terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Planejando a Crise de Energia Elétrica

A situação crítica de abastecimento de energia elétrica não é conseqüência apenas da falta de chuvas. Durante as últimas décadas o crescimento populacional, as necessidades de irrigação da agricultura e maiores usos industriais da água, aumentaram o consumo de água. Como este é também o principal combustível de nosso sistema elétrico e não houve um aumento proporcional da capacidade de armazenamento dos reservatórios das hidrelétricas, a vazão de nossos rios tem que atender a uma demanda cada vez maior de usos não energéticos. Esses fatos são mais evidentes em regiões mais densamente povoadas, como o sudeste.
A seca dos meses recentes apenas acentuou uma conhecida fragilidade do nosso sistema de abastecimento. Demonstra também uma ausência de política energética e visão de longo prazo. O problema tem origem há mais tempo. Há muitos anos os indicadores já apontavam para uma crise como a que enfrentamos hoje. Durante a década de 80 o consumo de eletricidade cresceu uma vez e meia mais depressa que nosso produto interno bruto (PIB). Na década seguinte o crescimento do consumo disparou na frente do PIB: foi quase duas vezes e meia mais rápido. Nosso consumo de eletricidade vem também aumentando mais rapidamente que nossa capacidade de geração nessas últimas décadas. A cada ano que passa estamos precisando de mais eletricidade para gerar R$ 1,00 em nossa economia.
Poderia ser diferente no Brasil. Os países industrializados conseguiram promover seu crescimento econômico sem aumentar seu consumo de eletricidade. A China, que tem também graves problemas de abastecimento, planejou seu crescimento industrial em setores menos intensivos em energia e de maior valor agregado. Aqui mesmo no Brasil, nos idos de 70, a escassez de eletricidade na região de Manaus (AM) ajudou a definir um perfil industrial para a Zona Franca orientada para setores eletro-eletrônicos, menos intensivos em eletricidade e de maior valor agregado.
No ano passado, que foi um ano recorde de crescimento do PIB (4,2%), a eletricidade cresceu ainda mais, 4,6%. Essa relação pode ser revertida, ou pelo menos estabilizada, mas leva tempo e determinação na orientação de uma política pública orientada para eficiência energética.
Nos últimos anos, por diversas vezes, atingimos níveis críticos de confiabilidade de fornecimento de energia elétrica. Tradicionalmente mantemos uma margem de reserva de 10% de excesso de capacidade instalada em relação à demanda esperada. No entanto, nosso sistema tem funcionado durante algumas horas do ano com pouca folga, algo em torno de 2-3%, para atender eventuais aumentos instantâneos de consumo. Nesses períodos os riscos de apagões ou blackouts são grandes. Essa estreita e perigosa margem de reserva sempre foi de conhecimento dos responsáveis pela operação do sistema e são indicadores indiscutíveis de que algo não vai bem.
E para completar o quadro, temos ainda importantes aspectos relacionados com as mudanças institucionais do setor elétrico. A partir de meados da década passada iniciamos reformas que introduziram a privatização e novas regras para criar competição no mercado de eletricidade. A argumentação era de que esta seria uma maneira de atrair investimentos em uma área onde o setor público não conseguia mais captar recursos.
Parte da estratégia das reformas foi a instalação do Conselho Nacional de Política Energética, com a função de assessorar o presidente da República em matéria relacionada com os destinos da infra-estrutura energética do País. Criado no papel em 1997, somente em 2000 reuniu-se pela primeira vez e nada de significativo tem produzido desde então. De 97 para cá, criaram-se agências de regulação que funcionam sem uma orientação de longo prazo.
Criaram-se regras para investimentos compulsórios em programas de eficiência energética e pesquisa e desenvolvimento, mas sem metas e com modestíssimos instrumentos de avaliação. E principalmente, ainda muita indefinição. A verdade é que nossas reformas ainda estão no meio do caminho. O capital privado, que não é santo nem bobo, só vai realizar os esperados investimentos para aumentar a oferta de eletricidade quando perceber regras claras e estáveis.
Planejamento energético exige visão, exige transparência, estratégia e, obviamente, competência técnica. Somente agora surgem projetos interessantes de co-geração. O enorme potencial de biomassa para geração de eletricidade e as oportunidades de seu desenvolvimento tecnológico, campo onde já fomos líderes, permanecem dormentes há décadas. Ainda não ousamos inovações regulatórias, procurando incentivar as concessionárias para promoverem conservação e não serem estimuladas a vender cada vez mais eletricidade para seus consumidores. São necessárias novas formulações de tarifas para consumidores de modo a melhorar a operação do sistema a curto, médio e longo prazo.

