Ex-presidente americano, afirma que País tem de mostrar que produção de cana não afeta o meio ambiente.
Convidado de honra do Ethanol Summit 2009, o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton falou o que ninguém queria ouvir em um evento feito para promover o combustível no mercado internacional. Na avaliação dele, o Brasil ainda precisa provar para o mundo que é capaz de produzir combustível renovável de forma sustentável.
"Se o mundo resolver ajudar o Brasil e importar mais etanol para resolver seu problema, poderemos aumentar a devastação da Amazônia", disse o ex-presidente, deixando a platéia meio desconcertada. Horas antes, representantes do setor davam como superada a polêmica sobre o impacto da cana-de-açúcar na Amazônia.
A palestra de Clinton foi a mais esperada do evento, que mais cedo contou com as presenças da ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff; do governador de São Paulo, José Serra; do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab; e do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, entre outros convidados.
Cerca de uma hora antes da apresentação do ex-presidente americano, os representantes do setor, que se inscreveram para participar da palestra, já faziam fila à porta do auditório. Antes que todos se acomodassem em seus assentos, no entanto, policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) vasculharam o local para assegurar tranquilidade ao palestrante.
Clinton foi recebido pelo presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Marcos Jank, que em seu discurso falou sobre as vantagens do etanol e da necessidade de o mundo derrubar as barreiras protecionistas contra o produto. "A energia limpa deveria circular pelo mundo sem barreiras, como ocorre com o petróleo, que é finito e caro."
Além de Jank, Clinton foi recebido também por crianças atendidas pelo projeto de Educação para a Paz, da cidade de Frutal, que lhe entregaram alguns presentes típicos do setor sucroalcooleiro. Em seguida, ele iniciou seu discurso e evitou falar muito sobre as tarifas que seu país impõe sobre o etanol brasileiro. Por outro lado, bateu bastante na tecla de que o Brasil precisa diminuir o desmatamento da Amazônia.
Segundo Clinton, o País tem de demonstrar que é possível reduzir as emissões de gás carbônico do mundo sem provocar danos à sua própria natureza. "O Brasil terá de resolver esse problema interno, local, para depois tentar resolver o problema global", disse o ex-presidente.
Ele destacou que 75% da emissão de gases poluentes causadores do efeito estufa no Brasil decorre da agricultura e do desmatamento - número que coloca o País em oitavo lugar no ranking de emissões, ao lado de China e Índia. "Se a importação de etanol aumentar, o País terá de elevar o plantio da cana em áreas de pastagem, o que vai empurrar a soja e o gado para a Amazônia."
Apesar da crítica, Clinton afirmou que o mundo já conhece o potencial do etanol feito da cana-de-açúcar, muito mais eficiente que os combustíveis feitos de outras fontes primárias, como o milho, nos Estados Unidos. Por isso, ele acredita que o Brasil precisa tomar algumas medidas que assegurem a sustentabilidade do combustível. "A partir daí vocês terão uma aceitação muito melhor no mundo."
O ex-presidente disse ainda que o Brasil pode ser líder mundial na questão da eficiência energética, assim como fez na produção de energia. "Vocês podem liderar nosso caminho para um futuro melhor", disse Clinton, que minutos antes havia brincado com a frase do presidente Lula de que "a crise mundial foi criada por homens de olhos azuis", arrancando risos da plateia.
Clinton cobrou trabalho conjunto entre Brasil e Estados Unidos para o desenvolvimento de um modelo de agricultura sustentável, que valorize a redução de emissões e o crédito de carbono.
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