segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Uso do carvão subiu 1,2% em 2022 e consumo ficará estável até 2025

AIE: uso global do carvão subiu 1,2% em 2022 e consumo deverá ficar estável até 2025.
Relatório da agência indica que falta de esforços para transição e crise de gás levaram a quadro.

Relatório da Agência Internacional de Energia sobre o carvão, Coal 2022 indica que o uso global do insumo deve aumentar 1,2% em 2022, ultrapassando 8 bilhões de toneladas em um único ano pela primeira vez e superando o recorde anterior estabelecido em 2013. De acordo com o relatório, a ausência de esforços para acelerar a transição energética fará com que o consumo mundial de carvão fique em níveis semelhantes nos próximos anos. Com base nas tendências atuais do mercado, o relatório prevê que o consumo permanecerá estável até 2025, à medida que os declínios nos mercados maduros forem compensados pela demanda robusta contínua nas economias asiáticas emergentes. Isso significa que o carvão continuará a ser a maior fonte única de emissões de dióxido de carbono do sistema global de energia.

A demanda esperada de carvão em 2022 está muito próxima da previsão da AIE publicada há um ano, apesar dos mercados do energético terem sofrido abalos por uma série de forças conflitantes. Os preços mais altos do gás natural em meio à crise global de energia levaram a uma maior dependência do carvão para geração de energia, mas a desaceleração do crescimento econômico reduziu ao mesmo tempo a demanda por eletricidade e a produção industrial – e a geração de energia renovável atingiu um novo recorde. Na China, o maior consumidor de carvão do mundo, uma onda de calor e uma seca aumentaram a geração carbonífera de energia durante o verão, mesmo com as rígidas restrições do Covid-19 diminuindo a demanda.

Segundo Keisuke Sadamori, diretor de mercados de energia e segurança da AIE, a demanda por carvão é teimosa e provavelmente atingirá um recorde histórico este ano, aumentando as emissões globais. Para ele, ao mesmo tempo, há muitos sinais de que a crise atual está acelerando a implantação de energias renováveis, eficiência energética e bombas de calor – e isso moderará a demanda pelo energético nos próximos anos.

Os preços do carvão subiram para níveis sem precedentes em março e novamente em junho, impulsionados pelas tensões causadas pela crise energética global, especialmente os picos nos preços do gás natural, bem como as condições climáticas adversas na Austrália, um importante fornecedor internacional. A Europa, que foi fortemente impactada pelas fortes reduções dos fluxos de gás natural da Rússia, está a caminho de aumentar seu consumo do energético pelo segundo ano consecutivo. No entanto, até 2025, espera-se que a demanda europeia de carvão caia abaixo dos níveis de 2020.

Os três maiores produtores do mundo – China, Índia e Indonésia – atingirão recordes de produção em 2022. No entanto, o relatório observa que, apesar dos preços altos e margens confortáveis para os produtores, não há sinal de aumento do investimento em projetos de carvão voltados para exportação. É previsto ainda que a demanda pelo insumo caia nas economias avançadas nos próximos anos, à medida que as energias renováveis o substituem cada vez mais pela geração de eletricidade. As economias emergentes e em desenvolvimento na Ásia devem aumentar o uso de carvão para ajudar a impulsionar seu crescimento econômico, mesmo quando adicionam mais fontes renováveis. (canalenergia)

domingo, 29 de janeiro de 2023

Foco no H2 verde e transição energética

Hanno Erwes, da AHK Rio: foco no H2 verde e transição energética.
Câmara Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro completa 106 anos atuando na criação de oportunidades de negócios entre os países e vê país como protagonista global do novo energético

Completando 106 anos de atuação, a Câmara Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro, a AHK Rio, tem buscado ao logo desse período criar oportunidades de negócios entre os dois países. Considerando o Rio de Janeiro como ‘centro de geração e transformação de todos os tipos de energia’, o diretor executivo Hanno Erwes em entrevista à Agência CanalEnergia vê no hidrogênio verde um nicho de muitas oportunidades e promete pra 2023 em evento dedicado ao tema. Em 2021, a Câmara elaborou um mapeamento desse setor no Brasil e aposta em mais negócios com renováveis nos próximos anos.

Agência CanalEnergia: Como tem sido a atuação da AHK Rio na área de energia ao longo desses 106 anos?

Hanno Erwes: Por ser situada na cidade de Rio de Janeiro, o centro de geração e transformação de todos os tipos de energia, a AHK Rio também trabalha este tema muito forte. É a parceira oficial na transição energética brasileira, conectando pessoas, desenvolvendo ações e criando oportunidades de negócios para empresas brasileiras e alemãs interessadas nas temáticas. O nosso time desenvolve e executa projetos, agregando empresas e instituições da sociedade civil a oportunidades de financiamento, por meio do intercâmbio bilateral de tecnologias ambientais. Mediamos soluções para o setor privado, com foco em eficiência energética, energias renováveis, hidrogênio verde e ESG.

Temos uma tradicional parceria de sucesso com a Agência de Cooperação Internacional da Alemanha (GIZ) com a qual trabalhamos principalmente na área de energia, promovendo energias renováveis e, nos últimos anos, o tema de hidrogênio verde que trouxe para a AHK Rio uma posição de referência neste tema no Brasil.

Além disso, temos uma forte atuação na formação profissional, que é um dos pilares de desenvolvimento da economia alemã. A nossa equipe de Formação Profissional promove cursos exclusivos, com grandes e reconhecidos parceiros, nacionais e internacionais, para que a conexão Brasil-Alemanha traga ao público brasileiro treinamentos com alto nível de excelência, formando profissionais preparados para atender necessidades atuais e futuras do mercado na área de energia, através de Pós-Graduação em Gestão Eficiente de Energia- EUREM – European Energy Manager, em parceria com a Coppe/UFRJ e cursos como o de Hidrogênio e Transição Energética, realizado em parceria com especialistas do Gesel/UFRJ.

Em 2023, realizaremos a feira Hydrogen Expo South America, que acontecerá nos dias 20 e 21 de junho no Rio de Janeiro como um dos primeiros eventos na América Latina integralmente dedicado ao setor de hidrogênio e tecnologias PtX, que é uma tecnologia que converte energia renovável gerada por usinas fotovoltaicas ou eólicas em outras fontes de energia.

Agência CanalEnergia: Quais são as maiores demandas do mercado brasileiro e das empresas alemãs?

