domingo, 30 de agosto de 2009

USP desenvolve técnica ultrarrápida para produzir biodiesel

Pesquisadores da USP desenvolveram uma técnica para transformar em biodiesel, óleos vegetais já danificados pelo processo de fritura e a borra de soja, um resíduo da indústria de óleo alimentício.
A técnica reduz o tempo da reação química de 24 horas para 30 minutos e barateia o processo. O segredo foi usar um catalisador diferente na reação, feito com os metais cobre e vanádio.
Como é produzido o biodiesel
Para produzir biodiesel é necessário que haja a reação do óleo vegetal puro com álcool. "Mas a reação só acontece se houver um catalisador no recipiente. Essa substância é o cupido que junta o óleo com álcool e transforma-o em biodiesel e glicerina", compara Miguel Dabdoub, químico e professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) em cujo laboratório a técnica foi desenvolvida. "Depois da reação, é possível recuperar o catalisador"
Contudo, o catalisador utilizado comumente no Brasil é a soda cáustica, que não funciona muito bem para transformar óleos de fritura, óleos não-refinados em biodiesel. Esses tipos de óleo contem diferentes percentuais de ácidos graxos, que reagem com a soda e viram sabão. A outra porcentagem vira biodiesel. A borra de soja é o ácido graxo extraído de óleos vegetais e por isso também não pode ser transformada em biodiesel. A reação comum demora um dia inteiro para acontecer.
"Sabão não se utiliza em ônibus e caminhões", destaca Dabdoub. "Imagine uma fábrica média, que produza cerca de 100 milhões de litros de biodiesel por ano, com óleo residual de cozinha com 7% de ácidos graxos. Há uma perda de cerca de 7 milhões de litros, que viram sabão. Como o governo paga cerca de R$ 2,30 por litro de biodiesel atualmente, essa empresa teria R$ 16 milhões jogados fora todo ano. Esse dinheiro é suficiente para pagar a mudança de tecnologia".
Catalisador de vanádio e cobre
Os pesquisadores do Laboratório de Tecnologias Limpas (LADETEL), chefiados por Dabdoub, passaram dois anos tentando descobrir uma maneira de tornar esse processo mais barato, eficiente e rápido. Eles fizeram dezenas de reações no laboratório para descobrir os catalisadores, pressão, temperatura, proporções dos reagentes e concentração de álcool ideal para que a reação acontecesse.
A conclusão da pesquisa foi que a melhor maneira de produzir biodiesel a partir de óleo jogado fora é com um catalisador feito com os metais vanádio e cobre. "Ele não se dissolve no óleo e por isso pode ser recuperado facilmente no final da reação", explica Márcia Rampim, uma das pesquisadoras envolvidas no projeto. A nova reação também é muito eficiente. "Com 1 litro de óleo de cozinha, produzimos 1 litro de biodiesel e 100 ml de glicerina".
Biodiesel mais barato e menos danos ao meio ambiente
No Brasil consome-se em torno de 19 litros per capita de óleo por ano, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetal (ABIOVE). Se considerarmos que 12 litros desse óleo não sejam absorvidos pelos alimentos, que é uma estimativa muito conservadora, são cerca de 7 litros de óleo por pessoa sendo jogados pela pia, indo pelo esgoto, impermeabilizando leitos de rios e contaminando lençóis freáticos e fontes de água, todo ano. Esse óleo e os resíduos da indústria de soja poderiam ser coletados e transformados em biodiesel. Muitas indústrias de alto porte poderiam ser movimentadas no Brasil somente com base no óleo residual. Diminuiríamos o uso de combustíveis derivados de petróleo e carvão mineral, que causam o efeito estufa.
Também ficaria mais barato produzir biodiesel, por que as indústrias economizariam na matéria-prima. "Em vez de pagar cerca de R$ 2.080 por tonelada de óleo vegetal refinado, que é o preço dado pelas comercializadoras, poderei pagar cerca de R$ 550,00 por tonelada de óleo residual, que é o custo da coleta", garante o professor. "E as indústrias ainda poderiam economizar com os custos de remoção da borra de soja. Em 2007, segundo a ABIOVE, a indústria produziu 300 milhões de litros de borra de soja. Uma parte mínima é aproveitada."

