“Em
meio a um cenário internacional em que as guerras tarifárias e o abandono de
acordos multilaterais trazem tantas incertezas, o Brasil se destaca entre os
mercados emergentes, inclusive por sua segurança jurídica”, afirmou o country
manager da Scatec no Brasil, Aleksander Skaare. O Brasil, onde a Scatec tem em
operação e construção 835 MW de energia solar, é um dos quatro mercados
estratégicos para a companhia, ao lado da África do Sul, Egito e Filipinas.
Além da segurança jurídica, a disponibilidade de profissionais qualificados e
recursos energéticos competitivos são fatores de atração de investimentos em
renováveis para o país.
No
ano passado, a Scatec assinou um contrato de compra de energia (PPA) de 10 anos
com a Statkraft Energia do Brasil no Brasil, para uma usina solar de 142 MW em
Minas Gerais. A construção foi iniciada em janeiro e deve ser concluída até o
final do ano. O contrato abrange 70% da geração da usina e o restante será
destinado para oportunidades de trading. Além disso, a companhia opera desde
2018 a planta Apodi, de 162 MW, no Ceará, e o parque solar Mendubim, de 531 MW,
no Rio Grande do Norte, desde 2024.
Desafios
para a expansão e pipeline de 800 MW
Segundo Skaare, a empresa tem em torno de mais 800 MW de capacidade em desenvolvimento, entre potenciais eólicos e solares, e avalia projetos nos estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia e Minas Gerais. Com projetos híbridos e stand alone em outros países, a Scatec também acompanha com interesse as regras para os projetos de armazenamento em baterias no Brasil. Antes de tomar qualquer decisão de investimento ou avançar no desenvolvimento de projetos, entretanto, aguarda conhecer os critérios de remuneração e os custos operacionais dos sistemas de armazenamento no país.
Gerente de projetos da Scatec, Bruno Cazarotte.
Para
a expansão, há desafios importantes, como a necessidade de desenvolvimento de
nova demanda, a adaptação às mudanças na oferta de financiamento e a crescente
indisponibilidade de rede, avalia o gerente de projetos da companhia, Bruno
Cazarotte. Enquanto financiamento e cortes de geração podem ser mais facilmente
gerenciados e precificados, o desenvolvimento de demanda permanece como um
desafio mais significativo para a expansão.
Além
da eletrificação de processos que pode aumentar a demanda de consumidores já
existentes, a atração de novos segmentos produtivos para o país é vista como um
caminho para o crescimento da procura por energia renovável. Cazarotte cita os
data centers como exemplo, “vemos grandes processos de contratação de energia
em andamento e uma demanda mais palpável”. Ele também cita a criação de
estratégias de trading, com comercializadoras, com uma parte menor da energia
disponível dos projetos, que não esteja contratada com grandes consumidores no
longo prazo.
A
oferta de serviços customizados para os consumidores além da geração de energia
renovável é incontornável, disse Cazarotte. “Temos uma trading com serviços
além do MWh, como proteção contra variação de preços e IRECs. Não tem como isso
não estar na mesa de negociação hoje”.
Necessidade
de modernização da rede
A tendência de maior protagonismo do consumidor e descentralização do sistema elétrico implica em grandes desafios para os operadores das redes de transmissão e de distribuição. Segundo o Fórum Latino-Americano de Smart Grid, serão necessários R$ 350 bilhões de investimentos até 2028 para adequar as redes à transição energética.
Cyro Boccuzzi, presidente do Fórum Latino-Americano de Smart Grid
“A
rede não qualificada é uma barreira para a transição energética”, disse no
evento o sócio fundador da ECOee e presidente do Fórum, Cyro Vicente Boccuzzi.
Ele cita como exemplo as iniciativas de investimentos em sistemas de
gerenciamento de resposta à demanda em redes inteligentes (DRMS, na sigla em
inglês). “Eles serão necessários para garantirmos a flexibilidade do sistema
para otimizar a integração e a intermitência das energias renováveis, bem como
para suportar os estresses advindos de eventos climáticos extremos,
proporcionando maior segurança, estabilidade e um melhor uso das redes”,
alertou o consultor.
Boccuzzi
também levantou a importância que o consumidor possui na transformação do setor
elétrico. “Ele sempre foi visto como apenas aquele que paga a conta. Mas é
preciso trazê-lo para a mesa de discussão e incentivar também a transição
energética na parte interna de suas instalações. Ele será fundamental para
mapearmos as oportunidades que existem de readequação da indústria para sua
maior competitividade, assim como para chegarmos a caminhos que apontem para a
diminuição de impostos, subsídios, cargas e encargos, privilégios e
assimetrias”, afirma.
Nesse
contexto, o papel das distribuidoras de energia deve mudar, com o mercado
cativo diminuindo, seja pelo fluxo de migrações para o mercado livre, seja pela
maior adoção da geração distribuída. E o processo de renovação das concessões
de distribuição é vago em relação a essa transformação, avalia Bocuzzi. As
diretrizes para a renovação das concessões mencionam objetivos de aumentar a
resiliência e dar maior robustez à rede, aumentar a satisfação do cliente e
atingir a universalização do atendimento.
A
dificuldade de construir consensos regulatórios duradouros em um ambiente de
discussão extremamente pulverizado é um dos principais desafios do ponto de
vista de governança do sistema elétrico atualmente, avalia a Head de Relações
Institucionais e Governamentais no Di Blasi, Parente & Associados, Maria
Eduarda Negri, presente no evento. “Essa pulverização das discussões resulta em
um maior risco regulatório e judicialização”, disse a executiva.
(pv-magazine-brasil)
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