O Brasil te condições de ser o primeiro a produzir comercialmente o etanol celulósico, feito do bagaço de cana.
Pioneiro e líder tecnológico na produção de bioetanol extraído do caldo da cana-de-açúcar, o Brasil tem potencial para se tornar uma liderança no aproveitamento da celulose para fabricação de biocombustíveis, apesar de ter entrado um tanto atrasado nessa área. Quem diz é o pesquisador Lee Lynd, do Dartmouth College (EUA), que há 20 anos estuda maneiras de transformar material vegetal (biomassa) em combustível.
Segundo ele, "o Brasil é um lugar lógico para iniciar a aplicação comercial de etanol celulósico", porque, além de bons cientistas, dispõe de boas terras, bom clima, muita biomassa e uma indústria competente.
Líder de um projeto internacional que busca estudar e incentivar o desenvolvimento sustentável dos biocombustíveis, o Global Sustainable Bioenergy Project (GSB), Lynd chega hoje ao Brasil para um encontro de três dias com pesquisadores latino-americanos. Será a terceira de uma série de cinco reuniões do GSB - uma em cada continente -, sediada na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Ao fim da última reunião, na África, Lynd conversou com o Estado por e-mail.
Quão próximos estamos de obter tecnologia economicamente viável para produzir etanol celulósico em larga escala?
Estou confiante de que já temos toda a tecnologia necessária para alguns tipos de biomassa. Para outros, ainda não, mas acho que chegaremos lá em breve. Nos EUA, os investimentos em etanol celulósico aumentaram uma ordem de magnitude no período 2005-2007, tanto no setor privado quanto no público, o que nos permitiu avançar de maneira muito mais rápida. Os resultados desse esforço já estão aparecendo.
O problema, então, é de custo e não de tecnologia. Como resolver isso? Quais são os principais entraves nessa área?
Espera-se que a via mais barata para produzir biocombustíveis de origem celulósica seja a conversão de carboidratos da celulose em açúcares, seguida da fermentação desses açúcares em etanol. Só que o custo das enzimas que quebram a celulose em açúcares (chamadas celulases) ainda é proibitivo. É possível desenvolver microrganismos que fermentam açúcar e produzem celulase ao mesmo tempo, permitindo que a celulose seja hidrolisada sem a adição de mais enzimas. Chamamos essa técnica de "bioprocessamento consolidado" ou CBP (em inglês). Se desenvolvermos um micróbio capaz de fazer isso, seria um avanço revolucionário no processamento de biomassa celulósica, tornando a produção de biocombustíveis economicamente viável.
O Brasil é pioneiro na produção de etanol de caldo de cana, mas só recentemente começou a investir na pesquisa do etanol celulósico. Isso poderá ser um problema para a indústria nacional de biocombustíveis no futuro?
Pelo contrário. Assim como ocorre com o refino do petróleo e a produção das commodities em geral, a economia dos biocombustíveis depende do custo da matéria-prima. Não só isso, mas o escalonamento e a sustentabilidade da produção dependem diretamente da produção de biomassa. Como o Brasil tem um dos melhores climas do mundo para a produção de biomassa, tem grande potencial para se tornar um líder na produção de biocombustíveis celulósicos. Em especial, por contar com a maior fonte já disponível de biomassa celulósica (o bagaço da cana) e uma indústria bem estabelecida. Por tudo isso, o Brasil é um lugar lógico para iniciar a aplicação comercial de etanol celulósico.
Qual a importância do etanol celulósico para o Brasil? Será que precisamos mesmo dele, visto que já nos viramos muito bem com o etanol da garapa?
O Brasil poderá extrair muito mais valor da cana-de-açúcar se fizer o aproveitamento da celulose. Seria bom para os produtores, bom para a economia, bom para o País e bom para o mundo, à medida que o carbono adquire valor de mercado. Enquanto que o desenvolvimento original da indústria de etanol no Brasil foi movido pela necessidade, é provável que a produção de biocombustíveis celulósicos seja movida pela oportunidade, o que seria, acho eu, um ímpeto bastante forte.
Os biocombustíveis são mesmo uma ameaça à produção de comida e ao abastecimento de água ou isso é só um argumento sensacionalista inventado pela concorrência? Se é um problema real, como resolvê-lo?
Essa é uma pergunta muito polêmica e, embora eu ache que a pergunta seja simples, a resposta não é. Numa extrapolação futura, em que as tendências atuais se mantêm, a produção de comida e a disponibilidade de água serão um problema de qualquer maneira, e a produção de biocombustíveis poderia exacerbar esses problemas. Então, há uma legitimidade nessa preocupação que não pode ser descartada de imediato. No entanto, é importante notar duas coisas. A primeira é que é possível produzir biocombustíveis sem ameaçar a produção de alimentos ou os recursos hídricos. A segunda é que não podemos chegar a um futuro sustentável e seguro se mantivermos as práticas que nos trouxeram a esse presente insustentável e inseguro. Não há como chegar a um mundo sustentável sem inovação e sem transformação, e isso vale tanto para a bioenergia quanto para as outras fontes de energia renovável.