domingo, 28 de dezembro de 2008

A crise energética e as políticas públicas

Paralelamente ao agravamento dos problemas ambientais, o mundo vive nova crise energética. O petróleo, o carvão e o xisto atingiram a maior cotação de toda a história da humanidade. Considerando a exploração intensiva das reservas não-renováveis de combustíveis fósseis - recursos esgotáveis que levaram milhões de anos para se formar - e os prejuízos ambientais trazidos pelo uso desses recursos energéticos, pressupõem-se um cenário preocupante para esse século. Quando a opção parecia ser a bioenergia, surgem os riscos provenientes de a crise alimentar que se anuncia, a qual poderá ser agravada pela introdução de culturas voltadas à produção de biocombustíveis em áreas anteriormente destinadas à produção de alimentos básicos.
Nesse contexto, assume crucial importância a busca de fontes de energia alternativa, em especial renovável e não-poluente, como a solar e a eólica. A energia solar recebida pela terra a cada ano é dez vezes superior à contida em toda a reserva de combustíveis fósseis. Entretanto, o interesse pela utilização da radiação solar como fonte de energia alternativa cresceu apenas nas últimas décadas, por razões políticas e econômicas, principalmente após a crise do petróleo de 1973. Hoje, esse interesse está adquirindo maior dimensão, abrangendo não só o aproveitamento dessa radiação como fonte de energia limpa e renovável, mas também o conhecimento e os efeitos das mudanças climáticas.
Diversos países, inclusive o Brasil, já buscam nas energias alternativas, como a solar, a biomassa, a eólica e a hidroenergia, opções para o problema energético, cuja demanda mundial dependem quase totalmente (cerca de 80%) dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral e gás natural), ou seja, recursos esgotáveis. Sabe-se que as energias renováveis são provenientes de ciclos naturais de conversão da radiação solar, que é a fonte primária de quase toda energia disponível na terra. Por isso, são praticamente inesgotáveis e não alteram o balanço térmico do planeta.
Dessa forma, o aproveitamento das energias solar é um projeto viável, tanto em termos técnicos quanto econômicos. O elevado custo, principal obstáculo para sua utilização em escala comercial, já está sendo vencido. Especialistas nessa tecnologia prevêem uma queda de até seis vezes no preço do quilowatt (kW) obtido a partir de energia solar até o ano 2015. Contudo, embora seja inesgotável e não ofereça riscos ambientais, essa energia ainda é aproveitada de modo muito incipiente no país para secagem de alimentos, na indústria do sal e no aquecimento de água. Com relação à energia eólica, sabe-se que pode garantir 10% das necessidades mundiais de eletricidade até 2020, pode criar 1,7 milhão de novos empregos e reduzir a emissão global de dióxido de carbono na atmosfera em mais de 10 bilhões de toneladas.
Do total de energia elétrica gerada no Brasil, 95% são de origem hidráulica, mas o potencial desse tipo de fonte, de acordo com a Eletrobrás, poderá se esgotar no ano 2015, se mantido um ritmo regular de crescimento econômico. Inicialmente, a construção de hidrelétricas e a reserva de água para diversos fins foi o principal propósito. Entretanto, nos últimos vinte anos, os usos múltiplos desses sistemas se diversificaram, ampliando a importância econômica e social desses ecossistemas artificiais e, ao mesmo tempo, produzindo e introduzindo novas complexidades no seu funcionamento e impactos ambientais negativos.
Esta grande cadeia de reservatórios tem, portanto, enorme significado econômico, ecológico, hidrológico e social - em muitas regiões do País esses ecossistemas foram utilizados como base para o desenvolvimento regional, como na bacia hidrográfica do rio São Francisco. Em alguns projetos houve planejamento inicial e uma preocupação com a inserção regional; em outros casos, este planejamento foi pouco desenvolvido. Contudo, todas estas alterações podem gerar externalidades e resultar em uma série de efeitos diretos ou indiretos. Reservatórios seqüenciais como os construídos no rio São Francisco, e em diversos de seus afluentes, produzem efeitos e impactos acumulativos, transformando inteiramente as condições biogeofísicas, econômicas e sociais de toda a bacia.
Por suas características tropicais, o Brasil tem, em quase todo o território e durante o ano inteiro, grande potencial de oferta de energia solar - no entanto, muito pouco é feito para aproveitá-la. Por intermédio da fotossíntese, as plantas capturam energia do sol e transformam em energia química. As fontes orgânicas que são usadas para produzir energias usando este processo são chamadas de biomassa. Os combustíveis mais comuns da biomassa são os resíduos agrícolas, madeira e culturas como a cana-de-açúcar.
Em condições favoráveis a biomassa pode contribuir de maneira significante para com a produção de energia elétrica. O pesquisador Hall, por intermédio de seus trabalhos, estima que com a recuperação de um terço dos resíduos disponíveis seria possível o atendimento de 10% do consumo elétrico mundial e que com um programa de plantio de 100 milhões de hectares de culturas especialmente para esta atividade seria possível atender 30% do consumo.
A produção de energia elétrica a partir da biomassa, atualmente, é muito defendida como uma alternativa importante para países em desenvolvimento e também outros países. No entanto, e há que se considerarem as questões relativas ao aquecimento global, a maioria dos produtos agrícolas usados nos Estados Unidos e na Europa para a produção de biocombustíveis na verdade agrava o aquecimento global, devido aos métodos industriais empregados na fabricação do produto. As conclusões são especialmente negativas para a colza, planta usada na Europa para a produção de biodiesel, e que segundo o estudo pode produzir até 70 por cento mais gases do efeito estufa do que o diesel convencional.
Já o etanol brasileiro foi considerado menos poluente do que o petróleo - gera apenas entre 50 e 90 por cento dos gases do efeito estufa que seriam emitidos pela gasolina. O etanol de milho, produzido nos EUA, pode gerar até 50 por cento mais gases responsáveis pelo aquecimento global do que a gasolina. O novo estudo sugere que os biocombustíveis podem na verdade provocar mais liberação do que economia de gases do efeito estufa, devido ao fertilizante usado na produção agrícola, cuja fabricação depende do óxido nitroso - substância que tem cerca de 30 vezes mais capacidade de provocar o efeito estufa do que o dióxido de carbono (CO2).
Enfrentar os desafios
As expectativas energéticas para o próximo século apontam na direção das fontes renováveis, como as energias do Sol e dos ventos. O uso futuro dos combustíveis fósseis é insustentável: a) pelos danos ambientais; b) por questões econômicas; e c) pelo estoque limitado desses recursos. Vivem-se atualmente o drama dos pólos industriais, com sua necessidade crescente de energia, e dos grandes centros urbanos, envoltos pela degradante poluição atmosférica, que reduz a já baixa qualidade de vida.
Constata-se que algumas alterações de grande escala observadas na atmosfera já não são apenas especulações ou previsões científicas, mas fatos reais, como a diminuição da camada de ozônio na estratosfera e o efeito estufa. A contrapartida é uma maior parcela de responsabilidade quanto à preservação e à conservação do meio ambiente. Isso significa acompanhar os sinais de vida no planeta, o que inclui o monitoramento da radiação solar e a procura de formas alternativas de energia, capazes de melhor harmonizar o homem com seu meio ambiente.
A International Solar Energy Society (ISES), sediada em Freiburg (Alemanha), promove há alguns anos o programa The comeback of solar energy ('O retorno da energia solar'). A iniciativa se baseia em um cenário que considera os progressos tecnológicos obtidos na última década e também as expectativas positivas de desenvolvimento do setor. No momento em que as sociedades desenvolvidas pressionam crescentemente seus governos a despoluir o meio ambiente, essa busca pela energia solar está sendo bem recebida, resultando em vertiginoso aumento de investimentos em pesquisa e desenvolvimento na área, principalmente na Alemanha, Japão e Austrália.
No Brasil, um marco importante e oportuno para uma discussão séria sobre o tema, em nível de política nacional, foi a criação do Comitê Permanente das Energias Solar, Eólica e Biomassa, vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia. Tal debate poderá levar à formulação de uma política oficial de longo prazo para o setor. Outras iniciativas mostram que o país está caminhando na direção certa para enfrentar os desafios desse novo século.
No que diz respeito à radiação solar, sem dúvida resta muito a ser feito no país, desde o desenvolvimento de equipamentos com matéria-prima e soluções tecnológicas nacionais até o estudo de novas aplicações para a eletricidade e o calor gerados a partir da luz do Sol.. Qualquer estudo de viabilização de fontes de energia alternativas e 'ecologicamente corretas' serão bem-vindas e esse pode ser o ponto de partida para o futuro.
Um programa realista de substituição de combustíveis fósseis por energia solar poderia, de imediato, reduzir em 800 a 900 milhões de toneladas anuais a emissão de dióxido de carbono (CO2) – principal gás de efeito estufa - para a atmosfera. Essa quantidade representa de 15% a 17% do total de CO2 emitido atualmente.
Os modelos de produção e consumo - a dura realidade
Será que os biocombustíveis poderão ser a solução? Atualmente a maior parte da energia utilizada pela humanidade provém de combustíveis fósseis. A vida moderna tem sido movida a custo de recursos esgotáveis que levaram milhões de anos para se formar. O uso desses combustíveis em larga escala tem mudado substancialmente a composição da atmosfera e o balanço térmico do Planeta provocando o aquecimento global, degelo nos pólos, chuvas ácidas e poluição atmosférica e de todo o meio ambiente. Alternativas como a energia nuclear, que eram apontadas como solução definitiva, já mostrou que só podem piorar a situação.
Na verdade, é a razão capitalista que estimulou a industrialização e a urbanização, tendo por base o consumismo e acumulação do capital, que está levando o nosso planeta - e os seres vivos que o habitam - a uma situação catastrófica do ponto de vista ambiental e das condições de sobrevivência de todos os seres vivos, inclusive da vida humana. A principal questão se refere aos atuais sistemas de produção, que estimulam o consumo e geram degradação. Se há preocupação em mudar a questão ambiental tem que se pensar em mudar o sistema de produção.
Nos dias atuais a produção do etanol e do biodiesel brasileiros vêm sendo questionadas mundialmente. Isto se deve principalmente ao modelo do agronegócio empresarial, que se utiliza de grandes extensões de terra para a monocultura, onde a única preocupação reside na proposta de transformar o Brasil em grande exportador de combustíveis com o apoio e ganância de grandes grupos econômicos e fundos de investimentos, inclusive do próprio governo. Este modelo causa impactos negativos em diversas comunidades tradicionais, que têm seus territórios ameaçados pela expansão do capital. O que se verifica hoje é a compra de terras e usinas por estrangeiros, formando um estoque de terras que rende uma valorização acelerada, na linha da especulação típica das zonas urbanas. Os problemas sociais e ecológicos associados à cultura da cana-de-açúcar se agravam a cada dia.
A solução seria utilizar áreas de pastagens degradadas para o plantio dessa cultura. Todavia, a expansão da cana-de-açúcar no país para produção de etanol pode avançar sim sobre áreas onde atualmente se cultivam gêneros alimentícios, além de colocar em risco a integridade de importantes biomas, tais como a Amazônia, o Pantanal e a Caatinga. Até agora, não foi feito nenhum estudo aprofundado sobre as conseqüências e impactos da expansão das lavouras de cana e de plantas oleaginosas. Portanto, esse modelo de expansão da produção de biocombustíveis coloca em risco a soberania alimentar e pode agravar profundamente o problema da fome no Brasil e no mundo, com efeitos cruéis para a população mais pobre. As conseqüências são imprevisíveis.
Sem abandonar estas fontes de riqueza para o país, o modelo agrícola a ser adotado deve estar baseado na agroecologia e na diversificação da produção. Ele deve ser orientado pelo modelo de Desenvolvimento Sustentável, que fortaleça a agricultura familiar e o desenvolvimento regional, e não pela lógica capitalista de querer transformar o Brasil em um grande exportador de combustíveis.
Não existe solução para os problemas urbanos do Brasil, sem melhorar a qualidade de vida no campo. Será que os biocombustíveis proporcionarão essa condição? Caso sim, a produção de biocombustíveis, como etanol e biodiesel, faz sentido.
É fácil imaginar os motivos do apetite internacional pelo etanol e biodiesel brasileiro. Resta saber se nos âmbitos público e privado se saberão usar esse potencial de forma estratégica e criativa. Caso contrário, uma vez mais, irá prevalecer à lógica do imediatismo, que gera lucros exorbitantes para poucos no início para depois deixar a conta para a sociedade.
Discutir, portanto, uma mudança na matriz energética que realmente busque preservar a vida e o bem-estar dos indivíduos no planeta tem que levar em conta uma profunda transformação nos padrões atuais de produção/consumo, no estilo de vida, no conceito de “desenvolvimento” vigente e na própria organização de nossa sociedade. Nesse momento, é evidente que as políticas públicas necessitam de serem revistas.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Usar alimento para fazer combustível aumentará a fome no mundo?