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Gasolina verde

Em abril de 2008, pesquisadores nos Estados Unidos anunciaram a descoberta de um processo capaz de converter açúcares derivados da biomassa de plantas em gasolina e óleo diesel. De acordo com John Regalbuto, o diretor do Programa de Catálise e Biocatálise da National Science Foundation (NSF), essa “gasolina verde” deverá estar disponível no mercado dentro de cinco a sete anos, como alternativa complementar ao etanol.
Regalbuto apresentou a inovação, financiada pela NSF, durante o workshop Tecnologias em biocombustíveis e suas implicações no uso da água e da terra, realizado em Atibaia (SP) até o dia 12 de agosto de 2009, no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN).
O evento reúne cientistas do Brasil, Estados Unidos e Argentina com o objetivo de diagnosticar problemas na produção de bioenergia e orientar investimentos de agências de fomento à ciência e tecnologia na busca de soluções em áreas-chave.
Segundo Regalbuto, o processo de produção da “gasolina verde” se baseia em submeter uma pasta aquosa de açúcares e carboidratos vegetais a materiais catalisadores, que aceleram as reações sem se desgastar no processo. Com isso, as moléculas ricas em carbono da biomassa se separam em componentes que se recombinam para formar os mesmos compostos químicos que são obtidos do processamento do petróleo.
“A previsão das empresas que trabalham no desenvolvimento desses hidrocarbonetos de biocombustíveis de nova geração é que a tecnologia estará pronta para licenciamento em 2011. Depois disso, será necessario construir as plantas para produção. Acreditamos que dentro de um período de cinco a sete anos esse produto estará nas bombas de gasolina. É muito menos tempo do se imaginava”, disse Regalbuto à Agência FAPESP.
A principal diferença da tecnologia em relação à produção de etanol, segundo Regalbuto, é que o etanol é fermentado a partir de plantas em um processo que utiliza enzimas para desencadear as reações, enquanto a “gasolina verde” utiliza catalisadores.
Esses catalisadores transformam os açúcares presentes na planta em hidrocarbonetos. Se o uso de enzimas permite um processo mais seletivo, dirigido a um tipo especifico de moléculas, os catalisadores, por outro lado, podem operar em altas temperaturas que normalmente destruiriam as enzimas. Isso permite que as reações sejam milhares de vezes mais velozes.
“A produção de hidrocarbonetos a partir de plantas acaba sendo mais eficiente que a de etanol, porque este último exige uma destilação que requer grandes quantidades de energia, enquanto os hidrocarbonetos se separam automaticamente da água”, afirmou.
Escala de produção
Segundo Regalbuto, com o processo as moléculas da biomassa, ricas em carbono, separam-se em componentes diferentes que se recombinam para formar os compostos químicos que são normalmente obtidos do processamento do petróleo.
“O processo parte do açúcar e termina com a produção dos hidrocarbonetos. Mas antes eles passam por uma fase intermediária, na forma de compostos orgânicos que retêm 95% da energia da biomassa e 40% da sua massa, podendo ser transformados em combustíveis de diversos tipos para o setor de transportes”, explicou.
De acordo com o cientista, os principais desafios para o desenvolvimento atualmente se referem à escala de produção. “Neste momento o principal gargalo diz respeito ao aumento da escala. O processo de pirólise, a reforma da fase aquosa e as abordagens industriais já foram todos demonstrados em plantas piloto. Agora, existem os problemas normais de escala. Mas o desenvolvimento está relativamente avançado”, disse.
Para Regalbuto, que é professor do Departamento de Engenharia Química da Universidade de Illinois, a “gasolina verde” não será um concorrente da produção de etanol, mas uma alternativa complementar.
“Para os Estados Unidos, trata-se de um complemento. Temos atualmente toda a infraestrutura voltada para a produção de etanol de milho, que deverá ser usado para ser misturado à gasolina na proporção de 10%. No entanto, para cumprir a Lei de Segurança Energética, aprovada em 2007 pelo governo norte-americano, será preciso ter à disposição 16 bilhões de galões por ano de derivados de celulose. A partir da lignocelulose, podemos fazer hidrocarbonetos, evitando que tenhamos que ampliar tanto a infraestrutura para o processo de refino do etanol”, disse.
O pesquisador lembrou que existem iniciativas também no Brasil para a produção de diesel a partir da celulose – nesse caso, de cana-de-açúcar. “Mas isso seria igualmente complementar. O Brasil tem toda uma infraestrutura e um desenvolvimento tecnológico avançado para a produção do etanol e não vai desperdiçar o que foi investido nisso. O etanol veio para ficar. Os hidrocarbonetos serão, então, uma opção para algumas indústrias específicas, como a de aviões, caminhões pesados e barcos de grande porte.
Esses setores de transportes pesados deverão necessitar da alta densidade de energia da gasolina mesmo quando energias limpas – como a solar, eólica e todas as bioenergias – estiverem altamente desenvolvidas, segundo ele.
“O Brasil, além disso, com sua produção competitiva de cana-de-açúcar, poderá ter uma opção a mais – isto é, além de produzir etanol, também poderá fazer gasolina e diesel”, disse.
Recordista em energias renováveis
A mesa de abertura do workshop Tecnologias em biocombustíveis e suas implicações no uso da água e da terra teve a participação do diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, do presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Marco Antonio Zago, de Cynthia Singleton, da NSF, e de Ernesto Quiles, do Ministério da Ciência e Tecnologia da Argentina.
Brito Cruz destacou a importância da discussão sobre biocombustíveis para o Brasil, observando que o país se destaca mundialmente por uma singularidade: é o recordista em uso de energias renováveis. "Nenhum outro país industrializado tem 46% de toda a energia utilizada com base em fontes renováveis. A média mundial é de 13% e a dos países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] não passa de 6%", destacou.
Segundo ele, partindo da necessidade urgente de lidar com o aumento do custo de importação do petróleo, no início da década de 1970, o Brasil foi forçado a encontrar alternativas em curto prazo e apostou no etanol. A escolha elevou a produção nacional a mais de 12 bilhões de litros por ano em meados da década de 1980. Depois de um período de incerteza na década de 1990, causado pela instabilidade do fornecimento, em 2003 os carros flex fuel passaram a dominar o mercado e o etanol voltou a ganhar espaço.
Em 2005, o país já era o segundo maior produtor de etanol do mundo, chegando a 25 bilhões de litros. Hoje, 90% dos veículos vendidos são flex fuel, não há mais gasolina sem mistura no Brasil e 33 mil postos de gasolina, dos 36 mil existentes, vendem etanol. O consumo já ultrapassou o da gasolina. Podemos dizer hoje que o combustível alternativo no Brasil é a gasolina e não o etanol.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Energia produzida do bagaço da cana é economicamente viável