Pioneiro e líder tecnológico na produção de bioetanol extraído do caldo da cana-de-açúcar, o Brasil tem potencial para se tornar uma liderança no aproveitamento da celulose para fabricação de biocombustíveis, apesar de ter entrado um tanto atrasado nessa área. Quem diz é o pesquisador Lee Lynd, do Dartmouth College (EUA), que há 20 anos estuda maneiras de transformar material vegetal (biomassa) em combustível.
Segundo ele, "o Brasil é um lugar lógico para iniciar a aplicação comercial de etanol celulósico", porque, além de bons cientistas, dispõe de boas terras, bom clima, muita biomassa e uma indústria competente.
Líder de um projeto internacional que busca estudar e incentivar o desenvolvimento sustentável dos biocombustíveis, o Global Sustainable Bioenergy Project (GSB), Lynd chega hoje ao Brasil para um encontro de três dias com pesquisadores latino-americanos. Será a terceira de uma série de cinco reuniões do GSB - uma em cada continente -, sediada na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Ao fim da última reunião, na África, Lynd conversou com o Estado por e-mail.
Quão próximos estamos de obter tecnologia economicamente viável para produzir etanol celulósico em larga escala?
Estou confiante de que já temos toda a tecnologia necessária para alguns tipos de biomassa. Para outros, ainda não, mas acho que chegaremos lá em breve. Nos EUA, os investimentos em etanol celulósico aumentaram uma ordem de magnitude no período 2005-2007, tanto no setor privado quanto no público, o que nos permitiu avançar de maneira muito mais rápida. Os resultados desse esforço já estão aparecendo.
O problema, então, é de custo e não de tecnologia. Como resolver isso? Quais são os principais entraves nessa área?
Espera-se que a via mais barata para produzir biocombustíveis de origem celulósica seja a conversão de carboidratos da celulose em açúcares, seguida da fermentação desses açúcares em etanol. Só que o custo das enzimas que quebram a celulose em açúcares (chamadas celulases) ainda é proibitivo. É possível desenvolver microrganismos que fermentam açúcar e produzem celulase ao mesmo tempo, permitindo que a celulose seja hidrolisada sem a adição de mais enzimas. Chamamos essa técnica de "bioprocessamento consolidado" ou CBP (em inglês). Se desenvolvermos um micróbio capaz de fazer isso, seria um avanço revolucionário no processamento de biomassa celulósica, tornando a produção de biocombustíveis economicamente viável.
O Brasil é pioneiro na produção de etanol de caldo de cana, mas só recentemente começou a investir na pesquisa do etanol celulósico. Isso poderá ser um problema para a indústria nacional de biocombustíveis no futuro?
Pelo contrário. Assim como ocorre com o refino do petróleo e a produção das commodities em geral, a economia dos biocombustíveis depende do custo da matéria-prima. Não só isso, mas o escalonamento e a sustentabilidade da produção dependem diretamente da produção de biomassa. Como o Brasil tem um dos melhores climas do mundo para a produção de biomassa, tem grande potencial para se tornar um líder na produção de biocombustíveis celulósicos. Em especial, por contar com a maior fonte já disponível de biomassa celulósica (o bagaço da cana) e uma indústria bem estabelecida. Por tudo isso, o Brasil é um lugar lógico para iniciar a aplicação comercial de etanol celulósico.
Qual a importância do etanol celulósico para o Brasil? Será que precisamos mesmo dele, visto que já nos viramos muito bem com o etanol da garapa?
O Brasil poderá extrair muito mais valor da cana-de-açúcar se fizer o aproveitamento da celulose. Seria bom para os produtores, bom para a economia, bom para o País e bom para o mundo, à medida que o carbono adquire valor de mercado. Enquanto que o desenvolvimento original da indústria de etanol no Brasil foi movido pela necessidade, é provável que a produção de biocombustíveis celulósicos seja movida pela oportunidade, o que seria, acho eu, um ímpeto bastante forte.
Os biocombustíveis são mesmo uma ameaça à produção de comida e ao abastecimento de água ou isso é só um argumento sensacionalista inventado pela concorrência? Se é um problema real, como resolvê-lo?
Essa é uma pergunta muito polêmica e, embora eu ache que a pergunta seja simples, a resposta não é. Numa extrapolação futura, em que as tendências atuais se mantêm, a produção de comida e a disponibilidade de água serão um problema de qualquer maneira, e a produção de biocombustíveis poderia exacerbar esses problemas. Então, há uma legitimidade nessa preocupação que não pode ser descartada de imediato. No entanto, é importante notar duas coisas. A primeira é que é possível produzir biocombustíveis sem ameaçar a produção de alimentos ou os recursos hídricos. A segunda é que não podemos chegar a um futuro sustentável e seguro se mantivermos as práticas que nos trouxeram a esse presente insustentável e inseguro. Não há como chegar a um mundo sustentável sem inovação e sem transformação, e isso vale tanto para a bioenergia quanto para as outras fontes de energia renovável.
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