Brasil precisa de
infraestrutura de energia mais resiliente às mudanças climáticas, pois eventos
extremos como secas, chuvas intensas e ondas de calor já impactam a rede
elétrica e o fornecimento de energia. É necessário investir em adaptação, como
fortalecer a infraestrutura de transmissão e distribuição, diversificar a
matriz energética para reduzir a dependência hídrica, e adotar tecnologias mais
sustentáveis e que minimizem emissões de gases de efeito estufa.
Desafios e necessidades
Eventos climáticos extremos:
Secas podem comprometer a operação de hidrelétricas, enquanto fortes chuvas
podem danificar redes de distribuição, causando interrupções prolongadas no
fornecimento de energia, como demonstra a média de horas de interrupção por
usuário no país, que é significativamente maior que a de outros países.
Dependência hídrica: A grande
dependência de energia hidrelétrica torna o sistema vulnerável a períodos de
estiagem.
Necessidade de adaptação: A
infraestrutura atual, incluindo as redes de transporte e distribuição, precisa
ser adaptada para resistir aos efeitos das mudanças climáticas, como
alagamentos e calor extremo.
Soluções e ações
Diversificação da matriz
energética: Expandir fontes renováveis como solar e eólica, que já estão em
crescimento no Brasil, pode reduzir a vulnerabilidade da geração hidrelétrica.
Fortalecimento da
infraestrutura: Investir em tecnologias para tornar as redes de transmissão e
distribuição mais robustas e capazes de suportar eventos climáticos extremos.
Transição energética:
Promover uma transição energética justa e equitativa, reduzindo a dependência
de combustíveis fósseis e adotando novas formas de energia mais eficientes e
limpas.
Adoção de tecnologias:
Implementar novas tecnologias na construção pesada e no setor energético para
garantir a adaptação às mudanças climáticas e minimizar emissões de gases de
efeito estufa.
Planejamento e políticas:
Desenvolver políticas públicas e programas de certificação para obras e
infraestruturas que considerem a resiliência climática como um fator
fundamental, como um projeto que visa certificar obras resilientes a eventos
climáticos extremos.
Os dias de tempestade, com o
registro de chuvas que ultrapassam 50 milímetros, aumentaram bastante na região
metropolitana de São Paulo. Até a década de 1950, de acordo com estudo do
Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais),
quase não houve registro dessas chuvas, mas nos últimos anos, essa realidade
mudou, com a precipitação atingindo 80 milímetros ou, em alguns casos, passando
dos 100 milímetros em temporais que podem durar horas.
A projeção para os próximos
anos não é animadora, segundo estudo do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais), que projeta, para o período entre 2025 e 2034, aumento de 20% a 30%
na ocorrência de tempestades severas em São Paulo e no Rio de Janeiro.
“Essa é uma realidade que precisa ser considerada por todas as partes relacionadas com a atividade de distribuição de energia elétrica, sobretudo os reguladores desse serviço público e as empresas concessionárias que operam as redes. O uso de tecnologia, por meio da automação da rede elétrica, é a solução adotada por países como Japão, o que tem permitido evitar o desligamento da energia e recompor rapidamente o fornecimento em caso de necessidade”, afirma o sócio de Governo & Infraestrutura da EY-Parthenon, Alexandre Vidal.
Crise hídrica e de energia — o que o Brasil pode fazer para evitar novos "choques" na era das Eras das Mudanças Climáticas.
Enquanto os japoneses ficam
em média somente cinco minutos por ano sem energia, os brasileiros enfrentam 11
horas de interrupção da eletricidade. “Esse dado demonstra que há muito espaço
para tornar nossa rede elétrica mais resiliente aos efeitos das mudanças
climáticas. Temos observado em vários países uma adaptação da regulamentação do
setor no sentido de incentivar as concessionárias do serviço de distribuição de
energia a fazer os investimentos para aumentar a resiliência das redes”,
completa o executivo.
Além disso, como forma de contribuir para o funcionamento eficaz da rede elétrica, o país incentivou a adoção pelos consumidores dos medidores inteligentes de energia, cita Vidal, com 30 milhões desses aparelhos instalados possibilitando ao consumidor mensurar em tempo real o uso do sistema de energia elétrica. “O propósito disso é incentivá-lo a consumir mais nas horas de energia sobrando no sistema, e não nos momentos de pico, recebendo incentivo de preço nesses horários de menor utilização. Esse movimento foi fundamental para viabilizar no Japão a abertura do mercado livre de energia para todos os consumidores, mesmo os residenciais, movimento que se inicia também no Brasil”.
