sábado, 30 de abril de 2016

Um cemitério para o lixo atômico

Falta um lugar seguro para manter longe do homem os resíduos das usinas nucleares. É uma questão de vida ou morte: eles podem continuar radioativos durante milhões de anos.
Dentro de uma piscina cheia de água, numa instalação anexa à usina nuclear Angra I, no litoral sul do Estado do Rio de Janeiro, 15 toneladas de resíduos radioativos—o lixo venenoso que resulta da própria operação do reator—repousam em tambores blindados. Parece muito, mas é uma insignificância perto das 20.000 toneladas produzidas pelos reatores nucleares em funcionamento nos Estados Unidos, armazenados em tanques semelhantes. Essa, porém, é a única diferença. Por- que, no mundo inteiro, os cientistas nucleares enfrentam há muito tempo o mesmo desafio: encontrar quanto antes uma maneira definitiva de dispor do lixo atômico, principalmente do chamado material de alta atividade, proveniente do reprocessamento de elementos combustíveis, capaz de emitir radiações letais para os seres vivos durante milhares ou até milhões de anos—uma eternidade, para todos os efeitos práticos. O fato de não se ter encontrado ainda a solução dessa charada, 36 anos depois da entrada em funcionamento da primeira usina nuclear destinada à produção de eletricidade, na União Soviética, é um dos dois principais motivos pelos quais muita gente gostaria de banir tais reatores da face da Terra; o outro é o eterno risco de tragédias, como a da usina de Chernobyl, também na URSS, em 1986. Sendo pouquíssimo provável que os homens decidam dispensar os benefícios do uso pacífico da fissão nuclear—para não falar dos fins militares—, os cientistas correm atrás, senão da fórmula ideal, ao menos de uma solução satisfatória para o problema do lixo. Até porque, mesmo se fosse possível aposentar por um passe de mágica os 431 reatores comerciais ligados no mundo, seus resíduos não se evaporariam. E há 123 outras usinas em construção e 37 em fase de projeto.
Nos reatores movidos a urânio, um átomo desse elemento é bombardeado por nêutrons. Seu núcleo então se divide, liberando enorme quantidade de energia, raios gama e mais dois ou três nêutrons que irão bombardear outro átomo e assim por diante. Dessa reação em cadeia brotam novas substâncias radioativas, como o plutônio, que serve para fazer bombas ou para alimentar outros tipos de reatores, e não existe na natureza. O processo gera ao todo mais de 1.000 substâncias altamente radioativas. O que não é reaproveitado no próprio reator ou para outras finalidades é o lixo atômico.
A piscina em Angra I foi projetada para acolher resíduos formados em oito anos de operação. Mas, na realidade, as 15 toneladas ali depositadas equivalem a um ano de funcionamento da usina brasileira, inaugurada em 1982. Mais lixo não se formou pela simples razão de que a usina ficou fora do ar a maior parte do tempo por causa dos intermitentes defeitos que acabaram lhe valendo o apelido vagalume, que acende e apaga, acende e apaga. "Sobra espaço na piscina, mas não devemos esperar sua capacidade se esgotar para então agir", recomenda o físico carioca Luís Pinguelli Rosa, que integra a comissão organizada na Sociedade Brasileira de Física para estudar o assunto. Pinguelli é um dos maiores incentivadores da ideia de que o governo junte em volta de uma mesa os melhores nomes do ramo para que digam o que se pode fazer a respeito—e logo.
Os cientistas têm recomendado uma variedade de alternativas. Na França, por exemplo, 20.000 m3 de lixo radioativo estão aprisionados nos armazéns de concreto da instalação nuclear de La Hague, no noroeste do país, aguardando destino definitivo. Com planos de enterrar o material de grande radioatividade, os pesquisadores franceses investigam quatro tipos de sepulturas: solos de xisto, de sal, de granito e de argila. Mesmo que uma dessas formações rochosas tenha as características ideais—algo que será confirmado apenas em 1997—, o túmulo adequado só ficaria pronto dez anos depois. Enquanto isso, as centrais nucleares francesas, responsáveis por 70% da eletricidade gerada no país, lançam cerca de 40 m3 por ano de material radioativo, ou de radiação ionizante, como dizem os cientistas. "O Brasil não está numa situação melhor, porque aqui nem se decidiu onde depositar os rejeitos de baixa atividade", critica Pinguelli.
De fato, 98% do lixo radioativo brasileiro compõe-se de rejeitos que precisam ficar isolados do contato humano durante dois ou três séculos apenas. Isso por causa do fenômeno que os físicos chamam meia-vida: o tempo necessário para que a radioatividade de uma substância caia pela metade. O césio- 137, por exemplo, material usado em equipamentos de radioterapia e que contaminou uma série de pessoas em Goiânia, em 1987, tem uma meia vida de trinta anos. Ou seja, passado esse período, restará metade da radiação inicial: depois de mais trinta anos, um quarto; após outros trinta, um oitavo; e assim por diante. Além de provir de aparelhos desativados, que mexeram com material nuclear, e da água usada para controlar a temperatura nos reatores—que tende a ficar contaminada por partículas radioativas—, o lixo de baixa e média atividade é também engordado por materiais comuns, como luvas e aventais, usados na manipulação de substâncias radioativas.
Segundo o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), do governo federal, cerca de 10.000 brasileiros lidam diariamente com elementos radioativos. "Basta que uma gota dessas substâncias respingue na roupa e o tecido passa a ser pequena fonte de radiação", informa a física chinesa, naturalizada brasileira, Cecil Chow Robilotta, da USP. Segundo ela, embora a energia nuclear seja cada vez mais usada pela Medicina para diagnosticar ou tratar doenças, a tendência é diminuir o volume do lixo radioativo dos hospitais. "Os novos exames clínicos usam substâncias que emitem radiação durante um curto período, como o tecnécio-99m, cuja meia-vida é de seis horas apenas", explica Cecil, dentro da "sala quente" do Instituto do Coracão em São Paulo, onde assessora médicos no serviço de radioisótopos. Ali, cestos de lixo revestidos de chumbo e tambores de resfriamento guardam material contaminado—aventais, seringas, pinças, chumaços de algodão—em processo natural de decaimento, a diminuição gradativa da radioatividade.
Quando a meia-vida é maior, porém, os rejeitos tanto de hospitais como de indústrias seguem para armazéns especiais. No Estado de São Paulo, o depósito fica na Cidade Universitária, na zona oeste da capital, no lugar onde funciona o IPEN. Ali se acumulavam, até o último mês de julho, 104,9 toneladas de lixo, distribuído em 615 tambores. Antes de ser armazenado, esse volume passou por um ritual, praticamente idêntico nos centros de tratamento de rejeitos radioativos do mundo inteiro. "O primeiro passo se assemelha a uma triagem, para extrair os resíduos, ou seja, a parte do lixo que ainda pode ser aproveitada", descreve o físico nuclear Achilles Suarez, responsável pela equipe que pesquisa rejeitos radioativos no IPEN. "As bombas de césio-137, quando não se prestam mais para tratar tumores, ainda podem ser aproveitadas em aparelhos de gamagrafia, que servem para fazer diagnósticos", exemplifica.
A consequência mais óbvia dessa, reciclagem é que o volume do lixo diminui. Também para reduzir o volume, aquilo que de fato é rejeito deve ser ainda compactado, sempre que possível. "Não faz sentido guardar 1 litro inteiro de água, se apenas poucos mililitros estão contaminados", argumenta ele. "Por isso, criamos uma espécie de concentrado radioativo." O fluído em seguida é misturado a algum tipo de sólido, como cimento ou betume, para evitar toda e qualquer dispersão durante a manipulação do material. Em outros locais, os rejeitos líquidos de alta atividade são transformados em vidro, também para impedir derramamentos. Quando o rejeito é sólido, muitas vezes é possível prensá-lo. Assim. um tambor com 0,5 metro de altura, recheado de lixo atômico, termina compactado numa pastilha de cerca de 10 centímetros de altura.
Quando Achilles Suarez entrou na faculdade, em 1957, um veterano pendurou- lhe no pescoço um cartaz: "Hoje, estudante de Física, amanhã lixo atômico". O trote foi profético: depois de ter trabalhado mais de dezesseis anos na área de proteção radiológica do próprio IPEN, o físico acabou assumindo o setor de rejeitos em 1983. No fundo, as duas áreas têm a mesma finalidade: interpor o maior número possível de barreiras entre a fonte de radiação e o homem; A rigor, qualquer corpo serve de obstáculo para a radiação — o problema é que, conforme a fonte radioativa, o obstáculo pode se tornar menos ou mais eficiente. Quando, na reação de fissão, um átomo é bombardeado até romper o núcleo, a energia pode ser liberada por quatro tipos de radiação —alfa, beta, gama e ainda de nêutrons —que devem ser bloqueados por materiais com características diferentes. "Se o lixo for enterrado sem maiores informações sobre a sua radiação, poderá no futuro distante ficar sob os pés de quem não terá a devida noção do perigo", imagina o físico Giorgio Moscatti, da USP.
