Daí o alerta embutido em
estudos recentes, publicados por um grupo de pesquisadores do Centro de Estudos
do Mar (CEM) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que revelam o impacto da
atividade humana na região da Baía do Almirantado, uma das mais movimentadas do
continente antártico.
A consequência do aumento
dessa interferência tem sido a ocorrência de elementos e substâncias associadas
ao uso do petróleo e do descarte de esgoto.
A partir de amostras de
sedimento marinho, coletadas pelos pesquisadores entre os anos 2000 e 2020, que
refletem a variabilidade ambiental ao longo dos últimos 60 anos, os
pesquisadores utilizaram três diferentes classes de biomarcadores químicos para
evidenciar as possíveis mudanças ambientais que ocorreram naquele ambiente
durante aquela escala de tempo. Os materiais foram estudados pela equipe do
Laboratório de Geoquímica Orgânica e Poluição Marinha (LaGPoM), vinculado ao
Programa de Pós-Graduação em Sistemas Costeiros Oceânicos da UFPR.
Os resultados foram
publicados nas revistas científicas Marine Chemistry, Science of The Total
Environment e Organic Geochemistry.
Um dos elementos analisados foi o fósforo. O fósforo tem origem natural no ambiente antártico, estando relacionado às alterações físicas das rochas e aos solos — abundantes em material orgânico produzido por aves —, mas também está presente no esgoto. Quando há atividade humana, há descarte de esgoto no ambiente e, consequentemente, os níveis de fósforo devem ser maiores do que os encontrados em períodos mais antigos, anteriores à presença frequente do homem na Antártica.
Sedimentos foram recolhidos na Baía do Almirantado, onde está localizada a estação antártica brasileira.
Conforme explica César de
Castro Martins, coordenador da pesquisa, os cientistas levantaram os valores de
base para o elemento fósforo em períodos pretéritos à presença humana na Baía
do Almirantado e compararam esses níveis com dados atuais. Na península Keller,
na baía, está localizada a Estação Antártica Comandante Ferraz, da Marinha
Brasileira.
“Nossas amostras refletem
períodos mais recentes e apontam valores mais altos de fósforo. Portanto, esse
elemento pode ser usado para avaliar a transformação do ambiente marinho
antártico nas condições de elevação de temperatura e de aumento de atividades
humanas provenientes de pesquisa e de turismo”.
Os hidrocarbonetos alifáticos
foram outra classe de biomarcadores investigada pela equipe. Essas substâncias
podem ser encontradas em organismos marinhos e terrestres e também no petróleo.
“É um marcador orgânico capaz
de refletir a utilização de combustíveis fósseis proveniente da atividade
humana na Antártica”, afirma Martins. Novamente, as amostras de sedimento que
refletem os últimos 60 anos foram utilizadas para análise.
A observação resultou em uma
mistura de fontes que seriam a origem dos hidrocarbonetos alifáticos. Os
pesquisadores entenderam que encontraram biomarcadores que retratam a
variabilidade da produtividade marinha e o aporte continental, que pode ser
resultado da mudança climática na região.
Aquecimento global parece
contribuir para que resíduos do continente cheguem ao mar
Nessa avaliação, os
pesquisadores notaram que, no período de 1975 a 1992, houve um aumento maior na
concentração de alguns hidrocarbonetos, o que pode significar que a elevação da
temperatura do planeta leva mais material continental para a região marinha da
Antártica.
“Alguns organismos marinhos
mais adaptados a essa condição de temperatura elevada tiveram maior abundância.
Quando uma condição ambiental se altera, algumas espécies se adaptam e outras
declinam, podendo chegar à extinção”, diz Martins.
Por último, em parceria com pesquisadores da Universidade de Bristol, do Reino Unido, os cientistas calibraram uma ferramenta geoquímica que permite o estudo da temperatura da superfície do mar em períodos anteriores aos contemplados por registros instrumentais. Segundo o professor, dados de estações meteorológicas na Antártica começaram a surgir a partir da década de 1940. Antes disso, não há como saber qual seria a temperatura da superfície do mar.
Antártica sumirá se todo combustível fóssil da Terra for queimado.
Todo o gelo da Antártida
derreteria se queimássemos o petróleo e o carvão ainda disponíveis no planeta
e, consequentemente, o mar se elevaria 58 metros, inundando a costa de todos os
continentes. (ecodebate)
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