Hanno Erwes: O Brasil é um país de muitas oportunidades e com o potencial de desenvolvimento de diferentes setores. O aniversário de 106 anos da AHK Rio mostra a grande tradição que a indústria alemã tem no Brasil. Neste sentido existem muitas áreas onde empresas buscam oportunidades no Brasil. Energias Renováveis, Hidrogênio Verde, Digitalização, Construção Civil, Infraestrutura e Saneamento são somente alguns exemplos de áreas, fora as mais conhecidas como a indústria automobilística e química, que já têm destaque.

A grande missão da AHK Rio é promover a prospecção de novas relações comerciais para associados, mantenedores e parceiros, com geração de oportunidade de negócios e troca de tecnologias entre Brasil e Alemanha. E é com esse foco que o departamento de Entrada no Mercado e Desenvolvimento de Negócios mapeia oportunidades para contribuir para o desenvolvimento econômico e a consolidação de negociações bilaterais. Com as missões técnicas os nossos clientes podem conhecer em profundidade o mercado-alvo e realizar as primeiras tratativas comerciais.

Neste novo contexto mundial, são prioridades as políticas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, a o mesmo tempo que definem ações estratégicas para a diversificação acelerada das matrizes energéticas em direção às fontes renováveis. Para atender esses objetivos, os mercados que evitam riscos de desabastecimento de energia, mitigam os impactos dos altos preços de energia e priorizam a ampliação das fontes renováveis na matriz energética, são mais demandados.

Agência CanalEnergia: Há uma grande interação entre Brasil e Alemanha no setor elétrico na área de cooperação técnica e de formulação de políticas. Como isso se replica na atuação da Câmara AHK Rio?

Hanno Erwes: A AHK Rio é parceira em conduzir, coordenar e gerenciar projetos específicas com o setor privado para a transição energética e transformação industrial no Brasil, sendo um dos principais executores de programas da GIZ que desenvolve parcerias estratégicas, bem como recomendações para o diálogo político entre Brasil e Alemanha para o desenvolvimento dos mercados.

Em 2021, a AHK Rio desenvolveu um estudo de mapeamento do setor de hidrogênio verde no Brasil onde entrevistou mais de 100 empresas sobre o tema e mostrou as tendências globais no assunto. O estudo foi desenvolvido no âmbito da Parceria Energética Brasil-Alemanha, coordenado pelo Ministério Federal da Economia e Ação Climática da Alemanha, em conjunto com o Ministério de Minas e Energia e a Empresa de Pesquisa Energética, virando uma referência para o governo sendo mencionado nas diretrizes do Programa Nacional de Hidrogênio PNH2.

A atuação no elo entre a indústria e o governo continua sendo desenvolvida em um outro programa onde participantes como executivos de negócios, instituições de pesquisa e universidades, que atuam direta ou indiretamente na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias do hidrogênio verde, puderam avaliar e identificar instrumentos para fortalecer a cadeia do hidrogênio, juntamente com o aprofundamento do diálogo e da cooperação com contribuições de diferentes setores da economia.

No âmbito do programa H2 Brasil que tem como objetivo apoiar o país na implementação de uma economia de hidrogênio verde, a AHK Rio firmou, junto com a AHK São Paulo, a Aliança Brasil Alemanha de Hidrogênio Verde e trabalha em projetos de inovação e disseminação onde leva o assunto de hidrogênio verde para o ecossistema de inovação e para o público em geral.

Hanno Erwes, da AHK Rio: grande missão da Câmara é promover prospecção de novas relações comerciais com geração de oportunidade de negócios e troca de tecnologias entre Brasil e Alemanha.

Agência CanalEnergia: Como tem sido o trabalho de aproximação da AHK Rio frente as novas tecnologias como eólicas offshore e o hidrogênio verde? Quais as expectativas da Câmara perante esses novos mercados?

Hanno Erwes: A AHK Rio introduziu o tema de hidrogênio verde no mercado brasileiro em 2019 quando realizou o primeiro evento, o Green Hydrogen Lab. Desde então a organização se tornou referência no mercado por trazer expertise técnica e disseminando a posição alemã/europeia sobre o tema. O Brasil, na sua tradicional vocação de exportador de comodity, pode se tornar um grande protagonista global e vai ter a AHK Rio como um parceiro firme identificando oportunidades de negócios e promovendo conexões através do portal de hidrogênio verde.

Tendo a Energiewende, tradução de Transição Energética, como o principal foco da política alemã e considerando a realidade brasileira, o departamento de Inovação, Energia e Sustentabilidade investe no desenvolvimento de parcerias e projetos que entreguem meios e processos que favoreçam a transição energética global. Os projetos prioritários focam em temas como: Energia, ESG, Hidrogênio Verde e Inovação.

A Aliança Brasil-Alemanha pelo Hidrogênio Verde foi criada em agosto de 2020 para promover parcerias e oportunidades de negócios entre empresas e instituições brasileiras e alemãs. Desde então, tem promovido diferentes ações para impulsionar o desenvolvimento das tecnologias do hidrogênio verde e PtX no Brasil, tais como estudos setoriais, eventos, workshops, hackathons.

Agência CanalEnergia: De que forma a modernização do setor elétrico brasileiro – em vias de ser aprovada e que trará entre outras coisas a abertura do mercado – pode viabilizar negócios?

Hanno Erwes: As propostas de modernização podem viabilizar novos negócios à medida que oferece oportunidade de participação de novos empreendedores, geração de empregos e também diversificação de serviços. Contanto que seja regularizada e baseada em demandas do mercado, as modernizações irão contribuir para maior democratização, com acesso justo, limpo e diversificado de energia elétrica.

Agência CanalEnergia: Acredita que o incremento na transição energética vai intensificar os negócios entre os dois países no setor elétrico?

Hanno Erwes: Acredita-se que priorizar estes temas é o caminho que irá construir oportunidades de investimento, considerando também a descarbonização das economias e processos de produção. A demanda por fontes de energia sustentáveis que mitiguem os efeitos da mudança climática são a grande tendência do setor energético global.

Em confluência com as tendências globais e com as oportunidades de criação de novas parcerias e negócios, os projetos relacionados ao Hidrogênio Verde e tecnologias PtX, a AHK Rio fortalece o ecossistema brasileiro de pesquisa, desenvolvimento, inovação e empreendedorismo em Hidrogênio Verde & PtX, criando soluções para geração, distribuição e aplicação – contribuindo assim para o desenvolvimento de uma economia de Hidrogênio Verde no Brasil. Os nossos esforços e dos parceiros, nesta jornada, abastecem o mercado nacional com informações, estudos, debates e ações concretas para validar o alto potencial que o Brasil tem de Hidrogênio Verde e PtX.