Essa bandeira foi defendida por Fidel Castro em uma série de artigos publicados no mês de maio deste ano, e que encontraram respaldo em Caracas. Contudo, estudos europeus já sustentam a idéia de que a fome não é uma questão de produção de alimentos, mas de distribuição.
No caso brasileiro, dos 62 milhões de hectares cultivados, 6 milhões são destinados para o plantio de cana-de-açúcar, dos quais 3 milhões de hectares produzem açúcar e os outros 3 milhões produzem etanol. Há 220 milhões de hectares que são pastagens; destes, 10% (22 milhões) apresentam as condições necessárias para a expansão dos canaviais, sem que seja preciso conquistar qualquer outro bioma. Os EUA, que extraem o etanol a partir do milho, destinaram 12% de sua safra de 2005 para a produção do combustível. Em fevereiro deste ano verificou-se uma redução nos estoques de milho, mas o aumento da área destinada ao plantio desse produto tem servido para equilibrar os preços.
A adição gradual do etanol na gasolina apresenta-se como o caminho viável e já disponível para a melhoria do meio ambiente.
A iniciativa privada internacional já tem investido pesado na ampliação desta matriz energética, mirando no grande potencial de crescimento deste mercado.
Para o Brasil, o desafio está em minimizar os discursos inflamados e fora de proporção, e aproveitar as vantagens atuais para consolidar sua condição de liderança tecnológica e alcançar, talvez, um papel de maior destaque na cena internacional.
ESTRATÉGIAS INTERNACIONAIS
Ações Internacionais e Indicadores de Mercado
Brasil e Índia buscam aumentar o seu comércio bilateral dos atuais US$ 2,4 bilhões para US$ 10 bilhões até 2010.
Em visita à Índia no início de junho, Lula e o Primeiro Ministro indiano Manmohan Singh sinalizaram que buscam a formação de uma aliança estratégica que aumente tanto o comércio quanto o papel político dos países na cena internacional.
Foram assinados 7 acordos abrangendo cooperação em defesa, energia nuclear, aeroespacial, agricultura, farmacêuticos, biocombustíveis e petróleo. Existe relutância do governo indiano em abrir o seu mercado agrícola aos produtos brasileiros.
O principal acordo anunciado durante a visita à Índia foi a parceria entre a estatal Oil and Natural Gas Corp. (ONGC) e a Petrobras. O investimento inicial será de US$ 2 bilhões para projetos de exploração de petróleo em águas profundas na costa indiana e brasileira. Esta parceria marca a entrada da Petrobras no mercado indiano.
A indiana Paramount Airways fechou um acordo de US$ 2 bilhões para a compra de 40 aeronaves modelo E-170 da Embraer, que serão entregues a partir de 2008.
Brasil busca reeditar a parceria comercial com o Iraque, interrompida na década de 1990 a partir do embargo da ONU. O país chegou a movimentar anualmente US$ 4 bilhões, sendo o quinto maior fornecedor dos iraquianos, e quer se juntar aos Estados Unidos, Itália, Espanha, Canadá e China, que encabeçam o processo de reconstrução do país. Para isso, a APEX tem apoiado a participação de empresas brasileiras em feiras e rodadas de negócios voltadas para aquele mercado, cujo resultado é um aumento de 206% no comércio entre 2005 e 2006 (US$ 153 milhões).
Vietnã aprovou um plano para produção de etanol no país em parceria com o Brasil. Essa parceria integra uma aproximação entre o MERCOSUL e o Asean (bloco regional formado por Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Filipinas, Cingapura, Tailândia e Vietnã). Além dos biocombustíveis, a cooperação se dará nas áreas de ciências biomédicas, tecnologia e esportes.
Nigerian National Petroleum Corporation (NNPC) e Petrobras finalizaram as negociações para fornecimento de etanol brasileiro para o mercado da Nigéria. O primeiro carregamento de 20 milhões de litros ocorrerá até o final de junho. O governo nigeriano informou que adicionará 10% de etanol na gasolina comercializada no país.
A empresa JBS S.A., que controla a Friboi, fez oferta de compra de US$ 225 milhões pela Swift & Co. dos EUA. A JBS assumirá um passivo de US$ 1,2 bilhão da Swift, que é a maior processadora de carne (bovina e suína) dos EUA. A venda ainda será aprovada pelas autoridades locais até julho.
Com o objetivo de dobrar a produção de aço até 2010 (de 500.000 ton para 1.000.000 ton) em sua usina de aços longos na Colômbia, a Gerdau planeja investir US$ 70 milhões nos próximos 3 anos.
Lufthansa AG, segunda maior companhia aérea da Europa, e TAM estudam cooperação em vôos domésticos e internacionais.
A estatal de petróleo argelina Sonatrach assinou acordo com a Petrobras para fornecimento de gás natural liquefeito ao Brasil a partir de 2008. Esse acordo faz parte da estratégia da empresa para reduzir sua dependência do gás boliviano. A Argélia, segundo maior parceiro comercial do Brasil na África, é membro da OPEP e líder na produção de gás neste grupo de países.
Entre 27 de maio e 5 de junho, um grupo de empresas brasileiras de diversos setores participou de missão comercial ao norte da África. As reuniões ocorreram no Marrocos, Tunísia e Egito, e tiveram como objetivo aumentar o intercâmbio comercial e identificar oportunidades de negócios em tecnologia e infra-estrutura.
Declarações feitas pelo Presidente Hugo Chávez sobre o Congresso Nacional brasileiro levaram a Embrapa a cancelar a missão à Venezuela que acertaria os detalhes da cooperação técnica em áreas agrícolas e pecuárias. Em 2006, o Brasil exportou US$ 3,5 bilhões para a Venezuela, sendo o terceiro maior parceiro comercial daquele país, atrás de Estados Unidos e Colômbia.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Matrizes Energéticas: Petróleo e Biocombustível

