Tecnologia, criada por empresa americana, será usada pela primeira vez em usina paulista
O mesmo caldo de cana que serve como matéria-prima para a produção de açúcar e álcool servirá em breve, também, para a produção de diesel. A nova tecnologia, desenvolvida pela empresa Amyris, da Califórnia, vai ser colocada em prática no interior paulista em 2010, em sociedade com a Votorantim Novos Negócios e a Usina Santa Elisa, de Sertãozinho. A meta é produzir 400 milhões de litros no primeiro ano e 1 bilhão de litros, em 2012.
O processo é muito parecido com o da produção de álcool combustível, que utiliza leveduras para fermentar os açúcares presentes na cana e secretar etanol. A diferença crucial que foi a grande inovação produzida pela Amyris está no DNA da levedura, que foi geneticamente modificada para secretar diesel no lugar de álcool.
Resultado da fermentação é uma molécula chamada farneceno, com 12 átomos de carbono e as propriedades essenciais do diesel de petróleo, mas nenhuma da indesejadas, como a mistura de enxofre, poluente altamente prejudicial à saúde.
Enquanto o diesel de petróleo e mesmo o biodiesel de óleos vegetais, contém uma mistura de várias moléculas combustíveis, o diesel de cana tem apenas o farneceno, que pode ser usado diretamente no motor. É um combustível puro.
O diesel de petróleo é o mais poluente dos combustíveis fósseis. O diesel de cana-de-açúcar, além de ser livre de enxofre, o que reduz o impacto sobre a poluição urbana, é renovável em relação ao carbono que emite para a atmosfera, o que reduz o impacto sobre o aquecimento global. A exemplo do que já ocorre com o etanol, o CO2 que sai do escapamento é reabsorvido, via fotossíntese, pela nova cana que está brotando no campo. Quando a cana é colhida, o carbono é convertido novamente em combustível, reemitido, reabsorvido e assim por diante.
A cana não tem óleo, apenas fornece o açúcar necessário para alimentar as leveduras que vão produzir o combustível. É um processo completamente diferente do usado para produção de biodiesel, que é um combustível refinado de óleos vegetais, como de soja e mamona.
São necessários mais de 15 genes para transformar a levedura em uma fábrica biológica de diesel. A espécie usada no processo é a mesma da fermentação do álcool (Saccharomyces cerevisiae), a origem dos novos genes é mantida em segredo até que as patentes sejam publicadas.
A idéia, a princípio, é que o diesel de cana entre no mercado como um adicional ao diesel de petróleo, e não como um concorrente, já que a produção inicial será muito pequena. O Brasil consome cerca de 45 bilhões de litros de diesel, dos quais 5 bilhões precisam ser importados. O desenvolvimento do produto final será feito no Brasil, com a participação de cientistas brasileiros. O interesse em trazer a tecnologia para o Brasil é simples, a matéria-prima é o carbono, e o carbono mais barato do mundo é o carbono de cana do Brasil, é igual à cadeia do petróleo. A idéia é que a produção aumente e ganhe mercado gradativamente, com um custo igual ou inferior ao do diesel de petróleo. O custo inicial previsto é de US$ 60 o barril, já bastante competitivo.
As adaptações necessárias nas usinas para produzir diesel em vez de etanol são mínimas. De certo modo, basta trocar a levedura no fermentador. Em alguns anos, os usineiros poderão optar por produzir o que for mais vantajoso, álcool, diesel ou açúcar, com grande flexibilidade.
O diesel de cana surge como mais uma opção no menu de energias renováveis que o mundo procura para substituir os combustíveis fósseis (derivados de petróleo, carvão e gás), que são os principais responsáveis pelo aquecimento global. A cana já oferece duas dessas opções: o álcool combustível e o bagaço, que é queimado para produção de energia elétrica. Agora serão três (etanol, diesel e biomassa), com potencial para chegar a quatro, cinco, ou até seis. Com as mesmas técnicas de engenharia molecular, é possível "ensinar" a levedura a produzir quase qualquer tipo de molécula.
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