Agência CanalEnergia: Qual a perspectiva que o novo governo traz para a AHK Rio na área de energia? Quais as metas em 2023?

Hanno Erwes: O papel da AHK Rio é promover intercambio entre as indústrias e empresas dos dois países. Neste sentido atua independente de qualquer governo. O que direciona a nossa atuação é o desenvolvimento do setor de energia em geral, conectando oportunidades, pessoas e promovendo debate de temas pioneiros no setor de energia, através da representação bilateral entre o Brasil e a Alemanha, que trabalham juntos para apoiar e diversificar o fornecimento de energia sustentável, seguro e acessível, além de melhorar a eficiência energética dos dois países.

Acreditamos que as afirmações dos compromissos do acordado de Paris, orientados pela busca da descarbonização da economia global, investindo nas oportunidades criadas pela transição energética, com investimentos em energia eólica, solar, hidrogênio verde e bicombustíveis, representam um potencial enorme para o desenvolvimento socioeconômico do país e principalmente da região do Nordeste deve ser uma prioridade natural do governo brasileiro investindo na criação de uma economia de baixo carbono, e consequentemente em energias renováveis e ações sustentáveis.

Sendo assim, a perspectiva é de maior expansão de negócios e promoção do uso das energias renováveis. Para a AHK Rio, será uma oportunidade de finalizar projetos que já estão em andamento com êxito e criar outros que também estejam alinhados com o movimento global de descarbonização. (canalenergia)

Governo oferece novo método de extração de combustíveis fósseis

Governo incentiva método controverso de extração de combustíveis fósseis.
No apagar das luzes da gestão de Bolsonaro, o governo federal lançou o edital do projeto Poço Transparente, que incentiva o fracking no Brasil. A prática consiste na exploração de reservatórios não convencionais de petróleo e gás por meio de técnicas como o fraturamento hidráulico e já foi banida em países como Alemanha, França e Reino Unido por estar associada a riscos à saúde humana e impactos socioambientais.

Já há empresas com interesse em aplicar o fraturamento hidráulico em áreas de exploração na Amazônia Legal. É o caso da Eneva, a maior operadora privada de gás natural do Brasil, cujas operações no Maranhão estão na região da bacia sedimentar do Parnaíba (no Pará, Maranhão, Piauí e Tocantins), que contém uma das reservas de gás não convencional mais promissoras do país, de acordo com dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Outras bacias sedimentares na Amazônia, como a do Solimões (no Amazonas) e do Amazonas (no Amazonas, Pará e Amapá), também contêm potenciais reservas do recurso, de acordo com dados da EPE.

O documento, lançado em 07/12/22, faz concessões a entidades e empresas do setor de petróleo e gás que haviam pedido a flexibilização de trechos de uma minuta submetida à consulta pública entre março e abril deste ano no site do Ministério de Minas e Energia (MME).

Como um dos requisitos para a qualificação de projetos por meio do edital, a versão preliminar do texto determinava que houvesse distância mínima de 1,5 mil metros entre o poço perfurado para fracking e aquíferos passíveis de uso doméstico ou industrial. Também demandava que os poços onde seria realizado o fraturamento hidráulico ficasse a pelo menos 500 metros de “construção habitada”.

Na consulta pública, a Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás (Abpip) e o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) se manifestaram contrariamente ao primeiro ponto, e a Abpip, desfavoravelmente ao segundo, conforme revelou a Agência Pública em junho. A intenção, sobretudo em relação ao primeiro tópico, era beneficiar a Eneva, que, em evento para investidores em fevereiro deste ano, manifestou a intenção de submeter uma proposta ao Poço Transparente para realizar o fracking em Santo Antônio dos Lopes, no interior do Maranhão, onde possui um complexo formado por quatro usinas termelétricas e campos de produção de gás convencional. Segundo a Abpip e o IBP, poços com potencial não convencional naquela região distam entre 1,2 e 1,4 mil metros de aquíferos – o que desrespeitaria o limite determinado pela primeira versão do edital.

No fim das contas, ambas as exigências acabaram suprimidas do edital elaborado pelo MME, Agência Nacional de Petróleo (ANP), EPE e Programa de Parceria de Investimentos (PPI), vinculado ao Ministério da Economia. O documento estabelece apenas que não sejam aceitos projetos “quando houver estudos técnicos que demonstrem que a execução do fraturamento hidráulico afetará a base de um aquífero passível de uso doméstico ou industrial”.

Ilan Zugman, diretor para América Latina da organização 350.org, avalia que o documento é demasiadamente simplificado e impõe poucas restrições diante de uma técnica “perigosa e danosa” como o fracking, o que classifica como “temerário”. “A retirada desses pré-requisitos deixou o processo ainda mais fácil para as empresas”, destaca Zugman. “É claro que será estudado caso a caso, mas é um grande absurdo que não haja restrições maiores. Pelo contrário, eles derrubaram as restrições que já eram muito frágeis.”

A 350.org é uma das 16 organizações da sociedade civil que, em nota lançada em 09/12/22, criticaram o edital e pediram sua “revogação imediata” ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao vice Geraldo Alckmin (PSB), ao coordenador do grupo de trabalho do Meio Ambiente da equipe de transição, senador Jorge Viana (PT), e também ao relator do GT, Pedro Ivo Batista. Os signatários do texto apontam que o Poço Transparente representa “iminente risco de danos irreversíveis a toda a sociedade brasileira e ao clima global”, já que o petróleo e o gás não convencionais obtidos via fracking são combustíveis fósseis, cuja queima produz gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global e as mudanças climáticas.

De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), é necessário que o mundo atinja, no máximo até 2025, o pico das emissões desses gases para manter viva a meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura média global a 1,5°C. Por isso, para Zugman, o Brasil está na contramão do mundo ao apostar no fracking. “O governo deveria fortalecer a transição energética, colocar o foco nas energias renováveis e não em testar uma técnica que já foi banida em vários países”, afirma.

Em resposta aos questionamentos da Pública, a ANP informou apenas que a demanda deveria ser dirigida ao MME. O ministério, por sua vez, não retornou até a publicação da reportagem, assim como a EPE, PPI, Abpip, IBP e Eneva.

Redução de royalties e apoio ao licenciamento ambiental

A partir de agora, conforme o edital, empresas que quiserem fazer fracking em poços não convencionais em blocos ou campos sob sua concessão poderão inscrever propostas, que deverão ser analisadas pelo MME num prazo de 90 dias. Poderão ser submetidos projetos durante dois anos, até 07/12/2024.