A produção de energia elétrica através do bagaço de cana-de-açúcar é plenamente viável do ponto de vista econômico e atrativa para as usinas. A afirmação é do contador Paulo Lucas Dantas Filho, que defendeu recentemente uma dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Energia ligado ao Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP. Para ele, além das vantagens ambientais, cria-se também uma terceira fonte de renda bastante significativa para os produtores de açúcar e álcool.
A pesquisa foi feita a partir de um estudo de caso onde foram analisadas quatro usinas de cana-de-açúcar na região de Catanduva, no interior de São Paulo. Segundo o pesquisador, o critério adotado foi que as usinas deviam ser auto-sustentáveis, ou seja, toda energia consumida por ela devia ser produzida a partir do bagaço de cana. Além disso, o excedente energético produzido deveria estar sendo vendido para a concessionária responsável pela distribuição de energia na região.
O processo de produção de energia elétrica a partir do bagaço de cana-de-açúcar é, atualmente, totalmente automatizado e inserido dentro da linha de produção das usinas. Após a planta ser colhida e levada até a usina, ela passa por três moendas, o produto da primeira moagem vai para a produção de açúcar, na chamada “moagem de 1ª linha”, já na segunda e na terceira moagem o que é produzido é o álcool combustível. O que resta da cana é o bagaço, que é levado por uma esteira até a caldeira que realiza a queima. Depois de passar pelas turbinas e geradores, o vapor produzido na queima gera a energia elétrica.
Com relação ao possível dano ambiental causado pela fumaça produzida na queima do bagaço Dantas afirma que filtros recolhem a fuligem produzida. “Não sobra nada da cana, eles aproveitam tudo. A própria fuligem acaba se tornando adubo para plantios futuros”, completa.
Rentabilidade e custos
Segundo Dantas, a produção de energia elétrica a partir do bagaço de cana possui diversas vantagens econômicas. Para ele a principal vantagem é que esse processo se torna uma terceira fonte de receita das usinas que a utilizam, podendo gerar até uma quarta fonte renda, a emissão de créditos de carbono sob as regras do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), créditos estes comercializáveis em bolsas de valores.
“É um processo natural. Ao gerarem a energia limpa, automaticamente eles estão habilitados para requerem os projetos para certificação de emissão de créditos de carbono. É um caminho natural até”, destaca o pesquisador. Como ele mesmo ressalta, porém, não se trata se um processo simples, uma vez que os créditos são emitidos diretamente pela Organização das Nações Unidas (ONU), o que torna a ação algo caro e relativamente demorado, na ordem de 2 a 3 anos.
Por outro lado, ele compreende que o investimento inicial para a produção de energia é bastante alto. Segundo suas pesquisas, giram em torno de R$ 1,4 milhão por Megawatt (MW) produzido. As usinas por ele analisadas, por exemplo, produzem entre 40 e 50 MW.
Dantas esclarece que mesmo assim trata-se de um investimento bastante viável uma vez que o tempo de retorno do capital aplicado está entre 5 e 7 anos. “Os investimentos industriais, por exemplo, são da ordem de 12 a 13 anos para retorno de negócio”, comenta o contador. Outra vantagem na implantação deste sistema de produção de energia é a venda do excedente para as concessionárias. Dantas aponta que se trata de contratos longos, da ordem de 20 anos, que garante uma fonte de renda muito menos vinculada às oscilações de mercado.
Poucas perdas
Dantas explica que há poucas perdas de energia, se comparado com a eletricidade produzida nas grandes usinas. "Como a energia produzida vai para as centrais de distribuição de cidades próximas, há muito menos perda", garante. Além disso, o período de safra da cana, de março a novembro, coincide com as épocas em que a oferta hidrelétrica é normalmente menor, por causa da diminuição das chuvas.
Para o pesquisador, o principal diferencial do aproveitamento do bagaço da cana é a importância ser uma energia renovável que pode contribuir com a redução na emissão de gases que provocam o efeito estufa. Ele acredita ainda que o potencial de produção de energia deva aumentar nos próximos anos por dois motivos. O primeiro está ligado a evolução tecnológica. Mesmo com um possível aumento de custos o aumento da produtividade compensaria os gastos com investimento. O segundo está na redução das queimadas no momento do corte da cana. No caso de São Paulo, por exemplo, uma resolução estadual obriga que, até 2017, as queimadas sejam extintas, o que possibilitaria o aproveitamento da palha e da ponta da cana-de-açúcar, perdidas nesse modelo de colheita. A matéria-prima (bagaço) somada à ponta e à palha tende a aumentar em 30% a capacidade de produção de energia.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Produção de biocombustíveis prejudica países pobres

