente (MoGDeMA) – Rio Grande do Sul / Movimento Nacional de Afetados por Desastres Socioambientais – MONADES / Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela – Belo Horizonte / Movimento Tapajós Vivo – Pará / Movimento Wangari Mathai – Salvador / Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ) / Núcleo Tramas da UFCE – Fortaleza / Setorial Ecossocialista do PSOL – São Paulo / Sindimina – Aracaju / Sindimina – Caetité, Bahia / Sociedade Angrense de Proteção Ecológica – SAPÊ – Rio de Janeiro / Sociedade Antroposófica no Brasil / Tardö Ling – Centro de Desenvolvimento Humano Cultural e Filosófico – São Paulo / ZumKukuk.de – São Paulo
Nomes das 86 organizações japonesas que assinam a presente Declaração
We don’t need Nuclear Power Plants” in Shimonoseki / Alternative People’s Linkage in Asia (APLA) / AM-Net / APFS Trade Union / Article 9, Ise committee / Atomkraftfreie Welt-Sayonara Genpatsu Düsseldorf e.V. / Beqerel Free Life in Hokkaido / Biodiversity Information Box / Buddhist Temple of Kokubun / Campaign for Nuclear-free Japan / Church of Christ in Japan / Citizens’ Nuclear Information Center / Citizen’s voice in Gifu Prefecture to protect Peace / Civil Committee to settle Fukushima Accident / Costarica Republican Village / Doggyscafe / Emergency Action on the Fukushima Nuclear Crisis / Escola de Samba Kumamoto / Firefly Solidarity against Nuclear Plants / From Earth & Cafe Ohana / Fukuoka Joint Trade Union / Greens Japan / Greenz, Yamaguchi / Group of stickers to say good bye to Nuclear Power plants / Group to protect children from radiation in the Southern Iwate prefecture and Northern Miyagi prefecture / Group to protect children’s future in Kawagoe / Group to say good bye to Nuclear Plant In Nakatsugawa / Groups of the Parents who protect the children’s future / Hattori Ryoichi Support Group / Human rights and Environment / Human Rights and Peace Network in Ube / Inadani Network to protect children from radiation / Japan Womens’ Council I / Kafka no Kai / Kannsai Madam Council to stop the nuclear power plants / Kansai Network to Stop Nuclear Power Plants / Kazashimo no Kai – Fukushima / Kiso Network for no nuclear power plants / Kita Settsu Citizen’s Stury Group / Kunizaki debris ML / Life Future Ube / National Council for education of local history / natural design ukA / NGO Civilian Activity Support Network / Nipponzanmyohoji – Buddhist Temple / No More Radiation / No Nukes Action in Kamimaki / No Nukes Asia Actions Japan(NNAA-J) / No Nukes Asia Forum Japan / No Nukes from shiga / No Nukes Tent @ Tsukuba / No Nukes, Kiso Network / Nonukes Network in Oita / nosecafé / NPO Center for recreation of the damaged regions of East Japan Earthquake / Nuclear Phase-out Tepco Shareholder’s Movement / ODA reform network / ODA reform network in Kansai / Okinawa Outreach / (seguem-se 30 assinaturas – consultar no site Xonuclear.net)
Nomes dos 30 Prêmios Nobel Alternativo (RLA – Right Livelihood Award) e membros do Conselho Mundial do Futuro (WFC – World Future Council) de 20 países, que apoiam a presente Declaração.
Andras Biro (Hungria) – RLA 1995 / Angie Zelter (Reino Unido) – RLA 2001 / Anna Oposa (Filipinas) - Conselheira WFC / Anwar Fazal (Malásia) – RLA – 1982 / Asociación de Trabajadores Campesinos del Carare (ATCC) (Colômbia)- RLA 2010 / A.Behar – Presidente da AMFPGR – Associação do Médicos Franceses pela prevenção da guerra nuclear (do IPPNW) (França) / Bianca Jagger (Nicaragua) – RLA 2004 / Chico Whitaker (Brasil) – RLA 2006 / David Suzuki (Canada) – RLA 2009 / Dom Erwin Kautler (Brasil) – RLA 2010 / Dr.Hanumappa R. Sudarshan (India) / RLA 1994 / Fernando Funes (Cuba) – RLA 1999 / Fernando Rendón (Colômbia) – RLA 2006 / Frances Moore Lappe (EEUU) – RLA 1987 / Fundação Gaia – Legado Lutzenberger (Brasil) – RLA 1988 / Helen Mack (Guatemala) – RLA 1992 / Ida Kuklina (Russia) – RLA 1996 / Juan Pablo Orrego S. (Chile) – RLA 1998 / L. Hunter Lovins (EEUU) – RLA 1983 / Manfred Max-Neef – (Chile) – RLA 1983 / Marcos Arana (Mexico)- International Baby Food Action Network, IBFAN (Suiça) – RLA 1998 / Martin von Hildebrand (Colombia) – RLA 1999 / Maude Barlow (Canada) – RLA 2005 / Raul Montenegro (Argentina) – RLA 2004 / S. Mohammed Idris (Malásia) – RLA 1988 / Sekem / Ibrahim Abouleish (Egito) – RLA 2003 / Sima Samar (Afganistão) – RLA 2012 / Swami Agnivesh (India) – RLA 2004 / Tony Clarke (Canada) – RLA 2005 / Vandana Shiva (India) – RLA 1993. (EcoDebate)