As propostas selecionadas contarão com incentivos, como a redução do pagamento de royalties por parte das empresas produtoras aos entes estatais. A lei determina que a compensação financeira seja paga em montante correspondente a 10% da produção de petróleo ou gás natural, com a previsão de que a ANP possa reduzir o valor a 5% em casos específicos. O edital determina que isso se aplique ao caso do Poço Transparente.

Ainda segundo o documento, o projeto tem como bandeiras a transparência e a intenção de promover a exploração de reservatórios não convencionais “em condições seguras para o meio ambiente e para a saúde humana”. No entanto, especialistas ouvidos pela Pública não acreditam que isso seja possível diante das sólidas evidências científicas que apontam riscos à saúde e ao meio ambiente relacionados à prática do fracking.

O edital também estabelece que os projetos selecionados contarão “com apoio ao licenciamento ambiental e a outras medidas necessárias à sua viabilização”. Esse é um dos grandes obstáculos para a aplicação da técnica do fraturamento hidráulico no Brasil: não existe no país regulamentação específica para o processo de licenciamento ambiental necessário à sua realização, conforme determina resolução da ANP. O Poço Transparente só viabilizará a atividade por ser uma iniciativa de caráter experimental.

A publicação do edital no último mês de Bolsonaro como presidente da República visa ao cumprimento de uma promessa que constava em seu plano de governo quando candidato em 2018: a de incentivar a “exploração não convencional” de petróleo e gás que pudesse ser “praticada por pequenos produtores” contra “o monopólio da Petrobras sobre toda a cadeia de produção do combustível”.

Impactos

O fracking pode acarretar uma série de consequências ambientais, conforme vêm apontando a ciência e as comunidades impactadas ao longo dos anos.

Uma das mais notáveis são as significativas emissões de gases de efeito estufa (GEE), os grandes responsáveis pelo aquecimento global, não só nas etapas de exploração e produção do gás de folhelho, como na atividade do maquinário pesado utilizado nas operações e na intensa movimentação de veículos de transporte – o que causa também a piora da qualidade do ar local. Há ainda as emissões “fugitivas” de metano, um poderoso GEE, que ocorrem em momentos da injeção de fluidos nos poços e de sua volta à superfície (a “água de retorno”) para a extração do petróleo ou gás. Um estudo de 2019 constatou que, durante a década anterior, a produção de gás de folhelho nos EUA – que, graças ao fracking, se tornaram o maior produtor mundial de hidrocarbonetos – pode ter contribuído para mais da metade do aumento das emissões derivadas de combustíveis fósseis em todo o planeta e para aproximadamente um terço da elevação de emissões globais de todas as fontes de GEE no mesmo período.

Os tremores induzidos pelo fracking ou em decorrência dele representam outro impacto. Eles podem ser ocasionados pelo próprio fraturamento hidráulico ou pela reinjeção, na rocha, da água suja que sobe à superfície com o óleo ou gás – uma maneira mais barata de descartá-la. No estado norte-americano do Texas, por exemplo, o número de terremotos de magnitude 3 ou maior dobrou de 2021 para 2022, o que cientistas têm atribuído à reinserção de água no subsolo após o fracking. Pela escala Richter, a partir do nível 3,5 o tremor começa a ser sentido pela população. Em Vaca Muerta, na Patagônia argentina, região com a segunda maior reserva potencial de gás de folhelho no mundo e onde o fracking é feito desde 2011, os terremotos também prejudicam a vida das comunidades. Um estudo identificou 206 sismos na região entre 2015 e 2020, algo que pode ser considerado uma nova dinâmica local e tem relação com o fraturamento hidráulico, concluíram os pesquisadores. Pela mesma razão, o Reino Unido baniu a prática em 2019.

Porém, “os recursos hídricos são potencialmente os mais sensíveis aos impactos ambientais decorrentes das atividades de fracking”, de acordo com um caderno da FGV Energia, MME, EPE e Rede Gasbras, pois elas exigem “quantidades significativas de água doce” e geram “grandes volumes de rejeitos líquidos contaminados por diversos elementos e compostos potencialmente tóxicos”. A técnica demanda, segundo alguns estudos, de 10 milhões a 17 milhões de litros de água para cada poço, o que ameaça a segurança hídrica das regiões onde é executada, sobretudo nas quais já há escassez ou em épocas de seca. Além disso, existe o risco de contaminação de aquíferos, pelos quais passam os furos que miram camadas de rocha muito abaixo da camada subterrânea de água. Mais provável do que isso, mostra um artigo científico publicado em 2017, é a contaminação de águas superficiais, como rios e córregos, por derramamentos ou vazamentos acidentais de fluidos residuais do fracking.

Todas essas implicações podem provocar danos à saúde humana. Pesquisa divulgada em março deste ano identificou que produtos químicos relacionados ao fraturamento hidráulico têm chegado a aquíferos que alimentam os sistemas de água municipais da Pensilvânia – considerado um dos epicentros da prática nos EUA –, sendo que o potencial de contaminação é maior durante o período de pré-produção, quando um novo poço é perfurado. As autoras do trabalho observaram, ainda, que cada novo poço aberto a menos de 1 km de uma fonte pública de água potável está associado a um aumento de 11% a 13% na incidência de partos prematuros e baixo peso no nascimento de bebês expostos durante a gestação.

O que é o fracking e o que significam recursos não convencionais

Recursos não convencionais são aqueles extraídos de rochas de baixa permeabilidade, mais difíceis de explorar do que os reservatórios típicos, que produzem petróleo e gás convencionais. “Xisto” (shale, em inglês) é o termo usado popularmente para se referir ao folhelho, uma das formações rochosas não convencionais em que o gás e o petróleo podem ocorrer. Também existem os reservatórios de arenitos ou carbonatos “fechados” com petróleo e gás (tigh oil e gas), entre outros.

Segundo a EPE, potenciais reservas de sete tipos de recursos não convencionais foram mapeadas em quatorze bacias sedimentares brasileiras, com destaque, em termos de variedade, para as do Paraná (que se estende por Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Paraná e Santa Catarina), Parnaíba (que abrange partes do Pará, Maranhão, Piauí e Tocantins) e Recôncavo (Bahia).

Em relação ao gás de folhelho – que fez dos Estados Unidos o maior produtor mundial de gás –, as bacias do Parnaíba, Paraná, Recôncavo, Solimões (no Amazonas) e Amazonas (no Amazonas, Pará e Amapá) são as mais promissoras. O Departamento de Informação de Energia dos Estados Unidos (EIA, na sigla em inglês) coloca o Brasil como o décimo país com mais recursos em gás de folhelho no planeta.