Os cientistas do setor se preocupam não só com qual seria o melhor cemitério para o lixo atômico, mas também com a necessidade de ser ele mantido sob controle constante. Por isso, não apreciam particularmente a alternativa clássica de jogar os rejeitos no mar. "Nunca se saberá direito como a embalagem estará resistindo debaixo d’água, nem se poderá ter certeza de que os tambores não acabarão flutuando até alcançar uma praia", adverte o físico Vito Vanin, da USP. O mar, na verdade, foi o primeiro lixão radioativo: o Mediterrâneo recebeu 50 toneladas de rejeitos produzidos na Itália; as águas do Atlântico engoliram nada menos de 126.000 toneladas de tambores repletos de lixo dos reatores de seis outros países europeus. Os Estados Unidos despejaram no Oceano Pacífico 370 m3 (os países nem sempre adotam as mesmas unidades de medida) de material radioativo. A título de comparação, uma piscina olímpica tem 1.890 m3.
O empesteamento só cessou em 1986, quando um acordo internacional determinou que o mar só poderia ser usado quando ficasse provado que a água é capaz de diluir os elementos radioativos, sem prejuízo para a fauna e a flora marítimas. O estudo a respeito, a cargo de pesquisadores americanos, ingleses e japoneses, deverá estar pronto no início do próximo ano. É claro que o terreno ideal para a construção de um depósito subterrâneo de lixo atômico precisa ser estável—um terremoto seria capaz de rasgar os tambores recheados de matéria radioativa. Mas a impermeabilidade da rocha é ainda mais importante. Caso partículas ionizantes escapem pela embalagem do lixo, elas podem levar até 1 milhão de anos para alcançar a superfície. Já um lençol de água poderia trazer o mal à tona em alguns meses, abrindo-lhe as portas para a cadeia alimentar dos seres vivos.
"O sal é extremamente impermeável, por isso os alemães fazem bem ao depositar o lixo em minas de sal desativadas. Só que a rocha é muito plástica e talvez não suporte pesos grandes", pondera o geólogo gaúcho Gérson Dornelles, que organiza na Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) a busca de um solo adequado para enterrar o lixo nuclear brasileiro. "O granito, muito mais resistente, tem a desvantagem de possuir fissuras que facilitam o escoamento de água."
A CNEN já apontou duzentas áreas de interesse para depósitos de lixo de baixa e média atividade no país. A maioria se localiza em solos argilosos, com camadas horizontais que dificultam a migração de partículas radioativas rumo à superfície, como em São Fidélis, no Rio de Janeiro, e Trindade, em Goiás. A decisão, quando vier, terá provavelmente a forma de uma lei votada pelo Congresso a partir de um projeto encaminhado pelo Executivo. Está prevista para este mês a entrega à Presidência da República de uma avaliação, elaborada por uma equipe da Secretaria Especial do Meio Ambiente, de projetos já existentes sobre rejeitos radioativos, como o de autoria do governo anterior, de junho de 1989, que já recebeu dois pareceres negativos de comissões da Câmara dos Deputados. Enquanto isso, em tambores deixados a céu aberto, cobertos precariamente e que já começam a se estragar pela corrosão, 3.460 m3 de lixo atômico aguardavam há três anos em Abadia, a 20 quilômetros de Goiânia, a decisão de Brasília sobre o seu destino.
Esse lixo se originou em um ferro-velho, quando foi violada uma cápsula de césio-137 de não mais de 3 cm3, o tamanho de uma borracha de lápis, matando quatro pessoas e contaminando mais de duzentas outras. "É preciso criar um depósito, que eu chamaria de intermediário, para abrigar os rejeitos gerados em acidentes como o de Goiânia", alerta o físico José Goldemberg, secretário de Ciência e Tecnologia do governo federal. "Na época do acidente, cientistas sugeriram levar os rejeitos para a Serra do Cachimbo, no Pará, onde já existem buracos de 300 metros de profundidade, recobertos de concreto. Seria a solução perfeita", lembra ele. "Mas um grupo de índios fez uma manifestação diante do Palácio do Planalto e o governo resolveu voltar atrás. Um absurdo. Enterrado ali, o lixo não ofereceria nenhum risco."
Para saber:
A sujeira nossa de cada dia - (SUPER número 7, ano 7)
Agentes da desordem
No organismo humano, a cada minuto, cerca de
250 000 átomos se desintegram, emitindo radiação. Além disso, uma pessoa recebe do ambiente uma média de 100 milirems (mR) por ano— rem (de Roentgen equivalent man) é a unidade usada para medir a dose de radioatividade absorvida pelo homem. Uma chapa de pulmão expõe o paciente, em média, a 17 mR. Nas células, a radiação produz os chamados radicais livres, moléculas que tumultuam as funções orgânicas, ao reagir com tudo que encontram pela frente. A energia da radioatividade também pode perturbar o DNA, a molécula da hereditariedade, que programa o trabalho das células.
Estas, então, correm o risco de se tornarem cancerosas ou, no caso da célula sexual, de transmitir anomalias aos descendentes. De modo geral o organismo lida satisfatoriamente com esses agentes da desordem. "Já nos acidentes atômicos, a enorme radiação provoca mais estragos do que o organismo consegue corrigir", explica a física paulista Emico Okuno, da Universidade de São Paulo. Quando esse material radioativo penetra no organismo, causa nas células estragos 25 vezes maiores e transforma a própria vítima em fonte de radiação.
Barreiras sob medida
As embalagens para lixo atômico combinam materiais diferentes porque existem radiações e radiações. Um núcleo radioativo está sobrecarregado de energia, da qual tenta se livrar, emitindo, por exemplo, partículas idêntica ao núcleo do gás hélio constituído por dois prótons e formam as partículas alfa. São tão pesadas que se deslocam em linha reta, trombando com a primeira molécula que encontrarem pela frente: assim, uma folha de papel ou mesmo uma peça de roupa podem barrá-las. Mas, para liberar energia, o átomo também pode emitir elétrons. É a radiação beta. Bem mais leves, os elétrons caminham zanzando e se desviam de eventuais obstáculos: para barrar os raios beta é preciso, no mínimo, uma folha de alumínio; na pele, dependendo da energia, eles penetram até 0,5 centímetro.
Em busca da estabilidade, um átomo emite ainda ondas eletromagnéticas um milhão de vezes mais energéticas do que a luz, os raios gama, capazes de atravessar o corpo humano; apenas materiais muito densos, como aço e chumbo, conseguem segurá-los. Finalmente, existem os nêutrons. Embora muito penetrantes, reagem com materiais ricos em hidrogênio, sendo barrados pela água, pela parafina ou pelo grafite.
Os lixões de cada um
Como vários países tentam livrar-se dos resíduos de suas instalações nucleares:
Estados Unidos - Até 1982, os rejeitos eram depositados na superfície ou jogados ao mar. Em 1983, o lixo de alta atividade foi levado para uma mina de sal no Estado do Novo México, desativada em seguida por falta de segurança. Hoje esse material está guardado no deserto de Nevada, enquanto 600 000 metros cúbicos de rejeitos de meia-vida curta se encontram espalhados por diversos depósitos.
União Soviética - Existem 35 depósitos superficiais de cimento revestido com chumbo.
Inglaterra - Desde 1986, com a proibição de lançar o lixo ao mar, procura-se um lugar para enterrar o lixo de alta atividade. Para os rejeitos de baixa atividade, construíram-se depósitos de cimento próximos a usina nuclear de Windscale Sellafield, no nordeste do país.
França - Todo o lixo está nos armazéns da usina de La Hague, no noroeste do país; estuda-se o solo de quatro regiões para construir até 2007 um depósito de grande profundidade.
Alemanha - O material de alta atividade é tratado na França e depois transportado para minas de sal no norte do país. Só os rejeitos da usina nuclear de Niederaichbach, desativada em 1983, foram enterrados a 1.200 metros de profundidade, numa mina de ferro desativada.
Suécia - Em 1988, inaugurou o primeiro depositário subterrâneo do mundo, a 140 quilômetros de Estocolmo, um conjunto de câmaras construídas em rochas de granito, com paredes revestidas de cimento e chumbo.
Japão - No ano passado, cientistas começaram a estudar a possibilidade de construir depósitos no fundo do mar, aproveitando o fato de que os sedimentos marinhos são muito pouco permeáveis. (abril)