A “aliança do etanol” assinada por Brasil e EUA durante a visita do Presidente Bush ao país no início de março de 2007 precedeu ou deu visibilidade a uma série de debates sobre as fontes alternativas de energia, com ênfase especial aos biocombustíveis.
Nos EUA, o debate tende a revelar contornos geopolíticos muito fortes, pois sempre que os preços do petróleo sobem a questão da independência energética reaparece com força. No Brasil, o assunto ganha um tempero a mais, seja pela possibilidade econômica, real ou não, de se tornar a “Arábia Saudita das energias renováveis”, quanto pela perspectiva geopolítica de uma atuação mais relevante no cenário internacional. Por outro lado, não faltam críticas a esse caminho de utilizar alimentos como fonte de energia, colocando em risco ou agravando o problema da segurança alimentar mundial, ou mesmo pelo aumento dos preços dos alimentos com a redução da disponibilidade para o consumo.
Demanda crescente por petróleo
Quando se fala em independência energética nos EUA, geralmente a idéia é não necessitar mais importar petróleo, mas a história recente mostra que o país caminha para a direção oposta. Em 1973, no primeiro choque do petróleo, os EUA importavam 35% de tudo o que consumiam. Em 2004, essa demanda subiu para 55% do seu consumo anual de 7,45 bilhões de barris (25,5% do consumo mundial). Sem as importações de petróleo e descobertas de outros poços, as reservas norte-americanas seriam consumidas em um prazo de 4 a 5 anos. E para o futuro, a projeção de crescimento do consumo é de 37% para os próximos 20 anos, quando 67% de toda a sua demanda deverão ser supridas por importações.
Não depender do fornecimento dos países do Oriente Médio é uma idéia muito atraente à opinião pública norte-americana, sobretudo pela possibilidade de secar as fontes de recursos dos grupos terroristas. É igualmente interessante não ser o principal cliente de “petro- países” como a Venezuela de Chávez ou a Nigéria. Apesar de a independência energética ser fundamentada em fatos e objetivos importantes para a sociedade norte-americana, em termos práticos é uma perspectiva inviável nas próximas décadas para uma economia altamente industrializada.
Outras matrizes energéticas
Cerca de 70% de toda energia de base não carbônica dos EUA, é energia nuclear que causa preocupação quanto à segurança, tratamento dos seus resíduos e quanto à proliferação de armas. A capacidade atual de produção, aliada à necessidade de diversificar as fontes de energia, a não emissão de gases do efeito estufa (CO2, CH4 e N2O) e a falta de fontes alternativas viáveis no curto prazo deram novo impulso à indústria nuclear. China e Brasil têm planos de construir 9 novos reatores. Ao menos 16 países geram aproximadamente 25% de sua eletricidade a partir da energia nuclear; no Brasil, esse número está em 3%. Outras 24 instalações estão sendo construídas em 9 países e os EUA têm planos de aumentar sua capacidade de produção em 9% até 2025.
A demanda crescente por energia elétrica tem demonstrado que a substituição de matrizes poluentes, como o carvão, precisa ser considerada, mas dificilmente será abandonada no curto prazo. Nos EUA, onde o consumo em 2003 foi de 3,481 bilhões de kWh e tem projetado para 2025 o consumo de 5,200 bilhões de kWh, 50% de toda eletricidade vem do carvão, e sua reserva é estimada para 250 anos de consumo. A energia solar é responsável por apenas 2% da geração de eletricidade nos EUA, sobretudo pelo elevado custo.
Os biocombustíveis têm sido amplamente debatidos nos últimos meses. As análises, previsões e premissas apresentadas, tanto na defesa quanto no ataque a essa matriz energética, são tão diversificadas e, muitas vezes conflitantes, que ainda é difícil de chegar a um consenso das reais possibilidades. O que fica muito claro é o forte lobby realizado por investidores, conservacionistas e governos que enxergam uma excelente possibilidade de auferir lucros econômicos e políticos acerca deste debate. Por isso, não raro as informações são distorcidas, adulteradas e colocadas fora de contexto. Mas, em pelo menos 2 pontos existe um “consenso”: 1) o petróleo vai acabar e 2) é necessário reduzir a emissão de CO2.
“As reservas de petróleo terminarão em 20 ou 30 anos”
Há 70 anos, previu-se que o petróleo acabaria no ano 2000. A previsão atual dos financistas e empreendedores visionários, tipo George Soros (que tem investido pesadamente na produção do etanol no Brasil), é que dure mais 20 ou 30 anos, mas há quem admita mais 50 anos. Já os intelectuais, sobretudo norte-americanos, dizem que esse prazo não é real, pois há muito ainda a ser explorado em águas profundas. Se for verdade, a Petrobras, líder mundial em exploração em águas profundas, virá a exercer um papel central no processo e, talvez, aumentar o restrito grupo das Five Bullies (Exxon-Mobil, Chevron-Texaco, British Pet roleum-Amoco-Arco, Royal Dutch Shell e Conoco- Phillips).
“Os biocombustíveis podem substituir o petróleo”
Pouco provável no médio prazo. Apesar de ser facilmente adaptável aos meios de transporte e armazenagem utilizados atualmente pelas distribuidoras e postos de combustíveis (o que não ocorre com o hidrogênio ou energia elétrica), a matemática não fecha. O consumo atual de petróleo é de 80 milhões de barris/dia ou 4.642,8 bilhões de litros/ano. A “aliança do etanol” foi assinada entre EUA e Brasil, respectivamente o primeiro e segundo maiores produtores de bioetanol do mundo, totalizando 80% de toda a produção mundial, que é de 43,4 bilhões de L/ano.
Desses, os EUA são responsáveis por 18,0 bilhões e o Brasil por 16,7 bilhões de L/ano. O total de bioetanol produzido no ano não seria capaz de suprir um mês do consumo norte americano.
Além disso, o etanol não possui calor latente para ser utilizado nos climas mais frios do hemisfério Norte.
“O bioetanol é uma saída viável para a redução das emissões de CO2”
O modelo norte-americano de extração do etanol a partir do milho pode ser muito nocivo ao meio ambiente. Ao depender de uma agricultura intensa e utilizar pesticidas e fertilizantes, que liberam muito NO2 (óxido nitroso) na atmosfera, pode poluir mais que outros combustíveis, inclusive emitirem mais CO2 que o petróleo. Já o etanol produzido pelo modelo brasileiro, a partir da cana-de-açúcar, é menos nocivo ao meio-ambiente e o CO2 emitido é capturado pela maior área plantada.
O protocolo de Kyoto estabeleceu metas para que os países industrializados reduzam, no período de 2008-2012, em 5,2% (em relação aos níveis de 1990) a emissão de gases que agravam o efeito estufa. Independentemente das idas e vindas nas negociações que têm postergado a assinatura do protocolo, já existe um sinal claro das nações industrializadas em buscar essa redução a partir da adição de etanol na gasolina. Os EUA, principal obstáculo das negociações, concordaram em adicionar 20% de etanol na gasolina nos próximos 10 anos; União Européia adicionará 10% até 2020. Além desses, China, Japão, Itália, Noruega, Venezuela e México já importam o produto do Brasil.
O resultado desta estratégia será benéfico ao meio-ambiente na medida em que 0,71 Kg de CO2 deixam de ser jogados na atmosfera a cada litro de etanol utilizado em substituição à gasolina.
“O Brasil será a ‘Arábia Saudita’ das energias renováveis”
É um exagero. Para o Brasil, a intenção dos países industrializados em adicionar etanol à gasolina é uma oportunidade de negócios muito importante. Atualmente o país é líder mundial na exportação de etanol, contabilizando 3,406 bilhões de litros em 2006. Dos 62 milhões de hectares atualmente cultivados no Brasil, houve um salto de 1,4 milhões em 1993 para 3,0 milhões em 2003 (+ 53%) de área destinada à cana-de-açúcar, e há mais 22 milhões de hectares propícios a receber este cultivo, sem necessidade de desmatamento. Estima-se que o aperfeiçoamento tecnológico permitirá a estes mesmos 3 milhões de hectares produzir 100% a mais nos próximos 10 anos.
Em termos de demanda, só nos EUA projeta-se que o consumo irá triplicar nos próximos anos, algo que o país não terá condições de suprir internamente. A “aliança do etanol” é um movimento claro dos EUA em direção à América Latina, entendido como o fornecedor natural para o mercado norte-americano.
Esse cenário tem atraído ao Brasil investidores internacionais como o mega-especulador George Soros, Bill Gates (Microsoft), Steve Case (AOL), Richard Branson (Virgin), Larry Page e Sergei Brin (Google). O investidor Vinod Khosla e o ex-presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn, formaram a Brazilian Renewable Energy Co. (Brenco), cuja produção será voltada exclusivamente para os mercados internacionais. O Carlyle Group e Riverstone Holdings já anunciaram planos de investir mais US$ 240 milhões no Brasil. Além desses, algumas figuras conhecidas localmente: Armínio Fraga (ex-discípulo de Soros), Luiz Cezar Fernandes (criador do Pactual), Jonas Barcelos (dono da Brasif e da Meta Asset Management).
Os investimentos totais já somam US$ 17 bilhões em novos projetos.
Apesar das projeções de crescimento, ainda assim será gigantesca a distância entre a produção de petróleo e etanol para justificar tanto entusiasmo em relação a ser uma “Arábia Saudita” das energias renováveis. Com 325 destilarias e mais 80 em construção, o Brasil espera produzir 20,21 bilhões de litros em 2007, um crescimento de 21% em comparação a 2006. Na mesma linha, com 110 destilarias e mais 48 em construção, os EUA esperam chegar aos 28 bilhões de litros em 2012 (+ 55,5% em relação a 2006).
No continente americano, estima-se que o potencial de produção chegue a 200 bilhões de litros ao ano.
O etanol pode ajudar a redesenhar o mapa geopolítico da região
A idéia de criar mecanismos de cooperação em tecnologia do etanol entre Brasil e EUA é apenas um ponto da “aliança do etanol”. Outro objetivo essencial é a promoção deste combustível, na América Latina e Caribe, como alternativo e aditivo ao petróleo, além de utilizar um combustível renovável como fator de integração das Américas. Com programas já em andamento na Colômbia, Equador, República Dominicana, El Salvador, Guatemala e Honduras, o governo norte-americano entende que, com a ajuda do Brasil, o programa servirá para recuperar sua influência na região, isolando o venezuelano Hugo Chávez e seu “discípulo” boliviano Evo Morales.
Para impulsionar esta ação, foi criada em dezembro de 2006 a Comissão Interamericana do Etanol, fruto do acordo bilateral Brasil-EUA. Liderada por Jeb Bush (ex-governador da Flórida e irmão do presidente Bush), Roberto Rodrigues (ex-ministro da Agricultura do Brasil) e Luis Alberto Moreno (presidente do BID), sua atuação será através do incentivo à integração técnico-científica, avaliação de investimentos, incentivo a projetos, promoção de painéis e “pressão” sobre os governos locais para criarem legislação que incentive o uso do etanol.
A idéia de criar uma “OPEP do etanol”, tendo o Brasil como um dos seus líderes, é uma forma de minar a influência e o poder de Chávez na região, além de exercer certa pressão sobre Cuba, pós-Fidel, para que esta dê uma guinada em direção a uma economia de mercado.
O crescimento da energia renovável abre um espaço muito interessante para o Brasil, único país do mundo que domina este ciclo da energia, pela afirmação de Felipe Gonzáles, ex- primeiro Ministro da Espanha. Outro ponto a favor do Brasil é a perspectiva de haver mais petróleo em águas profundas. Desta forma, o Brasil passaria a ser elemento chave nessas duas vertentes energéticas, e não apenas nas commodities, sobretudo na exportação de tecnologia, usinas montadas e carros flex fuel, agregando valor ao conhecimento adquirido com as duas matrizes energéticas.
A escolha norte-americana por Jeb Bush como um dos líderes do projeto também faz parte de uma estratégia com vistas à disputa presidencial de 2012 nos Estados Unidos. Com um case de sucesso, moderno e ambientalmente correto, seria possível reverter o prejuízo contabilizado pela família Bush com o desastre no Iraque.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Desenvolvimento Sustentável