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

300 ton de água contaminada vazaram

Tepco diz que 300 toneladas de água contaminada vazaram de tanque
O operador da usina nuclear de Fukushima Daiichi acredita que cerca de 300 toneladas de água altamente contaminada vazaram de um tanque de armazenamento projetado para manter o nível de água da usina.
A água que vazou contém 80 milhões de becquerels de radiação por litro, conforme o porta-voz da Tokyo Electric Power Co porta-voz (TEPCO).
Agua contaminada pode ter vazado para o mar
A Autoridade Regulamento Nuclear classificou o vazamento como um incidente de nível 1, o segundo mais baixo, em uma escala internacional de medidas radiológicas.
É a primeira vez que o Japão emitiu um chamado classificação INES desde que os três reatores foram danificados em Fukushima em março de 2011, pouco depois que a planta foi destruída pelo terremoto e tsunami.
Desde então, a TEPCO tem se esforçado para conter vazamentos radioativos. A operadora tem sido criticado por sua incapacidade de se preparar para o desastre e também foi acusado de encobrir a extensão dos problemas na usina.
A poça que se formou perto do tanque que vazou emite uma dose de radiação de 100 millisieverts por hora medidos a cerca de 50 centímetros acima da superfície.
Isso é equivalente ao limite de exposição acumulada ao longo de cinco anos para os trabalhadores em usinas nucleares japonesas.
Só este mês a empresa depois de meses de negação, admitiu que água contaminada escapou por porões e trincheiras próximas da costa e estariam a chegar no mar, levando o governo a intensificar o seu envolvimento na limpeza da usina.
“Nós temos instruído TEPCO para encontrar a fonte de água contaminada, verificando qual o tanque de água que está vazando e selar o ponto de vazamento”, disse um funcionário NRA. “Temos também instruído a recuperar solo contaminado para evitar uma maior expansão da água tóxica, e para reforçar o controle do meio ambiente.” (atualidade.portalmie.com)

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Empresa localiza vazamento em Fukushima

