sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Em ilha, moradores geram mais energia que consomem

Investimento em turbinas eólicas e painéis solares revolucionaram a região.
A ilha dinamarquesa de Samso é uma meca para especialistas em proteção climática porque seus moradores geram mais energia - com turbinas eólicas, painéis solares, combustão de palha e trocadores de calor que extraem calor de leite de vaca - do que consomem. A pequena "ecotopia" será um modelo da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Copenhague.
Seis anos atrás, Paul Erik Wedelgaard decidiu que era hora de dar um novo rumo ao seu futuro, apesar de estar com 70 anos. Pescador desde os 14 viu sua pesca de bacalhau declinar acentuadamente nos últimos anos e a pequena criação de salmões que operava com um sócio não era mais tão lucrativa. Aí vieram aqueles jovens que decidiram começar uma espécie de revolução. Eles tinham um plano ambicioso. Estavam preocupados com o mundo e o clima. Sobretudo, estavam interessados em Samso e em todo o dinheiro que esperavam ganhar ali. Parte do plano incluía montar dez turbinas eólicas gigantes, a custo de US$ 4,4 milhões (R$ 7,6 milhões) cada uma. Os equipamentos seriam comprados pelos os moradores da ilha.
Poderia funcionar, pensou Wedelgaard. Ele vendeu sua metade na fazenda de salmões, fez um empréstimo bancário e investiu em uma das turbinas. Terá recuperado seu investimento em quatro anos.
Samso é um laboratório onde o governo dinamarquês lançou um experimento social e tecnológico há 12 anos. Antes, o óleo para aquecimento era trazido de navio e a eletricidade, de usinas de energia movidas a carvão, vinha por cabos. Para cada morador, 11 toneladas de CO2 eram injetadas na atmosfera por ano. O objetivo era reduzi-las a zero em 10 anos.
Os habitantes uniram forças, montaram as turbinas eólicas e prenderam painéis solares em seus telhados. Construíram queimadores de palha centrais e instalaram máquinas para explorar energia geotérmica e o calor do leite de vaca para aquecer casas e extrair óleo de colza de plantas para produzir combustível para tratores.
Oito anos depois, os moradores já produziam mais energia que consumiam e hoje produz 40% mais energia que consomem.
DÚVIDAS
Restam duas questões. A abordagem usada na ilha, que compreende 22 vilarejos, 4 mil moradores e uma fábrica de conservas, poderia funcionar em outro lugar? Será que o resto do mundo realmente quer imitar os moradores de Samso? São perguntas que serão feitas em 7 de dezembro, quando políticos de todo o mundo se reunirão em Copenhague para tentar impedir que as temperaturas subam mais que 2°C. Isso só será alcançável se as emissões de CO2 e o consumo de carvão, petróleo e gás forem drasticamente reduzidos. "É importante negociar, mas depois eles terão de voltar para casa e fazer alguma coisa", diz Soren Hermansen, o homem que organizou o pequeno milagre de Samso e se tornou uma espécie de guru para políticos e especialistas em clima. Ele já tivera uma turbina eólica na fazenda de seu pai em 1984 e foi promover o plano em Samso de casa em casa.
"Somos pessoas completamente normais aqui. Todos podem fazer o que estamos fazendo", diz Hermansen. Mas ele acrescenta: "No campo, quer dizer, Cidades é um problema".

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O fracasso do biodiesel

Criado há cinco anos para, como disse então o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, transformar-se em "mais uma chama acesa no coração da gente nordestina", o Programa Nacional de Biodiesel está se apagando. Ainda não alcançou nenhuma das metas sociais que o governo lhe atribuiu nem estimulou o plantio de novas culturas, como mamona, girassol e dendê, que impulsionaria a agricultura familiar nas regiões mais pobres do País.
O programa foi criado para estimular a produção de um combustível mais limpo e biodegradável, derivado de fontes renováveis, como óleos vegetais e gorduras animais, para substituir total ou parcialmente o diesel derivado do petróleo utilizado em caminhões e ônibus e como combustível para gerar energia e calor. Mas, para transformar o programa em uma das estrelas de seu governo, o presidente Lula acrescentou-lhe outros objetivos, como o estímulo à produção agrícola nas regiões menos desenvolvidas, como o Norte e o Nordeste, e sobretudo o combate à pobreza nas áreas rurais.
Nada disso está sendo alcançado, como mostrou o Estado, em reportagem de Nicola Pamplona.
O presidente escolheu a mamona como símbolo do programa. A produção dessa matéria-prima por agricultores familiares, especialmente no Nordeste, abriria o caminho para essas famílias trocarem as difíceis condições de vida que enfrentam hoje por um pouco mais de conforto e segurança econômica - daí ele ter falado em "chama acesa no coração" dos nordestinos.
A reportagem deixou claro que o programa praticamente não utiliza a mamona e outras oleaginosas alternativas. Sobrevive graças, sobretudo, à produção de biodiesel a partir da soja (que responde por 78,7% da produção total). O sebo bovino aparece como segunda matéria-prima mais utilizada (14,6%) e o óleo de algodão, como terceira (4,1%). As demais fontes para a produção do biodiesel, como as sempre citadas pelo presidente, respondem por apenas 2,6% do volume produzido atualmente.
A incontestável predominância do uso da soja na produção do biodiesel contraria frontalmente dois dos principais objetivos do programa do governo. Em lugar da pretendida desconcentração regional da produção, a soja está levando à concentração, pois as Regiões Centro-Oeste e Sul já respondem por 71,6% do combustível produzido. E é uma matéria-prima cultivada em grande escala, o que tende a afastar dessa cultura pequenos agricultores que não disponham de recursos tecnológicos, embora parte da produção da soja do Sul do País saia de propriedades familiares.
Era previsível que, na primeira fase do programa do biodiesel, a soja fosse utilizada amplamente, por ser uma cultura com grande volume de produção e por questões logísticas. Mas ela não é a matéria-prima mais adequada para o biodiesel, pois seu rendimento é mais baixo. Calcula-se que apenas 18% de cada grão de soja podem ser utilizados para fazer óleo; nas demais oleaginosas, o rendimento é de cerca de 40%. Além disso, como seu preço está mais sujeito às oscilações do mercado mundial do que o das demais matérias-primas potenciais, a soja torna o programa brasileiro de biodiesel mais vulnerável.
"O governo errou no timing", diz o coordenador do programa do biodiesel, Arnoldo de Campos, pois esperava uma diversificação mais rápida das matérias-primas. Talvez pudesse ter evitado o erro se levasse em conta fatores conhecidos quando lançou o programa. O dendê, por exemplo, além de só poder ser cultivado com eficiência numa determinada faixa do território brasileiro, leva oito anos para gerar a primeira colheita.
Mas o erro mais notável está no caso da mamona, que simboliza o programa do biodiesel. Seu óleo tem um alto valor de mercado, de cerca de três vezes o preço do biodiesel. Era previsível que os produtores, a fornecer a mamona por preço menor para a produção de biodiesel, iam preferir vendê-la às empresas que pagam mais, que são as indústrias químicas, que com ela produz óleos lubrificantes, de cosméticos e farmacêuticos.
O presidente da Petrobrás Biocombustíveis, Miguel Rossetto, um dos criadores do programa de biodiesel, diz que em três anos, podem surgir matérias-primas competitivas para substituir a soja. O presidente que tanto falou do biodiesel e da mamona não estará mais no poder.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Iata vai liberar uso de biocombustível