Mudanças climáticas são desafios para o setor elétrico
A exigência de Planos de
Resiliência que passam pela análise e aprovação prévia do regulador, além de
outros mecanismos de regulação baseada em performance, tem garantido que os
consumidores de energia elétrica de países como Japão, EUA e Itália possam
usufruir de uma infraestrutura mais resiliente.
Ainda segundo Vidal, o
Brasil, na COP30, poderá mostrar ao mundo seu exemplo de sucesso na geração de
energia a partir de fontes renováveis, mas terá muito a aprender em como
melhorar os esforços de adaptação climática na rede elétrica. Os dados mais
recentes do Balanço Energético Nacional (BEN) indicam que a participação das
fontes renováveis é de 88,2% na geração de energia elétrica, o que coloca o
Brasil em posição de destaque com uma porcentagem muito superior à média global
e à média dos países que fazem parte da OCDE (Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico).
Ainda segundo esse documento, publicado pelo Ministério de Minas e Energia e pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), as fontes eólica e solar detêm 23,7% de participação na geração total de eletricidade do país – quase um quarto de toda a energia gerada pelo Brasil. Essa eletricidade limpa reflete em outros índices de sustentabilidade, como o da emissão de dióxido de carbono por habitante. Em 2024, o brasileiro emitiu em média duas toneladas de dióxido de carbono equivalente – apenas 15% do total emitido por cada americano.
Linha de transmissão: rede brasileira alcança quase 200 mil quilômetros de extensão.
O impacto das mudanças
climáticas no sistema de transmissão do Brasil exige resiliência e inovação
Em tempos de certeza sobre os
impactos das alterações climáticas as empresas de transporte de energia
A integração das energias renováveis ao sistema elétrico brasileiro é o pilar fundamental para atingir os objetivos de descarbonização e eletrificação da economia, uma vez que as fontes limpas representaram cerca de 91,4% das demandas de carga do Sistema Interligado Nacional (SIN), segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Nesse contexto, as empresas de transporte de energia desempenham um papel crucial na transição energética, garantindo a máxima integração das energias renováveis, a eficiência e a segurança do abastecimento.
Investimento em infraestrutura resiliente: Uma urgência diante das mudanças climáticas
Sustentabilidade no
fornecimento para grandes consumidores
Ainda no contexto da COP 30,
o Brasil deve assegurar que o aumento esperado da demanda por energia na
produção de hidrogênio verde, em grandes data centers e na eletrificação
setores como o transporte seja atendido por fontes renováveis. “Não adianta
eletrificar os veículos utilizando os combustíveis fósseis como matriz
energética. É até uma contradição, já que o veículo elétrico substitui
justamente o motor a combustão. O crescimento na produção de veículos elétricos
no Brasil tem sido consistente. Em 2020, eram dois mil por ano, passando a 210
mil no ano passado – crescimento superior a cem vezes nesse período. Raciocínio
semelhante se aplica à inteligência artificial, que precisa de enorme
processamento de dados para funcionar, exigindo o investimento em data centers
sustentáveis. A IA, que veio para elevar a produtividade das empresas, pode
inclusive ser aplicada para trazer soluções sustentáveis para o setor de
energia”.
Vidal cita a criação do Regime Especial de Tributação para Serviços de Data Center, também conhecido como Redata, que tem como objetivo impulsionar o investimento em data centers, ampliando a capacidade do país de armazenagem, processamento e gestão de dados. Para ter acesso ao Redata, é obrigatório que os projetos cumpram exigências de sustentabilidade, como energia renovável ou limpa e eficiência hídrica.
As crises de energia no Brasil e os caminhos da transição para uma economia de baixo carbono.
Somente uma ação conjunta e
colaborativa terá o poder de mudar o clima da história, ressalta Rodolfo Gomes,
diretor executivo da organização International Energy Initiative (IEI-Brasil).
“É fundamental que a sociedade não apenas entenda que é possível fazer melhor
uso dos recursos disponíveis, como também possa se beneficiar diretamente e
indiretamente, como ter contas ou tarifas menores de energia, depender menos de
importação de combustíveis, ter menos poluição nas cidades”.
(pv-magazine-brasil)







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