Empresa localiza vazamento na central de Fukushima que despeja água radioativa para Pacífico
Fluxo de água entra no subsolo de um dos edifícios e sai contaminada até o mar.
Funcionários da Tepco medem radiação em tanque da central de Fukushima.
A Tepco, empresa que administra a central nuclear de Fukushima, detectou pela primeira vez um fluxo de água que entra no subsolo de um dos edifícios e sai contaminada até o mar.
A água, procedente de uma montanha próxima, entra por uma passagem para tubos de canalização e chega ao subsolo do edifício que abriga a turbina do reator número um, explicou a Tokyo Electric Power (Tepco).
A empresa exibiu fotos e vídeos do problema. Também é possível ouvir um barulho idêntico ao de uma cascata.
A central de Fukushima Daiichi contém 400 mil toneladas de água repleta de césio, estrôncio, trítio e outras substâncias radioativas no subsolo ou armazenadas em quase mil depósitos improvisados após o acidente nuclear de 2011 provocado por um tsunami.
A localização dos pontos de entrada da água natural é essencial para poder deter o fluxo e evitar sua contaminação e posterior vazamento ao Oceano Pacífico.
Paredão de gelo
O governo japonês anunciou em 03/09/13 um plano de emergência para conter o vazamento de água radioativa.
Segundo a emissora NHK, o país começará em outubro a testar um sistema para congelar o subsolo em torno dos reatores.
O muro resultante evitaria que a água subterrânea procedente de montes limites à central entrasse nos porões dos edifícios.
Acredita-se que atualmente cerca de 400 metros cúbicos penetram diariamente nas estruturas, onde se misturam com água do sistema de refrigeração dos reatores, que vaza também para os porões e que está muito contaminada ao haver entrado em contato com os núcleos parcialmente fundidos.
Em julho, a Tepco admitiu que cerca de 300 toneladas de água tóxica vão parar no Pacífico diariamente.
O plano de urgência do governo é introduzir conduções de metal no solo até uma profundidade de 30 m. Uma vez enterradas as varas, se bombeará cloreto de cálcio líquido a - 40°C para congelar a terra ao redor.
O teste será realizado em um solar de cerca de 100 m² junto ao prédio do reator 4 para comprovar se realmente o método é capaz de bloquear a passagem de água subterrânea.
O Ministério de Indústria japonês espera terminar o teste até o final de março de 2015 e começar o processo completo de congelamento do solo imediatamente depois.
O teste em si terá um custo de 1,3 bilhão de ienes (quase R$ 30 milhões), enquanto o orçamento total destinado pelo governo para este sistema é de 32 bilhões de ienes (R$ 749 milhões).
Esse montante faz parte de uma verba total de 47 bilhões de ienes (R$ 1,1 bilhão) procedentes do volume público que o governo aprovou esta semana para resolver os vazamentos em Fukushima.
Parte desse orçamento também será destinado a combater vazamentos de água radioativa detectadas no último mês nos tanques usados para armazenar o líquido usado para refrigerar os reatores. (R7)

Fukushima, o desastre nuclear sem fim

Governo como gestor da crise
O governo do primeiro-ministro Shinzo Abe quer demonstrar capacidade de ação. Tóquio passou a atuar diretamente conter os estragos na usina de Fukushima, depois que notícias divulgaram que os níveis de radiação na área da central nuclear avariada após o terremoto de 2011 seriam muito mais elevados do que se considerava até então.
Ônus milionário para contribuintes
O governo japonês pretende disponibilizar o equivalente a 360 milhões de euros (R$ 1,1 bilhão) para a segurança das instalações. A verba será aplicada na contenção de vazamentos para evitar que água contaminada com radiação siga escoando. Um dos planos prevê a construção de um muro protetor de terra congelada em torno dos reatores, com quase 1,5 quilômetro de extensão.
Mensagem do chefe de governo
“O mundo está nos observando para ver se conseguimos realizar a desativação da usina nuclear de Fukushima”, declarou o premiê japonês Shinzo Abe em 3 de setembro de 2013. O governo anunciou sua intervenção na crise de Fukushima com grande efeito midiático, poucos dias antes da decisão sobre o local dos Jogos Olímpicos de 2020. No sábado, 07/09, Tóquio foi escolhida, pela assembleia do COI (Comitê Olímpico Internacional), para sediar os Jogos Olímpicos de 2020.
Números dramáticos
A radiação medida num dos tanques de água, no terreno da ruína atômica, chegou a 2.200 milisievert por hora. Em 03.09, falava-se em 1.800 Sv/hora no mesmo local – uma dose a que um ser humano só consegue sobreviver por quatro horas.
Tepco continua alvo de críticas
A companhia de energia Tepco foi duramente criticada após a catástrofe nuclear de 2011 por sua gestão ineficaz da tragédia. Agora, a operadora de Fukushima é acusada de seguir tentando ocultar a extensão do desastre, só divulgando gradativamente ao público os dados relevantes.
Volumes incontroláveis de água
Após o terremoto e o tsunami no litoral japonês, ocorreu a fusão do núcleo de alguns reatores de Fukushima. Desde então bombeia-se água ininterruptamente para esfriá-los. O líquido contaminado é armazenado em tanques, aguardando tratamento que permitirá sua reutilização no resfriamento. O problema é que, diariamente, água dos lençóis freáticos entra nos recipientes, misturando-se com a radioativa.
Recipientes permeáveis
Os tanques em que a água radioativa é coletada têm apresentado problemas recorrentes. A maior parte deles é construída com placas de aço aparafusadas. Os vazamentos são constantes. Deduz-se que água contaminada com radioatividade tenha vazado dos tanques e chegado ao mar pelo sistema de esgotos.
Nível de alerta elevado
Somente no dia 19 de agosto de 2013 foi divulgado que cerca de 300 mil litros de água radioativa haviam vazado e, em grande parte, escoado para o meio ambiente. Devido a esse distúrbio, o mais grave desde a fusão do reator, a agência japonesa de segurança nuclear NRA elevou, pela primeira vez, o nível de alerta de 3 para 7 na Escala Internacional de Acidentes Nucleares (Ines).
Destino final: o Pacífico?
Para controlar as massas de água dentro da usina, a agência japonesa de vigilância nuclear NRA não exclui bombear líquido para o Oceano Pacífico de forma controlada – contanto que a contaminação radioativa esteja abaixo do “valor limite”. Segundo Shunichi Tanaka, presidente da NRA, tal passo é “inevitável”, pois não há capacidade de armazenamento para o gigantesco volume de água contaminada.
À sombra da ruína nuclear
A catástrofe atômica de Fukushima seguirá preocupando a população da região durante muito tempo. De acordo com a Tepco, a completa normalização na usina avariada poderá demorar até 40 anos. (EcoDebate)

