Fontes
afirmam que o governo Lula cria uma agenda conflituosa ao tentar aprovar a
exploração de petróleo e gás natural na região amazônica.
Depois
de idas e vindas no ano passado, com dezenas de trocas de documentos e
solicitações entre a estatal e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama), 2025 começa sem uma definição sobre o
tema. A Petrobras ainda tenta reverter a negativa do Ibama ao pedido de licença
ambiental para começar as atividades exploratórias na Foz do Amazonas.
O
começo deste ano tem sido marcado pelo enfraquecimento da agenda climática
global. Em sinal de apoio aos planos de Trump, instituições do setor financeiro
como Citigroup, Bank of America, Wells Fargo, Goldman Sachs, Morgan Stanley e
BlackRock anunciaram a saída de alianças climáticas comprometidas com o Acordo
de Paris e a descarbonização, como mostrou o Valor na semana passada. Ao tomar
posse, Trump confirmou as promessas de campanha e anunciou a saída do Acordo de
Paris, além de implementar decretos que enfraquecem regras ambientais sobre a
atividade petrolífera.
Enquanto
o mundo se realoca na nova dinâmica com Trump, o Brasil busca o equilíbrio
entre energia fóssil e a proteção ambiental, no ano em que é anfitrião da
Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP30), em Belém (PA),
em novembro.
Depois
de mais uma negativa do Ibama em outubro/24, a Petrobras enviou uma nova
resposta ao órgão ambiental em novembro, com detalhes do plano de proteção à
fauna para atender eventuais acidentes com animais da região. Segundo a
companhia, o plano de proteção à fauna é robusto e sem precedentes no histórico
do licenciamento brasileiro. No documento ao Ibama, a Petrobras pede
autorização para realizar uma avaliação pré-operacional (APO).
A
APO é um teste em que a empresa realiza simulação de vazamento de óleo na
região e demonstra a capacidade de resolução do problema, com equipes e
embarcações. A avaliação é a última etapa para obter a licença ambiental.
Depois
do documento da Petrobras de novembro, consta no sistema do Ibama um ofício do
presidente do órgão ambiental, Rodrigo Agostinho, de dezembro, em que solicita
análise técnica sobre os pedidos da companhia.
A atualização mais recente do processo é de 21/01/25, quando a Petrobras diz que obteve licenças da Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Amapá para implementar a unidade de proteção aos animais em Oiapoque (AP). As obras estão em andamento desde dezembro, segundo a Petrobras no documento.
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, disse diversas vezes que o processo é técnico. “A área técnica tem seu tempo para fazer a análise”, afirmou, em setembro.
Para
Suely Araújo, ex-presidente do Ibama e coordenadora de políticas públicas do
Observatório do Clima, a busca por ampliar a produção de petróleo contraria a
transição energética. “O Brasil tem a oportunidade de se apresentar como o país
do futuro, um líder climático mundial. Erra ao apostar no petróleo, isso é
escolher o passado”, diz a especialista. Ela reforça a importância do debate
neste cenário sensível para a relevância das negociações internacionais sobre o
clima. “O Brasil deveria liderar pelo exemplo e assegurar a coerência nas ações
internas na área de energia, tomando uma opção clara pela descarbonização”.
Araújo
diz que a Foz do Amazonas é uma área importante do ponto de vista ecológico
pelas correntes marítimas, que, na visão dela, devem dificultar a operação no
local. “Os técnicos do Ibama têm apontado problemas sérios no processo de
licenciamento do poço 59 [FZA-M-59, no Amapá]”, afirma. “Não deveria haver
licença ambiental no grito, por imposição política”, defende.
23/01/25
a diretora de exploração e produção da Petrobras, Sylvia Anjos, disse que
espera que a licença seja aprovada até o fim do primeiro trimestre.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse em 12/01/25, que acredita que a licença seja aprovada em 2025. “Não tem motivo para atrasar o início do processo de pesquisa [por petróleo] na Margem Equatorial para atender à visão de que isso [a atividade petrolífera na região] traria danos à COP”.
A Cúpula da Amazônia, em Belém, abriu caminho para a COP 30, que também acontecerá na capital do Pará em 2025; sociedade civil se frustra com ausência de metas claras e ambiciosas na “Declaração de Belém”.
O
presidente da COP30, André Corrêa do Lago, disse ao jornal “O Globo” em
23/01/25 que o ideal é chegar à conferência com o tema da Foz do Amazonas
encaminhado. “Acho que não seria bom ter esse debate no meio da COP”.
Procurada,
a Petrobras diz que apresentou uma proposta robusta ao Ibama e que conta sempre
com o mais alto compromisso técnico dos times envolvidos no projeto de
perfuração do poço FZA-M-59 no Amapá Águas Profundas.
André
Cutrim, do núcleo de meio ambiente da Universidade Federal do Pará (UFPA), diz
que a dificuldade em se avançar no tema é por haver desafios técnicos,
políticos, ambientais e sociais. “A região possui riqueza potencial de petróleo
e gás que pode impulsionar a economia local. Por outro lado, há uma série de
preocupações ambientais e tensões políticas ligadas ao licenciamento
ambiental”.
Na
visão do especialista, é necessário que haja uma convergência entre obrigações
do Ibama e interesses estratégicos do governo. “As agências reguladoras como o
Ibama devem avaliar estudos de impacto ambiental das empresas interessadas para
assegurar que normas e padrões sejam cumpridos. Mas o governo federal também
precisa de uma estratégia definitiva para conciliar o potencial econômico com
os compromissos climáticos que virão com a COP30”.
Cutrim
afirma que é possível haver atividade petrolífera na região da Foz do Amazonas
sem que degrade o ambiente. “Entendo que a exploração de petróleo e gás não
precisa ser um jogo de soma zero entre progresso econômico e preservação
ambiental. A realidade da Amazônia também precisa pegar a ponte para o
desenvolvimento. Se houver medidas rigorosas de protocolo de emergências junto
com um aparato jurídico que seja rigoroso, será possível avançar com o projeto
de forma segura”.
Dos
US$ 7,9 bilhões previstos em investimentos em exploração de petróleo e gás pela
Petrobras entre 2025-2029, US$ 3 bilhões serão destinados à Margem Equatorial,
que inclui outras bacias.
A
companhia tem atividades na Bacia Potiguar, parte da Margem, e na Colômbia, que
também é considerada Margem Equatorial. Em 05/12/24 a Petrobras informou a
descoberta de um grande volume de gás em um dos campos em que atua com a
estatal Ecopetrol, na Colômbia. Segundo a empresa brasileira, os volumes podem
aumentar as reservas colombianas de gás em 200%. O produto será para consumo
interno em um primeiro momento, conforme a estatal.
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