Termelétricas e usinas nucleares no Nordeste, terra de vento e sol
O apagão que deixou em fevereiro de 2011 sete estados do Nordeste sem luz foi causado por falha técnica, desta vez, dizem os responsáveis, não por oferta insuficiente ou demanda elevada. Mas a região precisa de aumentar a capacidade local de geração. Mas deve fazer isso explorando seu melhor potencial e buscando segurança energética. Poderia se tornar um polo mundial de energias renováveis alternativas.
Mas o governo escolhe o pior caminho: faz termelétricas a combustível fóssil, poluindo a região e sujando a matriz elétrica brasileira e quer fazer usinas nucleares. Não precisa, o Nordeste é a maior fonte de energia eólica e solar do Brasil. Limpa e segura. Há áreas do semi-árido, hoje quase sem população, são muito secas e ficarão mais secas ainda no futuro. Nelas poderiam ser instaladas centrais de energia solar fotovoltaica.
Por que insistimos no caminho do velho? Por que o Brasil tem preconceito e se recusa a fazer o que o resto do mundo todo está fazendo: Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Espanha, Portugal, China, Índia? Só para mencionar os principais.
Porque temos uma política energética ultrapassada e que virou monopólio de um clique de tecnocratas e donataria de grupos políticos. O Ministério das Minas e Energia é como uma grande sesmaria, loteada politicamente. É comandado por uma facção política como se fosse direito hereditário. As empresas elétricas são capitanias hereditárias, os partidos viraram donos delas. Com o loteamento de um setor estratégico para o país para os grupos mais clientelistas da política brasileira, fica difícil imaginar políticas públicas com visão de futuro, voltadas para a inovação, sintonizadas com as tendências mundiais.
Nosso sistema de transmissão e distribuição é ineficiente. Apagões têm sempre um culpado exótico, o raio de Bauru, que só os técnicos do setor elétrico viram, mas a meteorologia não captou, ou o culpado é sujeito indefinido: “mandaram” desligar Itaipu – e aí 18 estados ficam sem luz. Ontem, segundo explicação da CHESF, uma peça eletrônica, uma “cartela eletrônica”, de uma grande subestação desligou, por defeito, parte do sistema e sete estados do Nordeste, mais o interior do Piauí, ficaram sem luz. Não dá para demitir o raio de Bauru, ou a cartela eletrônica.
Em entrevista, ontem, para Míriam Leitão na Globonews, o diretor da ONG Amigos da Terra, Roberto Smeraldi, e o diretor da COPPE, Luiz Pinguelli Rosa, defenderam investimento no aumento de eficiência na geração, transmissão, distribuição e consumo de eletricidade no Brasil. A energia mais barata que temos é a que desperdiçamos e a que deixamos de produzir. Defenderam também a diversificação urgente de nossa matriz energética, aumentando a geração eólica, que pode ser o melhor complemento da hidreletricidade e ainda dá segurança energética ao Nordeste. Eu concordo inteiramente. O Brasil precisa passar a investir em energia solar. O Nordeste não tem mais potencial hidrelétrico, mas tem um vasto potencial eólico e solar. A Índia está instalando a maior usina do mundo movida pelas ondas do mar. Aqui as ondas quebram nas praias, ociosas, dolentes, e ninguém vê a energia nelas contida. O vento balança as folhas do coqueiro do Nordeste, mas move muito poucas turbinas eólicas. O sol esquenta o agreste, mas não gera um único Watt de eletricidade. Mas a fumaça das termelétricas aumenta e agora o Nordeste enfrentará o risco nuclear.
Sempre me perguntam qual é a alternativa para o que se vem fazendo, e inclusive para Belo Monte? Resultado da propaganda do governo e setores do mercado interessados no status quo, que dizem que ou fazemos esses absurdos programados no PAC ou teremos um apagão e o crescimento será inviável. Não é assim. O mundo busca alternativas que temos de sobra e desprezamos. Insistem que é mais caro e não dá escala. Enquanto isso, no resto do mundo, o custo por kWh dessas energias só faz cair e a escala só aumenta. Caro é Belo Monte, um projeto sem transparência, cujo custo final, depois de realizado será provavelmente muito maior do que se diz. Era R$ 20 bilhões, o BNDES já reconhece R$ 26 bilhões. Duvido que fique na casa dos trinta. A usina de Simplício, no rio Paraíba do Sul, entre os municípios de Chiador, MG, e Sapucai, RJ, custou o dobro do estimado. Imagine-se uma obra das proporções de Belo Monte, lá no Xingu. Et pour cause.
A eficiência energética não supera a necessidade de expandir a capacidade instalada, mas reduz a urgência na instalação de novas usinas e garante melhor aproveitamento dos MW já gerados e dos novos que entrarão no sistema. Reduz custo e preço. É o melhor investimento que se pode fazer. Tecnicamente falando, claro. Mas é um péssimo investimento político: invisível, não dá inauguração, não gera grandes contratos com empreiteiras. Não dá para fazer. Energia eólica e solar fotovoltaica, a começar pelo Nordeste, são uma óbvia opção brasileira. Precisa subsidiar? Precisa. Mas o governo subsidia hidrelétricas e, pior, termelétricas a carvão e óleo. Pagamos caro pela energia do passado, como disse Barack Obama no discurso “Estado da Nação” ao Congresso do EUA. Por que não subsidiar a energia do futuro? O atendimento de populações de mais baixa renda e longe dos grandes centros, pode ser feito com pequenas usinas, biomassa, turbinas eólicas. Cidades inteiras podem gerar boa parte de sua energia usando lixo, biomassa, eólica e solar.
Alternativa tem. Os lobbies e as forças que controlam a política energética é que não querem admitir. (EcoDebate)
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