Pioneiro em mudanças na
matriz energética, país pretende utilizar somente fontes de energia renováveis.
Para especialistas, medidas adotadas pelo governo dinamarquês podem servir de
modelo para outros países europeus.
Até 2050, a Dinamarca pretende
produzir somente energia e calor limpos, eliminando as emissões de dióxido de
carbono no setor. Para 2020, a meta é produzir cerca de 70% da energia a partir
de fontes renováveis. Hoje, já são 43%.
"Atualmente, a energia
renovável correspondente a 25% do consumo total de energia na Dinamarca",
diz Kristoffer Böttzauw, vice-diretor da Agência de Energia Dinamarquesa,
convencido de que é possível alcançar a meta prevista até 2050.
A Dinamarca é pioneira
absoluta na União Europeia nesse setor, segundo Tobias Austrup, consultor
político para mudança da matriz energética do Greenpeace na Alemanha.
"Aqui fica claro ser possível que países europeus industrializados
realizem uma verdadeira e rápida mudança energética", afirma.
Austrup vê a Dinamarca como
modelo para a Europa. "Até a agora a mudança da matriz energética alemã,
por exemplo, foi apenas no setor de energia elétrica", diz.
Segundo ele, há várias ideias
dinamarquesas que poderiam ser implementadas na Europa: "A proibição do
aquecimento com combustíveis fósseis e a ampliação da cogeração. Essas usinas
são supereficientes. Elas utilizam o calor perdido na produção de energia
elétrica para o aquecimento". Para Austrup, também é possível aprender
sobre o uso de energia eólica com o país vizinho.
Parques offshore
Com 7.300 quilômetros de
costa, as condições para a produção de energia eólica na Dinamarca são tão
favoráveis como quase em nenhuma outra região europeia. O país fica entre dois
mares – o do Norte e o Báltico – e, por isso, aposta na geração de energia
eólica offshore, ou seja, no mar.
Um parque eólico com
capacidade de geração de 600 megawatts está sendo construído na região de
Kriegers Flak, no Mar Báltico. O parque é resultado de uma cooperação
sueco-alemã-dinamarquesa e deve começar a produzir energia até 2020.
Na Dinamarca, moradores são
indenizados por perda no valor de imóveis devido à instalação de turbinas
eólicas.
No ano passado, outro
parque offshore com capacidade para a produção de 400
megawatts foi inaugurado próximo à ilha Anholt, situada no estreito de
Kattegat, entre a Dinamarca e a Suécia. As turbinas eólicas foram fornecidas
pela empresa alemã Siemens.
Entretanto, os parques offshore não
são suficientes para alcançar a meta energética. Assim, usinas eólicas também
estão sendo construídas em terra. No passado, iniciativas locais impediram a
construção das cada vez maiores turbinas eólicas. Em 2008, o governo conseguiu
o apoio da população com novas regras.
Primeiro, os moradores são
indenizados diretamente, conta Böttzauw. Ou seja, quando uma casa perde valor
imobiliário devido à instalação de uma turbina eólica, que pode ter até 150
metros de altura, a operadora precisa ressarcir o proprietário do imóvel por
essa perda.
Além disso, pelo menos 20%
dessa energia devem ser oferecidos localmente, possibilitando aos moradores uma
participação direta no investimento. E há também um rateio por megawatt pago ao
município, afirma Böttzauw. Por trazer vantagens diretas tanto para o município
quanto para os moradores, a construção de turbinas eólicas passou a ser mais
aceita pelas populações locais.
Transmissão e armazenagem
Na
Dinamarca, o problema das linhas de transmissão foi resolvido com a construção
de cabos subterrâneos. Böttzauw admite que a solução é cara, mas construir
torres elétricas além das turbinas eólicas seria demais para a população. A
energia elétrica produzida pelos parques offshore deverá
ser distribuída pelo país por meio de três novas linhas de transmissão.
Carros elétricos podem ser
usados para armazenar energia
Segundo Böttzauw, o grande
problema da extinção de fontes energéticas de origem fóssil está no setor de
transporte. Uma parte dele poderia ser solucionada com carros elétricos.
"Não dá para decidir quando há vento. Mas veículos elétricos podem ser
usados para armazenar o excesso de energia eólica", reforça. Quando há
pouca energia, a rede geral pode ser alimentada com a energia armazenada na
bateria dos carros.
A Dinamarca também investe em
grandes aquecedores elétricos e bombas de calor. Assim, a energia eólica
excedente é transformada em calor. "Quando há bastante vento, não existe
energia mais barata que a eólica", completa Böttzauw.
E quando não há vento
suficiente, talvez haja sol. Por isso, a Agência de Energia Dinamarquesa está
investindo cada vez mais em energia solar. O resto da demanda de energia pode
ser suprida com biomassa, somada à economia e à eficiência. Os dados da agência
falam por si só: desde 1980, a economia no país cresceu 78%, mas o consumo de
energia permaneceu quase o mesmo.
Cooperação com a China
Além da eólica, Dinamarca
investe em energia solar.
Na Dinamarca, o governo optou
por um caminho diferente para rebater o argumento da falta de competitividade
de fontes renováveis. As empresas recebem um subsídio se usam energia renovável
e aumentam a eficiência energética. Em 2010, a tecnologia dinamarquesa no setor
de energia representou cerca de 10% das exportações.
Para alcançar a liderança
global nesse setor do futuro, o país investe em pesquisa e financiamentos para
fontes renováveis, eficiência tecnológica e sistemas de aquecimento renováveis.
Assim, entre 6 e 8 mil novos postos de trabalho deverão criados no país de 5,5
milhões de habitantes por ano.
A experiência do país
escandinavo interessou até à China. Desde 2006, há uma cooperação intensiva
entre esses dois países nesse setor, conta Böttzauw. Começou com energia
eólica, e desde 2010 há um projeto conjunto para o desenvolvimento de fontes de
energia renovável.
"A China tem um
interesse grande nos nossos sistemas de aquecimento à distância e também em
biomassa e parques eólicos offshore", diz Böttzauw. Os interesses
econômicos são o ponto central da cooperação. "Nós fomos à China para
ajudar a resolver os problemas energéticos e climáticos que acompanham o
crescimento econômico." (dw)
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