Material radioativo em oceanos

Material radioativo foi encontrado em oceanos na Terra.
As sobras radioativas de recentes explosões de estrelas perto de terra foram encontradas no espaço para a primeira vez. O material raro, chamado de ferro -60 foi detectado por uma sonda da NASA ao longo dos últimos 17 anos, de acordo com um novo estudo publicado hoje na revista Science. Ferro – 60 é conhecido por formar explosões gigantes que ocorrem quando estrelas morrem . A presença do metal do espaço ao redor da Terra contribui para a teoria de que várias supernovas ocorreram relativamente perto do nosso sistema solar nos últimos milhões de anos, chovendo ferro -60 na Terra.
Ferro -60 foi visto no fundo de crostas dos oceanos na Terra. Apenas recentemente, as amostras de solo lunar trazidas pelos astronautas da Apollo foram encontradas para conter a substância radioativa. Mas a sua presença em nosso sistema planetário tem confundido os cientistas há muito tempo. Ferro – 60 tem uma meia – vida de 2,6 milhões de anos – a duração do tempo que leva para metade de uma amostra do material a deterioração. Isso significa que o metal não poderia ter sido formado durante os primeiros anos da Terra, mas sim vindo de uma fonte diferente: o espaço.
Os pesquisadores acreditam que quando uma estrela fica sem combustível, seu núcleo entra em colapso e produz uma variedade de elementos diferentes – incluindo o ferro -60 radioativo. Estes materiais, em seguida, atiram para fora em altas velocidades quando a estrela explode no universo. Dois estudos recentes publicados na revista Nature têm especulado sobre as supernovas que podem ser responsáveis pela reserva de ferro -60 da Terra. “Tudo se encaixa muito bem”, disse o autor do estudo Martin Israel, físico da Universidade de Washington em St. Louis.
O metal foi detectado pela sonda da NASA ACE lançada há 19 anos para medir partículas solares e raios cósmicos de alta velocidade que viajam através do espaço. Martin e seus colegas vasculharam os últimos 17 anos de dados da ACE, procurando evidências de ferro-60. (yahoo)

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Geração doméstica de energia deve decolar em 2016

Energia solar: resolução da Aneel vai estimular geração doméstica
Aprovada no fim de novembro, uma resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) deverá ajudar a deslanchar a geração domiciliar de energia no país. Pelo texto, a partir de março de 2016, residências, comércios e indústrias poderão transferir quantias fixas da energia gerada em casa, de fontes como painéis solares, para outros consumidores.
Em troca, receberão créditos na conta de luz a ser usados por cinco anos. Até agora os donos dessas miniusinas podiam colocar à disposição apenas a energia excedente ao próprio consumo. Pela nova regra, eles poderão transferir energia para terceiros, como vizinhos e parentes, o que deverá estimular o mercado.
Pelas contas da Aneel, 30 bilhões de reais deverão ser investidos na microgeração até 2024. O otimismo reflete experiências como a da Austrália. Desde 2009, quando medidas semelhantes foram adotadas, a produção doméstica de energia saltou de 29 para 3 800 megawatts por ano — o suficiente para abastecer 8 milhões de pessoas.
(abril)

Cadeia produtiva da energia solar precisa de incentivos

Especialistas dizem que cadeia produtiva da energia solar precisa de incentivos
Para atender a demanda por energia brasileira é importante a ampliação das energias renováveis na matriz energética do país. A energia solar fotovoltaica pode ser uma boa opção. Mas para que esse setor se desenvolva no Brasil é importante a ampliação de políticas industriais no ponto de vista de instalação de sistemas, mas também na cadeia produtiva.
Para o presidente-executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Abesolar), Rodrigo Lopes Sauaia os fabricantes que querem se estabelecer no Brasil não têm condições de competir em termos de preço com o produto importado.
Apenas 20% dos insumos e maquinários estão incluídos no Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores e Displays (PADIS). "O Brasil tem que ampliar e incluir todos os anexos dos componentes faltantes no programa, visando a redução da carga tributária para os fabricantes nacionais", afirma.
Assim, o equipamento produzido no Brasil sem o apoio de uma política industrial é muito mais caro que o equipamento internacional por causa da excessiva carga tributária incidente sobre os insumos e maquinários. "No Brasil, a carga tributária da matéria-prima é de 40% a 50% mais cara do que fora do país, principalmente em comparação com a Ásia", revela.
O sócio-diretor da Neosolar Energia, Raphael Pintao concorda com a Abesolar. "É muito complicado para um fabricante se estabelecer no Brasil. A carga tributária dificulta a competição com fabricantes estrangeiros, especialmente os chineses. Resumindo, o custo de fabricar no Brasil é mesmo mais alto, porém em alguns casos pode ser compensado pelo financiamento mais barato, como do BNDES", explica.
O gargalo da indústria nacional são os módulos e a células fotovoltaicas. Para Rafael, o Padis é positivo, porém não é suficiente. "O reflexo é que pouco se vê de concreto em termos de fabricação nacional. Há muitos anúncios de fábricas, mas nada de concreto, ainda que este cenário esteja mudando aos poucos, afinal até dois anos atrás também havia muito pouca demanda se compararmos com o cenário atual", explica.
José Renato Colaferro, Diretor de Operações da Blue Sol - Energia Solar pontua que o Padis possibilita a diminuição da carga tributária, principalmente para os fabricantes de equipamentos de energia solar fotovoltaica, provocando um efeito benéfico as empresas, impactando na diminuição dos custos de matéria-prima e, consequentemente, torna os sistemas solares mais baratos, o que por sua vez torna os sistemas mais atrativos aos consumidores finais.
Para ele apesar de haver carga tributária alta, o Brasil já apresenta os fundamentos necessários para um mercado de energia solar relevante. "Temos, por exemplo, alta disponibilidade solar em todo território nacional, tarifas elétricas altas, que melhoram o retorno sobre investimento em um sistema fotovoltaico e um mercado potencial de dezenas de milhões de consumidores. O país também precisa de geração distribuída de energia, dado os atrasos nas linhas de transmissão e a tendência a diminuição de grandes obras hidroelétricas no futuro, substituídas pela geração mais próxima do consumo e descentralizada", pontua.
Outra lei que beneficia em parte essa produção é a Lei da Informática, que concede incentivos fiscais para empresas do setor de tecnologia, enquadrando cabos, conectores, eletrônicos e inversores.
Para todos os especialistas ainda há muito a ser feito para melhorar o ambiente da energia fotovoltaica no Brasil. Falta a adesão por parte dos estados ao convênio do Confaz, que isenta o ICMS sobre a exportação de energia. Apenas Goiás, Pernambuco e São Paulo assinaram esse acordo. Também podem ser criados mecanismos que melhorem a atratividade do solar do ponto de vista dos grandes consumidores de energia, para os quais o retorno hoje ainda é menor do que para clientes residenciais. "A criação de melhores linhas de financiamento para a energia solar por parte de instituições financeiras também teria um impacto muito positivo", explica Colaferro.
Energia mais barata
Para implantar um sistema de energia fotovoltaica em uma residência de tamanho médio, com quatro moradores, com um consumo médio por mês de 200 a 250 KW/h por mês, o investimento varia de R$ 5 a 25 mil. O período de pagamento do investimento em redução da conta de energia será de seis a, no máximo, 12 anos.
E para atrair mais micro produtores entraram em vigor em março novas regras. A Resolução Normativa 687/2015, da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) que atualiza a REN 482/2012 é um marco do setor.
Uma dos destaques é a autorização de que vizinhos e condôminos podem gerar e compartilhar a própria energia. Além disso, a Aneel aumentou os limites de potência instalada. O teto para a modalidade de microgeração foi estabelecido em 75 kW. Os microgeradores ainda estão autorizados a utilizar a energia em um local diferente daquele onde ela é produzida.
Com relação aos procedimentos necessários para se conectar à rede da distribuidora, a Aneel estabeleceu regras que simplificam o processo. Assim, foram instituídos formulários padrão para realização da solicitação de acesso pelo consumidor e o prazo total para a distribuidora conectar usinas de até 75 kW, que era de 82 dias, foi reduzido para 34 dias.
De acordo com as novas regras, o prazo de validade dos créditos na conta de luz passou de 36 para 60 meses, sendo que eles podem também ser usados para abater o consumo de unidades consumidoras do mesmo titular situadas em outro local, desde que na área de atendimento de uma mesma distribuidora. (udop)