Os biocombustíveis serão autorizados para o uso em aviões comerciais já em 2010. A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) anunciou ontem que iniciará no próximo ano a certificação do uso dos biocombustíveis pelas 280 empresas que fazem parte da entidade.
A certificação é considerada como o passo número 1 para a mudança nos combustíveis. O que a entidade quer é demonstrar que está comprometida em reduzir os níveis de emissões de CO2 e, assim, reverter a imagem negativa que hoje mantém com os ativistas ambientais.
A ideia não é a de ter um jato voando exclusivamente com etanol em um primeiro momento. Mas permitir que misturas reduzam a proporção de combustíveis fósseis em cada voo.
A Iata, com sede em Genebra, estima que o uso do biocombustível pode reduzir as emissões de dióxido de carbono em 80% na aviação comercial. Os cálculos apontam que a introdução do etanol provocaria uma redução de cerca de 80 quilos de poluentes lançados no ar por voo de cada jato 747-400 da Boeing.
A British Airways é uma das empresas que querem usar o novo combustível.
Os testes estão provando que os motores que hoje estão sendo desenvolvidos podem facilmente ser movidos em parte à biocombustível.
A projeção da empresa é de que, até 2017, 10% do combustível usado em aviões comerciais venha de biocombustíveis. Haveria ainda outra vantagem: o sistema de distribuição será ainda mais simples que o do de veículos. Com os aviões, basta que 200 aeroportos no mundo tenham acesso ao combustível. Se isso ocorrer, a grande maioria da frota mundial poderá usar o biocombustível.
"Pela primeira vez, existe a possibilidade de alternativa para o tradicional combustível de aviação", afirmou o executivo-chefe da Iata, Giovanni Bisignani.
Mas a indicação da Iata tem um objetivo político. A entidade quer que governos de todo o mundo tratem do setor aéreo como um segmento separado nas negociações sobre mudanças climáticas que ocorrerão na conferência de Copenhague, em dezembro.
O temor da Iata é de que empresas aéreas de diferentes países sejam obrigadas a seguir exigências diferentes em termos ambientais. O resultado poderia ser uma concorrência desleal entre empresas de países desenvolvidos e emergentes.
Números
80% é a redução de dióxido de carbono prevista pela Associação Internacional de Transportes Aéreo com uso de biocombustível.
200 aeroportos com acesso ao combustível são o suficiente para que os sistemas de distribuição funcionem em nível mundial.

sábado, 24 de outubro de 2009

Produção cresce 11%, mas safra de etanol diminui 3% no centro-sul do país

Segundo a Unica, mais uma vez as chuvas afetaram o volume potencial de moagem de cana-de-açúcar na região.
Conforme relatório de acompanhamento de safra da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), até 16 de outubro/09, o volume de cana moída cresceu 8,86% no centro-sul, na comparação com o mesmo período do ano passado, atingindo 412,748 milhões de toneladas. Já a produção de açúcar cresceu 11,07% até 16 de outubro/09, totalizando 22,978 milhões de toneladas. A produção de etanol, no entanto, recuou 3,06%, atingindo 17,95 bilhões de litros, contra 18,52 bilhões de litros no mesmo período do ano passado, devido à queda de 27% na produção de anidro.
Segundo a Unica, mais uma vez, as chuvas afetaram o volume potencial de moagem de cana-de-açúcar na região centro-sul do país, ao longo da primeira quinzena de outubro. Apesar disso, o volume obtido entre 1 e 15 de outubro/09 foi o terceiro maior total quinzenal da safra 2009/10, atingindo 35,2 milhões de toneladas, total 18,1% acima da moagem na quinzena anterior (segunda quinzena de setembro).
As condições climáticas ao longo da quinzena foram mais favoráveis à colheita no Estado de São Paulo, enquanto nos demais Estados do centro-sul as condições foram semelhantes às da segunda quinzena de setembro, sendo o Estado do Paraná o mais prejudicado.
Apesar da quantidade de cana processada ter ficado 8,86% acima do registrado um ano atrás, a produção final de açúcar e etanol cresceu apenas 2,47%, devido à menor concentração do teor de açúcar na cana. A concentração mais baixa é conseqüência do desenvolvimento vegetativo da planta, causado pelas chuvas acima da expectativa ocorridas desde o mês de julho de 2009.
As saídas físicas de etanol ocorridas na primeira quinzena de outubro permanecem nos mesmos níveis das quinzenas anteriores. A redução nas saídas de etanol hidratado deve ocorrer a partir da segunda quinzena de outubro, em função dos preços relativos entre o etanol e a gasolina. Em torno de 35% do mercado nacional, já se verifica uma relação de preços do etanol superior a 65% do preço da gasolina na bomba.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Dinamarca produz energia no mar