Controlar vazamento de água radioativa

Governo japonês apresenta projeto para controlar vazamentos de água radioativa em Fukushima
Fukushima: mês passado, mais de 300 toneladas de água altamente radioativa utilizada para resfriar reatores vazaram para o solo.
O governo do Japão está para investir centenas de milhares de dólares para construir uma parede de terra congelada ao redor da usina nuclear de Fukushima com o objetivo de impedir vazamentos de água radioativa.
O porta-voz do governo, Yoshihide Suga, confirmou investimentos em torno de 47bn de ienes (o equivalente a R$ 1,1 bilhão).
Os vazamentos, que ainda continuam a acontecer em Fukushima, aumentaram recentemente, o que fez o governo avaliar sua participação no projeto de contenção.
“(O governo) sentiu que era essencial se envolver (no projeto de contenção) totalmente”, afirmou Suga.
Acidente
A usina de Fukushima foi danificada durante o terremoto – e consequente tsunami – que devastou aquela região do país em 2011.
O desastre paralisou o sistema de resfriamento dos reatores fazendo com que três deles derretessem.
Atualmente, o maior desafio da Companhia de Energia Elétrica de Tóquio (Tokyo Eletric Power Company – Tepco) é armazenar a grande quantidade de água utilizada para resfriar os reatores.
Depois do processo de resfriamento, a água fica contaminada com material radioativo e precisa ser guardada em grandes reservatórios.
Parede de terra congelada
De acordo com o plano do governo japonês, uma parede de terra congelada será criada ao redor dos reatores para fazer o resfriamento, utilizando dutos com substância resfriante. Este processo também visa a prevenir que água contendo material radioativo, que continuará a ser utilizada para resfriar dutos de combustível nuclear, entre em contato com o lençol freático.
Ainda de acordo com oficiais do governo, sistemas de tratamento de água também serão modernizados para evitar o aumento de água contaminada.
O dano causado à usina de Fukushima criou a necessidade de constante bombeamento de água para resfriar os reatores – um processo que gera um total extra de 400 toneladas de água contaminada por dia.
Atualmente, a água está sendo armazenada em tanques temporários que ficam na área da usina. No mês passado, Tepco confirmou que 300 toneladas de água altamente radioativa vazou de um dos tanques, o que foi considerado o maior acidente registrado no local depois do terremoto em 2011.
Imagens de satélite mostram como o número de tanques de armazenamento de água radioativa aumentou nos últimos dois anos.
Nos últimos meses, vazamentos de água de dutos e do prédio danificado que abriga um dos reatores também foram confirmados.
Intervenção do governo
Mês passado, a agência nuclear regulatória do Japão classificou a radioatividade emitida pela água dos vazamentos de Fukushima como sendo de nível três de uma progressão que vai até sete pontos na Escala Internacional de Eventos Nucleares e Radiológicos (International Nuclear and Radiological Event Scale – Ines).
O derretimento de três reatores, dois anos atrás, foi classificado como nível sete – o mais grave da escala Ines. Acidente com esse nível somente pode ser comparado ao ocorrido em 1986 na usina Chernobyl, na antiga União Soviética.
Sob pressão internacional
“O mundo está assistindo bem de perto se há a possibilidade de interromper (permanentemente) as atividades de Fukushima, resolvendo também a questão da água contaminada”, afirma o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe.
“O governo está determinado a trabalhar duro para resolver a questão”, destaca Abe.
As medidas governamentais do Japão acontecem dias antes da decisão sobre se o país será ou não a sede dos Jogos Olímpicos (de verão) de 2020.
Enquanto isso, um dos dois reatores que continuam em operação no país foi desligado na terça-feira para inspeções obrigatórias de segurança.
O desligamento do reator número 3, da usina Kansai, na região centro-sul do Japão, deixará o reator de número 4 como o único abastecer a rede energética de todo o Japão.
No final do mês, o reator 4 também será desligado temporariamente para avaliação de rotina.
Religar os reatores de Fukushima continua sendo avaliada como uma ação controversa pela comunidade internacional, mas o governo japonês está atuando para fazer com que a usina volte a fornecer energia para o país. (EcoDebate)