Os atuais modelos de crescimento econômico geraram enormes desequilíbrios. Se, por um lado, nunca houve tanta riqueza e fartura no mundo, por outro lado, a miséria, a degradação ambiental e a poluição aumentam dia-a-dia.
Surge então a idéia do Desenvolvimento Sustentável, onde se procura conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental.
De acordo com a teoria do desenvolvimento sustentável, precisamos nos desenvolver atentos às limitações ecológicas do planeta, para que as gerações futuras tenham a chance de existir e viver bem.
A proteção do ambiente tem de ser entendida como parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente. É aqui que surge uma questão sobre a qual pouco se pensa: qual a diferença entre crescimento e desenvolvimento?
A diferença é que o crescimento não conduz automaticamente à igualdade nem à justiça social, pois não leva em consideração nenhum aspecto da qualidade de vida a não ser o acúmulo de riquezas. O desenvolvimento, por sua vez, além de se ocupar da geração de riquezas tem o objetivo de distribuí-las, de melhorar a qualidade de vida de todos, considerando, portanto, a qualidade ambiental do planeta.
Na rota do crescimento e da sustentabilidade, o Brasil tem ganhado credibilidade nos últimos anos e se tornado essencial à agenda de qualquer grande investidor. Reformas econômicas e estruturais estão conduzindo o país a uma nova posição no cenário internacional.
A economia brasileira apresentou um crescimento forte e sustentável nos últimos anos e as exportações dobraram desde 2003, resultando num significativo aumento da participação brasileira no comércio mundial.
A busca por alternativas aos combustíveis fósseis e as preocupações com o aquecimento global têm feito crescer o interesse mundial pelos biocombustíveis. O etanol brasileiro é uma das melhores alternativas para atender esse mercado potencial, uma vez que o Brasil é o maior produtor mundial de biocombustíveis e o segundo maior produtor de etanol do mundo com 33,2% da produção mundial e também o maior exportador com 37% do market share global.
As previsões são de que, o Brasil será responsável por metade do comércio mundial de etanol. Na safra 2007/2008, foram produzidas 22,5 bilhões de toneladas de álcool, sendo que 3,6 bilhões de toneladas foram exportadas. As perspectivas para 2021, de acordo com a União da Indústria de Cana- de- açúcar (UNICA), são de que o Brasil vai produzir 65,3 bilhões de toneladas de etanol e exportar 15,7 bilhões de toneladas.
Produzido em 1% das terras aráveis do Brasil, o etanol não compete com a produção de alimentos, que duplicou no país na última década. Metade da gasolina consumida no Brasil já foi substituída por etanol. Introduzidos no mercado brasileiro em março de 2003, os veículos flex- fuel (bicombustíveis) são projetados para trabalhar com qualquer mistura de gasolina e etanol. Do total de veículos leves licenciados no primeiro semestre de 2008, 87,6% foram do tipo bicombustível, contra 7,9% dos modelos a gasolina.
O Brasil é mundialmente reconhecido também como um grande centro de empresas e instituições públicas e privadas ligadas ao setor sucroalcooleiro, cobrindo a cadeia agroindustrial da cana-de-açúcar desde o desenvolvimento de tecnologias industriais e agrícolas, fabricação de equipamentos, desenvolvimento de variedades de cana e prestação de serviços diversos, até a participação efetiva no desenvolvimento e estruturação de mercados.
Por meio do Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA), o Brasil oferece soluções completas à indústria sucroalcooleira mundial para o processamento da cana-de-açúcar e produção de combustíveis renováveis (etanol, biodiesel, biomassa) e outros produtos, como o açúcar.
A bioeletricidade, energia elétrica produzida a partir de biomassa de origem vegetal, está se tornando também uma atividade promissora no país, com projeções de crescimento de até 700% na produção até 2021. Este tipo de energia limpa, renovável e sustentável, pode ser obtido através do bagaço e da palha, materiais ricos em fibras, que sobram do processamento da cana.
O biodiesel já está presente nos postos de combustíveis brasileiros, na proporção de 3% misturados ao óleo diesel. Uma das vantagens do biodiesel é sua origem diversificada. Pode ser obtido a partir do processamento de diversos óleos vegetais, girassol, soja, pinhão manso, mamona, palma, dentre outros.
A proposta da Conferência Internacional sobre Biocombustíveis: os biocombustíveis como vetor do desenvolvimento sustentável, é debater estes e outros tópicos. Paralelamente, na 1ª Exposição Internacional Sobre Biocombustíveis, as melhores tecnologias de produção serão apresentadas por empresas e instituições que investem em soluções para a busca da energia sustentável.
Venha conhecer os casos de sucesso e as avançadas e inovadoras tecnologias de produção de biocombustíveis. Os biocombustíveis são a nova realidade sustentável e eficaz para substituir os combustíveis fósseis.
O Brasil se destaca na produção mundial de biocombustível, solo, água, sol e natureza compõem a base de um grande potencial para a produção dessa matriz energética do século XXI.
A produção nacional de biocombustíveis do Brasil é sustentável, a cada ano isso tem sido demonstrado através do nosso desenvolvimento tecnológico. A cana-de-açúcar é a principal matéria-prima do Brasil utilizada para a produção de etanol. A cada dia novas tecnologias e soluções inovadoras têm sido apresentadas para outras formas de biocombustíveis como o biodiesel e a bioeletricidade.
O Evento servirá como plataforma para disseminar o uso da tecnologia flex fuel desenvolvida no Brasil que permite um único automóvel a ser abastecido tanto com álcool como gasolina, fator já consolidado na indústria automobilística brasileira. Hoje 90% dos automóveis fabricados no Brasil já contam com essa tecnologia.
O valor estimado que o setor nacional de etanol movimenta está em torno de R$ 40 bilhões anuais.
O tema Biocombustível aparece com grande relevância no início do século XXI. Em um contexto de desenvolvimento sustentável, esse tema abrange muitas vertentes, tais como a produção de combustíveis sem danificar o meio ambiente, a geração de postos de trabalho, o desenvolvimento tecnológico e a preservação de áreas verdes que podem, no futuro próximo, atrair recursos financeiros para a economia brasileira.
Na última década, o desenvolvimento da indústria brasileira do etanol levou à necessidade de informar a sociedade sobre o desenvolvimento tecnológico que o país atingiu, enfatizando tema como sustentabilidade, soluções tecnológicas e perspectivas da indústria brasileira.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Economizar energia e reduzir demanda por combustíveis

