Numa curiosa mistura de tecnologia de ponta com técnicas antigas, empresa indiana explora fonte de energia mais limpa e mais barata.
A energia solar é uma fonte energética limpa. Mas, nesta árida parte do noroeste da Índia, esse tipo de energia pode sofrer com a sujeira. Os subsídios ajudaram instalações como a Azure Solar Plant a prosperar nesta região do país. A cada cinco dias, aproximadamente, trabalhadores empunhando esfregões de cabos longos limpam cada um dos 36 mil painéis solares numa instalação de 25 hectares operada pela Azure Power - um estranho casamento entre tecnologia de ponta e técnica antiga.
O local é um dos maiores exemplos do ambicioso plano indiano que prevê o uso da energia solar na modernização da extremamente precária rede elétrica do país, reduzindo sua dependência em relação às usinas abastecidas com carvão.
O local é um dos maiores exemplos do ambicioso plano indiano que prevê o uso da energia solar na modernização da extremamente precária rede elétrica do país, reduzindo sua dependência em relação às usinas abastecidas com carvão.
A Azure Power foi contratada para fornecer eletricidade gerada com base na energia solar a uma operadora da rede elétrica do governo estadual. O diretor executivo da Azure, Inderpreet Wadhwa, previu que em questão de poucos anos a energia solar terá um preço capaz de viabilizar a concorrência com a eletricidade gerada de fontes convencionais na Índia.
"A eficiência da energia solar vai continuar aumentando e, com a crescente demanda por energia solar, o custo seguirá caindo", disse Wadhwa.
Dois anos atrás, os governantes indianos decidiram que até 2020 seria preciso aumentar o uso que o país fazia da energia solar - partindo de um virtual zero até chegar a 20 mil megawatts, eletricidade suficiente para atender às necessidades de até 15 milhões de lares americanos modernos durante o dia, quando os painéis são mais produtivos. Muitos analistas disseram que a meta não poderia ser cumprida. Mas, agora, os mais céticos se veem obrigados a engolir as palavras.
Por causa dos agressivos subsídios do governo e de uma grande queda no preço global dos painéis solares, dúzias de empresas como a Azure estão cobrindo as planícies do noroeste da Índia - incluindo este vilarejo de aproximadamente 2 mil habitantes - com reluzentes painéis solares. Até o momento, a Índia utiliza apenas algo perto dos 140 megawatts, incluindo 10 megawatts usados pela instalação da Azure, capaz de proporcionar energia suficiente para atender a uma cidade de 50 mil habitantes, segundo a empresa. Mas analistas dizem que a meta nacional de 20 mil megawatts pode ser atingida e que a Índia pode até chegar a estes números antes de 2020.
"Os preços caíram e, subitamente, metas que pareciam impossíveis se tornaram possíveis", disse Tobias Engelmeier, diretor administrativo da Bridge to India, empresa de pesquisas e consultoria com sede em Nova Délhi. Fabricantes chinesas como Suntech Power e Yingli Green Energy ajudaram a impulsionar a queda no custo dos painéis solares. As empresas aumentaram a produção de painéis e obtiveram este ano um corte de 30% a 40% no custo, chegando a menos de US$ 1 por watt.
Mas os desenvolvedores de fazendas solares na Índia demonstraram preferência pelos painéis mais avançados oferecidos por fornecedores dos EUA, de Taiwan e da Europa, que usam células solares de filme fino. A principal fornecedora americana que atende a Índia é a First Solar, com sede no Arizona.
A Índia não conta com uma grande indústria manufatureira de painéis solares, mas busca desenvolvê-la - e a China se mostra interessada na crescente demanda da Índia. A chinesa Suntech Power vendeu os painéis usados na instalação da Azure, que abriu em junho.
Executivos da indústria atribuem o momento de prosperidade na indústria solar indiana às políticas do governo - um elogio incomum, pois as empresas costumam ridicularizar a burocracia indiana, descrevendo-a como kafkiana.