A Dinamarca acaba de inaugurar o maior campo de energia eólica offshore, instalado em águas do mundo. O Horns Rev 2 entrou em operação em setembro e tem 91 turbinas, espalhadas numa área de 35 quilômetros quadrados no Mar do Norte. Quando estiver em plena capacidade, produzirá energia equivalente ao consumo de uma cidade de 200 mil habitantes. O investimento, de € 469 milhões, representa a retomada dos grandes projetos em energia eólica na Dinamarca, o país que transformou o vento em alternativa para a geração de eletricidade limpa.
Horns está situado a 30 km da ilha de Jutland, uma das que formam o arquipélago da Dinamarca. Sua construção, um desafio por ser o mais distante da costa já erguido, é apresentada pelo governo como uma obra de arte da engenharia e envolveu 600 engenheiros e operários em dois anos de trabalhos. O campo de energia eólica offshore do país tornou-se o maior do mundo tanto em capacidade - produzirá 210 megawatts de eletricidade por ano -, quanto em número de geradores.
Além da grandeza da construção, suas turbinas, instaladas em 13 linhas de sete geradores, interconectados por uma rede de 70 quilômetros de cabos de fibra ótica, também são um feito em si. Fabricadas pela companhia dinamarquesa Siemens Wind Power, com capital alemão, são o que há de mais moderno já concebido pelo homem para a produção de energia com o vento.
Gigantes, têm entre 30 e 40 metros abaixo do nível do mar e até 114,5 metros acima, considerando-se a extremidade da hélice mais alta. Para se sustentar no fundo de um mar arenoso e sujeito à erosão, cada uma foi erguida sobre uma fundação de toneladas de rochas, depositadas no fundo, em profundidades que variam de 9 a 17 metros.
Mais importante do que o feito de engenharia, é o seu significado para quem acredita em eletricidade limpa. Pioneira nos investimentos em energia eólica, a Dinamarca vivia desde o início da década um conflito político que vinha empacando novos investimentos. O governo liberal, hoje convertido pela necessidade de investir em desenvolvimento sustentável, julgava os subsídios públicos pagos à produção desnecessários, uma política que quase minou o negócio, cujas origens remontam aos anos 1970.
"Estamos vivendo um novo crescimento, agora não apenas impulsionado pelo mercado nacional, mas também pela Europa", disse ao jornal Estado de São Paulo, Morten Holmagir, um dos diretores do Centro Dinamarquês Offshore, órgão que reúne as empresas que investem na tecnologia.
O novo impulso vem do exterior, graças à competência dos dinamarqueses, que além de produzir cerca de 25% de sua energia com fontes renováveis são também exportadores líquidos de eletricidade. Desde que a nova "onda ambientalista" ganhou força, países como o Reino Unido, a Alemanha, a Suécia, a Holanda e a Bélgica estão investindo pesado na construção de campos em alto-mar, geralmente mais rentáveis do que os campos onshore, construídos sobre terra firme.
"Esses investimentos são ótimos, porque ninguém tem empresas fortes e know-how como os dinamarqueses", diz Holmagir, lembrando 30 anos de pesquisas tecnológica.
Parte do sucesso precisa ser creditado à produção e ao consumo de energia limpa. Uma delas é a Dong Energy, companhia fundada em 1972 para explorar óleo e gás, hoje responsável pela construção e administração do campo Jutland.
“Horns Rey 2 é um marco importante na transição que a Dong Energy faz da produção de energia convencional para o verde”, afirmou em setembro/09 ao The Guardian, Fritz Scchur, diretor- presidenta do grupo.
Os méritos também são divididos com universidades e centros de pesquisa, com administrações públicas e empresas privadas que apostaram no projeto, comprometendo-se a comprar a energia produzida, reduzindo em 10% seu consumo de eletricidade de fontes poluidoras, como o carvão.
“Se há um segredo na energia eólica na Dinamarca, é a interação peculiar que nossa indústria mantém com a comunidade científica e com a opinião pública”, diz Lars Landeberg, diretor-presidente da Academia Dinamarquesa de Energia Eólica (DWPA), de Copenhague.
Para o ao jornal Estado de São Paulo, Horns representa uma alternativa energética que rende frutos econômicos concretos: 180 indústrias de alta tecnologia do setor, proprietárias das 6.000 turbinas espalhadas pela Dinamarca, criam 20.000 empregos, respondem por 40% do mercado mundial, ajudam a exportar 90% da eletricidade produzida no país e geram em torno de € 3 bilhões em divisas todo o ano.
Além disso, estão na origem de uma estratégia de marketing valiosa a 50 dias do início da 15ª Conferência do mClima das Nações Unidas (COP15). “Horns é um importante passo à frente na nossa ambição de longo termo de nos tornarmos independentes dos combustíveis fósseis”, definiu Connie Hadegaard, ministro de Clima e Energia.
Enquanto o mundo discute porcentual de redução de emissões de CO2, o país já cumpre os objetivos negociados para 2020 e segue firme em direção às próprias metas: produzir 35% de energia limpa nos próximos 11 anos e 50% até 2025.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Cinco anos depois, biodiesel fracassa na tentativa de incentivar agricultura familiar

Biodiesel fracassa na tentativa de incentivar agricultura familiar. Soja é responsável por 80% da produção do óleo; cultivo regional de mamona, girassol e dendê não deslancham.
Prestes a completar cinco anos, o programa nacional do biodiesel encontra grandes dificuldades de atingir seu objetivo principal: o incentivo à agricultura familiar, principalmente no Norte e Nordeste. A soja é hoje responsável por quase 80% da produção do combustível, com algum espaço para sebo bovino. Já mamona, girassol, dendê e outras culturas pensadas para regionalizar a produção ainda não saíram da fase de testes.
“O governo errou no timing. Pensou que a diversificação de matérias-primas se daria de maneira mais rápida e fácil do que realmente aconteceu”, reconhece o coordenador do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), Arnoldo de Campos. Segundo especialistas, o programa precisa de correção de rota, sob o risco de dependência excessiva do óleo de soja, commodity internacional cujos preços acompanham a Bolsa de Chicago.
Pelos dados do Ministério de Minas e Energia, o óleo de soja foi responsável por 78,7% de toda a produção de biodiesel no País em julho (dado disponível). O sebo bovino foi a segunda matéria-prima mais utilizada (14,6%) e o óleo de algodão, a terceira (4,1%). Apenas 2,6% do biodiesel produzido no Brasil foi proveniente de outras fontes. Naquele mês, a produção acumulada do combustível chegou a 800 milhões de litros.
O grande uso do grão como matéria-prima tem como reflexo a concentração regional da produção de biodiesel. De acordo com os dados do ministério, as Regiões Centro-Oeste e Sul do País foram responsáveis por 71,6% do combustível produzido em julho. As Regiões Norte e Nordeste, principais alvos do programa, produziram apenas 11,6% do total. O Centro-Oeste tem hoje a maior capacidade instalada para biodiesel no País: 1,2 bilhões de litros por ano.
“A soja não é a matéria-prima mais adequada, e a questão dos benefícios sociais do programa não vem se desenvolvendo”, comenta o pesquisador da Cepal Luiz Augusto Horta Nogueira, especialista em bioenergia. Ele sintetiza um consenso entre os especialistas consultados pelo Estado: além de ser pouco eficiente na produção de energia, a soja não incentiva a agricultura familiar em regiões mais pobres do País. “A questão da matéria-prima ainda não está equacionada”, concorda o professor de planejamento energético da Coppe/UFRJ, Marcos Freitas.
Campos diz que o uso intensivo de soja nos primeiros anos do programa era esperado, até por razões econômicas. Trata-se de uma das culturas com maior escala de produção no País, o que facilita a logística e reduz custos. Primeira aposta do governo, o óleo de mamona custa hoje em torno de R$ 5 por litro. O biodiesel de soja foi vendido a R$ 2,30 no último leilão promovido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Ele admite, porém, que é necessário um esforço para acelerar o desenvolvimento de outras culturas. “Até para não passarmos pelos mesmos problemas de 2007, quando o óleo de soja subiu no mercado internacional, provocando prejuízos para os produtores de biodiesel.” As empresas são obrigadas a seguir preços dos leilões da ANP e não podem repassar eventuais variações do mercado internacional.
A mamona continua na linha de frente da estratégia do governo, mas ainda depende de incentivos da Petrobrás. A estatal tem três unidades produtoras de biodiesel, projetadas para uso intensivo de mamona por pequenos produtores, mas hoje dependentes de óleo de soja. “Vemos, em três anos, o surgimento de novas matérias-primas competitivas”, diz o presidente da Petrobrás Biocombustíveis, Miguel Rossetto, um dos criadores do PNPB.
O Ministério de Desenvolvimento Agrário tem pouco mais de 31 mil famílias cadastradas para produzir mamona para a fabricação de biodiesel com selo social. As empresas compradoras, como a Petrobrás, porém, preferem vender o óleo para a indústria química, que usa o produto na fabricação de lubrificantes. Campos afirma que já há tecnologia para melhorar o cultivo da mamona, mas é preciso disseminá-la entre os pequenos produtores.
Os especialistas apontam a palma e o pinhão manso como caminhos para atingir o objetivo de descentralizar a produção. Ambos podem ser cultivados nas Regiões Norte e Nordeste, com produtividade muito superior à da soja e da mamona. A palma, por exemplo, produz entre 4 e 6 mil litros por hectare por ano – no caso da soja, o número fica em torno de 800 litros. O pinhão manso pode produzir acima de 3,5 mil litros por hectare por ano.
O diretor da ANP, Allan Kardec Duailibi, defende um esforço para o desenvolvimento desta última. “É uma cultura que sobrevive a locais inóspitos”, argumenta. Para Horta Nogueira, porém, ainda não há conhecimento suficiente sobre o plantio em larga escala do pinhão manso. A palma, por sua vez, pode ser usada em áreas degradadas da Amazônia, com grande potencial de geração de empregos. A Vale, por exemplo, tem um grande projeto no Pará que deve abastecer as locomotivas que usa para escoar o minério de Carajás.
Segundo Campos, o governo iniciou uma série de zoneamentos agrícolas para identificar áreas para o desenvolvimento de novas matérias-primas para biodiesel. A soja, no entanto, continuará com papel preponderante nos próximos anos, já que o plantio de novas culturas leva tempo. No caso da Vale, por exemplo, as sementes compradas este ano só devem produzir biodiesel em 2014.