Mudanças na arquitetura, nos hábitos do cotidiano e na escolha do meio de transporte podem ajudar a economizar energia e compensar a demanda crescente por combustíveis fósseis.
MAIS ENXUTA E MAIS LIMPA
Gastar bilhões de dólares em pesquisas de novas tecnologias energéticas não é a única maneira de satisfazer a demanda futura. Usar criteriosamente e reavaliar toda a cadeia do fornecimento de energia, dos poços de petróleo e minas de carvão aos soquetes elétricos das casas e ao tanque de combustível dos carros, será possível fazer uma economia de até 90% na quantidade de energia que usamos. A conservação oferece meios imediatos de reduzir os efeitos do uso de combustíveis fósseis, mas requer algumas adaptações em nosso estilo de vida.
Aumentar a eficiência da energia não significa necessariamente brecar o crescimento econômico. Nos Estados Unidos, por exemplo, a riqueza individual aumentou 40% desde 1980, enquanto o consumo de energia per capita caiu 3%. Em todo o mundo, inovações na arquitetura e no transporte, bem como no projeto das usinas e dos equipamentos elétricos, estão ajudando a economizar energia e compensar a demanda crescente por combustíveis fósseis.
Cerca de 30% da energia produzida no mundo desenvolvido é usada no transporte, 25% movimenta a indústria e mais de 40% vai para nossas casas e escritórios. Boa parte da energia doméstica é usada para aquecimento de ambientes e da água, e não é de surpreender que algumas grandes conquistas na conservação de energia tenham ocorrido nessa área. Pesquisas realizadas na Suécia e no Canadá resultaram em casas com um "superisolamento térmico", que utilizam métodos de construção engenhosos para minimizar a perda de energia. As paredes são feitas de concreto leve, com uma camada interior de 20 centímetros de lã mineral isolante, as janelas têm três vidros e um sistema de ventilação controlada usa o ar de saída para pré aquecer o ar fresco que entra, retendo 70% do calor proveniente do ar "velho". A necessidade de aquecimento de alguns dos edifícios com esse superisolamento térmico é tão baixa que o calor liberado pela iluminação, pelo ato de cozinhar e pelos corpos dos ocupantes é suficiente para mantê-los em temperatura confortável durante o ano inteiro.
Outros edifícios, os chamados "projetos de aquecimento solar passivo", são especialmente construídos para reter a energia da luz do Sol, diminuindo as contas a pagar. Normalmente, têm grandes áreas envidraçadas voltadas para o Sol, paredes grossas e piso que retêm o calor durante o dia, liberando-o à noite. Eles podem ser parcialmente enterrados no solo: apenas 3 metros abaixo da superfície, a variação sazonal da temperatura é de poucos graus, enquanto do lado de fora pode ir de 30°C a -15°C. O uso da própria Terra como câmara de aquecimento pode contribuir bastante para a conservação da energia, e dezenas de milhares de edifícios "protegidos pela Terra" foram construídos nos Estados Unidos desde a década de 1970. Em países industrializados como o Reino Unido, os carros particulares respondem pelo espantoso índice de 80% de toda a energia usada para o transporte e por cerca de 30% da produção de dióxido de carbono. Muitas pesquisas têm sido realizadas para melhorar a eficiência dos veículos produzidos em larga escala atualmente, e coeficientes de resistência mais baixos, materiais mais leves, além de motores controlados por computador, vêm contribuindo para melhorar a economia de combustível.
O desenvolvimento de automóveis elétricos de "emissão zero" está parado devido ao problema do armazenamento de energia.
As baterias convencionais de chumbo e ácido pesam mais de 230 quilos, levam cerca de 8 horas para carregar e permitem autonomia 320 quilômetros; as mais avançadas, de lítio ou sódio-enxofre, são muito caras e têm vida curta. Os carros que rodam com uma combinação de petróleo e bateria, no entanto, têm futuro mais promissor. Nesses "híbridos", um motor leve a gasolina é complementado por outro elétrico, movido por uma pequena bateria. Quando o carro pára, o motor funciona em sentido inverso, como um gerador, carregando a bateria, que não precisa de carga externa. Esse exemplo de engenharia inteligente já está sendo usado em carros de família, permitindo significativa redução tanto no uso de combustíveis quanto na poluição atmosférica.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Análise de fontes energéticas

Aumentar a oferta de energia é um dos muitos desafios que os profissionais do setor vêm enfrentando nos últimos anos. É preciso ampliar a capacidade de geração, melhorando o aproveitamento de fontes convencionais como água, carvão, gás e, principalmente, desenvolvendo tecnologia para a utilização de novas fontes energéticas.
A energia é o insumo básico de fundamental importância para o desenvolvimento e a auto-suficiência econômica de uma nação. A nação que não tem produção própria não é uma nação independente. De todas as formas de energia, a eletricidade é a mais limpa, barata, não polui o meio ambiente, não deixa nenhum tipo de resíduo, além de ser a de mais fácil controle.
No início do século XXI vieram os Apagões, que é o desequilíbrio entre a geração e o consumo de energia, provocando o desligamento intempestivo do sistema de energia elétrica e atingiu boa parte do planeta. Surgiram os problemas, faltou energia elétrica devido ao maior consumo, decorrentes do aumento populacional, da produção industrial e da melhoria qualidade de vida. Houve a necessidade de buscar outras fontes de energia, como a biomassa, a eólica, a solar, das marés e até mesmo a fusão nuclear, que é o mesmo princípio de geração de calor do SOL (fusão de dois átomos de hidrogênio para formar um de hélio, com superávit de energia).
As Usinas Termoelétricas que jogam toneladas e mais toneladas de fuligem e gás carbônico na atmosfera, ninguém contesta.
As Usinas Atômicas com seus milhares de toneladas de rejeitos que duram milhões de anos para se tornarem menos agressivos, e também ninguém contesta. Á energia nuclear é altamente radioativa e os seus resíduos podem demorar centenas de anos para ser absorvido pela natureza. Possui alto poder de contaminação, caso não seja devidamente armazenado. É muito utilizado por alguns países, como a França, que por falta de opções a utiliza em larga escala.
As Usinas hidráulicas que usam como matéria prima a água que vem da chuva, de graça, muita gente contestam. Parece que é uma orquestração feita por países que tem inveja do Brasil que poderia ser uma potência mundial, pois somos um dos poucos países com esse enorme potencial hidráulico. Poderíamos concentrar as indústrias que necessitam de energia elétrica barata e abundante produzida a partir de usinas hidráulicas, com baixo custo de produção e poluição zero.
Sejam quais forem às fontes de energia a serem implantadas, investimentos financeiros e tecnológicos devem ser definidos em planejamentos estratégicos e orçamentários dos governantes, analisando quais as fontes energéticas que obterá o menor impacto ambiental.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Produção de Energia X Efeito Estufa

A produção de energia queimando combustíveis fósseis (petróleo) contribui em 53% para o efeito estufa. Ela libera gás carbônico (CO2), que se acumula na atmosfera, formando uma camada que permite a radiação solar penetrar, mas não retornar ao espaço. Isso aumenta a energia acumulada na atmosfera e o conseqüente acréscimo na temperatura ambiental. O gás carbônico, ou dióxido de carbono é produzido em grandes quantidades quando combustíveis fósseis são queimados.
Ele se acumula na atmosfera, demorando mais de 100 anos para desaparecer alimentando o efeito estufa. O efeito estufa retém a radiação que a Terra recebe do Sol, resultando no aquecimento global. O aquecimento é global e o maior nos últimos 100 anos. Pela análise feita em colunas de gelo, ela mostra que os níveis de gás carbônico e metano na atmosfera são os mais altos dos últimos 650 mil anos. A emissão de gás carbônico cresceu de forma implacável desde a Revolução Industrial no século 18. Alguns países tentam controlar as emissões de gases.
O Protocolo de Kyoto, um acordo global que conta com a participação de países pobres e ricos, não tem como participante, o maior emissor do mundo, os Estados Unidos. As principais fontes de poluição são a produção de eletricidade, transporte, indústria, construções, queimadas descontroladas e o desmatamento.A utilização da energia possui duas grandes características: produção em larga escala para consumo sistêmico (energia elétrica), e em escala local (movimentos mecânicos de transporte – motores de combustão interna ou célula de combustível).
A produção de hidrogênio para alimentar a célula de combustível, consome um montante significativo de energia. Grandes plantas de produção de energia (fusão ou fissão nuclear, hidroelétrica, gás natural, dentre outras) serão necessárias para viabilizar o projeto de hidrogênio, principalmente para a utilização nos transportes. A sociedade moderna está estruturada no consumo de energia, sem ela voltaremos no tempo, ao qual não nos habituaremos.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Cumprimento das novas metas energéticas dividem especialistas

Para atingir, e se possível ultrapassar, os objectivos para 2020, é necessário fomentar a produção de biocombustíveis e aumentar o número de sistemas de aquecimento e arrefecimento ambiente, alimentados com energia solar». A opinião é de Armando Oliveira, director da Unidade de Novas Tecnologias Energéticas da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, em relação à nova meta europeia de 20 por cento da energia consumida em 2020 ser renovável.
Para o professor, apesar dos sistemas de climatização a partir de energia solar ainda não estarem abrangidos pela legislação existente, poderão ter um peso significativo no balanço energético e ambiental final.
A eficiência energética poderá, segundo Armando Oliveira, contribuir, mas não de uma forma decisiva. A solução para as metas fixadas está, sim, na conversão gradual de processos e equipamentos energéticos. O desenvolvimento das tecnologias energéticas renováveis é essencial para atingir as metas, não tanto de novas tecnologias, mas sobretudo a disseminação das tecnologias já existentes e demonstradas.
No entanto, na opinião de Ana Estanqueiro, directora da Unidade de Energia Eólica e dos Oceanos do Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (INETI), a meta não vai ter tanto impacto na electricidade. Onde serão necessários maiores esforços, diz, será na eficiência energética e nos transportes. Estes últimos poderão mesmo comprometer o cumprimento das metas. Ainda há muito a fazer na mudança de hábitos enraizados.
Já para António Sarmento, presidente do Centro de Energia das Ondas, as novas metas europeias vêm basicamente dizer que todas as fontes renováveis têm que ser utilizadas, mesmo as que sejam economicamente menos competitivas. Também vêm permitir, segundo o responsável, criar uma maior consciencialização na população, a geral e a de grupos específicos (gestores, ambientalistas, empresários, administração pública, pescadores, no caso da energia das ondas), para a necessidade de valorizar e facilitar a introdução de novas energias renováveis.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Eficiência energética

