Um grupo de investidores paranaenses encontrou no sertão da Bahia o que classifica de “Pré-sal do Sertão”. Mas, ao contrário das reservas marítimas de petróleo, localizadas a mais de 5 mil metros de profundidade, o potencial energético daquela região está no ar – ou melhor, no vento que sopra forte em uma área até então inexplorada pelos investidores do setor de energia.
A Empresa Paranaense de Energia (EPP), holding formada por empresários com atuação em diversos setores, está desbravando novos territórios e já tem três projetos de geração eólica no interior da Bahia. A carteira de investimentos na região passa de R$ 6 bilhões e tem um potencial de geração de 1,7 mil megawatts (MW), equivalente à da usina de Foz do Areia, segunda maior hidrelétrica do Paraná, menor apenas que Itaipu.
“Fomos do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte em busca de locais para investimento. Na costa do Nordeste, enfrentamos uma forte especulação imobiliária. Na Bahia, encontramos uma nova fronteira, com condições técnicas favoráveis e uma velocidade média do vento de 10 metros por segundo, cerca de 30% acima do que é considerado ideal”, conta o diretor executivo da EPP, Luiz Fernando Cordeiro.
A companhia comprou cerca de 40 mil hectares de terras em três regiões da Bahia. Esses investimentos devem ajudar a mudar o perfil local, diz o executivo. “São áreas sem vocações econômicas, com pequenos municípios extremamente dependentes de repasses de programas federais. Algumas cidades nem sequer têm água potável. A cidade de Gentio do Ouro, antiga área de garimpo, poderá prosperar com a mina de ventos.”
A viabilização dos projetos da EPP tem como base os contratos de venda dessa energia no mercado livre (no qual o contrato é firmado diretamente com o consumidor industrial) ou nos leilões do governo federal – haverá pelo menos um neste ano, para negociar a energia que será gerada nos empreendimentos.
Segundo Cordeiro, 75% dos recursos devem vir do BNDES – que tem linhas específicas para incentivar a geração de energias renováveis – e o restante, dos sócios da EPP e outros parceiros. “Esse investimento é feito ao longo dos anos e se paga”, garante.
O objetivo do grupo é ser referência nacional no segmento de energia limpa e renovável em um horizonte de 20 a 30 anos. “Nosso plano não é vender projetos, é fornecer energia”, afirma o presidente do conselho de administração da EPP, João Elisio Ferraz de Campos, que governou o Paraná entre 1986 e 1987.
Ele diz que o pioneirismo do grupo pode encorajar o empresariado paranaense a ser mais ousado. “Montamos um grupo heterogêneo, com empresários de vários setores, como transportadora, concessionárias de rodovias, seguros. O Paraná está esquecido no plano nacional. O empresariado paranaense tem de se mobilizar e lutar para conquistar espaço. Queremos ser referência para que essa experiência se reproduza em outros setores.”
PCHs ficam na gaveta
Criada com foco no desenvolvimento de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), a EPP perdeu a chance de investir nesse tipo de projeto quando o vento era favorável. Mas a demora na liberação de licenças ambientais, a queda no custo da energia e o aumento no orçamento das obras impediram essas usinas de sair do papel. Na semana passada, uma de suas PCHs recebeu licença prévia do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), mas não há prazo para o início da construção.
Atualmente, o custo do megawatt instalado na construção de uma PCH é de R$ 7 milhões – exatamente o dobro do custo da geração eólica. Sem competitividade, os projetos de PCHs ficarão alguns anos guardados na gaveta esperando um cenário mais favorável. “A PCH se tornou um projeto economicamente inviável. Os geradores são caros e 70% do custo é de obra civil, que encareceu muito. Além disso, os locais com melhor potencial já foram explorados”, explica Odilon Camargo, sócio-diretor da empresa de engenharia Camargo Schubert.
Uma conjuntura que obrigou a EPP a rever seus planos. “Mudamos o nosso foco e buscamos participar dos leilões oferecendo o produto eólico”, diz Luiz Fernando Cordeiro, diretor executivo da companhia.
Para que as PCHs voltem a ser interessantes, o custo médio da energia – atualmente em torno de R$ 100 por megawatt-hora (MWh) – deve subir para, no mínimo, R$ 150. “Os projetos ficam na gaveta, mas prontos para serem retomados quando a conjuntura voltar a ser favorável”, garante Cordeiro.
Se por um lado as PCHs são caras, o Brasil tem hoje o custo de geração de energia eólica mais barato do mundo, de menos de R$ 100 por MWh, o que torna o investimento cada vez mais atraente – só a China cresce mais nesse ramo. “É tudo uma questão de competição. O investidor se interessa pelas fontes mais competitivas”, diz Camargo. (EcoDebate)
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