terça-feira, 26 de abril de 2016

O Japão triplicará produção de energia eólica

Japão irá triplicar produção de energia eólica até 2020.
O 1º projeto é uma fábrica de cerca de 40.000 kW na prefeitura de Akita, no norte do Japão, cuja construção deve começar em 2016.
O Japão vai triplicar a capacidade de produção de energia eólica (gerada pelos ventos) até 2020, segundo estimativa publicada pelo diário económico Nikkei, com base nos planos de investimentos das principais empresas do setor.
O jornal adianta que a Eurus Energy Holdings e a J-Power pretendem investir 60 bilhões de ienes (€478 milhões) em novas instalações nos próximos cinco anos.
O Japão vai triplicar a capacidade de produção de energia eólica (gerada pelos ventos) até 2020
A Eurus, uma joint-venture entre a corretora Toyota Tsusho e a operadora da Central Nuclear de Fukushima, a Tokyo Electric Power (Tepco), planeja instalar 200.000 kW durante esse período, o que elevaria sua capacidade para até 850.000 kW.
O primeiro projeto é uma fábrica de cerca de 40 mil kW na prefeitura de Akita, no Norte do Japão, cuja construção deve começar ainda este ano.
Energia eólica é o futuro?
A J-Power também quer um aumento em torno de 200.000 kW, até 600.000, a partir de novos centros de geração de energia em Hokkaido (Norte) e Ehime (Sul).
O jornal Nikkei estima que esses projetos e outros de menor escala vão contribuir para aumentar a capacidade de produção de energia eólica do Japão dos atuais 3 milhões de kW para até 10 milhões, o que equivaleria a uma dezena de centrais nucleares.
O governo japonês propôs aumentar a proporção da eletricidade gerada por meio de energias renováveis dos atuais 3% para 15% até 2030.
Apesar das vantagens da eólica em relação a outras fontes renováveis, esse tipo de energia pouco avançou nos últimos anos devido aos procedimentos administrativos e estudos de impacto ambiental exigidos para novas instalações.
Desse modo, a energia eólica atende apenas a 0,5% das necessidades de eletricidade do Japão, valor muito abaixo de países como a Alemanha (9,6%), os Estados Unidos (4,4%) ou a China (2,8%). (correiodobrasil)

Força eólica do Brasil avalia investir em fonte solar

Joint Venture entre Iberdrola e Neoenergia aguarda por melhores preços e estabelecimento de cadeia produtiva nacional para viabilizar seus projetos no país.
A joint venture Força Eólica do Brasil, uma sociedade entre a espanhola Iberdrola e a brasileira Neoenergia, tem planos para entrar na geração solar. Ainda não há uma previsão de quando começarão os aportes nesse segmento, mas já há projetos no foco da empresa, entre eles um de 120 MW na região Sudeste. Por enquanto, a companhia aguarda a melhoria dos preços nos leilões ao mesmo tempo em que busca áreas de interesse para implantar os empreendimentos e realiza estudos com a meta de avaliar a viabilidade desses projetos no país.
Segundo a diretora da geradora, Laura Porto, o modelo de implantação desse tipo de geração não inclui a realização de aportes em parques híbridos, que unem a solar fotovoltaica e a eólica. Essa posição é assumida ao avaliar que as duas fontes possuem ponto de eficiência diferente em um mesmo lugar. “Não se consegue o máximo de ambas. O normal é existir terrenos muito bons para a solar e que não são tão bons para a eólica e o contrário também”, exemplificou.
Um dos pontos de atenção da empresa é o caminho do desenvolvimento da cadeia fornecedora no país. O mercado solar ainda está em formação no Brasil e isso pode trazer riscos como o cambial ou de um fabricante que afirmou estar interessado em aportar recursos por aqui, mas que por algum motivo desiste de instalar sua fábrica para atender o mercado nacional. Isso pode impactar no custo final do projeto, pois pode ser que não se consiga obter equipamentos financiáveis e consequentemente há a necessidade de recorrer a financiamentos muito mais caros que o ofertado pelo BNDES.
“Estamos atentos para saber quais fabricantes chegarão por aqui. Isso é importante para fazer as contas”, comentou Laura Porto. Até o momento a diretora disse que há planos para um projeto de 120 MW de capacidade no Sudeste. E cita possibilidades nos estados de São Paulo e Minas Gerais, locais que apresentam áreas com bastante insolação e temperaturas amenas, importantes para a obtenção de maior eficiência da fonte solar em projetos de geração centralizada. (canalenergia)