A produção de biocombustíveis em escala industrial agrava problemas sociais e ambientais nos países pobres, inclusive o Brasil, advertiu a ONG britânica Christian Aid em um relatório divulgado nesta segunda-feira.
O relatório cita especificamente a falta de direitos trabalhistas dos trabalhadores, como em algumas plantações no Brasil --principal exportador e segundo produtor de biocombustíveis no mundo. Além disso, aponta ainda os deslocamentos forçados de agricultores na Colômbia e ao aumento dos preços dos alimentos, especialmente na América Central.
"Se está usando grandes somas de dinheiro dos contribuintes americanos e europeus para apoiar indústrias que agravam a fome, promovem graves violações dos direitos humanos além da destruição ambiental, e que não cumprem os benefícios prometidos", diz Eliot Whittington, autor do estudo "Growing Pains" ("Sofrimento Crescente").
Além disso, a ONG observa que alguns combustíveis, ao invés de combater as alterações climáticas, provocam mais emissões de gases de efeito estufa que os combustíveis fósseis, devido à devastação causada pela necessidade de adquirir terras aráveis.
Segundo a Christian Aid, o problema não são os biocombustíveis, mas as políticas que favorecem sua produção em grande escala para abastecer a crescente demanda dos países desenvolvidos para o transporte.
A organização lamenta que os países desenvolvidos como os Estados Unidos, já gastaram bilhões de dólares em subsídios à produção de biocombustíveis, quando haveria maneiras mais baratas e mais eficazes de se reduzir as emissões de dióxido de carbono provenientes do transporte.
A Christian Aid acredita, no entanto, que os biocombustíveis têm potencial para ajudar as 2,4 bilhões de pessoas que atualmente não têm garantido o combustível necessário para se alimentar e para o aquecimento.
Mas a organização acredita que é necessária a adoção de novas políticas para que os menos favorecidos tenham acesso a energia limpa.
Os políticos devem rever urgentemente suas opiniões sobre os biocombustíveis para garantir que apenas as culturas e os combustíveis que assegurem a integração social e ambiental recebam apoio do governo.

sábado, 22 de agosto de 2009

País tem alta tecnologia de etanol de 2ª geração

Cientistas da Embrapa Agroenergia desenvolvem pesquisas para caracterizar a parede celular da cana-de-açúcar. Os trabalhos estão em andamento no Laboratório de Genética Molecular da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em parceria com o Instituto de Botânica da Universidade de São Paulo (USP).
A pesquisa consiste no fracionamento da parede celular de cana-de-açúcar baseado no perfil de monossacarídeos neutros e na identificação de genes-chave envolvidos na modificação da parede. Será possível compreender melhor a composição e estrutura da parede celular, para aumentar a produção de etanol de 2ª geração. O trabalho é inovador, declara Hugo Molinari, pesquisador da Embrapa Agroenergia, pois é uma abordagem que relaciona a modificação da parede celular ao processo de senescência foliar, ou seja, um processo de envelhecimento natural das plantas.
Durante esse processo, a planta sofre uma série de modificações tanto estruturais quanto bioquímicas. A idéia é melhor entender este processo para então modificar a parede celular no sentido de deixá-la mais frouxa e, assim, diminuir o gasto energético do processo produção de bioetanol.
A pesquisa é apresentada no 9th ISSCT Germoplasm and Breeding Workshop, em Cairns, na Austrália, no período de 17 a 21 de agosto de 2009. O trabalho é objeto de estudo da aluna Maria Thereza Martins, do curso de mestrado em Ciências Genômicas da Universidade Católica de Brasília (UCB), sob a orientação dos pesquisadores da Embrapa Agroenergia Hugo Molinari e Betânia Quirino.
Cientistas já conseguiram caracterizar o perfil de monossacarídeos neutros da parede celular da cana-de-açúcar durante o processo de senescência foliar. O próximo passo, que já está em andamento, é estudar o padrão de expressão gênica de 16 enzimas pré-selecionadas, relacionadas com a síntese e degradação da parede celular. Desta forma, será possível selecionar enzimas para a manipulação gênica da cana-de-açúcar.
O Brasil é o maior produtor mundial da cultura, com área plantada de aproximadamente 9,4 milhões/ha, de acordo com dados da Conab. O País é líder mundial no mercado do etanol e com perspectivas de se manter neste patamar com o avanço das pesquisas com o etanol de 2ª geração. A Austrália, país sede do evento, ocupa a 8ª posição no mundo com área plantada desta cultura, equivalente as plantações de cana-de-açúcar do Estado de Pernambuco.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Governo apóia Programa Biodiesel na Amazônia

