sábado, 20 de janeiro de 2024

Expansão das renováveis vive melhor ritmo em três décadas

Expansão das renováveis vive melhor ritmo em três décadas, diz AIE

Adições globais de energia solar e eólica subiram 50% em relação a 2022, atingindo 510 GW e recordes no Brasil, China, EUA e Europa, mas financiamento para economias emergentes e em desenvolvimento ainda é um gargalo.
A capacidade global para as energias renováveis está vivendo seu maior ritmo de expansão das últimas três décadas, segundo um novo relatório publicado pela Agência Internacional de Energia (AIE). O crescimento apontado é de 50% no ano passado, atingindo quase 510 GW e com a fonte solar respondendo por três quartos das adições em todo o mundo. O maior incremento foi da China, com resultados semelhantes ao somatório de todo planeta em 2022, enquanto as implementações de aerogeradores aumentaram 66% em termos anuais. Europa, Estados Unidos e Brasil também atingiram recordes históricos na ampliação da potência instalada.

A análise é a primeira mais abrangente das tendências globais de implantação desses tipos de projetos desde a conclusão da conferência COP28 em Dubai, durante em dezembro. O levantamento indica que sob as políticas e condições de mercado existentes, é esperado que as tecnologias verdes cresçam para 7.300 GW até 2028, um volume considerado pela entidade como ‘uma oportunidade real’ de alcançar o objetivo de triplicar a capacidade até 2030, meta estabelecida na conferência sobre alterações climáticas no mês passado.

De acordo com a pesquisa, os painéis fotovoltaicos e as turbinas eólicas são responsáveis por 95% da expansão, ultrapassando o carvão para se tornarem a maior fonte de produção de eletricidade no mundo no início de 2025. Entretanto, apesar do crescimento sem precedentes nos últimos 12 meses, são precisos mais esforços, como maior aproximação com os governos, sobretudo para soluções de financiamento em países emergentes ou em desenvolvimento. Além desse mote e da triplicação das renováveis, o pacto firmado na COP28 fala em duplicar a eficiência energética, reduzir as emissões de metano e abandonar os combustíveis fósseis.
Projeção aponta que painéis fotovoltaicos e aerogeradores cresçam para 7.300 GW até 2028 (AIE).

Desafios e caminhos

Para a AIE, o sucesso desses movimentos varia significativamente conforme cada região e tecnologia. Num caso apresentado, a implementação mais rápida de políticas impulsionaria o crescimento da capacidade renovável 21% acima da previsão principal. Mas para países em desenvolvimento isso significaria enfrentar desafios como a incerteza política num ambiente econômico frágil, investimento insuficiente em infraestruturas de rede para acomodar maiores quotas de energia limpa, além das barreiras administrativas que atrasam os projetos.

Nas economias emergentes avançadas e de grande dimensão, o acesso ao financiamento, uma governança forte e quadros regulamentares robustos são fatores tidos como essenciais para reduzir o risco e atrair recursos, incluindo o estabelecimento de novas metas e políticas em nações onde ainda não existem.

Em seu trabalho publicado, a agência nutre expectativas de que a implantação da energia fotovoltaica e eólica onshore até 2028 mais que duplique nos Estados Unidos, União Europeia, Índia e Brasil na comparação com os últimos cinco anos. Um bom indicativo é o preço dos módulos diminuindo quase 50% no ano passado em relação a 2022, com reduções de custos e implantação. Assim, a capacidade de produção global deverá atingir 1.100 GW até ao final de 2024, excedendo significativamente a procura.

Em contrapartida, a indústria dos aerogeradores fora da China enfrenta um ambiente mais desafiador, devido a uma combinação de perturbações contínuas na cadeia de abastecimento, custos mais elevados e longos prazos de licenciamento, que exigem uma maior atenção política.

Brasil

A América Latina adicionará mais de 165 GW de capacidade de energia renovável de 2023 a 2028. Quatro mercados representam 90% das adições da região e o Brasil e de longe o líder com 108 GW. Bem atrás vem o Chile (25 GW), México (10 GW) e Argentina (4 GW). As implementações diminuem ao longo do período de previsão devido ao crescimento mais lento por aqui, o maior mercado da região. A energia hidrelétrica representou mais da metade das adições entre 2011 e 2016, mas desde então caiu significativamente e representará apenas 5% daqui prá frente.

No Brasil, que representa quase 90% dos quase 50 GW de adições de energia solar para a América Latina, acordos bilaterais no mercado livre permitiram mais de 85% das adições de energia solar e eólica em geração centralizada no período de previsão. Na Argentina, até 80% das adições são provenientes de PPAs corporativos, enquanto a maioria das adições no Chile se dá através de PPAs corporativos ou projetos comerciais.

Hidrogênio e biocombustíveis

O relatório também fornece uma verificação sobre a dinâmica por trás do hidrogênio verde, avaliando quantos projetos anunciados têm probabilidade de avançar. De todos firmados nesta década, espera-se que apenas 7% da potência proposta esteja operacional até 2030. O ritmo lento derivaria de uma decisão de investimento combinado com o apetite limitado dos compradores, além do aumento da produção custos. Para convencer plenamente os investidores, a visão é de que os anúncios ambiciosos terão de ser seguidos de políticas consistentes de apoio à demanda.

No ano que passou, o papel dos biocombustíveis também ganhou destaque. Nas economias emergentes, lideradas pelo Brasil e Índia, a perspectiva é de um impulsionamento de 70% da procura global nos próximos 5 anos, à medida que esse tipo de insumo começa a mostrar o seu verdadeiro potencial em setores difíceis de descarbonizar, como o de aviação. No entanto o relatório mostra que esse movimento não está acontecendo com rapidez suficiente, sendo necessário um aumento significativo na procura até 2030 para alinhar os biocombustíveis a um caminho de menos emissões.

(canalenergia)

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