Eólica bate novo recorde de geração e de potência instalada em 2015

Eólica bate novo recorde de geração e de potência instalada em 2015
Fator de capacidade em agosto ficou em 52% e pico de geração instantânea ocorreu em 02/05/15 com 10% de toda energia injetada no SIN.
O avanço da energia eólica continua a plena carga e com novos recordes de geração registrados em 2015. Somente no ano passado o crescimento foi de 74,8% ante o reportado em 2014. Foram produzidos 21,37 TWh ante os 12,22 TWh do período anterior. A geração média do ano passado foi de 2.433,56 MW médios e o recorde foi alcançado em agosto, com 3.382,03 MW médios. Os dados são da Associação Brasileira de Energia Eólica e farão parte do boletim anual que a entidade divulga.
Segundo a avaliação da ABEEólica, em termos de representatividade e abastecimento, esse montante equivale a 4% na média de toda a geração injetada no SIN. Sendo que o recorde mensal elevou essa participação a 6% e, em termos de geração instantânea, 10% do total, registrados em 02/11 com 4.957 MW. Somente no Nordeste em 02/11 a eólica representou 45% da carga desse subsistema. Já em 13 de novembro, apenas no Sul a geração alcançou 1.340 MW, o equivalente a 14,3% da carga da região. Os quatro estados com maior geração no período de 2015 foram Rio Grande do Norte com 7,18 TWh, Ceará com 4,62 TWh, Bahia com 4,01 TWh e Rio Grande do Sul com 3,33 TWh.
Pela primeira vez desde que a fonte entrou na matriz elétrica nacional foram instaladas mais de 100 usinas. A entidade reporta que no ano passado o Brasil ganhou 111 parques de geração eólicos Esses empreendimentos somaram 2.753,79 MW de potência ao parque de geração nacional. No total, o país terminou 2015 com 349 usinas no total, representando 8.725,88 MW de potência eólica instalada, um crescimento de 46% em relação a dezembro de 2014.
O fator de capacidade atingiu valor médio 38,1% em 2015. Dessa forma, manteve a média de 2014. De acordo com o documento da entidade, ao se considerar somente os parques eólicos participantes dos leilões, o fator de capacidade médio foi de 39,9% em 2015, tendo atingindo pico de 55% em agosto. Já em termos de picos de geração instantânea, o fator de capacidade atingiu patamares de 85% e de 83% nos casos de recordes de geração no subsistema NE e no SIN. Os estados que apresentaram os maiores indicadores foram a Bahia com 46%, Pernambuco com 44%, Piauí com 43,8% e Ceará com 42,7%. Também nesse estado é que foi registrado o maior valor médio mensal ao atingir 66,1%.
Com esses números a ABEEólica calculou que o total das emissões evitadas em 2015 foi de 10,42 milhões de toneladas de CO2, o equivalente a cerca de 7 milhões de automóveis durante todo o período, considerando os índices apresentados em relatório de 2014 da Cetesb, a companhia ambiental do estado de São Paulo. (canalenergia)

Eólicas na América Latina vão ultrapassar as da América do Norte

Eólica: instalações anuais na América Latina vão ultrapassar as da América do Norte em 2025
Brasil continuará a liderar expansão da fonte na AL, segundo a consultoria internacional Make.
A consultoria internacional Make fez uma atualização das previsões de instalações de energia eólica no mundo para o período até 2025. Segundo o relatório da empresa, ao fim do horizonte, as instalações anuais da América Latina irão ultrapassar as da América do Norte. O Brasil continuará a liderar a expansão eólica na América Latina, mesmo com os problemas políticos e econômicos e o México se tornará o terceiro maior mercado das Américas.
No ano passado, a China excedeu as expectativas para instalações eólicas tendo relatado uma capacidade conectada a rede de 32,9 GW. Segundo a consultoria, a corrida para implantar projetos eólicos na China em 2015 se deve ao fim do prazo de incentivos oferecidos à fonte. No curto prazo, de acordo com a Make, o crescimento da fonte será em grande parte impulsionado por um encerramento de políticas de incentivos em países como Alemanha, Estados Unidos e China.
Os mercados europeus permanecem com incertezas regulatórias, tanto no curto prazo, quanto após 2020. Já os mercados do Oriente Médio e da África continuam a se desenvolver. A China, mesmo com um ritmo menor, continuará sendo o país com o maior número de instalações no período. (canalenergia)

domingo, 24 de abril de 2016

Qual é o futuro da política energética brasileira?