Sepe/Pará Rural priorizam agricultura familiar em Igarapé-Açu.
Apresentado e debatido no dia 13/08/2009 na sede do Pará Rural em Igarapé–Açu, o Programa Nacional de Incentivo ao Biodiesel na Amazônia da Petrobrás que será desenvolvido no Pará, tendo como suporte a Agricultura Familiar. A fonte de matéria prima para os projetos do Biodiesel é à palmeira Dendê, cultivada na região do nordeste paraense.
O programa propõe a partir do Dendê, a produção de óleo vegetal com fins energéticos e segurança alimentar no Estado do Pará.
A implantação do programa na região conta com o apoio do governo do Pará e beneficiará centenas de agricultores familiares, no município de Igarapé-Açu região de integração do Guamá, localizado a 120 quilômetros da capital Belém.
O secretário Marcílio Monteiro, apresentou aos técnicos da Petrobrás e do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) as diretrizes da política do governo do Pará para o Biocombustível e as ações do Pará Rural junto à base produtiva, com prioridade para a agricultura familiar.
O Pará Rural com atuação em todo o território paraense tem como parceiros em suas ações estratégicas a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), o Instituto de Terras do Pará (Iterpa), a Emater/Pará e o Instituto de Desenvolvimento Florestal (Ideflor),
Fontes de instituições de pesquisa na região garantem que a prática da agricultura ecológica é executada com a substituição da queima da mata pela trituração da capoeira utilizando a matéria orgânica como adubo para o solo. Esta prática credencia a região para projetos sustentáveis.
O Programa de Incentivo ao Biodiesel na Amazônia foi apresentado pelo técnico Gabriel da Silva Rocha da área de Biodiesel da Petrobrás, ao técnico da Secretaria Nacional de Agricultura Familiar do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) Rogério Zardo, ao Secretário de Estado de Projetos Estratégicos (Sepe) Marcílio Monteiro, a Prefeita municipal Sandra Uesugi, ao Coordenador do Programa Pará Rural Igor Galvão, ao pesquisador da Embrapa, Marcos Oliveira e ao Chefe do escritório regional da Emater, Ricardo Dohara.
Fontes de instituições de pesquisa na região garantem que a prática da agricultura ecológica é executada com a substituição da queima da mata pela trituração da capoeira, utilizando a matéria orgânica como adubo para o solo. Esta prática credencia a região para projetos sustentáveis.
Discutiram ainda com técnicos do governo, da Petrobrás e MDA sobre a implantação do Programa de Biocombustível no Pará, lideranças de sindicatos, associações, cooperativas e movimentos sociais, pesquisadores e estudiosos como Deiviseon do Nascimento do MDA, Erivelton Paiva, secretário municipal de meio ambiente, Paulo Nogueira – secretário de municipal de Agricultura; Arlete Lima Nascimento Macedo e Dílson Cleber Tavares Melo, vereadores, João Fialho de Freitas - Coordenador do Campus da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Arquimedes Leopoldino, Gerente da Fazenda Escola do Campus da Universidade Federal de Amazônia (Ufra)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Biocombustíveis como commodities globais

É praticamente unânime entre especialistas que os biocombustíveis já avançaram ao primeiro plano das discussões sobre energia em todo o mundo. O desafio agora, segundo os palestrantes presentes na conferência de ontem no SENAC Rio, é elevar na prática as fontes energéticas renováveis à condição de verdadeiras commodities globais.
- Estamos vivendo uma verdadeira revolução - disse Allan Kardec, diretor da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). - Os biocombustíveis deixaram de ser tema em setores isolados e assumiram uma agenda de importância internacional.
Kardec rebateu críticas da imprensa internacional ao desmatamento da Amazônia para plantar cana e soja, com o argumento de que os 19,6 bilhões de litros de etanol consumiram em 2008, evitaram emissões da ordem de 37,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Só com os 5,18 bilhões de litros de etanol exportados no ano passado, dos quais cerca de 4,5 bilhões para fins combustíveis veiculares, segundo o diretor da ANP, o Brasil conseguiu "economizar" em efeito estufa um volume maior que o consumo de gasolina em Portugal em 2008.
Interesses conflitantes
Os palestrantes do segundo painel do evento deram destaque à importância da sustentação do tripé da sustentabilidade energética, composto por preocupações econômicas, sociais e ambientais.
O diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia, Ricardo de Gusmão Dornelles, argumentou que muitos países desenvolvidos não dispõem da tecnologia ou recursos naturais necessários para a produção efetiva de biocombustíveis e por isso não participam do debate ambiental ou mantêm o foco em questões secundárias.
- Alguns tratam a sustentabilidade apenas pelo pilar que lhes convém. O Brasil não pode ser a única exceção, ou os biocombustíveis nunca serão commodities - alertou Dornelles. - Se formos os únicos produtores, nunca teremos os biocombustíveis como vetores de desenvolvimento de fato.
Debate continuado
O presidente executivo da União Brasileira de Biodiesel (Ubrabio), Odacir Klein, também destacou a importância do apoio público ao desenvolvimento dos combustíveis de fontes renováveis.
- Há empresas produtoras de biodiesel porque há um programa nacional de biodiesel - disse Klein. - Se há cinco anos alguém dissesse que todos trafegariam com diesel com 5% de etanol, seria considerado um sonhador.
Na abertura do evento, o diretor do Conselho Editorial do Jornal do Brasil, Marcos Troyjo, disse que serão realizados mais dois debates semelhantes nos próximos meses, sendo um na Real Academia de Ciência da Suécia.