domingo, 18 de outubro de 2009

Coelhos são usados como matéria-prima para a produção de biocombustível na Suécia

Prefeitura de Estocolmo mata coelhos, que viram biocombustível.
Coelhos são queimados para gerar biocombustível na Suécia. Os corpos de milhares de coelhos são queimados em uma usina de geração de energia na região central da Suécia.
Os animais vem da capital sueca, Estocolmo. A Prefeitura mata milhares de coelhos anualmente para proteger parques e campos na cidade.
As espécies de coelhos não são nativas da Suécia. De acordo com as autoridades, os coelhos sujam muitos dos espaços verdes da capital. Como não há animais predadores de coelhos em Estocolmo, a Prefeitura contrata caçadores para matá-los.
Polêmica
Um dos caçadores, Tommy Tuvunger, disse ao site da revista alemã Spiegel que seis mil coelhos foram mortos no ano passado. Neste ano, três mil já foram caçados.
“Eles são um problema muito grande”, diz Tuvunger. “Depois de mortos, os coelhos são congelados e, quando temos números suficientes, uma empresa vem e os leva.”
Os coelhos são levados para a usina na cidade de Karlskoga, que os queima para fornecer energia para o aquecimento de casas.
Leo Virta, diretor da empresa Konvex, que fornece os coelhos para a usina, desenvolveu uma forma de processar os restos dos animais para a produção de biocombustível com financiamento da União Europeia.
Com a técnica, o corpo do coelho é esmagado, ralado e depois levado a uma caldeira, onde é queimado junto com pedaços de madeira e lixo para geração de calor.
“É um bom sistema, porque resolve o problema de lidar com o lixo animal e gera aquecimento”, disse Virta à BBC.
O editor do jornal The Local, de Estocolmo, disse à BBC que a notícia do uso de coelhos para produção de biocombustíveis gera polêmica no país.
“Na cidade onde eles estão sendo queimados, a reação dos moradores é bastante calma”, disse o editor James Savage.
Mas em Estocolmo, existe a preocupação de que os coelhos são bonitinhos. Isso entre algumas pessoas, em especial ativistas de direitos animais, que pensam que esta não é uma boa forma de se tratar coelhos.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Redução de CO2 com biocombustíveis variam com matéria-prima

A atual geração de biocombustíveis atende à meta europeia para redução das emissões de dióxido de carbono, mas sua performance varia bastante dependendo da matéria-prima e do processo de produção utilizado, mostrou um estudo francês.
A maioria dos biocombustíveis feitos com grãos mostra uma queda de 60% a 80% nas emissões em comparação com os combustíveis fósseis, acima da meta de 35% determinada pela União Europeia para 2010, de acordo com o estudo publicado na quinta-feira pela agência francesa de energia e meio-ambiente Ademe.
A redução de emissões foi de pelo menos 50% para todos os tipos de biodiesel feitos com oleaginosas, e para o etanol que é feito a partir de grãos como milho, além de cana-de-açúcar e beterraba.
"Excluindo qualquer mudança no uso da terra, a redução no nível de emissões de gás do efeito estufa está confirmado para todos os setores de biocombustíveis, sendo que o benefício envolvido supera qualquer incerteza ou escolhas na metodologia", disse o relatório.
Entretanto, a redução foi mais modesta para o ETBE, mistura de etanol e isobutileno normalmente usado por distribuidores de em vez de etanol puro, sendo que o ETBE à base de trigo mostrou a menor queda, 35%.
A redução de CO2 para o ETBE feito com beterraba, a matéria-prima mais comum para o etanol na França, foi calculada em 51%.
O estudo, lançado no ano passado pela Ademe e o governo francês, atiçou o debate sobre os chamados biocombustíveis de primeira geração, que segundo os críticos oferecem poucos benefícios ambientais e utilizam alimentos.
Os autores do estudo alertaram, entretanto, que as estimativas estão sujeitas a incertezas em relação a como medir o impacto sobre as emissões das mudanças no uso da terra e a presença de nitrogênio devido aos fertilizantes.
Mudanças no uso da terra podem alterar significativamente esses resultados, e possivelmente até reverter o equilíbrio para produtos importados.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Novas regras podem abrir mercado ao etanol nos EUA