calderas-de-gas-calentadores.com
"O próprio governo se mantem cego à perspectiva de contribuir de uma forma evidente para a melhoria da eficiência no consumo de energia no nosso país", afirma o pesquisador.
“A atual crise política por que estamos passando deve também levar a uma reflexão sobre o futuro da política energética no país”, alerta Célio Bermann em entrevista à IHU On-Line. Pessimista diante da possibilidade de haver mudanças na política energética brasileira nos próximos anos, o professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo afirma que o Plano Decenal de Energia está “deslocado” da realidade, mas “a tarefa governamental tem sido a de buscar, a todo custo, a garantia para a oferta de uma demanda que, na crise atual, está na verdade diminuindo”.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone, Bermann critica a referência de segurança energética adotada pelos últimos governos, porque ela favorece “que os interesses empresariais se sobressaiam”, e sugere, em contrapartida, que se adote o conceito de eficiência energética, que tem como fundamento “utilizar a energia disponível, tanto a eletricidade quanto os combustíveis, de forma mais eficiente, porque hoje o consumo se dá de forma extremamente ineficiente: se gasta muito mais energia do que aquela que poderia ser consumida para satisfazer as necessidades energéticas”. Para isso, pontua, seria necessária uma mudança nas políticas industrial e energética, porque o modo como elas se “estabeleceram em nosso país é um exemplo de falta de eficiência energética”.
Célio Bermann é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo – USP, mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. É professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP.
IHU On-Line - O senhor sempre fez muitas críticas à forma como a gestão do setor energético tem sido feita no Brasil nos últimos anos. Pode nos atualizar acerca de quais são hoje os grandes gargalos do setor energético brasileiro?
Célio Bermann - De uma forma geral, tanto no Brasil como no panorama internacional, a condição preconizada em todos os planos de energia é a segurança energética. Busca-se, portanto, tanto no sistema capitalista quanto nas experiências comunistas mal sucedidas no século XX, produzir mais energia para trazer maior segurança.
Segurança energética
Essa posição, inclusive, é preconizada pela Agência Internacional de Energia, conforme aponta um documento de 2014, no qual a Agência aponta a segurança energética como a forma pela qual os investimentos na ampliação da oferta de energia devem seguir a linha do desenvolvimento econômico. Portanto, essa definição de segurança energética reproduz as bases do sistema capitalista, no sentido de procurar garantir que os recursos naturais e as forças produtivas sejam alocados e organizados com vistas à reprodução ampliada e à máxima remuneração do capital.
Do mesmo modo, no Brasil os investimentos na ampliação da oferta energética estão alinhados com o desenvolvimento econômico e são apresentados anualmente nos Planos Decenais de expansão de energia, elaborados pela Empresa de Pesquisa Energética, subordinada ao Ministério de Minas e Energia. Assim, como as previsões de crescimento do Produto Interno Bruto – PIB são superdimensionadas, a demanda energética prevista também acaba sendo superdimensionada.
No caso da eletricidade, a relação entre o crescimento da demanda por eletricidade e o crescimento do PIB é da ordem de 1,3, isto é, para cada unidade de crescimento do PIB são necessárias 1,3 unidades de energia elétrica. Isso acontece em função das características do perfil industrial brasileiro, dado que cerca de 50% da demanda por eletricidade provém do setor industrial e a metade desta demanda (ou 25%) provém do aumento da capacidade de produção das assim denominadas indústrias eletrointensivas.
Essa situação configura o panorama energético brasileiro e esse panorama ressalta a crescente demanda por eletricidade no país, que encontra, na opinião pública, uma aceitação generalizada. Isso acontece porque naturalmente ninguém quer que falte luz ou que ocorram apagões, pois a disponibilidade de energia elétrica é absolutamente vital para a população brasileira, para que ela possa usufruir das benesses que os serviços energéticos proporcionam: força motriz para o funcionamento dos equipamentos eletrodomésticos, iluminação, refrigeração, entre outros. Esse sentimento de que não pode faltar energia é corroborado pela percepção de que o governo, ao ampliar a oferta de eletricidade, está assegurando a energia para o desenvolvimento do país. Isso explica porque a população brasileira, de modo geral, não se opõe à construção de hidrelétricas na Amazônia, porque, segundo a propaganda do governo, são elas necessárias para o alegado desenvolvimento do país.
Esse é o contexto em que estamos vivendo e, é preciso lembrar, sempre vivemos nos últimos tempos. Sempre existiu o que podemos chamar de uma amálgama de interesses empresariais na produção hidrelétrica, que são apresentados de forma recorrente nos diversos documentos governamentais.
"Sempre existiu o que podemos chamar de uma amálgama de interesses empresariais na produção hidrelétrica, que são apresentados de forma recorrente nos diversos documentos governamentais"
IHU On-Line - Então, segundo o que o senhor diz, não há necessidade de ampliar a oferta energética no Brasil? Que conceito sugere para substituir o da segurança energética?
Célio Bermann  - É preciso abandonar a referência de segurança energética como eixo para as políticas a serem desenvolvidas no setor de energia, porque ela acaba possibilitando que os interesses empresariais se sobressaiam. Atualmente a tarefa governamental tem sido a de buscar, a todo custo, a garantia para a oferta de uma demanda que, na crise atual, está na verdade diminuindo. Pelo que se observa, a demanda tanto por combustíveis quanto por eletricidade, em função da crise econômica, tem diminuído.
Vejamos o exemplo da produção de alumínio primário. Sabemos que grande parte da energia produzida em Tucuruí é dirigida para duas fundições de alumínio – a Albrás e a Alumar, em São Luís do Maranhão. Comparando os dados de 2005 com os de 2014, percebemos que houve uma redução significativa da produção de alumínio primário: em 2005 o Brasil produzia 1,497 milhão de toneladas de alumínio primário. Essa produção caiu para 962 mil toneladas em 2014. Os dados de 2015 apontam uma redução ainda maior, para 772,2 mil toneladas, ou seja, em 10 anos a produção de alumínio caiu pela metade. Isso pode ser saudado como um resultado positivo para o Brasil, embora eu sempre faça referência ao fato de que os planos decenais de energia recentes (2014–2023) apontam, para 2020, um aumento da produção de alumínio primário para chegar a 2,540 milhões de toneladas. Isto não está ocorrendo, mas, tal perspectiva acaba aumentando de forma irreal a demanda por eletricidade.
Isso mostra o descolamento do planejamento energético em relação aos fatos. Enquanto o alumínio primário em 2008 tinha uma capacidade instalada da ordem de 1,6 milhão de toneladas, essa capacidade instalada ainda se manteve, mas a única planta que continua produzindo como produzia nos últimos anos é a Albrás, que tem 98% de sua produção destinada ao Japão.
Ainda, para se ter outra ideia, a expectativa brasileira era de que houvesse um crescimento da produção do aço bruto, que saltaria de 33 milhões de toneladas em 2014 para 72,3 milhões de toneladas em 2019. É esta previsão que baliza a expansão de eletricidade através dos documentos oficiais, e é esse balizamento que condeno. Procuro evidenciar a necessidade de redefinição da forma como o planejamento energético é feito no Brasil. Isso tudo envolve, inclusive, a não presença, na formulação das políticas energéticas, de dois membros que estão previstos no Conselho Nacional de Política Energética, que foi criado em 1997, no final do 1º governo Fernando Henrique: a presença de um representante da academia e de um representante da sociedade civil, ambos especialistas em energia.
Esses dois postos, depois do primeiro governo Lula e nos últimos 14 anos, não estão sendo preenchidos, e são eles que possibilitariam um envolvimento no acesso à informação e numa discussão mais ampla para a definição da política energética do país. Então, além do descolamento da realidade, o planejamento energético hoje no Brasil não possibilita que se abra a caixa preta energética do país. Essa caixa preta poderia ser aberta com a presença de representantes da sociedade civil e da academia.
Alternativas
Além de abandonar a referência da segurança energética, a principal referência que se poderia fazer em relação ao suprimento de energia, é dar uma atenção maior ao conceito de eficiência energética. Isto é, utilizar a energia disponível, tanto a eletricidade quanto os combustíveis, de forma mais eficiente, porque hoje o consumo se dá de forma extremamente ineficiente: gasta-se muito mais energia do que aquela que poderia ser consumida para satisfazer as necessidades energéticas.
O modo como as políticas industrial e energética se estabeleceram em nosso país é um exemplo de falta de eficiência energética.
Por exemplo, atualmente 98% dos automóveis saem de fábrica com motor bicombustível (também chamado de carros flex), adaptado tanto para gasolina quanto para etanol, e essa alternativa, lançada a partir de 2004, foi saudada como o grande avanço tecnológico brasileiro. Entretanto, o fato é que o motor desses carros não é otimizado nem para gasolina nem para etanol. Esses motores trabalham com uma taxa de compressão fixa estabelecida na média entre a taxa de compressão ótima para a baixa octanagem da gasolina, e a taxa de compressão ótima para a alta octanagem do etanol. O resultado disso é que o consumo de combustível, tanto de gasolina como de etanol, é maior que o necessário.
Diversas análises de desempenho dos carros flex têm demonstrado que o consumo de gasolina é cerca de 17% a 23% superior em relação ao consumo do motor monocombustível à gasolina, mesmo considerando que estes automóveis já utilizam uma mistura de 20% a 25% de etanol anidro. O mesmo acontece quando se compara o desempenho do motor flex em relação aos automóveis com motor monocombustível com etanol hidratado. Maior consumo significa também maiores emissões. Temos, portanto, um parque de automóveis flex ineficiente e esta ineficiência está sendo apregoada pelas montadoras e pelo governo brasileiro como a solução que deve ser reproduzida no mundo inteiro.
A indústria automobilística tem trabalhado com a possibilidade de resolver e superar esse problema. O desafio tecnológico atual está no desenvolvimento de motores flex com compressão variável, ou na adoção de turbocompressores com injeção direta ou indireta, onde a taxa de compressão poderia ser mantida fixa. Mas a tecnologia disponível para resolver essa questão custa aproximadamente 30% do valor do automóvel, o que torna inviável comercialmente introduzir essa inovação tecnológica nos motores bicombustíveis. Então, a população brasileira é obrigada a usar o modelo que está disponível.
“O modo como as políticas industrial e energéticas se estabeleceram em nosso país é um exemplo de falta de eficiência energética”
IHU On-Line - Então sua proposta de eficiência energética consiste em sugerir mudanças para o setor como um todo, inclusive em relação à eficiência dos automóveis?