domingo, 16 de agosto de 2009

Fábrica na Dinamarca produz biodiesel de gordura animal

Em Copenhague, a Daka Biodisel está transformando gorduras animais em biodiesel, que já está sendo usado nos motores dos carros da cidade de Aarhus, em substituição da gasolina tradicional. A fábrica, com capacidade para produzir até 55 milhões de litros, está funcionando desde 2008 e tem abastecido nos últimos seis meses os postos de gasolina da segunda cidade do país.
"Não tivemos queixas até agora", garantiu o diretor da Daka Biodiesel, Kjaer Andreasen.
Normalmente tratados como resíduos, os subprodutos de origem animal têm sido, na Dinamarca, encaminhados para outros destinos que não o lixo.
Dois terços das 600 mil toneladas de matéria-prima deste tipo geradas anualmente no país são processados para usos não-animais, como produção de fertilizantes, ou queimados para produzir calor.
Destes dois terços, 50 mil toneladas estão sendo usadas com fins energéticos.
"A gordura animal já tinha sido usada como combustível em tempos mais antigos. Porque não processá-la e usá-la em carros?", questionou Andreasen.
O diretor da Daka explicou que a gordura animal é semelhante à vegetal e que as misturas do biodiesel têm sido bem sucedidas.
Os regulamentos europeus já permitem uma incorporação de 7% de biodiesel na gasolina. Mas a Daka foi mais longe e está testando misturas com um patamar de emissões semelhante aos carros elétricos, como a B18 (18% de biodiesel) e B30 (30%).
Em Aahrus, os carros são abastecidos com a B5, mas em 2012 todas as cidades dinamarquesas terão postos de abastecimento de biodiesel.
Ainda assim, esse tipo de biodiesel não será suficiente para atingir os 5,75% de cota de biocombustíveis que a União Europeia quer implementar a partir de 2010.
Segundo Andreasen, o sobre custo associado ao biodiesel (correspondente a uma incorporação de 7%) é de apenas €$ 0,1/litro.
Mas se o combustível usado for 100% bio, pode custar 8 a 15 euros mais do que um litro de gasolina comum.
Vantagens
Ainda assim, o aproveitamento de subprodutos animais para produzir biocombustíveis apresenta vantagens significativas em relação à utilização de óleos vegetais, afirmou o mesmo responsável.
Redução de emissões de dióxido de carbono, melhor desempenho dos motores e baixo consumo de água no processo produtivo foram alguns dos benefícios que ele enumerou. Além disso, o impacto é nulo nos preços dos alimentos.
Andreasen acredita que o biodiesel de base animal tem grande potencial e destacou que existem outros países a usar esta tecnologia como Escócia, Alemanha e Espanha.
"Trocamos experiência e know-how [com estas fábricas]. Se trabalharmos todos juntos podemos ser um player interessante no mercado energético europeu e conseguiremos atingir provavelmente uma produção de 500 mil toneladas", concluiu o diretor da Daka.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Preços de venda e renda Agrícola do pinhão-manso

No inicio, a plantação de Jatropha não é economicamente interessante, pois há pouca renda nos primeiros 2 a 3 anos.
Os preços atuais estão baixos, pois ainda não há oferta firme no Mundo e que permite garantir um Suprimento constante de forma a ampliar a demanda.
No Brasil será necessário aproveitar-se o momento de ótimos preços pagos nos leilões da ANP (US$ 1,35/litro) para desenvolver o Setor, em especial as produções da Agricultura Familiar, enquanto se esperam a consolidação e a ampliação do mercado Mundial e que ocorrerá de qualquer forma, sobretudo, à medida que o petróleo se tornar ainda mais escasso.
Na índia, o preço do diesel é de US$ 1 por litro e o biodiesel de Jatropha tem de ser inferior para ser competitivo. Segundo a ECOWORLD, o preço de venda local em abril de 2008 era de US$ 0,56/litro.
Em junho/2008, a referência mundial de preço do óleo de pinhão-manso era de 1/3 do barril de petróleo. Então, o barril com 159 litros de Jatropha valia apenas US$ 43 ante US$ 122,30 do barril de óleo cru.
Em fevereiro/2009, com certa perda de referência no preço do petróleo, o barril de óleo de pinhão valia entre US$ 34 e US$ 48 o que pela média de US$ 42 era igual a US$ 265/mil litros. Segundo cotações do Bulkoil (www.bulkoil.com), o preço de compra no Japão era de US$ 360/t.
No Camboja, desde 2008, a Panasia Biofuels Corporation, através de sua subsidiária Anchor Bioenergy Co. Ltd. iniciava o cultivo de 65 mil há de pinhão-manso em Sistemas de integração em terras arrendadas do Governo por 99 anos e em módulos de 10 mil há. O Projeto vai gerar 300,0 mil novos empregos por ano.
As produções de pinhão ocorrerão com fertilizantes próprios. A densidade de plantio será de 1.080 plantas por hectare e cada planta poderá produzir 6 kg/ano, mediante adubação, o que permitirá colher 7 t/há/ano e com 28% de rendimento de óleo. Com isto cada 1 hectare permitirá produzir 2.183 litros mais 5 toneladas de torta e mais 350 kg de glicerol. A biomassa restante (450 mil t/ano) será queimada para produzir 55 MW de energia elétrica para uso próprio e vendas para o mercado.
O biodiesel deverá ser vendido por US$ 0,75/litro (metade do preço atual do Brasil e certa referência mundial futura de preço de equilíbrio, inclusive com tendências de recuos, e levando a não mais se utilizar a soja, a canola e o girassol). Já a torta e o glicerol devem ser comercializados por US$ 200/t, o que permitirá renda bruta de US$ 2.630 por hectare e o inicio do retorno com 5 anos. A margem bruta estimada pela Panasia é de 61%. No longo prazo, a tendência do biodiesel é chegar próximo a US$ 1/litro, à medida que ocorra a escassez confirmada de petróleo. Para 2011, esperava-se que o consumo de biodiesel na Ásia chegasse a 8 bilhões de litros/ano, ante 1,1 bilhão ocorrido em 2007. Os principais clientes compradores serão a GM, BP, Shell e US Navy.
Na sul da China, o Grand Forest Resources Group Lt. estava plantando 41.000 mil ha de pinhão-manso.
Na Indonésia, a segunda maior Empresa estatal produtora de petróleo na China, SINOPEC GROUP, investia US$ 5 bilhões no cultivo de Jatropha e de palma.
Na África, Índia e Sudeste da Ásia, a BP + D1 já planejavam chegar a 50.000 hectares de cultivos de pinhão e com investimentos de US$ 200 milhões.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Condições de Plantio e de Cultivo do pinhão-manso