Agência americana decide em breve como enquadrar o etanol brasileiro.
O inferno astral do etanol pode estar perto do fim, com a implementação do novo Mandato de Combustíveis Renováveis (RFS, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. Dentro de algumas semanas, a Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA) vai divulgar as regras que poderão abrir um mercado potencial de 15 bilhões a 40 bilhões de litros de etanol para o Brasil nos próximos 12 anos. Isso sem contar o efeito "psicológico" em outros países, que também podem adotar o etanol para reduzir as emissões dos gases de efeito estufa.
O mandato americano estabelece um consumo mínimo de biocombustíveis superior a 40 bilhões de litros neste ano e de até 136 bilhões de litros em 2022. A proposta de regulamentação da EPA define os índices de emissão de carbono de cada um dos combustíveis existentes hoje e também os do futuro, ainda não produzidos comercialmente.
Na minuta colocada em audiência pública pela EPA, o etanol de cana-de-açúcar se enquadraria como combustível avançado, que precisa reduzir pelo menos 40% da emissão dos gases de efeito estufa. O número atribuído ao combustível brasileiro foi de 44%, afirma o representante da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) nos Estados Unidos, Joel Velasco.
A definição, no entanto, provocou um levante entre cientistas, especialistas e produtores de etanol no Brasil. Na opinião deles, o combustível nacional pode reduzir em 70% ou mais as emissões dos gases de efeito estufa. Para provar que a metodologia da agência americana não condiz com a realidade do País, a Unica elaborou um documento de 40 páginas, com base em estudos e conceitos de instituições renomadas, como Unicamp e Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone).
Se a Unica conseguir emplacar seus argumentos, o etanol poderia suprir um mercado de 15 bilhões de litros nos Estados Unidos, reservado para os combustíveis avançados. O volume é três vezes maior que todo álcool exportado pelo Brasil no ano passado, de 5,1 bilhões de litros. Para os Estados Unidos, foram vendidos 1,5 bilhão de litros de etanol em 2008.
O objetivo da Unica, porém, é incluir o etanol não apenas como combustível avançado, mas criar condições para que possa ocupar espaço do etanol de celulose, que tende a custar mais. O mercado para esses biocombustíveis começa no ano que vem, com 380 milhões de litros, e atinge, em 2022, 60 bilhões de litros. "Se formos bem-sucedidos em convencer a EPA que o etanol de cana pode ser usado no lugar do celulósico, teríamos chances de captar esse mandato também", diz Velasco.
Mas nem tudo são flores. A metodologia para calcular a redução das emissões considera não apenas os efeitos diretos, mas também os indiretos, na produção do etanol, destaca o diretor executivo do Icone, André Nasser. Segundo ele, a lei americana tenta medir as emissões dos biocombustíveis também com base no uso da terra. A EPA parte do pressuposto de que, para expandir a plantação de cana-de-açúcar, haveria um deslocamento de outras culturas para áreas virgens. Ou seja, isso produziria emissões, que precisam ser descontadas.
O problema é que a agência não considera alguns fatores de extrema importância para o etanol. Um deles é se a cana é queimada ou não. A produção de eletricidade com a biomassa também não é levada em conta, diz Nasser. Por causa disso, ele produziu um estudo com uma nova metodologia para calcular as emissões de gases do efeito estufa, considerando tanto os efeitos diretos como os indiretos.
"Só de mudar algumas hipóteses e colocar a realidade do Brasil, elevamos a redução das emissões do etanol de 44% para 69%", diz Nasser, que enviou o trabalho à EPA. "Se eles aceitarem nossa metodologia, o etanol ficaria numa situação mais confortável."
Outro estudioso no assunto é o professor da Unicamp Isaías Macedo, um especialista em assunto balanço de emissões. No mês passado, ele participou de uma reunião em Brasília com integrantes da EPA, governo brasileiro e produtores de cana. "Os americanos apresentaram a metodologia deles e ouviram o que tínhamos para dizer e contestar." Segundo Macedo, foi um trabalho muito grande convencê-los que a expansão da cana está ocorrendo em áreas de pastagem, e não em florestas.
Ele lembrou que, além da regulamentação da agência americana, o Estado da Califórnia também deve apresentar em breve regras próprias para redução das emissões dos gases de efeito estufa. O programa estadual prevê um corte de 10% no nível de emissão de carbono até 2020.
ÚNICA faz lobby pelo álcool
Para contra-atacar o lobby dos produtores de etanol de milho nos EUA, que sempre lutaram contra a elevada competitividade do etanol brasileiro, a União da Indústria de Cana- de- Açúcar (Única) reagiu à abertura. Contratou um especialista em assuntos governamentais, com acesso irrestrito ao Congresso americano e relações estreitas com membros do governo.
Desde setembro de 2007, Joel Velasco está na briga pele abertura do mercado americano de etanol. “Meu trabalho é conseguir convencer as autoridades dos Estados Unidos de que nosso produto pode atender à demanda do país, sem prejudicar outros combustíveis.” Assessorado por especialistas em energia, tecnologia e meio ambiente, além de cientistas, ele aguarda para As próximas semanas o resultado dos últimos 33 meses de trabalho pesado. Além do mercado americano, ele também tem feito contatos para conseguir convencer os mexicanos dos benefícios da mistura do etanol na gasolina para o meio ambiente.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Estudo alerta: cultivo para biocombustíveis em florestas gera mais CO2 do que evita

Monocultura de palma em área florestal desmatada na Indonésia
Cultivar vegetais para produção de biocombustíveis em terras que antes eram ocupadas por florestas ou pradarias gera muito mais emissões de dióxido de carbono (CO2) do que permite evitar pela substituição de hidrocarbonetos, segundo um estudo da Agência do Meio Ambiente e do Controle da Energia da França (Ademe, na sigla em francês).
O balanço em termos de emissões de CO2 pode ser “catastrófico”, indicam os autores deste relatório dedicado à primeira geração de biocombustíveis. Pode ficar em duas a quatro vezes mais que com o recurso aos combustíveis de origem fóssil, sobretudo quando se destrói florestas tropicais para produzir óleo de palma. Reportagem da EFE, em Paris.
A razão é que, para obter esse óleo de palma que se cultiva, por exemplo, na Indonésia, não só geram-se gases do efeito estufa, mas previamente causou-se o desmatamento de uma mata que contribuía para a absorção de CO2, com algo similar acontecendo com as pradarias.
Os autores deste estudo, que se tornou público com meses de atraso, submeteram a exame os principais biocombustíveis comercializados na França.
Eficiências
O resultado é que o etanol obtido com cana-de-açúcar é o mais eficiente em termos ambientais, já que gera 90% menos de gases do efeito estufa que a gasolina. Sua elaboração, além disso, mobiliza em torno de 80% da energia que proporciona.
O bioetanol de milho, de trigo e de beterraba, assim como o biodiesel de couve-nabiça e de soja apresentam um balanço correto, com uma redução de emissões em torno de 60% a 80% em relação aos combustíveis fósseis que substituem e uma economia energética em sua elaboração entre 50% e 80%.
No entanto, o ETBE, um etanol obtido da beterraba, do trigo ou do milho representa lucro energético de apenas 20%, abaixo das exigências europeias.
De acordo com a direção europeia sobre as energias renováveis, para poder ser compatibilizado como útil em termos ambientais, um biocombustível deverá representar uma redução de CO2 de 35% em 2010 e de 50% em 2013.
O relatório foi divulgado um dia depois que o governo francês anunciou um plano impulsionado pela própria Ademe para o desenvolvimento de biocombustíveis de segunda geração para 2015.