Célio Bermann - Sim, e isso torna a situação energética muito mais complexa, porque envolve não apenas a política pública energética, mas também a política pública industrial, de forma a promover a eficiência energética nos próprios bens que são produzidos. Esse é um aspecto bastante importante, já que estamos falando em eficiência energética. Esse esforço vem sendo disseminado há algum tempo pelo governo brasileiro em relação aos equipamentos de eletrodomésticos, como geladeiras com selos Procel, mas o fato é que os equipamentos mais eficientes são também mais caros. Embora o consumidor possa estar sensibilizado de que o investimento feito na compra de uma geladeira mais eficiente compensa em longo prazo, o preço do produto recai sobre o seu bolso.
Para tratar essa questão, apontaria a necessidade de se ter um fundo, que poderia ser do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, para subsidiar a aquisição de equipamentos mais eficientes. Estou mencionando a geladeira como exemplo, mas isso também se estende a fogões, liquidificadores e demais eletrodomésticos. Esse tipo de política possibilitaria que o consumidor utilizasse uma parte desse fundo para complementar a aquisição de um equipamento mais eficiente. Nesse sentido, o BNDES poderia parar de financiar grandes e caras obras e passar a financiar o consumo de bens mais eficientes.
O envolvimento do BNDES no investimento à construção da Usina de Belo Monte é estarrecedor: a quantidade de recursos (80% dos custos de investimento) que são provenientes dos fundos públicos, fundamentalmente do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT, para serem dirigidos para uma megaobra, que tem apresentado sérios problemas do ponto de vista ambiental e social, é absurda.
O consumo residencial de energia elétrica corresponde a 25% do consumo total. Ou seja, o consumo residencial apresenta a mesma ordem de grandeza que o consumo das indústrias eletrointensivas. É preciso priorizar o atendimento à demanda residencial no país, e este atendimento passa por medidas de eficiência energética no consumo final e em fontes de geração de dimensão pequena, disseminadas pelo território brasileiro, baseada nas fontes renováveis.
Ao mesmo tempo, é preciso articular a política energética a uma política industrial que incentive a produção de bens com maior valor agregado. Isso significa interromper a perspectiva de aumento de bens primários (aço bruto, alumínio primário, ferroligas, entre outros) e privilegiar setores produtivos mais eficientes, com mais tecnologia.
IHU On-Line - O senhor critica o “descolamento” dos planos de energia e diz que eles estão descolados da realidade. Como, então, deveria ser elaborado o Plano Decenal de Expansão de Energia, para dar conta da realidade?
Célio Bermann – O planejamento energético foi redefinido no primeiro governo Lula, mas abandonou as diretrizes que tinham sido formuladas no seu plano de governo. O descolamento da realidade persiste e acaba definindo a necessidade de expansão na produção de petróleo, de gás natural e de eletricidade, prioritariamente a partir de grandes empreendimentos hidrelétricos.
O assunto energia é referenciado como um assunto restrito a especialistas, quando na verdade ele envolve o dia a dia do cidadão comum. Como já salientei, o Conselho Nacional de Política Energética não conta, entre seus membros, com representantes da academia e da chamada sociedade civil. Então, esse distanciamento não é fortuito. Ele é pensado como forma de fazer prevalecer os interesses empresariais imiscuídos no governo como interesses públicos, em detrimento da sociedade.
“O assunto energia é referenciado como um assunto restrito a especialistas, quando na verdade ele envolve o dia a dia do cidadão comum”
IHU On-Line - São os interesses empresariais que impedem a discussão da eficiência energética?
Célio Bermann - Claro! O próprio governo se mantém cego à perspectiva de contribuir de uma forma evidente para a melhoria da eficiência no consumo de energia no nosso país. Sinto que é muito difícil mudar essas coisas se não houver um envolvimento da sociedade para exigir essas mudanças. Não cabe ao acadêmico Célio Bermann ficar buscando redefinir a política energética. Isso só será possível com o envolvimento da sociedade, e esse envolvimento não existe atualmente. Não há fóruns de discussão; há esforços marginais envolvendo movimentos sociais e ONGs, que buscam se transformar em atores no processo de redefinição da política energética. Mas não se confere espaço para esse tipo de intervenção.
No Instituto de Energia e Ambiente da USP, realizamos um estudo que consistiu em comparar o Plano Decenal de Energia que foi lançado em novembro de 2014, cobrindo o período de 2014 a 2023, e submetido pelo Ministério de Minas e Energia ao que eles chamaram de “consulta pública”. Nós analisamos a primeira versão submetida à consulta pública e fizemos uma comparação das mais de quatrocentas páginas do Plano Decenal na sua versão final, apresentada a público como último ato do Ministro Edson Lobão, antes de ele abandonar o governo no início de 2015. No último parágrafo da sua apresentação, o então ministro fez a seguinte menção:
"Ao apresentar o Plano Decenal de Expansão de Energia – PDE 2023, resultado de um processo interativo de planejamento energético, subsidiado por estudos da Empresa de Pesquisa Energética, o Ministério de Minas e Energia agradece a colaboração recebida por meio da consulta pública, da qual participaram entidades da sociedade civil, órgãos governamentais, empresas e agentes do setor energético".
Em realidade, o texto final só teve duas modificações de conteúdo: a primeira reelaborando a metodologia de avaliação do sistema de transporte de gás natural – abandonaram, na versão preliminar, o modelo de expansão do gás natural que tinha sido definido pelo Plano Decenal de Expansão da Malha de Transportes Dutoviário - PEMAT e seguiram outro modelo na versão final; e fizeram uma modificação no uso energético de um derivado de petróleo – a nafta. Essas foram as duas únicas modificações de um Plano Decenal “submetido” à consulta pública.
Durante esse processo, as críticas e proposições que foram encaminhadas – através de um e-mail que o Ministério de Minas e Energia apresentou para o envio de críticas e propostas ou proposições – não estiveram abertas ao público, então não se sabe o que foi proposto, muito menos por quem. E pior do que isso, o mais evidente é que não houve nenhuma modificação substancial no Plano. Esse afastamento, que é intencional, no meu modo de ver, acaba também dificultando o envolvimento da população brasileira em participar das definições da política energética no país.
Em resumo, a propalada “consulta pública ao PDE 2023” tratou-se de uma falsidade, algo que não aconteceu e que não tem acontecido se consideramos o último PDE 2024.
IHU On-Line - Como a transição energética deveria ser pensada, considerando a atual situação do petróleo no mundo?
Célio Bermann - Há dois anos, em uma matéria do IHU, fiz menção às diversas alternativas que poderiam evitar os altos custos da geração de eletricidade com as termoelétricas. Fiz referência, particularmente, à possibilidade de utilizar o bagaço da cana-de-açúcar ao invés de utilizar óleo diesel, óleo combustível e carvão mineral para a produção de energia elétrica. Isso porque existe uma capacidade de utilização do excedente do bagaço da cana-de-açúcar em nosso país, o qual não é utilizado.
O BNDES, por exemplo, ao invés de se ater aos interesses empresarias, poderia utilizar os fundos públicos para aumentar a eficiência nas caldeiras das usinas produtoras de açúcar e álcool e, com isso, aumentar a quantidade de eletricidade que poderia ser colocada na rede. Também se poderia modificar a norma que a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL dispõe em relação à produção de eletricidade excedente nas usinas sucroalcooleiras. Atualmente, cabe à unidade sucroalcooleira investir na implantação da rede elétrica até o sistema elétrico nacional integrado. Trata-se de investir em 10, 15 ou 30 km de rede elétrica. O BNDES poderia criar uma linha de crédito para que as usinas pudessem acrescentar algo em torno de novos 5.000 MW na época da safra, que coincide justamente com o período de restrição hídrica. Medidas como essa facilitariam que a energia entrasse na rede. Perceba, estamos falando de alguma coisa na ordem de cinco mil megawatts, que poderiam entrar na rede no período da safra, o que significa uma ordem de grandeza superior à energia média que será fornecida pela megaobra de Belo Monte, com um custo infinitamente menor.
O que proponho é que o BNDES crie duas linhas para fomentar essa alternativa: uma, para aumentar a eficiência nas caldeiras; e outra, para possibilitar que a transmissão possa chegar à rede de distribuição de energia elétrica nacional.
Essas são possibilidades que poderiam ser disponibilizadas com um custo extremamente menor do que aquele que foi incorrido na utilização da alternativa da termoeletricidade a partir do óleo diesel, do óleo combustível, do carvão mineral e do gás natural. A questão é: onde está a lógica na política energética? Ela deixa seu lugar para os interesses empresariais, via de regra envolvendo empresas que hoje estão envolvidas nos fatos que as operações da Polícia Federal têm evidenciado.
“Preços no mercado internacional inferiores a US 40 prejudicariam ou tornariam inviável a recuperação do petróleo do pré-sal. É o que estamos vivenciando hoje”
Transcrição energética
Quero ainda fazer referência a uma situação que precisa ser mencionada nesse contexto energético atual, que é a redução, a partir do final de 2014 e durante 2015, do preço do barril de petróleo. Há algumas semanas o mundo presencia uma flutuação do preço do barril de petróleo, que varia de US 32 a US 27 o barril.
Em 2008 o barril de petróleo chegou a US 140 por causa do cenário econômico internacional. No mesmo período o Brasil vivia a euforia em função da possibilidade de recuperação do petróleo do pré-sal brasileiro. Vale a pena fazermos uma reflexão rápida em relação ao que significa, neste contexto de redução dos preços do petróleo, a transição energética para a qual você chama a atenção. Esta redução dos preços do petróleo tem como repercussão uma redução dos investimentos nas chamadas energias renováveis. É uma questão de comparar os custos de produção do biodiesel e do etanol com o diesel mineral e a gasolina produzidos a partir de um petróleo a esse preço.
Nós ainda não temos os dados consolidados sobre o que aconteceu em 2015 e o que está acontecendo em 2016, mas uma das consequências disso é a redução na ampliação da oferta das energias renováveis, em função desse quadro de queda do preço do petróleo. Não entrarei em consideração sobre o debate acerca do aproveitamento do petróleo do pré-sal, cujos custos para torná-lo comercialmente viável, em documento da própria Petrobras há alguns anos, flutuavam na ordem de US 40. Isto é, preços no mercado internacional inferiores a US 40 prejudicariam ou tornariam inviável a recuperação do petróleo do pré-sal, é o que estamos vivenciando hoje.
Essa situação se agrava também com a redução da produção de petróleo e gás natural no Brasil, através do pré-sal. Por outro lado, o petróleo e o gás natural recuperado do shale gas ou do shale oi, denominado de fontes não convencionais, teve também uma repercussão bastante importante nos últimos meses, em USA, quando a produção desse gás natural também foi reduzida em função da redução dos preços do petróleo no mercado internacional. Não tenho uma bola de cristal para dizer até quando esse cenário vai perdurar, mas posso afirmar que ele traz uma grave e contundente repercussão numa desejável transição energética.
Por último, quero lembrar que a atual crise política por que estamos passando deve também levar a uma reflexão sobre o futuro da política energética no país. E, infelizmente, temo que não haja elementos que indiquem que o contexto energético que vivemos irá mudar. (ecodebate)

