terça-feira, 18 de março de 2025

Estudo aponta Brasil como líder potencial da transição energética

O Brasil está entre os quatro países com maior capacidade para liderar a transição energética em âmbito global. Essa é a conclusão central de um estudo conduzido pelo Net Zero Industrial Policy Lab (NZIPL), laboratório da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, ao qual o Valor teve acesso com exclusividade.

De acordo com o estudo, que avaliou o panorama tecnológico e político em sete setores críticos para a economia verde global projetada para 2050, o Brasil possui vantagens competitivas para desenvolver uma potente “indústria verde” até 2050 devido a sua posição privilegiada em sete áreas: minerais estratégicos, baterias, veículos elétricos híbridos com biocombustíveis, combustíveis sustentáveis para aviação, produção de equipamentos para energia eólica, aço com baixo carbono e fertilizantes verdes.

Uma vantagem do Brasil apontada em relação a outros países que também têm abundante riqueza de recursos naturais é a base industrial já construída. Por outro lado, os pesquisadores da Johns Hopkins alertam para lacunas importantes em políticas públicas. O relatório diz que, apesar de promissor, o plano do governo federal chamado Nova Indústria Brasil (NIB) precisa de mais clareza e foco nos investimentos para alcançar impacto significativo. A análise aponta que os R$ 468,38 bilhões a serem alocados correm o risco de serem pulverizados em muitas prioridades.

Brasil desponta como líder global na transição energética, aponta estudo.

Os pesquisadores da Johns Hopkins, liderados por Tim Sahay, especialista em políticas climáticas e diretor do Net Zero Industrial Policy Lab, não propõem que setores tradicionais da indústria brasileira sejam abandonados no processo, mas usam o termo “microtargeting”, ou seja, sugerem priorizar áreas as sete áreas que consideram mais críticas para libertar o potencial de liderança do Brasil em indústria verde durante as próximas duas décadas.

“Usamos o termo ‘microtargeting’ por um motivo. Em baterias, por exemplo, argumentamos que focar em componentes intermediários como ânodos poderia alavancar os pontos fortes existentes do Brasil em processamento artificial de grafite e silício. A recente chamada pública da Finep e do BNDES para projetos de minerais críticos é um passo na direção certa, pois inclui a transformação de grafite, embora a junte a outros projetos para atrair uma gama mais ampla de propostas”, disse Sahay ao Valor. “Mas, embora a ampla experimentação tenha seu lugar, uma abordagem em microalvos pode fornecer resultados mais rápidos e dar início a um efeito cascata em toda a cadeia de valor”, explica.

Para Sahay, a partir do que observou no programa Nova Indústria Brasil, há sinais “encorajadores” de que o governo está se movendo na direção certa. Ele cita, por exemplo, a convocação de grupos de trabalho para mapear e fortalecer as cadeias de valor, mas observa que essas iniciativas já deveriam ter sido feitas antes. “Parece já estabelecer as bases para intervenções mais direcionadas. É algo bem-vindo. Em nossa opinião, contudo, isso chega um pouco tarde”, afirma.

Brasil pode se tornar Superpotência da Indústria Verde, aponta Relatório Internacional.

Integração estratégica

O especialista da Universidade Johns Hopkins destaca ainda que uma integração bem-sucedida dos setores estratégicos será fundamental para projetar o Brasil ao posto real de liderança em economia verde nas próximas duas décadas. “Para garantir que as estratégias setoriais somem mais do que os esforços de suas próprias partes, é preciso integrar essas oportunidades setoriais em sistemas. Parte do que o governo deve fazer não é apenas fornecer capital e suporte ao projeto, mas criar condições mais amplas para a transformação com investimentos, visão de futuro em infraestrutura, capital humano e energia barata”, destaca em relatório.

Quanto a possíveis reveses ao redor do mundo na disposição de fazer a transição energética depois que o presidente Donald Trump reassumiu o cargo prometendo acabar com os incentivos do governo Biden para a transição energética nos EUA, Sahay avalia que nem mesmo o respaldo americano aos combustíveis fósseis irá interromper a transformação global. Da mesma maneira, aponta que a descrença do presidente da Rússia, Vladimir Putin, em relação às energias renováveis apenas tende a atrasar dois países que podem rivalizar com o Brasil e com a China.

Brasil pode liderar transição energética, mas terá longo e árduo caminho.

O estudo mostra que os outros três países que figuram ao lado do Brasil como de maior potencial para desenvolvimento da indústria verde são justamente Estados Unidos, Rússia e China.

“O investimento massivo da China na transição verde já está enfraquecendo a demanda no mercado global de petróleo. Com Índia, Europa e Turquia aumentando rapidamente a implantação de energia solar, essa tendência vai se ampliar. Os EUA sob Trump e a Rússia de Putin estão atirando nos próprios pés ao desacelerar a transição, prejudicando seus empregos futuros, a produtividade e as suas perspectivas de competitividade”, analisa.

“Isso torna a escolha do Brasil até mais direta. É estratégico construir uma posição na economia das décadas de 2030 e 2040 em vez de insistir em ativos encalhados na velha economia. O mundo está se movendo rápido e a nova economia verde não é uma utopia colaborativa. Haverá vencedores e perdedores”, afirma Sahay. “Com o grande potencial que possui no novo sistema energético, os líderes do Brasil, tanto políticos quanto industriais, têm uma oportunidade única nesta geração para aproveitar”.

Brasil será líder na transição energética com sanção da Lei do Combustível do Futuro no final de 2024.

Nova legislação, que destina R$ 260 bilhões em investimento, visa fortalecer a mobilidade sustentável e a economia de baixo carbono; MCTI tem participação efetiva desde o início do programa. (biodieselbr)

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