Ao longo da última década, a Índia abriu o setor de geração de energia - antes dominado pelo Estado - aos participantes particulares, ao mesmo tempo conservando nas mãos do governo a distribuição e o poder de definir os preços. Os países europeus dedicam pesados subsídios à energia solar ao concordar em comprá-la em pacotes que compreendem décadas. Mas, na Índia, os subsídios são menores e as operadoras de energia solar são obrigadas a participar de uma concorrência mais acirrada, o que ajuda a reduzir os custos.
Neste mês, o governo realizou o segundo leilão para determinar o preço pelo qual a empresa estatal de fornecimento elétrico - NTPC Vidyut Vyapar Nigam - compraria eletricidade gerada pela energia solar para a rede nacional. A oferta média vencedora foi de 8,77 rupias (US$ 0,16) por quilowatt/hora. É quase o dobro do preço da energia gerada do carvão, mas o valor foi aproximadamente 27% mais baixo que as ofertas que ganharam o leilão de um ano atrás. A Alemanha, maior consumidor de energia solar, paga 0,18 (US$ 0,23) por quilowatt/hora.
A Índia continua muito atrás dos países europeus no uso da energia solar. A Alemanha, por exemplo, tinha capacidade para gerar 17 mil megawatts no fim de 2010. Mas a Índia, que recebe mais de 300 dias de luz solar direta por ano, é um local mais adequado para gerar esta energia. E o fato de a Índia ter ficado para trás está agora beneficiando o país, conforme os preços dos painéis caem e os indianos podem gastar muito menos na construção de fazendas solares do que os países que foram pioneiros nesta tecnologia.
Além disso, nos leilões de energia solar, a NTPC não está criando contratos abertos. O mais recente leilão, por exemplo, envolveu um total de apenas 350 megawatts, limitando os custos do governo. A ideia subjacente é a de que o preço da energia solar vai continuar a cair, se aproximando do custo da eletricidade gerada por meios convencionais.
A maioria das usinas elétricas indianas é abastecida por carvão, gerando eletricidade ao custo de aproximadamente 4 rupias (US$ 0,07) por quilowatt/hora - menos da metade do custo atual da energia solar. No leilão deste mês, as mais recentes ofertas vencedoras foram comparáveis ao preço que os usuários industriais e comerciais da Índia pagam pela eletricidade -- de 8 a 10 rupias. E o custo da energia solar é competitivo em relação às usinas de eletricidade e aos geradores de reserva que consomem combustíveis derivados do petróleo, cuja eletricidade custa 10 rupias por quilowatt/hora.
"Ao menos durante o dia, os painéis fotovoltaicos vão concorrer principalmente com a eletricidade gerada a partir do petróleo" na Índia, disse Cédric Philibert, analista sênior da Agência Internacional de Energia, de Paris. "Esta comparação está se tornando cada vez mais favorável." Além do governo federal, vários dos estados da Índia - como Gujarat, onde fica Khadoda - também estão comprando eletricidade a preços subsidiados de empresas solares como a Azure Power.
Analistas não esperam que o avanço da Índia no setor da energia solar ocorra sem problemas. Eles dizem que alguns empreendedores provavelmente fizeram ofertas agressivas demais nos leilões federais, e podem enfrentar dificuldades para construir suas instalações - seja por causa da demora ou do custo -, pondo em risco sua sobrevivência.
Consequentemente, ou talvez em decorrência do caráter especulativo das ofertas feitas, alguns empreendedores tentam revender os acordos com o governo a terceiros, dizem analistas, embora tal prática seja contrária às regras do leilão.
Wadhwa, da Azure Power, disse que a eliminação de parte da concorrência na indústria solar indiana seria quase inevitável. "Inicialmente, muitos novos participantes vêm para o setor", disse ele, "e então o mercado se consolida com um número menor de concorrentes que demonstram um compromisso de longo prazo" com a indústria. (OESP)
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