sábado, 10 de outubro de 2009

Saída para biocombustível está nas áreas degradadas

O Brasil se encontra numa posição privilegiada em termos de disponibilidades de terras para a produção de biocombustíveis, e a produção nacional pode ser ampliada para áreas degradadas por pastagens. É o que acredita o peruano Segundo Urquiaga, pesquisador da Embrapa e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que esteve em Fortaleza, em agosto/09, participando do XXXIII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo.
O que falta ao Brasil para que a produção de biocombustíveis seja realmente sustentável?
Biocombustível é um termo genérico e se refere a diversos materiais de origem biológica com possibilidade de uso como fonte de energia. Seja sólido, de cuja queima se obtém energia calorífica útil em termoelétricas para produzir energia elétrica, ou diretamente na produção de cerâmica vermelha. Entre os biocombustíveis líquidos, temos o álcool de cana-de-açúcar e o biodiesel de diferentes óleos vegetais e gorduras. É fácil obter fontes de energia renovável.
O problema esta na sustentabilidade. Em algumas situações, uma unidade de energia alternativa, ou contida no biocombustível, pode demandar mais energia fóssil para sua produção, e isso é grave. Qualquer programa de produção de energia renovável somente será sustentável se o ganho energético contido no bicombustível for significativamente maior do que toda a energia fóssil investida. No mundo, somente o Brasil possui o maior programa de produção sustentável de biocombustível (álcool de cana e biodiesel de óleo de soja). No caso do álcool, são produzidas 9,3 unidades de energia renovável por cada unidade de energia fóssil investida, e com significativo efeito favorável na mitigação do efeito estufa. Nas demais culturas, precisa-se ainda de pesquisa para aprimorar o balanço energético.
Há um tipo de oleaginosa mais promissora ou se deve investir na diversificação das culturas?
No País, existem diversas espécies vegetais com potencial energético, mas as leguminosas oleaginosas com alta eficiência de obter nitrogênio do ar para uso como nutriente oferecem as melhores perspectivas. A economia em fertilizantes nitrogenados promovida pelo processo de fixação biológica de nitrogênio do ar nas leguminosas influi favoravelmente para a economia de energia fóssil no processo de produção agrícola. Temos o exemplo da cultura de soja, que produz no Brasil cerca de 12 milhões de toneladas de óleo sem consumo de fertilizante nitrogenado. No caso de culturas não leguminosas, que demandam altos níveis de fertilizante nitrogenado, o ganho energético é geralmente baixo. As outras culturas oleaginosas anuais, como mamona e pinhão manso, cuja nutrição nitrogenada depende da adubação, ainda não têm alcançado o nível de sustentabilidade desejado.
O senhor acredita que a atual forma de produção de biocombustíveis compromete florestas nativas e a produção de alimentos?
Esta é uma boa pergunta. Qualquer programa bioenergético sustentável pode estabelecer-se sem comprometer as florestas nativas e a produção de alimentos, muito diferente de outros países com limitada disponibilidade de terras. Temos no Brasil mais de 230 milhões de hectares de terras sob pastagens, das quais aproximadamente cerca de 120 milhões de hectares estão cobertas com pastagens degradadas. Essas áreas estão disponíveis, não apenas para as culturas energéticas, senão também para pelo menos triplicar a área cultivada com grãos ou alimentos. Não podemos esquecer que, na pecuária, existem tecnologias para aumentar a produtividade e evitar a degradação.
Qual é a sua avaliação sobre o atual modelo de agronegócio brasileiro?
O agronegócio brasileiro tem estado baseado principalmente em commodities de poucos produtos agrícolas, como soja, suco de laranja e carne; sendo que a expansão destas culturas e pastagens ocorreu de forma desenfreada, comprometendo o meio ambiente pelo desmatamento. Hoje, graças à pressão da sociedade e dos países importadores, o componente ambiental está ocupando o espaço devido. Por isso acredita-se que o agronegócio brasileiro fique mais civilizado. É notória a falta de incentivo para reforçar o agronegócio interno, envolvendo a agricultura familiar, que responde por mais de 70 % da produção de alimento para o povo brasileiro.
A humanidade superou a revolução verde em busca de um modelo mais sustentável para garantir o abastecimento?
A revolução verde, baseada no melhoramento genético de plantas e no uso de fertilizantes, tem sido muitas vezes inadequadamente entendida. Salvou da morte por fome a mais de 50 milhões de pessoas no mundo, especialmente na Ásia, nos anos 60. No Brasil, deu suporte para os cientistas descobrirem o potencial produtivo dos solos do Cerrado, que hoje é um grande suporte para a produção agrícola do País. É claro que precisamos corrigir as deficiências e aprimorar. Solos extremamente pobres em nutrientes, como são a maioria dos solos tropicais, não são adequadamente produtivos pela falta de adubação. Desconhecer isso, no mínimo, é uma posição irresponsável. Precisamos racionalizar e usar de maneira eficiente todos os insumos agrícolas. É hora de otimizar tudo, sem esquecer os cuidados com o meio ambiente. Sistemas agrícolas sustentáveis dependem da pesquisa e da adequada aplicação.
Há chance de crescimento na produtividade sem aumento da dependência de agroquímicos?
Sim. Muito dos insumos agrícolas empregados atualmente na agricultura vêm sendo aplicados em excesso ou de forma irracional, o que tem dado uma falsa idéia da dependência da nossa agricultura de agroquímicos. Precisamos da disponibilidade de tecnologias que permitam otimizar o uso dos insumos agrícolas de forma eficiente e com mínimo impacto ambiental. Deve ficar claro também que, para nossas condições de solos pobres e ácidos, é praticamente impossível produzir alimentos agrícolas sem depender dos fertilizantes e de produtos sintéticos controladores de pragas e doenças. China e Coréia, países de alto consumo de agroquímicos, estão incentivando a pesquisa para desenvolver tecnologias microbiológicas que permitam otimizar a eficiência de insumos agrícolas para diminuir seu uso. No caso do Brasil, o melhor exemplo da eficiência microbiológica está na cultura da soja, onde se produz mais de 60 milhões anuais de toneladas de grãos ou alimentos sem uso de fertilizante nitrogenado. Precisamos de incentivo à pesquisa na área da microbiologia. Assim, é possível crescimento na produtividade sem aumentar a dependência por agroquímicos.
A produção orgânica é realmente promissora para o setor primário da economia?
Os princípios básicos que regem a produção orgânica de alimentos são muito bons. Quem não gostaria de ter disponíveis alimentos produzidos da forma mais natural possível? O problema está na dificuldade de conseguir insumos orgânicos, como esterco, para grandes extensões. Hoje, é possível produzir alimentos orgânicos, mas a alto custo, proibitivo para pessoas de baixos ingressos. Está cada vez mais claro que em solos pobres, como os nossos, é difícil a produção de alimentos orgânicos, mas todo esforço é válido para utilizar de forma eficiente várias das técnicas baseadas no princípio da agricultura orgânica nos sistemas de produção agrícola, como a otimização da contribuição da fixação biológica de nitrogênio, que, pela adubação verde, em rotação de cultivos, pode suprir a demanda ou diminuir a necessidade do uso de fertilizantes nitrogenados.
Qual é a estratégia adequada para lidar com a diversidade brasileira sem comprometer a fertilidade? E para combater o processo de desertificação?
É necessária a mínima ou nula perturbação do solo, como estabelece o sistema plantio direto. Este sistema permite cobrir o solo com os resíduos de colheita, diminuindo as perdas de solo por erosão. A eliminação da queima contribui muito para preservação da biodiversidade microbiológica do solo. Este sistema, com adequada rotação de culturas, incluindo leguminosas fixadoras de nitrogênio do ar, contribui para melhorar a fertilidade do solo, preservando e/ou aumentando a matéria orgânica. Quanto à desertificação, uma das técnicas de destaque é o reflorestamento com leguminosas arbóreas tolerantes ao estresse hídrico e eliminar a queima.
Em que nível a pesquisa científica tem contribuído para melhorar a produtividade no Brasil?
Somente a pesquisa agrícola tem permitido dar suporte para os recordes de produtividade que o País vem obtendo ano a ano. Graças a ela o Brasil expandiu a fronteira agrícola, dominando o Cerrado. Falta muita coisa a pesquisar, refinar algumas tecnologias e desenvolver outras, destacando a integração de sistemas de produção envolvendo agricultura e pecuária. As esperanças estão voltadas para a biotecnologia, melhoramento genético, microbiologia do solo e planta e procura por insumos mais nobres ou de menor impacto ambiental.
Qual é a melhor alternativa para combater a fome do ponto de vista produtivo?
É necessário disponibilizar alimento mais barato. Para isso é preciso aumentar os rendimentos agrícolas com menores custos, um dos desafios da pesquisa. A população mais pobre e sujeita à fome está nos pequenos agricultores. Os programas assistencialistas com ajuda econômica direta poderiam ser aperfeiçoados concedendo adubo. Com a concessão de dez quilos de nutrientes por família por ano seria possível produzir mais de 300 quilos de grãos, o suficiente para colocar diariamente na mesa de cada família pelo menos 800 gramas de grãos.
FIQUE POR DENTRO
Pesquisador na área de Agronomia e Agroenergia
Doutor em Solos e Nutrição de Plantas pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), Segundo Urquiaga é pesquisador A do Centro Nacional de Pesquisa de Agrobiologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), consultor / assessor técnico-científico da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), consultor ad hoc do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e membro da equipe de cientistas assessores da Agencia Internacional de Energia Atômica (Órgão das Nações Unidas). Publicou 143 artigos em periódicos especializados e 250 trabalhos em anais de eventos. Possui 59 capítulos de livros e dois livros publicados. Atua na área de Agronomia, com ênfase na quantificação da contribuição da fixação biológica de nitrogênio em sistemas agrícolas e sobre a importância deste processo na agroenergia e na proteção do meio ambiente. Recebeu prêmios nacionais e internacionais, entre eles, o Prêmio IPNI-Brasil 2009, por indicação da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, concedido pelo Instituto Internacional de Nutrição de Plantas, na categoria de Pesquisador Sênior.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Oferta de energia cresce mais com a entrada de novas PCHs