Radiação da usina nuclear de Fukushima é crítica

Após novo vazamento, níveis de radiação nas proximidades da usina nuclear de Fukushima atingem nível crítico
Nova medição indica que níveis de radiação estão 18 vezes mais altos do que inicialmente se supunha.
Os níveis de radiação nas proximidades da usina nuclear de Fukushima, no Japão, estão 18 vezes mais altos do que se supunha inicialmente, alertaram autoridades locais.
Na semana passada, o operador responsável pela planta informou que uma quantidade ainda não identificada de água radioativa vazou de um tanque de armazenamento.
Leituras mais recentes realizadas perto do local indicam que o nível de radiação chegou a um patamar crítico, a ponto de se tornar letal com menos de quatro horas de exposição.
A usina nuclear de Fukushima sofreu um forte dano em sua estrutura devido a um terremoto seguido por um tsunami em 2011.
A companhia de eletricidade de Tóquio (Tepco) informou inicialmente que a radiação emitida pela água vazada era de 100 milisieverts (unidade internacional de radiação) por hora.
No entanto, posteriormente, o órgão refez a medição e descobriu que o equipamento utilizado na primeira leitura só conseguia verificar níveis de radiação de até 100 milisieverts.
A nova medição, para a qual foi usada um aparelho mais sensível, indicou um nível de 1,8 mil milisieverts por hora.
O resultado terá implicações diretas para as doses de radiação recebidas pelos operários que passaram muitos dias tentando interromper o vazamento na semana passada, afirmou o repórter da BBC em Tóquio Rupert Wingfield-Hayes.
Além disso, a Tepco disse que descobriu um novo vazamento em outro cano que emite níveis de radiação de até 230 milisieverts por hora.
Desde o tsunami, a usina de Fukushima já sofreu uma série de vazamentos e quedas de energia.
Naquele ano, a força das águas interrompeu o funcionamento dos sistemas de refrigeração dos reatores. Três deles derreteram por causa do incidente.
Para evitar uma tragédia de maiores proporções, o governo japonês precisou manter um constante bombeamento de água para refrigerar as estruturas.
Foi a quarta vez que um grande vazamento ocorre nos tanques de armazenamento de Fukushima desde 2011. Também foi o pior de todos em termos de volume vazado.
Após a última ocorrência, a agência reguladora de energia nuclear do Japão elevou o nível de alarme de 1 para 3 na escala internacional, que mede a gravidade de acidentes atômicos.
A escala vai de 1 (menor grau) até 7 (maior grau).
Especialistas dizem que a quantidade de água vazada pode ser pior do que as autoridades informaram inicialmente. (EcoDebate)

