Biorrefinarias:
Complexos industriais estão se tornando capazes de converter a biomassa em uma
série de produtos.
Biorrefinarias
polivalentes - As biorrefinarias – como são chamados os complexos industriais
que produzem combustível, eletricidade e produtos químicos a partir de biomassa
– estão se tornando empreendimentos capazes de converter uma grande variedade
de matérias-primas, incluindo resíduos agrícolas, em diversos produtos. Isso
com maior eficiência energética, economia e benefícios ambientais em comparação
com processos tecnológicos convencionais que só dão origem a um ou dois
produtos.
A avaliação foi feita
por Jonas Contiero, professor do Instituto de Biociências da Universidade
Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro, em palestra no workshop
conjunto do Centro Paulista de Pesquisa em Bioenergia, da Universidade de
Nottingham e da Universidade de Birmingham, realizado no dia 14 de maio no
Auditório da FAPESP.
Realizado pelo
Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), o evento teve o objetivo de
apresentar resultados das pesquisas em bioenergia em andamento na Universidade
de São Paulo (USP), na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na Unesp,
na Universidade de Nottingham e na Universidade de Birmingham – ambas do Reino
Unido –, com o objetivo de discutir a pesquisa em colaboração e planejar
futuros projetos conjuntos.
De acordo com
Contiero, as primeiras biorrefinarias eram caracterizadas por usinas de
produção de álcool etílico por trituração seca, que utilizam cereais como
matéria-prima e possuem uma linha de produção fixa, que consiste no álcool
etílico, em coprodutos e em dióxido de carbono.
Tempos depois,
começaram a despontar as biorrefinarias de segunda geração, que utilizam uma
tecnologia de trituração “molhada”, a qual possibilita a produção de diversos
produtos finais, dependendo da demanda, utilizando principalmente grãos como
matérias-primas.
Atualmente estão em
fase de pesquisa e desenvolvimento as biorrefinarias de terceira geração, como
as que utilizam a biomassa lignocelulósica encontrada em resíduos agrícolas –
por exemplo, o bagaço da cana-de-açúcar – para obter produtos químicos e
biocombustíveis.
“Em uma
biorrefinaria, uma única matéria-prima, como o bagaço da cana-de-açúcar, é
convertida em produtos químicos como glucose, bioetanol, ácido cítrico,
antibióticos, vitaminas, enzimas, biocorantes, bioetanol e bioplásticos”,
exemplificou Contiero.
Dessa relação de
produtos, um dos que mais vêm se destacando são os bioplásticos, ou plásticos
biobased. Produzidos a partir de outras matérias-primas, os principais tipos
desse plástico são à base de amidos, de polihidro-alcanoatos, de ácido
polilático, como de cana-de-açúcar, e os derivados de celulose.
De acordo com dados
de mercado, apesar de ainda representar apenas 0,5% dos 230 milhões de
toneladas de plásticos consumidos atualmente no mundo, o segmento de
bioplásticos tem registrado crescimento de 20 a 25% ao ano, com expectativa de
produzir 230 mil toneladas ao ano durante a próxima década.
“Os países com maior
capacidade de produção estimada de plásticos biobased são os da Europa, com 140
mil toneladas ao ano, seguidos dos países da América do Norte, com 80 mil
toneladas, da Ásia, com 40 mil toneladas, e da América do Sul, com 500
toneladas”, disse Contiero.
O produto é utilizado
em diversos setores, como os de embalagem, vestuário e biomédico. No Brasil,
entre as empresas que produzem esse tipo de plástico a partir da cana-de-açúcar
estão a Braskem, PHB Industrial e Usina da Pedra.
Em agosto de 2011,
Contiero iniciou um projeto, realizado com apoio do Programa Parceria para
Inovação Tecnológica (PITE), no âmbito de um acordo de cooperação entre a
FAPESP, a Braskem e a Ideom, para produzir e extrair ácido lático por fermentação
a partir de subprodutos da indústria sucroalcooleira e da produção de queijo
para obtenção de ácido polilático.
De acordo com dados
do pesquisador, o processo é mais barato do que os que estão sendo
desenvolvidos nos Estados Unidos e na Bélgica, que obtêm o ácido polilático a
partir do uso, respectivamente, do amido de milho e do açúcar de beterraba.
“A quantidade de
fibras lignocelulósicas dos resíduos ou subprodutos da agroindústria da
cana-de-açúcar, representada pelo bagaço e pela palha, dá a ela uma enorme
vantagem competitiva em relação às outras fontes de carbono, uma vez que esse
resíduo pode ser utilizado para geração de energia para a operação da planta de
produção”, disse Contiero.
Segundo Contiero, por
trabalharem com matérias-primas agrícolas, as biorrefinarias devem ser
consideradas como uma extensão da cadeia de produção agrícola, e precisam estar
integradas fisicamente aos processos de plantio, colheita, processamento e
transformação das plantações. (EcoDebate)
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