A entrada de novas PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) vem predominando no aumento da matriz hidrelétrica brasileira do ano passado para cá, segundo dados da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
Em 2008, a capacidade total das usinas de menor porte que entraram em operação foi mais do que o triplo do que das novas usinas hidrelétricas. Foram 642,8 MW (megawatts) a mais por parte da PCHs, contra 180 MW apenas oriundos de usinas de maior porte.
Este ano, o cenário se mantém, embora mais hidrelétricas tenham iniciado operação. De janeiro até o dia 15 de setembro, 329,7 MW de potência instalada em PCHs passaram a produzir. Ao mesmo tempo, mais 280,6 MW de capacidade oriunda de novas usinas hidrelétricas foram adicionados ao sistema interligado nacional.
Estão previstos ainda mais 444 MW pelas PCHs ainda este ano. Caso esse volume seja confirmado, serão 773 MW ao longo de 2009. Se for levado apenas em conta de 2008 para cá, seriam em média, 708 MW anuais. De 2000 a 2007, as PCHs foram responsáveis pelo acréscimo de 136,2 MW anuais na matriz brasileira.
Nos próximos anos, A Aneel contabiliza mais 3.293 MW por conta de novas PCHs. Desse total, 1.060 MW não apresentam qualquer restrição. Outros 1.248 MW apresentam algum tipo de restrição, e 985 MW tem graves empecilhos para iniciar operação.
Em relação às usinas hidrelétricas, a Aneel prevê 9.496 MW nos próximos anos, dos quais 7.014 MW sem qualquer tipo de restrição — a maior parte será oriunda das usinas do rio Madeira, que terão 6.400 MW de potência; outros 1.936 MW apresentam algum problema, e 546 MW tem sérios empecilhos.
A projeção é que o boom de PCHs aumente ainda mais nos próximos anos. Estudo do CERPCH (Centro Nacional de Referência em Pequenas Centrais Hidrelétricas) indica que o país tem potencial para explorar capacidade de 25 mil MW nas bacias hidrográficas, o equivalente a 25% da potência instalada nacional, pouco acima dos 100 mil MW, atualmente. Para isso, seriam necessários até R$ 125 bilhões em investimentos.
Responsável pelas áreas de regulação e de negócios do CERPCH, Jason Tibiriçá lembra que o interesse do mercado nas PCHs vem aumentando ano após ano. Ele ressalta, inclusive, que muitas empresas vêm buscando nos empreendimentos hidrelétricos de menor porte energia suficientes para suas produções, a custos mais baixos.
“As empresas podem ter a energia para consumo próprio, e se houver algum excedente, ela poderá vender no mercado livre”, afirma.
Capacidade
As PCHs têm capacidade instalada de até 30 MW. Este ano, o Congresso aprovou a MP 450, que autoriza a Aneel a conceder autorizações para empreendimentos de 30 MW a 50 MW, mediante algumas condições especiais.
Especialista da Geron Consultoria, Claudio Serra destaca que os impactos ambientais são, normalmente, menores e de solução mais simples do que nas grandes usinas. Além disso, comenta, a venda de energia pode ser feita diretamente a consumidores que possuam carga instalada igual ou superior a 500 kW (kilovolts) e façam opção por não serem cativos.
“Algumas PCHs têm que ter estudos ambientais mais detalhados, isso varia de Estado para Estado. Mas em geral, a viabilidade é mais simples, do ponto de vista ambiental, e o prazo de construção gira em torno de dois anos”, observou.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Crise estrangula setor americano de biocombustíveis

Mas a indústria já está ficando para trás das metas.
A revolução dos biocombustíveis nos Estados Unidos, que prometia libertar o país da dependência do petróleo importado, caminha para o esquecimento.
Dois terços da capacidade americana de produção de biodiesel estão ociosa, segundo o Conselho Nacional do Biodiesel, uma associação de produtores. O biodiesel foi o mais prejudicado pela recessão e a queda na cotação do petróleo.
A crise mundial de crédito, um excesso de capacidade, o barateamento do petróleo e o adiamento de regras do governo americano para a mistura de combustíveis ameaçam a viabilidade de dois dos três principais setores do biocombustível: biodiesel e a próxima geração de combustíveis, produzidos a partir de plantas que não servem para a alimentação. O álcool, o maior segmento, também enfrenta problemas financeiros, embora o histórico apoio governamental ao setor provavelmente o ajudará a sobreviver.
A GreenHunter Energy Inc., que opera a maior refinaria de biodiesel dos EUA, interrompeu recentemente a produção e informou que pode ser obrigada a vender sua usina em Houston, Texas, apenas um ano depois de políticos a terem inaugurado. Dezenas de outras refinarias novas de biodiesel, que produzem o combustível a partir de óleos vegetais e gordura animal, interromperam as operações porque a produção não faz mais sentido economicamente.
Os produtores da nova geração de biocombustível, os que usam materiais renováveis que não servem para a alimentação, como grama e palha do milho, descobriram como é difícil atrair investimentos e aumentar a produção para a escala industrial. O setor sofreu um grande revés recentemente, depois que um júri federal julgou que a Cello Energy, do Alabama, uma produtora de biodiesel de fibras de plantas, havia fraudado investidores. Financiada pelo célebre capitalista de risco Vinod Khosla, a Cello forneceria 70% dos 381,2 milhões de litros que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) planeja misturar à oferta americana de combustível ano que vem. A suposta fraude deve atrapalhar as metas da agência no ano que vem, dizem analistas do setor de energia.
A onda de quebras no setor de biodiesel e a incapacidade da Cello de produzir até mesmo uma fração do que esperava amedrontaram potenciais investidores, o que pode atrasar ainda mais avanços tecnológicos no setor e até capotar as metas de energia "verde" do governo.
"Se os seus investidores já perdem dinheiro com a primeira geração de biocombustíveis, garanto a você que vão ficar mais desconfiados na hora de investir em mais biocombustíveis, incluindo os da próxima geração", diz Tom Murray, diretor mundial de energia do banco alemão WestLB, um dos mais importantes financiadores de produtores de álcool e biodiesel.
Biocombustíveis produzidos internamente deveriam ser a solução para reduzir a dependência americana do petróleo estrangeiro. Em 2007, o Congresso criou metas que determinavam que os EUA teriam de acrescentar 136,7 bilhões de litros de biocombustíveis ao suprimento de combustíveis até 2022, ante 42 bilhões de litros em 2009. Assim, a participação dos biocombustíveis no total de combustíveis líquidos nos EUA subiria de 5% para em torno de 16%, com base em projeções de demanda da Administração de Informações sobre Energia.
O etanol de milho, que há anos tem sido sustentado por determinações do governo de mistura com outros combustíveis, além de outros subsídios, tornou-se alvo de críticas acaloradas por provocar alta no preço do milho e outros produtos alimentícios básicos. Embora vá continuar a ser produzido, o álcool de milho tinha prevista uma redução de seu papel dominante na mistura obrigatória dos combustíveis até 2022. O etanol celulósico, derivado das porções não comestíveis das plantas, e outros combustíveis avançados deveriam superar o etanol de milho e preencher perto de metade de todas as determinações de biocombustível naquela época.
Mas a indústria já está ficando para trás das metas. A EPA, que põe em prática as determinações parlamentares de mistura, não divulgou ainda nenhuma regulamentação para permitir a mistura de biodiesel, embora a previsão era de que isso começasse em janeiro. A determinação de misturar combustíveis de próxima geração, que começa no ano que vem, tem poucas chances de ser cumprida por falta de produção viável suficiente.
Os modelos de negócios para a maioria das empresas de biocombustível foram baseados num preço bem mais alto do petróleo. Um mercado garantido pelo governo também era crucial para os planos de negócios. Mas como as determinações de mistura foram adiadas, os preços do petróleo caíram e a recessão reduziu a demanda de combustível, muitas empresas de biodiesel começaram a operar no vermelho. Mesmo as produtoras de etanol, que desfrutaram de subsídios e maiores exigências do governo para mistura à gasolina, têm operado no prejuízo no último ano.