Tudo por dinheiro

Em recente visita a microrregião de Itaparica, aos municípios de Floresta, Belém do São Francisco, Petrolândia e Itacuruba, pude constatar, a completa falta de informação das respectivas populações sobre a provável instalação de uma usina nuclear na região.
A visita, que contou com o apoio da Diocese de Floresta através do Movimento Cultura de Paz, teve o objetivo de levar informações sobre a energia nuclear, a radioatividade, os efeitos da radiação, o que é uma usina nuclear e como funciona, os riscos de acidentes e a situação desta fonte energética no mundo e no Brasil. Além de haver uma discussão sobre outras fontes de energia, em particular aquelas encontradas na natureza, que poderiam atender a demandas energética destas populações.
Foram realizadas Rodas de Dialogo nos quatro municípios com a presença de educadores, religiosos, políticos, representantes da sociedade civil organizada, movimentos de jovens, representantes de grupos quilombolas e indígenas. Amplo material de divulgação foi distribuído aos participantes, desde cartilha explicativa, cordéis, e-books com artigos sobre a questão nuclear e panfletos.
Como resultado das Rodas de Dialogo foram definidos em cada cidade, ações que serão desenvolvidas no intuito de mais e mais pessoas se incorporarem ao debate sobre a instalação da usina nuclear. Assunto de grande importância para o destino dos moradores das cidades e do campo daquele território.
O trabalho planejado durante estes reuniões se dará essencialmente na divulgação pelas redes sociais, em ações nas escolas estimuladas pelos educador@s, na distribuição de material informativo aos membros das associações de moradores, associações de pescadores, comerciantes, nas aldeias indígenas e nas comunidades quilombolas. O que se espera de toda esta movimentação é que as populações se envolvam neste debate, e como resultado, formem opinião sobre a decisão unilateral tomada de se instalar a usina nuclear. Espera-se que sejam ouvidos, e tomem em suas mãos a responsabilidade de aceitarem ou não esta instalação industrial para produzir energia elétrica. O que não se pode mais aceitar e nem admitir são que decisões sejam tomadas à revelia, sem a participação dos principais interessados.
Por outro lado nestas reuniões, o que era esperado aconteceu. Mesmo convidado à classe política não esteve presente, e quando alguns de seus membros compareceram, foi de maneira não participativa nos debates. O que se percebe nesta atitude é que fogem da discussão pública. Evitam se comprometerem, e nem emitem suas opiniões publicamente. Todavia, à surdina, conspiram para a vinda da usina nuclear para a região, apoiando interesses pessoais em detrimento do interesse público, da coletividade, das comunidades.
Também nesta viagem, tornou mais claro o interesse econômico envolvido com a construção da usina nuclear no município de Itacuruba. A área pré-selecionada a beira do rio São Francisco possui diversos proprietários em todo seu entorno. A maior propriedade em extensão pertence a parentes do ex-prefeito de Itacuruba,. Estivemos com um dos outros proprietários de terras na região (possui uma gleba de 130 ha), que nos informou já ter sido procurado pelo ex-prefeito interessado em comprar suas terras, como também de outros proprietários que teriam sido procurados para este fim.
Verifica-se nesta movimentação o interesse de tornar-se o único proprietário das terras, e assim poderem ser negociadas, e muito bem indenizadas pelo governo federal, caso a usina nuclear seja implantada na região. Também para valorizá-las, o ex-prefeito na sua gestão, obteve recursos do Ministério da Integração Nacional/Codevasf para a implantação e pavimentação de uma rodovia vicinal até estas terras, chegando bem próximo a fazenda Jatinã (local pré selecionado para a implantação da usina nuclear). Esta rodovia, um trecho da PE 422, atravessa terras da aldeia Pankará e comunidades quilombolas, Por exigência da comunidade indígena, licenças para esta rodovia nunca foram apresentadas, e as obras foram paradas. Os recursos públicos destinados para esta rodovia foram de R$ 13.488.205,55.
O discurso proferido por este político na defesa intransigente da usina nuclear, caminha no sentido que a usina trará impactos econômicos importantes para a região, e como consequência, o desenvolvimento e o progresso tão almejado pelos habitantes. Este discurso, recorrente, já que utilizou os mesmos argumentos quando prometeu e não cumpriu o Observatório de Itacuruba (http://www.debatesculturais.com.br/observatorio-de-itacuruba-uma-obra-inacabada/), aponta na geração de emprego e renda para a população. Todavia, esconde de fato o mero interesse pessoal, em detrimento ao da coletividade, que sofrerá os impactos e o estigma que esta construção trará aos moradores do seu entorno.
Em verdade, o que tem movido a defesa desta obra na região, por alguns que exerce grande influencia junto às populações pelo fato ocuparem (ou já ocuparam) cargos públicos na política local, são os benefícios financeiros que receberão com a implantação desta obra.
Esta situação se verifica quando defensores do modelo predatório de desenvolvimento em curso no Estado, com obras como da instalação de uma indústria de petróleo e gás, termoelétricas a combustíveis fósseis, construção de estaleiros, de indústrias altamente poluentes no Complexo de Suape; locupletam-se financeiramente. Afinal é tudo por dinheiro. (EcoDebate)