Para que a operação comercial desses reservatórios não convencionais seja viável, são necessárias técnicas mais complexas. Primeiro, o poço é perfurado de maneira vertical até que se atinja a camada de rocha a ser explorada, que normalmente fica a profundidades de 1,8 a 3 km abaixo da superfície. A partir daí, a perfuração continua horizontalmente por distância que varia de 1 a 3 km, e, ao fim desse processo, o poço é revestido com tubos de aço e cimentado. Depois disso, entra o fraturamento hidráulico: a injeção de grandes quantidades de água com diversos produtos químicos (na literatura científica, há registro de mais de mil componentes químicos já utilizados nas operações) e areia sob alta pressão, que produz fraturas nas rochas, permitindo que o gás e o óleo antes inacessíveis fluam para a tubulação e sejam extraídos. (biodieselbr)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Hidrogênio verde testa possibilidades e viabilidade econômica no Brasil

Projetos pilotos no país aferem as expectativas e realidades diante do cenário desafiador para a descarbonização.
O hidrogênio verde (H2V) vem ganhando posição de destaque no setor elétrico por ser uma tendência mundial para solucionar desafios relacionados à descarbonização. A potencial competitividade do Brasil na produção do hidrogênio verde e seus derivados vêm crescendo, tanto do ponto de vista do governo, como dos agentes privados. Existem muitas expectativas com o H2V, mas quais são os setores que devem ser mais viáveis para introdução do H2V?

Segundo Eduardo Tobias, Coordenador da Força-Tarefa de Hidrogênio Verde da Absolar, substituir o fóssil pelo renovável é o caminho mais imediato, e é onde tende a ser mais competitivo. “O hidrogênio é um gás, incolor, todos esses “rótulos” e cores que estão sendo dadas é para identificar as diferentes formas tecnológicas e fontes de energia que estão sendo usadas para produzir”, destacou Tobias durante o Encontro Nacional da Absolar, que aconteceu em 08/12/22.

Atualmente existem projetos pilotos em desenvolvimento no Brasil que já estão em operação, que são Itaipu, Cesp e Furnas, com projetos de P&D utilizando energia fotovoltaicas com o foco de usar o hidrogênio para armazenamento de energia elétrica de longo prazo. “Faz o hidrogênio, mantêm ele por um tempo e transforma novamente em eletricidade. Isso tem se mostrado com uma aplicação não muito eficiente, porque o nível de perdas é muito grande nesse processo de transforma, volta, e assim por diante”, ressaltou Tobias.

Nesta semana está previsto entrar em operação o projeto de 1 MW da EDP no Porto Pecém, dentro de uma termelétrica de 700 MW à carvão, onde o hidrogênio verde será aplicado no processo da UTE, com projeto 100% fotovoltaica. Toda essa movimentação foi ativada pela urgência da transição energética, mas também é motivado pela orientação do CNPE, para priorizar o uso de verba de P&D na investigação de universos extremos e o hidrogênio verde encabeçou a lista em março de 2021.

Para Cayo Moraes, Gestor Executivo na EDP, porque o hidrogênio e porque agora? Atingir a meta de redução de carbono estipulado no Acordo de Paris é um desafio gigantesco, pois será preciso tirar praticamente 90% do carvão da matriz energética mundial, 65% de petróleo e 45% de gás. “O H2V tem a capacidade de reduzir esse consumo de energia de fontes primárias, ou seja, se eu tenho o hidrogênio produzido por eletrólise alimentadas energeticamente por recursos renováveis, eu movimentei uma commodities que pode basicamente atuar em diversas cadeias industriais”, destacou.

“O Brasil conta com um Sistema Interligado Nacional de baixo carbono, com uma indústria doméstica capaz de iniciar essa transição e absorver todo esse hidrogênio verde e seus derivados a médio e longo prazo, com variedades de fontes renováveis, sem contar uma posição estratégica, que permite todos esses investimentos e perspectivas”, finalizou Moraes. (canalenergia)

O potencial do trabalho verde no Brasil

Percentual hoje conhecido (10% dos empregos verdes) nos coloca na segunda posição – atrás apenas da China – entre os países que mais geram empregos na indústria de biocombustíveis sustentáveis e energias renováveis

Temos urgência no tempo: existe cada vez mais a preocupação com os impactos ambientais, de todos, sem exceção, certa atenção e muito cuidado na especial construção de um mundo sustentável e solidário. Na discussão, é certo dizer abertamente que os setores produtivos, de modo especial, estão na berlinda. Por isso, na relação entre a economia e o meio ambiente, e mesmo na ética global e no modo como hoje organizamos a sociedade, chama a atenção às estratégias adotadas para ampliar a imprescindível proteção ambiental.

Essa questão é fundamental, para começar a discutir em grande medida as estratégias de desenvolvimento no Brasil (em referência ao desenvolvimento sustentável e ao cuidado ambiental), quando se pensa na necessária transição energética, no comércio do crédito de carbono, na mudança climática global e, claro, na urgente trajetória sustentável (olhando de perto os objetivos de sustentabilidade), devemos redobrar a atenção, primeiramente, para a qualidade do emprego gerado, e não somente na quantidade, como é de costume.

Parque eólico em área agrícola: expansão de setores ligados à sustentabilidade criará um novo modelo de trabalho.

O emprego verde é uma alternativa na recuperação pós-pandemia.

A expansão da chamada economia de baixo carbono pode gerar mais de 2 milhões de vagas no Brasil e adicionar 2,8 trilhões de reais ao PIB até 2030.

Em um breve olhar, combinando agenda ambiental com mercado de trabalho, essa qualidade (que requer aprimoramento na capacitação) não tem apenas nome, mas, sobretudo, tem cor definida: emprego verde. Isto é, o emprego que necessariamente é gerado, seja em áreas rurais ou urbanas, pensando na redução do impacto ambiental de empresas e setores e atividades da economia, entre esses, a construção civil, o manejo florestal, a pesca, a aquicultura, a reciclagem de resíduos, o setor energético, e por aí em diante.

Dito de outra forma, isso tudo faz referência à geração dos benefícios que os recursos naturais nos reservam. Avaliando então o alcance da empregabilidade do futuro, com vistas à qualificação de empregos mais ecológicos, digamos assim, o que há, de fato, é uma nova formação de trabalho (com novas aprendizagens) que carregam promissores slogans como carreira verde, talentos verdes, ou mesmo habilidades verdes. Com efeito, resta apenas esclarecer que há muito potencial para cada vez mais “esverdearmos” nossa economia, a partir do desenvolvimento de fontes limpas, o que decerto permite aumentar nossa vantagem competitiva.