A Jatropha curcas na Índia cresce em quase qualquer lugar, até mesmo nos de cascalho, areia e solos salinos. Ela pode prosperar em regiões mais pobres de solo pedregoso e crescer mesmo em fendas de rochas.
Climaticamente, a Jatropha curcas é encontrada em regiões tropicais e subtropicais e gosta de calor, embora não muito. Sobrevive mesmo em baixas temperaturas e pode resistir a uma geada.
A densidade de plantio mais utilizada é a de 1.100 plantas por hectare, isto é, com espaçamento de 3 X 3 metros, embora em cultivos irrigados se usem 1.666 plantas por hectare.
As podas da Jatropha nos 2 primeiros anos são muito importantes e intensivas em trabalho, sendo o fator chave na rentabilidade da atividade. A planta é podada 2 a 3 vezes nos primeiros 2 anos e com isto não há a menor floração e frutificação. Após cada poda, 4 ramos emergem do nó anterior. No 3º ano, para obterem-se pelo menos 1 kg de sementes por planta, ela precisará deter pelo menos 24 a 30 ramos secundários ou terciários.
Produtividade e Rendimento de Óleo
A produtividade em plantações comuns varia entre 2,5 e 5,0 toneladas/hectare, dependendo se os solos são pobres ou médios. Alguns produtores afirmam que colhem 12,0 toneladas por hectare, mas uma planta de Jatropha com 2,0 metros de altura não pode suportar mais que 1,0 kg de sementes por temporada, inicialmente. Este nível de produtividade só poderá ser possível a partir de 10 anos. Em cultivos comerciais novos, a produtividade média alcançada é de 5,2 toneladas/hectare, segundo os cientistas da UPLB.
Cerca de 20% das sementes são trituradas nos locais e o óleo utilizado na fabricação de sabão, pois o óleo de palma é demasiadamente caro para tanto.
O rendimento de óleo da Jatropha curcas é de 350 a 375 mililitros de óleo por árvore, igual a 375,0 litros por hectare/ano. Quando o cultivo é irrigado com 3 a 5 litros por planta a cada 15 dias, a produtividade pode triplicar.
O teor de óleo varia entre 28% e 30%, produzindo 1,60 toneladas métricas por hectare em solos ricos; 0,90 toneladas métricas em solos médios e 0,75 em solos pobres.
Desde 2006, diversas empresas como a Nova Bio Fuels Pvt. Ltd.; a Natural Bioenergy Limited e a KTK German Bio Energies Índia já montaram esmagadoras e refinarias desde 2006 e que entram em fase comercial em 2010.
Também, desde 2005, com forte apoio e financiamentos abundantes do Governo Central e Estaduais, outras 12 grandes Empresas internacionais estão acreditando e investindo muito em cultivos e em esmagamentos de biodiesel de pinhão-manso para exportação.
São elas: 1) British Petroleum; 2) D1-Mohan Bio Oils Limited - uma joint venture da Mohan Breweries and Distilleries e U.K. based D1 Oils Plc; 3) Emami Ltd; 4) Jain Irrigation System Ltd; 5) Indian Oil Corporation (IOC) and Reliance Industries; 6) Shirke Biohealthcare Pvt. Ltd.; 7) Bhoruka Power Corporation Ltd; 8) TeamSustain Ltd. - a division of US-based Dewcon Instruments Inc; 9) Kochi Refineries Ltd. (KRL); 10) Gujarat Oelo Chem Limited (GOCL) - a Panoli-based firm; 11) Aatmiya Biofuels Pvt Ltd e 12) Southern Online Biotechnologies Limited.
Sementes, Adubação e Irrigação
Existe certo número de variedades de Jatropha, mas a melhor é a Jatropha curcas. Os outros são a Jatropha curcas não tóxica (que pode ser desenvolvida também para farelo animal); a Jatropha integrerrima; a Jatropha gossypifolia; a Jatropha glandulifera; a Jatropha tanjorensis; a Jatropha multifida; a Jatropha podagrica e a Jatropha integérrima.
Colhe-se, em média, 2,0 kg de sementes por árvore, mas em regiões muito secas cai para 1,0 kg por planta. Atualmente a maior parte das sementes produzidas na Índia são selecionadas e utilizadas para plantios - quer para fins caseiros ou para esmagamentos locais para biodiesel – e, principalmente, para exportações. Cerca de 80% das sementes são exportadas para plantios em todo o Mundo, o que tende a ampliar muito nos próximos 5 anos.
Utiliza-se muito a adubação orgânica em cultivos orgânicos e o estrume leva a baixa mortalidade de mudas, boa produtividade e menos pragas etc.. Há mão-de-obra sobrando e com baixa renda “per capita” de apenas US$ 2,00/dia nas zonas rurais (igual a cerca de US$ 52,00/mês ou R$ 104,00/mês). Segundo a ONU, a colheita Jatropha requer 1 trabalhador para cada 1 hectare de terra.
As folhas que caem durante os meses de inverno formam o “mulch” em torno da base da planta. A matéria orgânica de folhas reforça a atividade no solo ao redor da zona de raiz das plantas, o que melhora a fertilidade do solo.
Sua exigência de água é extremamente baixa, mas é necessário irrigar com pelo menos 1 litro de água por planta/dia nos 15 dias iniciais. Após pegar, ela pode ficar longos períodos de seca por mais que haja perdas de suas folhas para reduzir a perda por transpiração.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Ásia - perspectivas atuais para o biodiesel de pinhão-manso