domingo, 8 de setembro de 2013

Histórico da Energia Solar

De acordo com KALOGIROU (2009), o uso da energia solar em grande porte mais antigo é creditado, embora não comprovado, a Arquimedes (282 a 212 a.C.), que teria queimado a frota romana na Baía de Syracuse (hoje pertencente a Itália) concentrando raios solares em um foco a ponto de aquece-los até pegarem fogo. O fato foi referenciado por diversos autores entre 100 a.C. e 1.100 d.C. e no livro Optics Vitelio, do matemático polonês Vitelio. O aparelho usado por Arquimedes foi descrito como um vidro composto com 24 espelhos que convergiam para um único ponto focal, enquanto alguns historiadores acreditam que Arquimedes teria utilizado escudos de soldados ao invés de espelhos em função da tecnologia de manufatura de vidros creditada àquela época. Há relatos de que Arquimedes teria escrito um livro (On Burning Mirrors), mas nenhuma cópia sobreviveu. Durante o período Bizantino, Proclus repetiu o suposto experimento de Arquimedes e queimou a frota inimiga em Constantinopla.
Já no século XVIII, na Europa e Oriente Médio, começou a ser desenvolvidas fornalhas solares, cuja aplicação era a fundição de metais, principalmente ferro e cobre (LODI, 2011). De acordo com KALOGIROU (2009), uma das primeiras aplicações em larga escala foi a fornalha solar desenvolvida por Lavoisier em 1774 (Figura 1). Esta fornalha possuía uma lente de 1,32m e outra secundária de 0,2m e foi capaz de atingir temperaturas de 1.750°C.
Figura 1 – Fornalha solar de Lavoisier (1774)
Durante o século XIX surgiram as primeiras tentativas de gerar vapor (à baixa pressão) a partir da radiação solar. As primeiras máquinas a vapor movidas à energia solar teriam sido construídas por Augusto Mouchot de 1864 a 1878 na Europa e norte da África (RAGHEB, 2011 apud LODI, 2011).
Uma de suas máquinas, uma impressora movida à energia solar foi apresentada em uma exposição internacional em Paris em 1882 e imprimia 500 cópias por hora (Figura 2), mas foi considerada pelo governo francês cara demais para ser fabricada em larga escala (RAGHEB, 2011 apud LODI, 2011).
Figura 2 – Coletor parabólico de uma impressora à energia solar (Paris, 1882)
De acordo com JORDAN e IBELE (1956) apud KALOGIROU (2009), o desenvolvimento de novos sistemas teve continuidade nos EUA, onde um engenheiro, Capitão John Ericsson, construiu o primeiro motor a vapor movido diretamente à energia solar. O Capitão construiu ao todo oito sistemas de aquecimento direto de água ou ar como fluidos de trabalho em cilindros-parabólicos (Figura 3).
Figura 3 – Concentrador parabólico de John Ericsson (1870)
O século XX apresentou uma continuidade na evolução do uso da energia solar em concentradores. Em 1901, A. G. Eneas instalou um coletor solar para bombeamento de água em uma fazenda da Califórnia. Segundo KREITH e KREIDER (1978) apud KALOGIROU (2009), o sistema consistia de uma estrutura similar a um guarda-chuva invertido, composto por 1788 espelhos alinhados em sua parte interna. Os raios do sol eram concentrados em uma caldeira localizada em seu ponto focal. Na caldeira, água era vaporizada e utilizada para operar uma centrífuga.
Em 1912, Frank Shuman e Charles Vernon Boys construíram uma planta de bombeamento de água próximo ao Rio Nilo, no Egito (à época a maior do mundo) (uma foto da planta é apresentada na Figura 4). O campo solar da planta ocupava cerca de 1.200m², era composta por cilindros parabólicos de 62m de comprimento e 4,5m de largura, a água era aquecida até virar vapor diretamente nos receptores e operava uma bomba com vazão máxima de 22,7m³ de água por minuto (potência de 75kW) (RAGHEB, 2011 apud LODI, 2011).
Frank Shuman, inventor e empresário americano, é apresentado por RAGHEB (2011) apud LODI (2011) como um visionário da energia solar e pioneiro da geração de energia em larga escala proveniente de energia solar.
Apesar de o projeto ter sido bem sucedido, a planta foi desativada em 1915 em função da 1ª Guerra Mundial, que se apropriou do material da planta. Ademais, após a guerra, grandes descobertas de campos de petróleo no Oriente Médio e na Venezuela, contribuíram para a expansão do setor petrolífero e em paralelo para um esquecimento da energia solar (LODI, 2011).
