Grandes empresas unem-se a pequenas companhias para desenvolver tecnologia nova para biocombustível
Durante décadas, as grandes companhias de petróleo e o lobby agrícola disputaram sobre o etanol, com os fazendeiros promovendo uma maior produção dele e os refinadores argumentando que ele era ineficiente e pouco faria para solucionar os problemas energéticos do país.
Então, por que técnicos da gigante BP estão trabalhando numa usina experimental de etanol em Jennings, ajudando-a a se tornar mais eficiente? Os inimigos de outrora estão gradualmente aprendendo a se entender porque parece que os refinadores veem uma necessidade cada vez maior de se envolver na produção de etanol. O etanol, fabricado principalmente a partir do milho, representa hoje cerca de 9% do mercado de combustíveis do país. E essa porcentagem está crescendo. Com a sede por gasolina do país, e pelo etanol que é misturado a ela, que deve se reanimar quando a economia o fizer, as companhias de petróleo querem estar em posição de tirar plena vantagem da situação.
O interesse manifestado pelas grandes petrolíferas está chegando no momento oportuno para pequenas empresas que precisam desesperadamente de capital e não o conseguem em mercados privados.
Tome-se o caso da Verenium Corp., uma pequena companhia de Cambridge, Massachusetts, que está testando em Jennings biocombustíveis em cooperação com a BP. Em vez de etanol produzido a partir de culturas de alimentos, os parceiros estão idealizando uma versão a partir de gramíneas da família da cana-de-açúcar.
Os experimentos são uma preparação para construir uma segunda usina de US$ 250 milhões na Flórida com a capacidade de produzir 36 milhões de galões por ano de novos biocombustíveis - a primeira usina comercial de seu tipo construída com dinheiro e expertise de companhias petrolíferas. Cientistas da Verenium já desenvolveram um caldo secreto de enzimas e micróbios que fermentam e destilam biomassa em etanol. Agora a BP está contribuindo com expertise técnica para regular as temperaturas e pressões nos tanques.
O sucesso comercial não é garantido, é claro. Mas o fato de uma grande petrolífera fazer uma aliança com objetivos comerciais com a Verenium é considerado uma inovação para muitos executivos do etanol.
Há dois anos apenas, a BP contabilizava apenas um investimento minúsculo em biocombustíveis. Mas desde então, a companhia comprometeu US$ 1,5 bilhão em vários projetos. Além de seu trabalho com a Verenium, ela entrou numa parceria com uma empresa brasileira no ano passado para produzir o etanol de cana-de-açúcar.
As lições aprendidas na Louisiana poderão ajudar a converter a cana brasileira em biocombustíveis mais avançados, dizem pesquisadores, produzindo uma nova reserva potencialmente enorme para a BP.
A BP também fala com otimismo sobre uma parceria com a DuPont para testar a produção de biobutanol, um combustível de álcool líquido avançado que é produzido das mesmas plantas alimentícias que os etanóis avançados e é compatível com os oleodutos e os motores existentes. Executivos dizem que o combustível poderá começar a ser produzido em grandes quantidades até 2013.
Podemos ver os biocombustíveis como um reservatório potencial realmente grande. Uma empresa de energia entrar na agricultura de cana-de-açúcar é uma medida muito significativa. As companhias de petróleo ainda estão céticas sobre o etanol convencional, especialmente o tipo produzido do milho, que, segundo elas, corrói oleodutos e é ineficiente.
A usina de Jennings é apenas um sinal de que as grandes companhias de petróleo estão aceitando os biocombustíveis ainda que de mal grado - em particular, aqueles feitos de restos e fontes não alimentares, que não carregam o estigma do etanol de milho de elevar o preço dos alimentos.
As petrolíferas dizem também que à medida que o petróleo bruto vai se tornando cada vez mais difícil e caro de encontrar, os biocombustíveis poderão reforçar suas reservas.
Haverá uma demanda para todos esses combustíveis, 1% dos combustíveis de transporte do mundo que é hoje biocombustível poderia facilmente ser 10% na próxima década. A Shell foi a primeira grande petrolífera a se aventurar significativamente nos novos biocombustíveis, em 2002 quando forneceu dinheiro uma companhia canadense, a Iogen Corp., para pesquisar a fabricação de etanol de sobras vegetais.
A Shell formou parcerias com pequenas companhias que trabalham melhorando enzimas que decompõem várias plantas, materiais e dejetos para etanol, produzindo combustíveis de algas e biogasolina de líquidos açucarados derivados de vegetais. A Chevron formou uma joint venture com a Weyerhaeuser para desenvolver biocombustíveis de sobras de madeira.
Valero Energy Corp., a maior refinadora de petróleo do país, abocanhou sete usinas de etanol de milho da VeraSun Energy nos últimos meses desde que a VeraSun entrou com pedido de concordata no final de 2008.
Se dependermos demais das grandes petrolíferas para avançar a agenda do biocombustível, estaremos usando grandes volumes de petróleo ainda por muitos e muitos anos. Mas, tomados em conjunto, os projetos de pesquisa e acordos são um forte contraste com os projetos reduzidos de petrolíferas em outras fontes de energia alternativas como hidrogênio e solar. E a ajuda é bem-vinda para pequenas companhias empreendedoras que são boas em novas tecnologias, mas fracas em capital.
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