Consequência direta de políticas industriais e setoriais tomadas lá atrás, tendo em vista o caso brasileiro, o País já responde hoje por 10% dos empregos verdes no mundo, e pode crescer ainda mais expandindo a economia de baixo carbono. Até 2030, temos possibilidade de abrir mais de 2 milhões de vagas no Brasil, o que incrementaria algo como 2,8 trilhões de reais ao PIB. Falamos aqui, claramente, de empregos que respeitem os princípios de preservação ambiental, desde a instalação de sistemas a fabricação de componentes; de novas funções relacionadas à sustentabilidade a projetos de engenharia puramente verde, em especial, painéis solares e turbinas eólicas.

Antes de qualquer coisa, vale notar que esse percentual (o nível de “esverdeamento”, queremos dizer) vem crescendo ao longo do tempo. Em 2015, de mais de 101 milhões de empregos formais e informais no Brasil, 6,4% correspondiam a empregos verdes – agricultura, pecuária e produção florestal lideravam os setores produtivos totalmente e parcialmente verdes.

Estudo “Uma Nova Economia para Uma Nova Era”, publicado em agosto/2020 e feito pela WRI Brasil, entidade com presença em mais de 50 países, as vantagens de uma transformação sustentável foram demonstradas com números. Além da geração de empregos e do reflexo no PIB, a modelagem econômica utilizada demonstrou o ganho de R$ 19 bilhões em produtividade agrícola e R$ 742 milhões em receitas fiscais adicionais até 2030. Ao mesmo tempo, as ações preveem a restauração de 12 milhões de hectares de pastagens degradadas e a redução de 42% nas emissões de gases de efeito estufa em 2025, em comparação aos níveis de 2005.

De toda sorte, esse percentual hoje conhecido (10% dos empregos verdes) nos coloca na segunda posição – atrás apenas da China – entre os países que mais geram empregos na indústria de biocombustíveis sustentáveis e energias renováveis (solar [a energia que mais cresce aqui e no mundo], hidrelétrica e eólica). Somente com as energias renováveis, a Agência Internacional de Energia Renovável (Irena) estima a criação de mais de 38 milhões de novos postos no mundo até 2030.

Cabe um destaque: como lição mais importante, todo o esforço de criação de novos empregos verdes, note-se bem, tem sido pensada em cima de novas políticas de desenvolvimento industrial e de compromissos climáticos, uma espécie de nova ordem e cultura globais, indicativo de que a temática ambiental ganha cada vez mais espaço. Desse ponto em diante, isso significa pensar a economia global no seio da biosfera, algo que ainda incomoda muito o pensamento econômico convencional, historicamente amarrado à ideia de que a prosperidade vem apenas de mais crescimento, ignorando-se na base e na ponta que esse excesso (crescimento além do razoável) choca-se com os limites do planeta (base de toda economia).

Todavia, ainda há mais uma ressalva: estamos longe de nos habituarmos a produzir e consumir de outra maneira, assim como também estamos distante de aprender a fazer mais com menos. Hoje, mais do que nunca, priorizamos a economia (e os negócios rentáveis) fechando os olhos para a questão ambiental planetária e para o colapso ecológico.

Fórmula cômoda, o discurso moderno é conhecido: todos propõem sempre mais crescimento (a partir de necessidades artificiais e de consumo acelerado) e seu reducionismo materialista, sem preocupação ecológica. Em linguagem corrente, intensifica-se a exploração insustentável da natureza. No jogo de cartas marcadas, a tradução disso, bem sabemos, é simples de entender: estamos vivendo do capital da Terra, como aponta em poucas palavras Pavan Sukdev. Essa definição, por si só, aponta para o atual estado de vulnerabilidade em que toda a humanidade se encontra, principalmente em matéria de bem-estar planetário.

Ocorre que é chegado o momento de virar esse jogo. No fim das contas, para fazer o contraponto e desafiar de vez o antropocentrismo, vem daí a importância de se pensar com mais seriedade na geração de empregos verdes, resgatando-se, antes ainda, um compromisso com a qualidade de vida presente e futura.

Seja como for, incorporando as exigências ecológicas (o que obviamente seria uma solução vantajosa para todos), isso significa, em primeiro lugar, pensar com mais seriedade que outro mundo é possível. Ainda assim, longe de oferecermos aqui uma proposta fechada, é nesse contexto e nessa realidade que a estratégia de crescimento verde, se bem feita, pode sim dissociar o crescimento do esgotamento do capital natural.

A aposta está feita! (ecodebate)

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Crise global de energia vai acelerar renováveis

AIE: crise global de energia vai acelerar renováveis.
Planta de operações do gasoduto Nord Stream 1 em Lubmin, na Alemanha/Europa.

Mundo vive “primeira crise de energia verdadeiramente global”, diz chefe da AIE.

Aumento dos preços globais de fontes de energia, como petróleo, gás natural e carvão, está prejudicando consumidores ao mesmo tempo em que já lidam com crescente inflação de alimentos e serviços.

Segurança energética deve fazer com que sejam adicionados 2.400 GW até 2027.

Novo relatório da Agência Internacional de Energia diz que a crise global de energia está provocando uma forte aceleração nas instalações de energia renovável, com o crescimento total da capacidade mundial, quase dobrando nos próximos cinco anos, ultrapassando o carvão como a maior fonte de geração e ajudando a manter a possibilidade de limitar aquecimento global para 1,5 °C.

Por um futuro mais limpo!!!

Guerra Ucrânia/Rússia acelera a transição energética no Brasil e no mundo, podendo chegar a ter inúmeros ganhos com as fontes de energias renováveis e mais os investimentos de R$ 250 bilhões em dez anos.

Segundo a agência, as preocupações com a segurança energéticas causadas pela invasão da Ucrânia pela Rússia motivaram os países a recorrer cada vez mais a fontes renováveis, como a solar e a eólica, para reduzir a dependência de combustíveis fósseis importados, cujos preços dispararam drasticamente. A expectativa agora que a capacidade global de energia renovável cresça 2.400 GW no período 2022-2027, uma quantidade igual a toda a capacidade de energia da China hoje, de acordo com Renewables 2022, a última edição do relatório anual da AIE sobre o setor.

Esse grande aumento esperado é 30% maior do que a quantidade de crescimento prevista há apenas um ano, destacando a rapidez com que os governos deram peso adicional às políticas renováveis. O relatório conclui que as energias renováveis devem responder por mais de 90% da expansão global da eletricidade nos próximos cinco anos, ultrapassando o carvão para se tornar a maior fonte de eletricidade global no início de 2025.