Geração híbrida eleva fontes renováveis na matriz brasileira

Geração híbrida pode elevar fontes renováveis na matriz energética brasileira
Após estabilizar demanda, oferta e distribuição, desafio do País para os próximos anos é ampliar o uso de fontes como eólica e solar.
Projeto inédito instala placas solares sobre lado de hidrelétrica no AM – Se 1% da área da represa for coberta com geradores fotovoltaicos, capacidade de geração da usina de Balbina será multiplicada por 10, diz presidente da Eletrobras.
A falta de planejamento para o setor elétrico, no passado, já trouxe grandes dificuldades para o povo brasileiro. A dependência, quase que exclusiva, de usinas hidrelétricas para a geração de energia exigia que o regime de chuvas não ficasse abaixo do esperado, abastecendo os reservatórios e garantindo o funcionamento das hidrelétricas. Após investimentos realizados nas áreas de geração e transmissão, a realidade brasileira mudou e a falta de energia já não é um problema atualmente.
O desafio agora é outro: aumentar a participação de energias limpas e renováveis na matriz energética brasileira.
Esse processo tem norteado as ações do governo federal no setor. O setor eólico é um bom exemplo disso. Há 10 anos, a geração de energia elétrica usando o vento era praticamente nula, e hoje já é responsável por 5% de toda a energia que chega aos comércios e residências. Segundo estimativas do Plano Decenal de Expansão de Energia 2024, elaborado pelo Ministério de Minas e Energia, a participação de fontes renováveis de energia (incluindo eólica, solar e biomassa, e excluindo as hidrelétricas) será de 27,3%.
O avanço dessas tecnologias, contudo, ainda depende de melhorias tecnológicas que permitam mais eficiência e menores custos, possibilitando que elas possam substituir outras formas de geração, como a termelétrica movida a óleo diesel, utilizada hoje nos períodos de baixa em reservatórios de hidrelétricas.
“As pessoas as vezes não percebem que energia elétrica custa caro, principalmente quando é necessário o uso de combustível fóssil e esse combustível precisa atravessar grandes distâncias”, comentou o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, durante a cerimônia de lançamento do projeto piloto de geração híbrida, na hidrelétrica de Balbina (AM). Segundo ele, o custo do megawatt por hora em regiões mais distantes pode sair até quatro vezes mais caro do que é efetivamente cobrado.
“Como é que nós vamos mudar essa realidade? Só de uma maneira: adicionando novas tecnologias e com inovações para baratear o custo de energia elétrica”, avaliou. Braga ainda lembrou que, desde a implantação do programa ‘Luz para Todos’, o governo tem buscado associar o equilíbrio financeiro do setor com tarifas justas do ponto de vista social.
Uma das formas de baratear esses custos é a chamada geração híbrida, em que duas fontes de energia compartilham uma infraestrutura já montada. O projeto piloto que associa a geração hidrelétrica com solar vai estudar a viabilidade da tecnologia em Balbina e também na Hidrelétrica de Sobradinho (BA).
“Acho que a geração híbrida é mais um ponto que o ministro Eduardo Braga está colocando para o setor elétrico. É uma inovação. Vamos ter que olhar para a geração hidrelétrica com solar, solar com eólica, eólica com hidrelétrica, temos que ter essa capacidade de saber como utilizar o sistema e otimizar nossas infraestruturas”, avaliou Orestes Gonçalves Junior, diretor da Sunlution, uma das empresas envolvidas na proposta de geração solar em hidrelétricas. (ecodebate)

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Capacidade instalada de usinas eólicas cresceu 45% em 2015

Análise por estado mostra o Rio Grande do Norte na liderança do ranking.
A capacidade instalada de usinas eólicas cresceu 45% ao longo de 2015 na comparação com 2014, saltando de 5.710 MW para 8.277 MW. Entre janeiro e dezembro de 2015, entraram em operação 102 novos empreendimentos, somando um total de 325 geradoras eólicas em 2015. O balanço foi divulgado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica em 07/03/16.
Segundo a CCEE, as usinas eólicas produziram 2.971 MW médios, crescimento de 52% em relação ao mesmo período de 2014. Vale destacar o desempenho da fonte no mês de agosto, quando a produção alcançou seu auge e entregou ao Sistema Interligado Nacional de 3.199 MW médios.
Na análise por estado, o Rio Grande do Norte fechou 2015 com a maior capacidade instalada em usinas eólicas, um total de 2.493 MW, aumento de 28,3%. Em seguida, aparecem Ceará com 1.573,5 MW (+22,8%), Rio Grande do Sul com 1.514 MW (+30,6%) e Bahia com 1.441 MW (+41,6%). Veja o ranking completo abaixo.
Os dados consolidados do boletim InfoMercado Mensal referentes à dezembro mostram ainda uma variação positiva no consumo e geração de energia do SIN. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, houve um aumento de 0,5% no consumo (61.795 MW médios ante 61.479MW médios) e de 0,4% na geração de energia (61.826 MW médios frente aos 61.559 MW médios).

Ranking – Os 10 maiores estados em capacidade instalada de energia eólica.
Posição Estado MW
1º - Rio Grande do Norte - 2.493
2º - Ceará - 1.573,5
3º - Rio Grande do Sul - 1.514
4º - Bahia - 1.441
5º - Piauí - 705
6º - Santa Catarina - 224
7º - Pernambuco - 192
8º - Paraíba - 59,5
9º - Sergipe - 34,5
10º - Rio de Janeiro – 28 (canalenergia)