Discutir pobreza energética com soluções práticas

Energia Sem Fronteira: discutindo a pobreza energética com soluções práticas.

1º artigo para a pv magazine, o cofundador do programa Energia Sem Fronteira, Marcelo Rodrigues, detalha como funciona a iniciativa, que conecta comunidades, energia renovável e educação, para promover justiça energética e transformar realidades no Brasil e além.

A energia elétrica é muito mais do que um recurso básico; é o ponto de partida para o desenvolvimento econômico, social e ambiental. Apesar disso, mais de 1 milhão de brasileiros ainda vivem sem acesso à eletricidade, principalmente em áreas remotas como a Amazônia Legal, enquanto estima-se que cerca de 770 milhões de pessoas no mundo, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA) e o Banco Mundial, enfrentem essa mesma realidade. O projeto Energia Sem Fronteira surge para enfrentar essa realidade com uma abordagem técnica, estratégica e inclusiva, alinhada às demandas globais de justiça energética.

O Energia Sem Fronteira traz experiências e iniciativas que integram energia renovável, inovação tecnológica e impacto social, alinhado ao propósito de conectar expertises e iniciativas para transformar vidas através de soluções energéticas responsáveis e escaláveis.

Pobreza energética no Brasil: o cenário atual

O Brasil possui uma matriz energética predominantemente renovável, com aproximadamente 90% de sua energia oriunda de fontes limpas, como hidrelétricas, biomassa, solar e eólica. Apesar desse panorama positivo, há uma disparidade gritante no acesso à energia. Na Amazônia Legal, 990 mil brasileiros permanecem sem eletricidade, segundo dados do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). Em comunidades urbanas de baixa renda, como as favelas, o custo da energia pode comprometer entre 10% a 20% da renda mensal das famílias, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Essa exclusão energética impacta diretamente educação, saúde e economia: crianças estudam sob luz de velas ou sem nenhuma iluminação; postos de saúde operam de forma limitada, sem condições para armazenar vacinas ou operar equipamentos básicos; e a ausência de eletricidade limita a produtividade e o empreendedorismo.

Tecnologia e soluções: o caminho para a inclusão

Projeto em Santa Helena do Inglês – Iranduba (AM), perto de Manaus.

No Energia Sem Fronteira, não levamos energia diretamente, mas incentivamos e conectamos projetos inovadores às comunidades que mais precisam. Atuamos como um catalisador, trazendo conhecimento, visibilidade e suporte técnico para que iniciativas sustentáveis possam transformar realidades.

Entre as ações destacam-se:

1. Promoção de Projetos de Energia Renovável: Trabalhamos para aumentar a conscientização e o suporte a projetos como cooperativas solares e microrredes sustentáveis.

2. Conexão entre Comunidades e Soluções: Facilitamos o diálogo entre comunidades isoladas e iniciativas, como a Revolusolar e Litro de Luz, que desenvolvem tecnologias acessíveis e inclusivas.

3. Incentivo à Educação Energética: Contribuímos para a disseminação de informações e capacitações que promovam o uso sustentável e responsável da energia.

Impacto global e aprendizados

A experiência do Brasil pode servir de modelo para o mundo. Iniciativas como o Floresta em Pé, da Fundação Amazônia Sustentável, mostram que é possível combinar a preservação ambiental com a inclusão energética. Além disso, exemplos globais como o programa de eletrificação rural na Índia ou a instalação de microrredes solares na África e Brasil oferecem insights valiosos para a implementação de projetos locais.

Compromisso com a justiça energética

O Energia Sem Fronteira não é apenas um projeto; é um movimento para garantir que a energia seja acessível, justa e sustentável. A iniciativa trabalha com três pilares:

- Universalização: expandir o acesso à energia para todas as regiões, incluindo as mais isoladas.

- Justiça: garantir que o custo da energia seja acessível e não comprometa a dignidade das famílias.

- Inteligência: adotar tecnologias que otimizem o uso dos recursos renováveis.

Convite à ação

A transição energética não é apenas uma necessidade ambiental, mas também uma responsabilidade social. O Energia Sem Fronteira convida especialistas, investidores e governos a se unirem nessa causa. A energia é um direito universal, e juntos podemos construir um futuro mais justo e iluminado.

Exploraremos casos de sucesso no Brasil e no mundo, destacando experiências inovadoras que estão transformando comunidades e promovendo a justiça energética. Fique atento para descobrir como esses exemplos podem inspirar novas iniciativas e catalisar mudanças significativas.

Marcelo Rodrigues é o cofundador do projeto Energia Sem Fronteira, um grupo de trabalho cujo objetivo é contribuir para que a energia seja realmente sem fronteiras, seja geográfica, tecnológica ou financeira. Criado em 2020, já acompanhou inúmeros projetos no combate à pobreza energética. Mentor de iniciativas que promovem o armazenamento e uso eficiente de energias renováveis, o executivo é vice-presidente de Negócios, Marketing e Inovação na UCB Power, uma das maiores empresas de soluções de energia do Brasil e cofundador da Associação Brasileira de Armazenamento de Energia (Absae). (pv-magazine-brasil)