Se não recalibrarmos nossa visão econômica, levaremos o planeta a
ultrapassar o limiar crítico.
Muitos especulam a respeito do número de líderes mundiais
que estarão presentes à cúpula Rio+20 e do tipo de acordos que serão
concluídos: a criação de uma "economia verde" e o estabelecimento de
um "arcabouço internacional para o desenvolvimento sustentado".
O termo "economia verde" foi cunhado há alguns
anos, a fim de oferecer uma nova perspectiva por meio da qual fosse possível
examinar a relação entre economia e sustentabilidade. Mas ganhou recentemente
um novo impulso com as mudanças climáticas que se tornaram realidade, os preços
das commodities em alta, e recursos básicos como ar puro, terra para cultivo e
água potável se tornando mais escassos. Um conjunto cada vez mais abrangente de
dados científicos confirma o que pudemos vislumbrar na Rio há 20 anos.
Os que investiram em uma estratégia econômica e em processos
de produção com base em modelos do século 19 e até mesmo 20 estarão
compreensivelmente temerosos com a perspectiva de uma mudança de paradigma. Mas
alguns segmentos da sociedade civil também estarão preocupados com a
possibilidade de que uma transição para uma economia verde afete de maneira
negativa os países pobres e os exponha a riscos e a um grau de vulnerabilidade
maiores.
Estratégias
Outros questionam a eficácia de estratégias com
base no mercado com vistas à sustentabilidade, pois os mercados nunca trazem
resultados sociais e ambientais ideais. Concordamos totalmente. As crises
sistêmicas nos alimentos, combustíveis e finanças que explodiram em 2008 - e
prosseguem em muitos países - têm suas origens num paradigma econômico que não
levou em conta o valor da natureza e suas inúmeras contribuições para a
sustentação da vida. Como mostra o relatório "Rumo a uma economia verde:
caminhos para o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza", a
economia de mercado atual resultou na alocação equivocada do capital numa
escala sem precedentes.
Na realidade, os graves erros dos mercados - em termos de
emissões de carbono, biodiversidade e serviços ao ecossistema - estão
acelerando os riscos para o meio ambiente e a escassez ecológica, e solapando o
bem-estar dos homens e a igualdade social. É por isso que sua vinculação com a
governança e as instituições na Rio+20 é tão importante quanto a transição para
uma economia verde.
Uma preocupação dos críticos é que uma transição para a
economia verde acabe essencialmente monetizando com a natureza, expondo as
florestas, a água potável e a pesca à busca do lucro empreendida por banqueiros
e operadores de bolsa, cujos erros contribuíram para desencadear a tempestade
financeira e econômica dos últimos quatro anos. Mas será que se trata de uma
questão de atribuir um valor à natureza? Ocorre que a natureza já está sendo
objeto de compras e vendas, já é explorada e comercializada a preços mínimos
que não traduzem seu valor real, principalmente quando se trata da subsistência
dos pobres. Em grande parte, isso reflete a existência de mercados não
regulados ou inexistentes, que não traduzem os valores que a natureza nos proporciona
diariamente.
Futuro
Concretamente, o que está em jogo no Rio é o futuro
do planeta. Sem uma solução concreta e duradoura que permita recalibrar nossa
atual visão econômica a um nível sistêmico, a escala e o ritmo da mudança
dentro em breve poderão levar o planeta a ultrapassar o limiar crítico tornando
o desenvolvimento sustentável um sonho impossível onde quer que seja.
Algumas questões são de tamanha gravidade que transcendem os
limites de um país. Por que, por exemplo, o mundo segue um paradigma de
crescimento econômico com base na corrosão da própria base dos sistemas que
servem à sustentação da vida da terra? Poderá a riqueza ser redefinida e
reformulada para incluir o acesso aos bens e serviços básicos, como os que a
natureza nos oferece gratuitamente, como ar limpo, clima estável e água
potável? Não estará na hora de atribuir ao desenvolvimento humano, à
sustentabilidade do meio ambiente e à igualdade social um valor igual ao do
crescimento do PIB? Nós sabemos que as novas tecnologias e a inovação preparam
mudanças na produção de energia, estão surgindo novos mercados de alimentos e
água potável, e serviços ecológicos básicos começam a escassear e a ser dotados
de um valor monetário.
A Rio+20 é o momento no qual serão compartilhados o
conhecimento e a experiência com vistas à transição bem-sucedida para uma
economia mais verde e uma maior economia de recursos. O desafio consistirá em
reconciliar a realidade econômica emergente com os valores sociais e a ética
necessários para gerar uma economia verde equilibrada e abrangente. (OESP)
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