domingo, 4 de outubro de 2009

País terá folga para fabricar biodiesel mesmo com B5

Apesar da crise financeira, que afetou os negócios de equipamentos para usinas de biodiesel, a capacidade de produção do biocombustível já instalada no Brasil atenderá sem problemas a demanda adicional gerada por um aumento da mistura no diesel no ano que vem, segundo executivo do principal fornecedor da indústria de equipamentos para o setor. O Ministério de Minas e Energia (MME) afirmou nesta semana que já está tudo certo para o país elevar em 2010 a mistura de biodiesel no diesel de 4% para 5% do total (B5), o que geraria uma demanda adicional de 25% do biocombustível produzido, em sua maioria, a partir de soja no Brasil.
"Hoje o Brasil poderia ter avançado em B5, B6... já possibilitaria atender um percentual de mistura maior do que B4. A capacidade instalada de produção está perto de 4 bilhões de l, considerando as plantas em operação e as contratadas", disse à Reuters o vice-presidente de Tecnologia e Desenvolvimento da Dedini Indústrias de Base, José Luiz Olivério. Para a produção do B4, a necessidade de biodiesel é de cerca de 2 bilhões de l ao ano, enquanto o B5 exigiria a fabricação de 2,5 bilhões de l em 2010, segundo o MME.
"Unidades para 3,2 bilhões de l já poderiam funcionar, e outras para 800 milhões de l estão em construção", acrescentou Olivério, durante um seminário de biodiesel que termina nesta quinta-feira em São Paulo. Assim, o executivo avalia que, até o final de 2010, o País terá capacidade para produzir ao menos 4 bilhões de l. A Dedini, líder global em equipamentos para o setor de açúcar e etanol e principal fornecedor no Brasil para usinas de biodiesel, registra lentidão nos negócios para o segmento de biocombustíveis neste ano, ainda por conta da crise. "Este ano o setor de açúcar e etanol está com pouco negócio, estamos com melhores negócios nas áreas de refinarias de petróleo e hidrelétricas", afirmou ele, sobre equipamentos produzidos para outros segmentos. "Em biodiesel, dois negócios novos. Ainda não atingiu o nível de 2007 (um ano considerado normal), de oito negócios", mostrou. A empresa, com mais de 70% da receita proveniente da área de equipamentos para biocombustíveis e bioenergia, fechou 2008 com receita líquida de R$ 1,8 bilhão.
Mais soja
"O problema da matéria-prima é o da disponibilidade, a soja é predominante, está disponível em todos os lugares e é mais competitiva, exceto em algumas regiões pequenas", disse Olivério, que acredita, entretanto, que outras matérias-primas viáveis para o biocombustível aparecerão em menos de dez anos.
Atualmente, a soja responde por 80% da matéria-prima do biodiesel no Brasil.
"Ninguém pode ficar sujeito a uma commodity que oscila de preço, porque o preço de biodiesel tem como referência o diesel. No nível que nós estamos ainda não chega a ser um problema tão grande, mas imagine um B10, por exemplo, você teria um problema maior para garantir a oferta, é preciso ter flexibilidade", explicou.
Entre os outros óleos vegetais analisados pelo setor no Brasil para a produção de biodiesel estão o de palma, de girassol, de pinhão-manso, sendo esta última matéria-prima uma das mais promissoras, mas com pouca pesquisa agronômica já concluída.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Estudo da Embrapa aponta nova fonte de biodiesel

Um estudo desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Roraima, revelou o inajá (palmeira oleaginosa nativa da região amazônica), como excelente fonte para produção de biocombustível. Com o objetivo de otimizar o aproveitamento da planta, a Petrobras assinou acordo de parceria com a prefeitura de Mucujaí, para a construção de uma usina para a produção de biodiesel a partir do inajá. O anúncio oficial do empreendimento deve ser feito pelo presidente Lula no dia 14 de setembro, durante visita ao Estado. O potencial energético do inajá é estudado por técnicos da Embrapa Roraima há anos. Pesquisas realizadas pela empresa mostram que a palmeira é capaz de gerar 3.690 litros de diesel por hectare ao ano, superando, em produtividade, outras fontes tradicionais de biodiesel. Estudo - O pesquisador da Embrapa Roraima, Otoniel Ribeiro Duarte, fez sua tese de doutorado enfocando a produtividade do inajá. "Um excelente aspecto é que ele é pouco exigente em solos e tolera até inundações por períodos curtos. Temos observado seu desenvolvimento e a produtividade expressiva em solos quimicamente pobres e, ainda, a vantagem de ser uma planta resistente ao fogo", afirma o pesquisador. Além disso, sua incidência pode ser observada durante o ano inteiro e em praticamente todo o Estado. Combustível para inclusão social - A demanda por “combustíveis verdes” está cada vez maior. No Brasil, aparece como importante alternativa não só para transporte ambientalmente sustentável, mas como forma de desenvolvimento econômico e social. Em médio prazo, o biodiesel pode se tornar uma das principais fontes de divisas do País, somando-se ao álcool como fonte de energia renovável e não poluente, que pode ser oferecida à comunidade mundial.