Energia nuclear é “energia
verde”? Sim, e físico explica por quê.
E
até quem sempre criticou a energia nuclear se convenceu. “A energia nuclear é a
mais segura de todas as tecnologias de eletricidade que temos”, afirnou
recentemente ao canal de TV estadunidense News Nation ninguém menos que Patrick
Moore, um dos fundadores do Greenpeace. Durante muito tempo, a ONG teve a
energia nuclear entre seus maiores alvos de críticas.
De
grande vilã dos ambientalistas, hoje a geração de energia elétrica via usinas
nucleares tem sido cada vez mais aceita por especialistas e defensores das
chamadas “energias verdes”. A história do mundo contemporâneo se divide em
antes e depois da descoberta da fissão nuclear. E a mesma reação que está por
trás de uma bomba de alto poder destrutivo pode também ser utilizada, de forma
controlada, para a geração de energia elétrica.
No
final de junho, a IEA (sigla em inglês para Agência Internacional de Energia)
afirmou oficialmente que o mundo precisa dobrar sua capacidade de geração de
energia nuclear até 2050 para atingir as metas de frear o aquecimento global e
manter em 1,5ºC a crescente elevação da temperatura do planeta.
Os efeitos das mudanças climáticas se devem, em grande parte, ao uso de combustíveis fósseis, como o petróleo e seus derivados. E ainda que essa relação direta seja debatida, com avanços na produção dos carros elétricos e híbridos, há um clamor nos países ricos por uma energia que seja mais “verde”. Gigantes da indústria multinacional têm se adaptado a esse novo modo e exemplos não faltam.
Por que apostar
Mas
algumas autoridades no assunto defendem que, se quisermos levar a sério a
segurança na geração de energia e a preservação do meio ambiente, devemos
necessariamente considerar a energia nuclear.
É o
que pensa, por exemplo, o professor de engenharia nuclear Jacopo Buongiorno, do
prestigiado Instituto de Tecnologia de Massachusetts/MIT. Segundo ele, para que
o tema seja recolocado em pauta, é preciso que haja redução de custos na
implantação de novas usinas e modernização das que já existem. Afinal, a
energia nuclear é uma das formas mais baratas disponíveis em relação a custo e
eficiência de geração.
Atualmente,
porém, há muitos atrasos e empecilhos burocráticos impedindo maior dinamismo na
implementação dessas usinas e investimentos da iniciativa privada. A França,
por exemplo, gera 80% de sua eletricidade a partir das usinas nucleares; já os
Estados Unidos produzem apenas 20%.
Ao todo, 44 novas usinas estão em construção em diversos países. Entre eles o Brasil, com a retomada das obras da usina de Angra 3, em Angra dos Reis/RJ. Nosso imenso potencial hidrelétrico levou o país durante décadas a desconsiderar a importância de se investir em energia nuclear.
Vista aérea das obras da usina nuclear Angra 3, na cidade de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
Vale
lembrar que usinas hidrelétricas não são formas “verdes” de geração de energia.
Há um impacto ambiental enorme, primeiro com barragens e alagamentos de grandes
áreas de florestas. Depois, todo material
orgânico que ficou submerso apodrece e gera enorme emissão de gases de efeito
estufa. Isso sem contar o custo altíssimo das construções.
Do
ponto de vista ambiental, a energia nuclear é imbatível. Sem expelir gases
poluentes, não libera nada na atmosfera — nem dióxido de carbono/CO2,
nem enxofre, nem mercúrio.
Também precisa de pouco espaço. Uma usina de reator duplo que ocupa cerca de 400 mil metros quadrados tem capacidade de abastecer 2 milhões de residências. É o caso, por exemplo, de Angra 1 e Angra 2, que juntas podem fornecer energia elétrica para mais de 3 milhões de residências.
Os políticos verdes cometeram um grande erro quando demonizaram a energia nuclear.
Com
sua “taxonomia para atividades sustentáveis”, de 2020, a União Europeia
encontrou um modo de usar o Banco Central Europeu para direcionar os mercados
de capitais, subsidiando de forma direta as despesas com juros dos projetos de
investimentos “verdes”. Muitos políticos europeus, em especial, os dos partidos
Verdes em países de fala germânica, aplaudiram tal abordagem. Agora, porém, o
sentimento passou a ser o de desolação, ao terem tomado conhecimento que a
Comissão Europeia, sob pressão da França, classificará a energia nuclear como
um tipo de energia verde.
E o
lixo nuclear?
Uma
preocupação, por outro lado, é com o resíduo gerado pelas usinas nucleares.
Conhecido como lixo nuclear, trata-se de um subproduto das reações de fissão
nos reatores, e que é altamente radioativo.
Técnicas
modernas permitem remover o combustível em segurança e reprocessá-lo para
produzir mais. Isso tem reduzido drasticamente a quantidade de lixo que
precisaria ser armazenada.
Gostamos
de exemplificar isso afirmando que se uma pessoa usasse energia nuclear durante
toda sua vida, o lixo resultante seria suficiente apenas para encher uma
latinha de Coca-Cola! Agora compare isso com as milhares de toneladas de
plástico e outros resíduos que descartamos todos os dias.
Passados os temores de antigamente, a energia nuclear hoje é uma excelente ideia. Tomara que o Brasil não perca o bonde dessa história e assuma seu protagonismo como potência ambiental.
*Marcelo Lapola é pesquisador, doutorando em Física pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). (revistagalileu)
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