Por
décadas, a fonte de energia geotérmica permaneceu como um jogador coadjuvante
no cenário das energias renováveis. Enquanto as energias solares e eólicas
cresciam exponencialmente, a geotérmica contribuía com uma fração mínima da
eletricidade global.
O
problema sempre foi a geografia. As fontes de calor subterrâneo estão
concentradas em regiões vulcânicas, limitando sua expansão. Mas isso pode estar
prestes a mudar.
Pesquisadores
da Universidade Cornell acreditam que a (SHR, do inglês Superhot Rock Energy)
pode ser a solução para aproveitar o calor da Terra em praticamente qualquer
lugar.
O calor sob nossos pés
Em um sistema de rocha superquente, a água é injetada profundamente na rocha quente, aquecida e retornada à superfície da Terra como vapor que pode ser usado para produzir energia em turbinas elétricas ou para gerar hidrogênio usando um processo de alta temperatura.
A
ideia é simples, mas revolucionária. Imagine perfurar profundamente a crosta
terrestre até encontrar rochas aquecidas a mais de 374°C.
A
essas temperaturas extremas, a água injetada transforma-se em um fluido
supercrítico, capaz de transportar imensas quantidades de energia para a
superfície.
Essa
fonte de energia pode ser convertida em eletricidade, fornecer aquecimento ou
mesmo ser utilizada na produção de hidrogênio.
Como
funciona o processo dessa incrível fonte de energia
Água
ou fluidos especializados são injetados nos reservatórios de rochas
superquentes, onde, devido às temperaturas extremamente elevadas, o fluido se
transforma em estado supercrítico, uma fase intermediária entre líquido e gás
que possui alta densidade e grande capacidade de armazenar energia térmica.
Esse
fluido supercrítico é então extraído e conduzido até a superfície, onde sua
energia térmica é aproveitada para movimentar turbinas, gerando eletricidade de
maneira eficiente e sustentável.
De
acordo com um estudo da Cornell, a SHR poderia atender à demanda energética dos
Estados Unidos milhares de vezes.
Relatórios
elaborados pela universidade, em colaboração com a organização sem fins
lucrativos Clean Air Task Force (CATF), detalham um roteiro para superar os
desafios técnicos, como perfuração precisa, construção de poços e extração de
calor.
“Os
aspectos altamente específicos do local da produção de energia geotérmica
sempre foram um obstáculo para o desenvolvimento comercial”, explica Seth
Saltiel, professor da Cornell e coautor do estudo. Ele destaca que compreender
as estruturas subterrâneas é essencial para avançar.
Os
números impressionam. Apenas 2% da energia armazenada a poucos quilômetros
abaixo da superfície poderia, teoricamente, suprir as necessidades energéticas
dos EUA por 2.000 vezes.
A SHR também tem a vantagem de ser uma fonte de energia limpa e ininterrupta, diferentemente da energia solar e da eólica, que dependem das condições climáticas.
Uma corrida global pela SHR
O
interesse pela SHR não se limita aos Estados Unidos. Estudos apontam que China,
Rússia e EUA possuem as maiores reservas potenciais dessa energia. Apenas nos
EUA, a energia de SHR poderia gerar 4 terawatts, equivalente a queimar 21
bilhões de barris de petróleo.
Estados
como Nevada e Califórnia lideram em potencial de exploração. Curiosamente, a
indústria de petróleo e gás pode ser uma aliada crucial. As tecnologias
necessárias — plataformas de perfuração, brocas resistentes e sensores capazes
de suportar temperaturas extremas — já foram desenvolvidas para a extração de
combustíveis fósseis.
Terra
Rogers, diretora da CATF, acredita que essas empresas estão bem posicionadas
para liderar a transição para a SHR.
Lauren
Boyd, diretora do Geothermal Technologies Office do Departamento de Energia dos
EUA, enfatiza a necessidade de investimento. “Precisamos de recursos e de mãos
que se disponham a trabalhar nesse campo”. Segundo estimativas, serão
necessários entre US$ 20 bilhões e US$ 25 bilhões até 2030 para comercializar
tecnologias geotérmicas de próxima geração, incluindo a SHR.
Para
as empresas de petróleo, a SHR representa uma oportunidade única. Elas podem se
reposicionar no mercado de energia limpa utilizando infraestruturas e
habilidades existentes.
Muitas terras arrendadas para extração de combustíveis também podem ser reaproveitadas para exploração geotérmica, muitas vezes sem a necessidade de novas licenças.
Desafios e Oportunidades no Setor de Energias Renováveis
Embora
promissora, a fonte de energia de rocha superquente enfrenta desafios
significativos. Perfurar em rochas densas é caro e complexo.
Em
2022, a Universidade Cornell perfurou um poço exploratório com 3 km de
profundidade em seu campus, visando investigar o potencial da energia
geotérmica.
Contudo,
essa instalação não deverá alcançar rochas superaquecidas, uma vez que seria
necessário perfurar pelo 10 km abaixo da superfície em regiões de baixo fluxo
térmico, como o leste dos Estados Unidos.
Os
primeiros projetos exigem investimentos altos e carregam riscos. Sem
financiamentos substanciais, a SHR pode permanecer como uma ideia ambiciosa,
mas irrealizável.
No
entanto, o otimismo cresce. Jennifer Granholm, Secretária de Energia dos EUA,
destacou o potencial dessa tecnologia durante a conferência CERAWeek de 2024.
“Capturar o calor sob nossos pés pode nos proporcionar uma energia limpa,
escalável e confiável para atender às necessidades de indústrias e
residências”, afirmou.
A
SHR não apenas promete reduzir a dependência de combustíveis fósseis, mas
também representa uma nova fronteira para a indústria energética.
Se avanços tecnológicos e investimentos significativos forem alcançados, essa tecnologia poderá redefinir como o mundo gera e consome energia.
Desafios e oportunidades da transição energética: análise da desaceleração e caminhos para o futuro
O
calor subterrâneo, por muito tempo ignorado, pode ser a chave para um futuro
energético mais limpo e sustentável.
A
corrida para desbloquear esse potencial está apenas começando. Agora, cabe às
empresas, governos e cientistas transformar essa visão em realidade.
(clickpetroleoegas)
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