A sociedade ajudará se combater o desperdício. Economizando, estaremos ampliando o tempo de vida dos recursos não renováveis, adiando a construção de usinas e a implantação de novas linhas de transmissão. Combater o desperdício é usar energia de forma inteligente, buscando o máximo de desempenho dos aparelhos e processos, com o mínimo de consumo de nossas reservas naturais de água, carvão, madeira, gás, petróleo.
Como podemos ajudar?
Na indústria, é possível aumentar a eficiência das máquinas e dos produtos, aperfeiçoando as rotinas de manutenção dos equipamentos e instalações. Assim, as fábricas não só poderão economizar energia e matéria-prima, como também estarão investindo na criação de empregos e no aperfeiçoamento do produto final.
No comércio, é possível construir e instalar equipamentos apropriados para a conservação de produtos, escolhendo os materiais mais adequados para acomodar cada um deles e dando atenção especial aos sistemas de refrigeração e iluminação.
Nos serviços públicos, é necessário dar maior atenção aos sistemas de iluminação pública e transporte , sem esquecer da segurança e do conforto da população. Mudar os hábitos e os horários em escritórios e edifícios públicos é outra medida que pode ser tomada sem prejuízo para o desenvolvimento do país.
Nas residências, se utilizarmos lâmpadas e eletrodomésticos eficientes e fizermos um esforço para mudar nossos hábitos, gastaremos apenas a energia absolutamente necessária para que possamos ter uma vida confortável e segura.
É importante lembrar que evitar o desperdício não é racionar energia e não implica necessariamente em perda da qualidade de vida ou comprometimento da produtividade e do desenvolvimento do país.
O racionamento acontece quando desrespeitamos a natureza e consumimos energia desnecessariamente, prejudicando nosso futuro no planeta, em conseqüência ao uso indevido das nossas fontes energéticas.
O Procel
Em 1985, o presidente José Sarney criou o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica - PROCEL com o objetivo de promover mudanças nos hábitos; alteração nos horários de utilização de equipamentos; e maior eficiência energética de eletrodomésticos e motores elétricos.
O Programa realiza trabalhos educativos, promove o desenvolvimento de tecnologia, participa na elaboração de leis e financia outros projetos de combate ao desperdício. Além disso, fornece informação, promove seminários, repassa dados às escolas, incentiva pesquisas, estimula a montagem de laboratórios e define os padrões de eficiência para equipamentos.
Selos do Procel indicam quanta energia os equipamentos consomem e quais deles são mais eficientes. As empresas que produzem os mais econômicos são merecedoras do Prêmio Procel, promovido anualmente.
Nos primeiros 10 anos de atuação, o Procel conseguiu evitar que fossem gastos US$ 600 milhões em geração de eletricidade. Para isso, foram investidos US$ 33,5 milhões. Isso significa que o investimento em conservação vale a pena, pois o dinheiro economizado foi quase 18 vezes maior do que o dinheiro utilizado.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Medindo a energia

A energia pode ser medida e para cada forma de energia existe uma unidade de medida apropriada. Por exemplo, o Joule (J) é a unidade para o trabalho; a Caloria (cal) é a unidade para o calor e o Watt (W) é a unidade para a eletricidade. Já os múltiplos das três unidades são expressos assim:

Quilo (K) = Mil

Mega (M) = Milhão

Giga (G) = Bilhão

Terá (T) = Trilhão

No caso particular do petróleo, podemos medir a quantidade de energia utilizando a unidade denominada Tonelada Equivalente de Petróleo (TEP), que corresponde aproximadamente a 10.800 milhões de calorias.

E já que o fator "tempo" interfere nas transformações energéticas, que podem acontecer mais rápida ou lentamente, é importante saber calcular a potência das fontes de energia.

Uma fonte energética possui uma alta potência quando realiza o trabalho em pouco tempo. Assim, se outra fonte realiza o mesmo trabalho em um tempo maior, dizemos que ela é menos potente. Quanto mais rápida a transformação, maior a potência desenvolvida.

A potência é calculada dividindo-se a quantidade de energia utilizada pelo período de tempo no qual ocorreu a transformação energética.

Energia elétrica

A energia elétrica é a única forma de energia que pode ser transportada com facilidade, através de condutores (geralmente fios de metal, como o cobre, ou cabos). Esta característica e a facilidade com que pode ser obtida a partir de todos os outros tipos de energia tornaram a eletricidade a principal fonte de luz, calor e força utilizada no mundo de hoje.

Conceitos

Para falar de energia elétrica é preciso primeiro compreender os conceitos de tensão e de corrente elétrica.

Tensão ou voltagem é a medida da energia potencial dos aparelhos e equipamentos que utilizam energia elétrica como força motriz. A unidade utilizada para esta medida é o Volt (V). Podemos verificar informações sobre a voltagem em todos os aparelhos eletrodomésticos, que geralmente possuem 110 V ou 220 V.

Corrente elétrica é como chamamos o movimento ordenado das cargas elétricas através dos condutores. O Ampère (A) é a unidade de medida das correntes elétricas.

As correntes elétricas podem ser contínuas ou alternadas. A corrente contínua (CC) é aquela que não muda de sentido, ou seja, as cargas se deslocam sempre na mesma direção. Já na corrente alternada (CA) as cargas se deslocam alternadamente num e no outro sentido.

Já a interferência dos elementos condutores, na passagem da corrente elétrica, é medida pela grandeza física chamada Resistência (R). A corrente será maior quando a resistência for menor e vice-versa.

Sistemas Elétricos

Para que nossa civilização pudesse chegar ao estágio atual foi preciso, primeiro, desenvolver a produção de energia elétrica em larga escala e com custos reduzidos, isto é, em grande quantidade. Para tanto, foram desenvolvidos sistemas elétricos complexos, com diversos elementos, equipamentos e conexões.

As principais etapas de um sistema elétrico são a geração, a transmissão, a distribuição e o consumo.

Para cada uma destas etapas existem elementos fundamentais. No caso da geração, as usinas geradoras; na transmissão, as subestações elevadoras de tensão e as linhas de transmissão; já na distribuição, as subestações abaixadoras de tensão e o sistema de distribuição; no consumo, que é a etapa final, temos as máquinas, os aparelhos eletrodomésticos, as lâmpadas e os equipamentos elétricos em geral.

Geração

O primeiro passo para produzir energia elétrica é obter a força necessária para girar os gigantescos sistemas de hélices, denominados turbinas, que movem os eixos responsáveis pela produção de energia e que, geralmente, são chamados de geradores ou alternadores. Esta força pode ser obtida de diversas formas, sendo que as três mais utilizadas atualmente são:

# a força das águas: energia hidrelétrica

# a força do calor: a energia termelétrica

# a força dos átomos: a energia nuclear

A força das águas (energia hidrelétrica)

Em países como o Brasil, a Itália, o Japão e o Canadá, que possuem rios com grandes desníveis, uma das soluções mais econômicas para fazer girar turbinas é aproveitar a força das águas, construindo usinas hidrelétricas. Em uma usina desse tipo, o rio é represado por uma barragem onde são instalados grandes tubos inclinados onde se abrigam as turbinas. A água desce pelos tubos e faz girar o sistema de hélices, movimentando o eixo dos geradores.

A força do calor (energia termelétrica)

Em regiões ou países com poucos recursos hidrográficos, mas com boas reservas de óleo, carvão ou gás, é possível girar turbinas com a força do vapor resultante da queima desses combustíveis. Para isso, são construídas usinas termelétricas. Nelas, as caldeiras consomem uma quantidade enorme de recursos e mantém a pressão do vapor alta o bastante para que ele possa produzir o movimento das hélices das turbinas e dos eixos dos geradores.

A força dos átomos (energia nuclear)

Na natureza, algumas substâncias, como o urânio, têm núcleos atômicos extremamente pesados e instáveis que podem ser divididos em partículas menores se forem bombardeados por nêutrons. O nêutron, ao atingir um núcleo de urânio, provoca sua quebra em dois núcleos menores e a liberação de mais nêutrons que, por sua vez, irão atingir outros núcleos e provocar novas quebras. É uma reação em cadeia e, no momento em que se dividem os núcleos emitem calor na forma de radiação.

A velocidade de uma reação em cadeia pode ser de dois tipos: não-controlada e controlada. No primeiro caso, a reação ocorre muito rapidamente (em menos de 1 segundo), liberando enorme quantidade de energia. É o que acontece, por exemplo, na explosão da bomba atômica. No segundo caso, a reação é controlada pelos chamados reatores de fissão nuclear, permitindo aproveitar a energia liberada e evitar explosões.

Transmissão

As usinas de energia elétrica geralmente são construídas longe das cidades. Por isso, a eletricidade que sai da casa de força dessas usinas tem de viajar bastante até chegar aos centros consumidores.

