Um suposto estudo do BNDES,
não divulgado, é a nova arma do lobby nuclear para tentar viabilizar Angra 3 e
a nuclearização do Brasil. Enquanto o ministro Alexandre Silveira defende a
energia atômica e até a “bomba”, setores do governo e especialistas apontam
custos altíssimos, riscos ambientais e a falta de transparência que cerca o
setor. Será aprovada?
“É necessário se espantar, se
indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a realidade” - Nise da
Silveira (médica psiquiatra)
Tem se tornado lugar comum a
participação ativa de grupos lobistas pró-energia nuclear na mídia, com
campanhas publicitárias e esforços de relações públicas destinados a melhorar a
imagem da fonte de energia e influenciar a opinião pública e decisões
políticas. Manipulações retóricas, desinformações, falta de transparência,
omissão de dados, negacionismo, táticas de intimidação e mesmo de ameaças,
fazem parte desta agressiva atuação. Recusam intencionalmente em admitir fatos
e evidências técnico-científicas comprovadas sobre a insegurança e a
inviabilidade das usinas nucleares, frequentemente com o objetivo de distorcer
a realidade para interesses específicos.
Cara e perigosa, energia
nuclear pode ser a chave para transição energética
Foi criado uma grande
expectativa nas 3 últimas reuniões do CNPE para que fosse pautado este tema,
defendido arduamente pelo ministro das “boas ideias”, Alexandre Silveira,
ministro de Minas e Energia. O mesmo defende usinas nucleares de pequeno porte
na Amazônia, o uso do petróleo “até a última gota”, os combustíveis fósseis
como carvão mineral e o gás natural em termelétricas, além do avanço da
exploração do urânio, para reforçar a segurança nacional, a defesa (?) do país,
ou seja, construir a bomba atômica.
Além da população ser contra
usinas nucleares, setores do próprio governo federal, como o Ministério da
Fazenda e Ministério de Meio Ambiente questionam esta insanidade. Pois além de
neutralizar os esforços de barateamento dos custos da energia elétrica
perseguido pelo governo federal, atenta gravemente o meio ambiente e as
pessoas, com a possibilidade de vazamento e liberação de radioatividade na
extração do urânio.
Os argumentos repetidos à
exaustão pelos lobistas chega ao extremo da chantagem, ao afirmar que os
minérios estratégicos (urânio incluído) e o petróleo é que garantirão os
recursos financeiros para financiar a transição energética. Infelizmente
entendem a transição, como mera transação, privilegiando o balcão de negócios
bilionários em torno da expansão das desnecessárias usinas.
Os mais tresloucados colocam a energia nuclear como uma salvação do clima, como se fosse mais sustentável que as fontes renováveis (sol, vento, água, biomassa), cujo potencial no Brasil é extraordinário, chegando ao disparate de denominar a nucleoeletricidade de “energia limpa”.
Angra 3 custa mais de R$ 1 bilhão por ano sem gerar energia. Parada desde 2015, obra bilionária desafia governo e setor energético.
Angra 3: o elefante branco
nuclear do Brasil que custa mais de R$ 1 bilhão por ano sem produzir energia. O
que impede a conclusão dessa obra bilionária parada desde a Lava Jato? É
dinheiro de suados impostos que escorre pelo ralo do desperdício.
Angra 3 parou, voltou e
travou: tecnologia envelhecida, custo nas alturas e um país sem coragem de
decidir entre terminar ou assumir o prejuízo.
Não existe nenhuma base
científica na afirmação de que as usinas nucleares garantem a segurança
energética, outro mote utilizado com frequência. Definida como “a capacidade de
um país ou região garantir o fornecimento ininterrupto, confiável e a preços
acessíveis de energia para atender às necessidades da população e da economia”.
Nem em relação à capacidade instalada, nem a preços acessíveis vale esta
afirmação em relação à energia nuclear. Muito menos a hilária afirmativa de que
novas usinas nucleares evitarão os apagões.
Atualmente o pais dispõe de
menos de 2% de eletricidade nuclear injetada na matriz elétrica, e mesmo com o
término de Angra 3, e de mais 10.000 MW até 2050, como propõe o Plano Nacional
de Energia, a contribuição nuclear não vai ultrapassar 4% da potência total
instalada, valor extremamente irrisório de capacidade para garantir segurança
do setor energético. E em relação aos custos da energia nuclear estes valores
são comparáveis aos das termelétricas a combustíveis fósseis, em torno de 4 a 6
vezes maior que o das fontes solar e eólica.
Valores estes apresentados em recente estudo (mencionado na mídia, mas
não disponibilizado publicamente) realizado pelo BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social), sob encomenda do CNPE.
A falta de transparência é
utilizada como arma para credibilizar os negócios nucleares no Brasil, como
solução ao aquecimento global e para atender a demanda crescente por energia
elétrica, em particular dos “data centers” que processam informações para a
inteligência artificial. São os mesmos países que causaram a crise climática
que agora expandem suas infraestruturas destrutivas nos territórios do Sul
Global, transferindo os custos socioambientais.
Não se deve esquecer dos
episódios controverso que atestam a falta de credibilidade do setor nuclear
brasileiro (https://www.congressoemfoco.com.br/artigo/108097/programa-nuclear-brasileiro–pau-que-nasce-torto-morre-torto).
Recentemente o desgaste da Eletronuclear, responsável pelas usinas, ficou bem
evidenciado, diante de uma crise financeira. Com um rombo em suas contas no
final de outubro de 2025, a Eletronuclear (sempre ela sumidouro do dinheiro
público) solicitou um aporte de R$ 1,4 bilhão ao governo federal para cobrir
suas contas. Neste mesmo mês a Eletrobras (atual, Axia Energia) concordou em
vender sua participação de 68% na Eletronuclear para a Âmbar Energia, empresa
do grupo J&F, por R$ 535 milhões, em uma operação ainda não esclarecida
totalmente, que levou a participação de um grupo econômico que não tem nada a
ver com energia, a entrar em um negócio de tamanho risco econômico-financeiro.
O passado e presente das empresas dos irmãos bilionários donos da J&F
holding estão repletos de notícias nas páginas policiais.
Com 2/3 das obras concluídas,
usina depende de reavaliação técnica, econômica e jurídica para avançar ou ser
definitivamente cancelada.
Mesmo diante da contradição entre o discurso e a ação quando o assunto é energia, se espera que o programa de construção de usinas nucleares e a expansão da mineração do urânio seja interrompido. Que se torne efetivo o que disse o presidente Lula na 4ª Cúpula da Celac-EU (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos e da União Europeia) realizada em Santa Marta, na Colômbia em 09/11/25 que “a América Latina é uma região de paz que quer permanecer desta maneira”. Neste contexto a não nuclearização do Brasil deve acontecer, e servir de exemplo para toda América Latina. Não prosseguir com a construção de usinas nucleares, e desenvolver a cadeia nuclear para construir a bomba atômica, como prega o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, é um ato concreto de que somos efetivamente pela paz. (ecodebate)





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