Projetos fáceis e baratos colocam o País em terceiro lugar no MDL, mas no futuro será preciso ousar mais
Quando o mercado mundial de carbono começou a funcionar, em 2005, o Brasil saiu na frente. Um projeto nacional – o programa NovaGerar, do aterro sanitário de Nova Iguaçu (RJ) – foi o primeiro a ser certificado pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), lançando uma expectativa de que o País poderia assumir a liderança desse mercado. Passados três anos, no entanto, Índia e China superaram o Brasil em números de projetos. Dos 1.078 registrados até segunda-feira, 163 eram brasileiros, 303 eram chineses e 423, indianos.
Em parte, essa diferença ocorre pelo fato de o Brasil ter uma matriz energética mais limpa. Enquanto a maior parte da energia elétrica brasileira é hídrica, Índia e China usam carvão mineral.
Esse tipo de usina emite uma quantidade tão alta de gás carbônico (a geração de energia é o setor campeão em emissões em todo o mundo) que qualquer interferência no processo promove reduções drásticas.
Ao diminuir as perdas e melhorar a eficiência energética, a usina consegue obter um projeto de MDL. Isso sem nem mudar o combustível, o que deixa tudo mais barato para os dois países. No Brasil, trocar a matriz energética significa, em alguns casos, implantar fontes alternativas, como a eólica, que são mais caras.
Criar projetos de MDL nos países em desenvolvimento é mais barato que nas nações ricas, além de ser a forma de colocar todos os países do mundo colaborando com a redução das emissões de gases-estufa. Isso porque nos países em desenvolvimento ainda há muito a ser feito. Transformar um lixão em aterro é mais fácil aqui. É um crédito relativamente barato de se obter. Na Europa, isso não existe mais, tudo já foi desenvolvido, então as alternativas começam a ficar mais caras.
Vários projetos brasileiros se valem justamente disso e estão obtendo créditos de carbono com aterros sanitários. A decomposição do lixo orgânico tem como subproduto o metano (CH4), o segundo principal gás de efeito estufa, que, apesar de estar na atmosfera em uma quantidade bem menor que o CO2, tem um potencial de aquecimento muito maior, de 21 vezes a do gás carbônico. Aterros do Brasil conseguiram emplacar projetos de MDL ao queimar metano, transformando-o em CO2, menos pior para o efeito estufa.
O primeiro projeto brasileiro, o Nova Gerar, funciona assim. Os aterros Bandeirantes e São João, que sugiram depois em São Paulo, ganham dinheiro não só com o crédito de carbono obtido, mas com a venda de energia. Em vez de queimar o CH4 eles alimentam uma miniusina com ele. Os dois aterros têm capacidade de gerar 20 megawatts por hora, o suficiente para abastecer uma cidade de 200 a 300 mil habitantes.
Somente com as atividades do aterro Bandeirantes já foram feitas duas vendas de créditos de carbono. A mais recente, em setembro, ocorreu no primeiro leilão de carbono realizado no Brasil, na Bolsa de Mercadorias & Futuros, e rendeu à Prefeitura de São Paulo quase R$ 35 milhões. O investimento na usina, feito em 2003, foi de R$ 25 milhões.
PROJETOS MAIS AMBICIOSOS
Em 2007, o mercado mundial de carbono dobrou, movimentou US$ 64 bilhões, de acordo com levantamento do Banco Mundial. Mas, ao mesmo tempo em que comemorou o sucesso econômico do negócio, o órgão argumentou que pode haver em breve uma estagnação. Acredita-se que os projetos mais fáceis de implantar, como o de aterros, podem estar chegando a um limite. Ainda que no Brasil a demanda por esse tipo de investimento seja grande, uma hora ele e outros que envolvem melhoria de eficiência energética chegarão ao limite.
“A encruzilhada em que países como o Brasil estão é justamente a das energias mais limpas. Na medida que nosso parque energético e nossas indústrias em geral tornam-se mais limpos, nossa capacidade de instalar ou renovar projetos de MDL diminui. No caso do Brasil, ainda temos muitas outras oportunidades, mas vai diminuindo o que podemos fazer dentro de Kyoto”, explica Antonio Lombardi, gerente de Produtos para Sustentabilidade do Banco Real. “Nesse sentido, projetos pequenos vêem sua viabilidade econômico-financeira sair pela janela. A alternativa é o estabelecimento de metas mais severas para o próximo período de compromisso. Esse aumento de demanda pode fazer com que a baixa oferta justifique uma alta de preços que embale a viabilização de projetos.
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