A eletricidade é transportada para as cidades através de cabos. Fora dos centros urbanos, os cabos são aéreos, revestidos por camadas isolantes e fixados em grandes torres de metal. O conjunto desses cabos forma uma rede de transmissão . As peças mais importantes nas torres de transmissão são os grandes elementos isolantes de vidro ou porcelana que sustentam os cabos e impedem descargas elétricas.

A eletricidade produzida nos grandes geradores ou alternadores das usinas é, como sugere o nome, de corrente alternada, ou seja, está em constante movimento ora em um sentido, ora no outro, o que facilita sua transmissão a grandes distâncias.

Durante o percurso entre as usinas e as cidades, a eletricidade passa por diversas estações, onde aparelhos chamados transformadores aumentam ou diminuem sua voltagem - a tensão elétrica.

Ao elevar a tensão elétrica no início da transmissão, os transformadores evitam acidentes e a perda excessiva de energia ao longo do caminho.

Distribuição

As subestações, que se situam próximas aos centros de consumo, ao diminuírem as tensões elétricas, permitem a distribuição da energia elétrica nas cidades. A partir delas, os cabos prosseguem por via aérea ou subterrânea, formando as redes de distribuição.

Apesar de mais baixa, a tensão utilizada nas redes de distribuição não é adequada para o consumo imediato. Assim, transformadores menores são instalados nos postes de rua para reduzir ainda mais a voltagem da energia que vai diretamente para as residências, o comércio e outros locais de consumo.

O consumo de uma localidade pode ser medido, o que facilita o planejamento das empresas distribuidoras de energia. A representação gráfica desse consumo é chamada de Curva de Carga e, geralmente, a medição é feita por hora. Chamamos de horário de pico o momento em que aquela localidade utiliza maior quantidade de energia elétrica. Nos centros urbanos, o horário de pico se dá por volta das 18 horas, quando escurece e, normalmente, as pessoas chegam em casa do trabalho.

Vale observar que a curva de carga varia de acordo com a estação do ano e com a região do país, pois o nível de luminosidade e o clima, entre outros fatores, têm influência no consumo de energia elétrica.

No Brasil, o fornecimento de energia elétrica é feito por meio de um grande e complexo sistema de usinas geradoras, que podem ser hidrelétricas, termelétricas ou nucleares, subestações e linhas de transmissão interligadas. A operação é feita pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) órgão responsável pela integração das diversas empresas geradoras e distribuidoras de energia.

No sistema interligado, os principais centros geradores não são identificados pelas empresas donas das usinas e sim pelos nomes das bacias hidrográficas nas quais elas se localizam. Isto porque qualquer alteração ou interferência nas partes mais altas da bacia prejudica também as áreas localizadas nas planícies ou nas partes mais baixas da região. A gestão dos sistemas por bacia hidrográfica permite um uso mais racional das águas do país.

Apesar do sistema interligado fornecer energia para a maior parte do país, alguns sistemas isolados também são utilizados, principalmente nas Regiões Norte e Nordeste. Os sistemas isolados geram a energia que vai ser consumida em uma determinada localidade ou até mesmo por uma só indústria. Geralmente são constituídos por usinas hidrelétricas e termelétricas a diesel ou a gás natural, de pequeno ou médio porte.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Dominando a energia

No momento em que o homem aprendeu a controlar o fogo, realizou sua primeira grande conquista energética, passando a utilizar a natureza de forma inteligente, para se aquecer, cozinhar e se proteger.

Ao longo dos séculos, outros recursos naturais - como a água, o carvão, o gás e o petróleo - foram utilizados como fontes energéticas e aproveitados pela humanidade para gerar luz, calor e movimento.

Hoje a ciência define energia como a capacidade de realizar um trabalho ou mudanças de estado. Para chegar a este conceito, o homem teve de usá-la, entendê-la e reconhecer seus diversos estágios, formas e fontes.

Estágios da energia

O potencial dos recursos que brotam e são extraídos pelo homem da natureza é chamado de energia primária.

As fontes de energia primárias não renováveis são aquelas que correm o risco de se esgotar por serem utilizadas em velocidade maior do que o tempo necessário para a sua formação. É o caso dos combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo, gás natural) e dos combustíveis radioativos (urânio, tório, plutônio, entre outros).

As fontes primárias renováveis, ao contrário, são as que podemos considerar permanentemente disponíveis (sol, rios, mares, ventos) ou aquelas que os seres humanos podem manejar de acordo com a necessidade, como a biomassa, obtida da cana-de-açúcar, da casca do arroz e de resíduos animais, humanos e industriais.

O resultado da conversão da energia primária, ou seja, da transformação de fontes primárias, renováveis ou não, em calor, força, movimento etc., é chamado de energia secundária ou energia derivada.

Já a energia utilizada pelos consumidores residenciais ou industriais, na cidade ou no campo, é denominada energia final e alguns de seus melhores exemplos são a eletricidade e a gasolina.

Tipos básicos

Há dois tipos básicos de energia: a energia potencial e a energia cinética.

A energia potencial é a energia armazenada por um corpo, também chamada de energia de posição. Por exemplo, as águas do rio Iguaçu têm energia potencial; uma pedra no alto de uma montanha também.

Quando empurramos a pedra e ela começa a se movimentar, sua energia potencial se transforma em energia cinética. As águas do rio Iguaçu, ao caírem em cascata, também transformam sua energia potencial em energia cinética, e se tornam capazes de exercer força e movimentar as pás de uma turbina.

A velocidade da pedra, tanto quanto a força das águas, vão depender da sua energia potencial anterior, ou seja, da sua massa e da altura em que se encontrava. Quanto maior a pedra e mais elevada a sua posição, maior será a energia cinética que ela vai gerar.

Durante o trajeto, tanto a pedra quanto a água apresentam, ao mesmo tempo, os dois tipos de energia, sendo que a energia cinética vai se transformar em energia potencial no fim do caminho.

Formas e Fontes

Quando uma força é aplicada sobre um corpo, fazendo com que ele se desloque por um determinado espaço, dizemos que esta força realizou um trabalho mecânico. Esta é uma forma comum de manifestação da energia, denominada energia mecânica.

A queima ou combustão de um recurso natural - como a lenha ou o carvão - gera calor que é também outra forma comum de manifestação da energia, chamada de energia térmica.

A energia que flui do interior da Terra sob a forma de calor é a energia geotérmica. Ela se concentra nas rochas quentes e secas que se encontram em profundidades que variam entre 3 a 5 Km.

Há ainda a energia radiante ou energia de radiações eletromagnéticas, como a luz e o calor do sol, as ondas de rádio e televisão, os raios X e as microondas.

Já a energia nuclear, também chamada energia atômica, é obtida por alterações no núcleo de um átomo pela fissão ou quebra de núcleos pesados (urânio, tório e plutônio), seja pela fusão ou junção de núcleos leves, como o do hidrogênio.

Energia química é a energia liberada ou formada em uma reação química, como acontece nas pilhas e baterias.

Uma das mais importantes características da energia é a sua capacidade de transformação de uma forma para outra. E estas transformações podem ser controladas. Por exemplo: quando ligamos o motor de um carro, a energia química da bateria se transforma em energia elétrica, que produzirá trabalho fazendo girar o motor. Em seguida, a energia potencial da gasolina se transformará em energia cinética e moverá os pistões que fazem as rodas girar. Ao desligarmos o motor, todas as transformações cessam.  

Cadeias energéticas

Chamamos de cadeia energética o conjunto de atividades necessárias para que alguns tipos de energia cheguem onde queremos usá-la. Essas atividades estão relacionadas à obtenção de energia primária, sua transformação em secundária nos centros de transformação e seu transporte de um ponto a outro até o seu consumo final.

Atualmente geramos energia secundária em usinas, destilarias e refinarias, a partir de diversos recursos naturais como a água, o petróleo, a cana-de-açúcar, a lenha, o carvão e o gás natural. Depois, nós a transportamos para as grandes e pequenas cidades, já como energia final, na forma de eletricidade, álcool, gasolina, óleo e gás.

No caso do petróleo, por exemplo, podemos verificar que ele é transportado do poço de onde é extraído para a refinaria por um oleoduto ou navio tanque. Depois é transformado em subprodutos como a gasolina e o óleo diesel e transportado novamente por caminhões-tanque, até os postos distribuidores, onde será adquirido pelo consumidor final. Esta é a cadeia energética do petróleo.

Termodinâmica

A Termodinâmica é o ramo da Física que estabelece as leis básicas da energia e nos ajuda a compreender melhor a sua natureza. Ela estabeleceu dois princípios importantes, que devemos conhecer.

A Lei da Conservação de Energia, que diz que a energia não pode ser criada nem destruída e considera imutável a quantidade total de energia no mundo. Essa seria, na verdade, uma versão da Física para o Princípio de Lavoisier: "na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma".

E a Lei da Entropia demonstra que, quando há transformação, a qualidade da energia permanece igual ou diminui. Jamais aumenta.