De acordo com o diretor executivo da AIE, Fatih Birol, as energias renováveis já estavam se expandindo rapidamente, mas a crise global de energia as colocou em uma nova fase extraordinária de crescimento ainda mais rápido, à medida que os países buscam capitalizar seus benefícios de segurança energética. Para ele, o mundo deve adicionar tanta energia renovável nos próximos 5 anos quanto nos 20 anos anteriores.

A guerra na Ucrânia é um momento decisivo para as energias renováveis na Europa, onde governos e empresas procuram substituir rapidamente o gás russo por alternativas. Prevê-se que a quantidade de capacidade de energia renovável adicionada na Europa no período de 2022-27 seja duas vezes maior do que no período de cinco anos anterior, impulsionada por uma combinação de preocupações com segurança energética e ambições climáticas. Uma implantação ainda mais rápida de energia eólica e solar fotovoltaica poderia ser alcançada se os estados membros da UE implementassem rapidamente uma série de políticas, incluindo simplificar e reduzir os prazos de licenciamento, melhorar os projetos de leilões e fornecer melhor visibilidade nos cronogramas de leilões, bem como melhorar os esquemas de incentivo para suporta telhado solar.

Crise global de energia vai acelerar renováveis.

Além da Europa, a revisão para cima no crescimento de energia renovável para os próximos cinco anos também é impulsionada pela China, Estados Unidos e Índia, que estão implementando políticas e introduzindo reformas regulatórias e de mercado mais rapidamente do que o planejado anteriormente para combater a crise energética. Como resultado de seu recente 14º Plano Quinquenal, espera-se que a China responda por quase metade das novas adições de capacidade de energia renovável global no período 2022-2027. Enquanto isso, a Lei de Redução da Inflação dos EUA forneceu novo suporte e visibilidade de longo prazo para a expansão das energias renováveis nos Estados Unidos.

A energia solar fotovoltaica em escala de utilidade pública e a energia eólica onshore são as opções mais baratas para a nova geração de eletricidade em uma maioria significativa de países em todo o mundo. A capacidade solar fotovoltaica global deve quase triplicar no período 2022-2027, superando o carvão e se tornando a maior fonte de capacidade de energia do mundo. O relatório também prevê uma aceleração das instalações de painéis solares em telhados residenciais e comerciais, que ajudam os consumidores a reduzir as contas de energia. A capacidade eólica global quase dobra no período de previsão, com projetos offshore respondendo por um quinto do crescimento. Juntas, a energia eólica e a solar representarão mais de 90% da capacidade de energia renovável adicionada nos próximos 5 anos.

Guerra deixa a transição energética mais distante.

Apesar de discursos, uso de carvão cresceu antes mesmo da guerra. (canalenergia)

Crescimento da geração solar tem efeitos positivos no meio ambiente

Crescimento da geração solar tem efeitos positivos no meio ambiente e sociedade.
A expansão das fontes renováveis faz com que a sustentabilidade e o número de empregos na área cresça gradativamente.

É inquestionável o papel que a fonte solar desempenha no meio ambiente e na sustentabilidade do planeta. O Brasil representa 1% das emissões de gases de efeito estufa, e esse fato se dá pela matriz energética brasileira ser basicamente composta por fontes renováveis. A capacidade instalada da fonte solar fotovoltaica apresentou crescimento de 52,2% entre janeiro e outubro de 2022, saltando de 13,8 GW para 21,1 GW, mostrou um levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Abolar)

A geração solar entregou nos últimos meses mais de 1GW de matriz elétrica, isso significa 1 usina de Itaipu a cada 1 ano e 6 meses, apontou Rodrigo Pedroso, Conselheiro Fiscal da Absolar, durante o Encontro Nacional da Absolar que aconteceu em 08/12/22. Pedroso ressaltou ainda que o número de empregos gerados na área já ultrapassou 670 mil vagas, “Sem dúvida é fundamental esse tripé de energia solar, meio ambiente e sociedade”, destacou.

Ainda com o foco no meio ambiente, Ricardo Baitelo, Gerente de Projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), trouxe o tema debatido na última COP27, que aconteceu em novembro/22, e quais serão os próximos passos para o futuro. Um dos temas discutidos é sobre a redução da temperatura do planeta, que precisa cair pelo menos 1,5°C, só que essa conta não fecha. A guerra na Ucrânia é uma dessas lacunas, que fez voltar os olhos para o consumo energético daquela região e de outros países que precisaram manter ativas a energia gerada à carvão. “A geração solar é uma fonte de custo baixo, com retorno rápido, por isso tende a crescer cada vez mais”, destacou.

Eventos climáticos extremos são cada vez mais graves e impactantes, e segundo Baitelo, apesar de todas suas fontes renováveis, Brasil não se saiu bem no cenário mundial, visto que o desmatamento segue crescendo desenfreadamente. “Brasil não foi bem nos últimos 4 anos, retrocedeu, mas tem tudo para se recuperar”, destacou. Baitelo mencionou ainda a ideia sugerida pelo presidente Lula, que afirmou que irá pedir à ONU que a COP30, em 2025, seja realizada na Amazônia. “O governo eleito mostra bastante desempenho em continuar investindo em fontes renováveis e isso aumenta nossas expectativas para o futuro”, finalizou.

A importância da geração solar não fica somente no âmbito das energias limpas e da sustentabilidade com o meio ambiente. A crescente demanda desse setor abre diversas frentes de trabalho, no entanto, as vagas oferecidas às mulheres continuam sendo muito pequenas, se comparadas à contratação de homens. Segundo Fabiana Dias, Consultora da GIZ, a inclusão de mulheres nas energias renováveis ainda são pouquíssimas. Para Fabiana são diversas pautas que precisam ser abordadas, como os cursos profissionalizantes, que são as portas de entrada para o setor, as práticas ESG, entre outras. “Em todo esse crescimento, desenvolvimento, onde estão as mulheres nessas conquistas?”, destacou.

A energia solar apresenta os menores impactos ambientais entre todas as fontes energéticas disponíveis ao homem, sem emissão de poluentes na sua geração elétrica ou efeitos negativos significantes ao meio ambiente na construção de grandes usinas, sendo estes ainda nulos em pequenos e médios projetos de geração distribuída. (canalenergia)

domingo, 22 de janeiro de 2023

Vazão da UHE Itaipu continuará por dez dias

Vertimento é de 1.400 m³ de água por segundo e deve-se à previsão da chegada de água que está sendo vertida cascata acima da central localizada no rio Paraná.