Figura 4 – Planta de bombeamento de águas do Nilo (Egito, 1913)
Durante a década de 1970, ocorreram o primeiro e o segundo choques do petróleo, em 1973 e 1978 respectivamente (YERGIN e HOBBS, 2005). Essa crise de abastecimento estimulou no mundo o incentivo de diversas fontes alternativas de energia e não por coincidência, o desenvolvimento dos atuais modelos de coletores solares começou nos EUA na década de 1970 coordenados pelo DOE.
A primeira planta solar comercial foi instalada no Novo México em 1979 pelo laboratório Sandia (Sandia National Laboratory), composta por coletores cilindro parabólicos que atingiam temperaturas de até 500°C e utilizada inicialmente para calor de processos industriais (RAGHEB, 2011 apud LODI, 2011).
Os grandes investimentos em P&D no setor na Europa também surgiram na década de 1970. A Plataforma Solar de Almería (PSA), vide Figura 5, pertencente ao CIEMAT (Centro de Investigaciones Energéticas Medioambientales y Tecnológicas) sob o Ministerio de Ciencia e Innovación, é o maior centro de P&D em concentradores solares da Europa e situa-se no Deserto de Tabernas, em Almería, Espanha. A PSA foi fundada em 1977 e em 1981 forneceu pela 1ª vez à rede energia elétrica proveniente de energia solar térmica através do projeto de demonstração chamado SSPS/DCS (Small Solar Power Systems/Distributed Collector System) constituído de dois campos solares de cilindro parabólicos com uma área de absorção de 7.602m². Em 1987, o centro de pesquisa assinou uma parceria com o governo Alemão (RAGHEB, 2011 apud LODI, 2011 e MINISTERIO DE CIENCIA E INNOVACIÓN, 2011).
O CIEMAT participa em parcerias dos consórcios de plantas solares na Espanha, como no caso da PS10[1], a primeira planta de torre de concentração a operar comercialmente no mundo (em 2007) (MINISTERIO DE CIENCIA E INNOVACIÓN, 2011).
Figura 5 – Planta Solar de Almería (PSA)
Em 1982 a companhia Luz International Limited (Luz) desenvolveu coletores solares cilindro parabólicos e foi responsável pela primeira planta comercial de eletricidade do mundo, a SEGS I (de 14MW), que entrou com operação em 1983. Em seguida foram mais oito plantas, as SEGS II a IX, com capacidades de 30 a 80MW cada (LODI, 2011). Entretanto, em 1991 a Luz faliu e as plantas foram revendidas separadamente para diferentes grupos de investidores e todas elas continuam em operação (RAGHEB, 2011 apud LODI, 2011).
Em 1986, o excesso de capacidade ociosa da indústria petrolífera levou ao contra-choque do petróleo, quando o preço do barril de petróleo despencou a menos de 10US$ (MAUGERI, 2004). A abundância de petróleo barato diminuiu o investimento e o ritmo de desenvolvimento de diversas fontes alternativas de energia.
Assim, nos EUA, a década de 1990 apresentou uma queda de investimentos no setor, o modelo federal que incentivou o surgimento das SEGS na Califórnia, o PURPA, entrou em decadência e o cenário nos EUA só voltou a ficar favorável à energia solar com a adoção de novas políticas de incentivo em diversos Estados do país adotadas nos anos 2000, em sua maioria RPS (Renewable Portfolio Standard). No caso da Califórnia, o modelo foi adotado a partir de 2002 (TAYLOR, 2008). O RPS é um modelo que se baseia em um mecanismo econômico no qual é determinada uma cota de energia renovável (ou de uma fonte específica) e assim o equilíbrio de mercado levaria ao preço de equilíbrio (DUTRA, 2007).  
Outro marco para o setor no mundo foram as leis de incentivo espanholas, iniciadas em 1998 a partir do Decreto Real D.R. 2818/1998 que propôs os procedimentos administrativos e as condições para beneficiar plantas de energias renováveis e fontes alternativas, que passaram a receber tarifação diferenciada e acima do valor de mercado (tarifação feed-in) como forma de incentivo (MINISTERIO DE INDUSTRIA Y ENERGÍA, 1998 e GONZÁLEZ, 2008).
O conhecimento adquirido em P&D ao longo destes anos e o aprimoramento da tecnologia, bem como incentivos econômicos, contribuem para que EUA e Espanha sejam hoje em dia os países referências no setor de energia solar térmica de alta potência. (cresesb.cepel.br)