A UHE Itaipu abriu em 14/01/2023, a partir das 6h, as comportas para vazão e controle do nível do reservatório e segurança da barragem. O vertimento é de 1.400 m³ de água por segundo, equivalente à vazão média das Cataratas do Iguaçu. A previsão é que o vertedouro, que teve sua última abertura em outubro de 2021, para controle do nível do Rio Paraná, opere pelos próximos dez dias.

De acordo com a geradora, a medida foi necessária para dar segurança à barragem da Itaipu, devido ao aumento do nível do reservatório causado pelas chuvas acima da média ao longo do mês de janeiro. Em muitas bacias, planos de controle de cheias e vertimento já estão sendo acionados, como o que vem acontecendo nas usinas do Rio Madeira, no complexo Belo Monte, e nas bacias do Rio São Francisco e do Rio do Grande.

Ainda segundo a Binacional, com a recuperação significativa dos reservatórios da Região Sudeste, que ficam acima do reservatório da Itaipu, toda esta água está chegando na usina hidrelétrica de Itaipu e como não há demanda energética no Brasil e no Paraguai, a água não é utilizada para produzir energia e, por isso, é vertida. No último sábado, estavam em funcionamento quinze unidades geradoras e quatro estavam disponíveis para entrar no sistema assim que necessário. Uma estava parada para manutenção.

A operação levou à visitação de mais de duas mil pessoas, entre turistas e moradores de Foz do Iguaçu (PR), para ver o espetáculo das águas produzido pela abertura do vertedouro. O Complexo Turístico Itaipu chegou a fazer uma operação especial com um ônibus exclusivo saindo do Centro de Recepção dos Visitantes direto para o Mirante do Vertedouro. (canalenergia)

Chesf aumenta vazão do reservatório da UHE Boa Esperança

Chesf que é a Companhia Hidrelétrica do São Francisco aumenta vazão do reservatório da UHE Boa Esperança no Piauí.
ALERTA: Chesf aumentou a vazão em reservatório de Boa Esperança em 14/01/2023.

Novo patamar é de 600 m³/s, devendo permanecer com este valor até nova reavaliação.

Pocedimento se fez necessário devido às chuvas na região e com o objetivo de reduzir a taxa de elevação de armazenamento do citado reservatório, que na data de 13/01/2023 se encontrou com 64% de seu volume útil, abaixo do volume de espera estabelecido para o período (68%).

A partir de 14/01/2023 a Chesf aumentou o volume de água que sai do reservatório da UHE Boa Esperança, localizado na Bacia do Rio Parnaíba. De acordo com a companhia, o novo patamar será de 600 m³/s e permanecendo assim até nova reavaliação.

Devido à previsão de chuvas para a região, a Chesf afirma que o procedimento se faz necessário para reduzir a taxa de elevação de armazenamento do reservatório, que em 13/01/2023, estava com 64% de seu volume útil, abaixo do volume de espera estabelecido para o período que é de 68%.

A companhia ainda ressalta que seja fortemente evitada a ocupação das áreas de inundação pelas comunidades ribeirinhas e destaca que a situação hidrológica está sendo permanentemente avaliada, podendo haver alterações nestes valores em função da evolução das chuvas e vazões na Bacia do Rio Parnaíba. (canalenergia)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Itaipu abrirá vertedouro após 15 meses

Itaipu deve abrir vertedouro em 14/01/2023 após 15 meses fechado.

As visitas turísticas ocorrerão normalmente e o espetáculo das águas poderá ser visto a partir da manhã de 14/01/2023, na usina binacional de Itaipu, em Foz do Iguaçu.

Vertedouro começará a ser aberto a partir de 14/01/2023 em função da grande afluência ao reservatório.

As comportas da UHE Itaipu (Brasil/Paraguai, 14.000 MW) serão reabertas neste final de semana depois de 15 meses. Segundo a binacional, o vertedouro deve abrir a partir das 6 hs de 14/01/2023, e seguir assim enquanto o cenário atual de geração e de previsão das afluências se mantiver, diz a geradora.  O objetivo é o controle do nível do reservatório e segurança da barragem. A última abertura ocorreu em 23/10/2021, para controle do nível do Rio Paraná.

A companhia lembra que após o fim da crise hídrica iniciada em 2021, houve uma recuperação significativa dos níveis dos principais reservatórios do Sistema Interligado Nacional (SIN), superando entre 2022 e 2023 o patamar de 60% de armazenamento. E que ao longo de janeiro, chuvas acima da média vêm fazendo com que os níveis se elevem rapidamente, com os planos de controle de cheias em diversas bacias já sendo acionados.

Nos últimos dias houve início de vertimento nas usinas do rio Madeira, no complexo Belo Monte, e nas bacias do rio São Francisco e do Rio do Grande. Uma das usinas que abriram o vertedouro foi a UHE Marimbondo.

Mais de um ano depois, Itaipu abre vertedouro.

A binacional também salientou que em breve espera mais movimentos como esse, como na usina de Tucuruí. Esse vertimento generalizado indica o comunicado à imprensa de Itaipu, indica a presença de excedentes energéticos associados a um crescente montante de geração das fontes eólicas e solares. (canalenergia)

Itaipu atinge 100% de Eficiência Operativa em 2022

É o primeiro ano em que a usina não abriu o vertedouro usando toda a água que chegou ao reservatório na geração de energia.

A UHE Itaipu (Brasil/Paraguai, 14.000 MW) fechou 2022 com a marca de 100% de eficiência operativa. Esse índice é medido pelo Fator de Capacidade Operativa (FCO). Na prática, segundo a geradora, isso significa que toda a água recebida pelo reservatório foi utilizada para a geração de energia, sem necessidade de abertura do vertedouro.

Em nota a empresa binacional apontou que essa situação é rara porque seu reservatório opera em um modelo de fio d’água, ou seja, não possui grande capacidade de armazenamento. Todo o volume de água que chega até a barragem precisa seguir o fluxo do rio, seja gerando energia, por meio das unidades geradoras, ou escoadas pelo vertedouro.

A Indisponibilidade Forçada, quando há necessidade de parar uma máquina para manutenção não programada, foi de 0,09%. De acordo com a geradora, este é o décimo ano consecutivo que a Diretoria Técnica cumpre a meta de manter esse número abaixo de 0,5%.

Em termos de produtividade atingiu o segundo melhor resultado da série histórica. Esse fato, calcula, representou um ganho de 3,4 milhões de MWh (aproximadamente 5%) na produção do ano. Em 2022 a usina gerou 69.873.095 MWh, percentual 5,28% superior ao da produção registrada em 2021. (canalenergia)