Atualmente, no Mundo, 70% do petróleo são utilizados nos transportes e o consumo dessa forma pode ampliar 55% até 2030.
Em 2030, a demanda potencial mundial por etanol e biodiesel pode ficar entre 242,0 e 556,0 milhões de t./ano e para substituir apenas entre 10% e 24% da demanda por gasolina e diesel, respectivamente. Os EUA querem trocar 15% do consumo de gasolina por biocombustíveis nos próximos 10 anos (99,8 milhões de t./ano).
Na Índia, segundo o renomado consultor e cientista sério ítalo/brasileiro, prof. Neddo Zecca, uma das maiores autoridades mundiais em biodiesel e energias alternativas, o País está alguns anos a nossa frente na pesquisa e cultivo do revolucionário pinhão-manso e de testes de utilização do seu biodiesel. Por diversas vezes, ele lá esteve e mantém correspondência constante com os principais cientistas indianos e técnicos do Governo sobre os assuntos.
Na Índia, os debates para incentivos ao plantio de pinhão-manso para biodiesel iniciaram em Seminário em 1999 (no Brasil foram em 1995) e as pesquisas evoluíram muito desde então e com o uso intensivo de transgenia (em 2005 já se chegou a 100,0 mil ha). Inicialmente, o Governo plantou 10,0 mil hectares em Hyderabad para pesquisas e para iniciar a produção de sementes e mudas certificadas e de alta produtividade.
Desde 2003, O Governo e Empresas processadoras estão investindo US$ 300,0 milhões em incentivos ao plantio de 400,0 mil hectares de pinhão-manso (“Jatropha curcas L.”), sob a forma de fomento envolvendo, sobretudo, mudas e fertilizantes. A maior parte está sendo plantada nos Estados de Maharashtra, Andhra Pradesh, Madhya Pradesh e Uttar Pradesh. Cerca de 200,0 mil hectares serão cultivados nas áreas de florestas manejadas, em consórcios, e mais 200,0 mil em áreas de pastagens degradadas.
Incrivelmente, a Índia já detinha 14,0 milhões de hectares de florestas sob manejo florestal sustentado e nós aqui ainda discutindo os assuntos “florestas, reservas, APP e meio ambiente” e nos preocupando, apenas, com as variedades de pinhão a serem pesquisadas. No caso do algodão, não houve esta apaixonada discussão inicial pela pesquisa no Brasil e que nos leva a perder muito tempo, empregos, desenvolvimento de regiões muito pobres e importantes posições no futuro mercado mundial de biodiesel -, pois a maior parte de nossas sementes iniciais de alta produtividade vieram ainda em 1988 do Egito – cultivares Gisa e Pima -; de Israel – cultivares H10 e Eden – e, em 1990, dos EUA – diversas cultivares “Delta Pine”. A partir de 1992, já tínhamos as nossas OCEPAR 7, ITA 90, IAC e Coodetec. No trigo – um cultivo de clima muito frio e que hoje produz sob irrigação e com alta produtividade no calor e até em regiões de sequeiro do Centro-Oeste -, ocorreu o mesmo e nossas variedades iniciais vieram ainda em 1969 do CIMMYT - Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo do México e foram as cultivares Sonora 63, Sonora 64, INIA F66, Jupateco F73 e Anahuac F75. Hoje, já temos diversos cultivares plenamente adaptados ao Brasil e com boas produtividades como CEP 24, EMBRAPA 16, CD 104 e as BRS e IAPAR.
Na Índia, o Governo e Empresas pretendem incentivar e implantar 13,4 milhões de há de pinhão-manso e sob diversas formas, o que significa que o cultivo já foi testado e provado de forma suficiente, inclusive em termos de obtenção de variedades confiáveis e com altas produtividades médias.
Testes realizados pela exigente Daimler Chrysler com o biodiesel produzido pelo pinhão-manso na Índia apresentaram conformidade e características de enquadramento na norma européia EN 14214.
Em 2006, a poderosa e muito exigente BP British Petroleum anunciou que iria investir US$ 9,4 milhões em projetos no TERI - The Energy and Resources Institute no Estado de Andhra Pradesh para demonstrar a viabilidade de se produzir biodiesel de Jatropha curcas L. O Projeto - a ser implantado em 10 anos - iria cultivar 8,0 mil há de pinhão em pastagens degradadas e para produzir-se pelo menos 9,0 milhões de litros/ano, tudo observando e cumprindo as normas de desenvolvimento sócio ambiental justo e sustentável.
Assim, segundo Neddo Zecca: “a BP estava investindo no pinhão-manso, desmentindo a afirmação de pesquisadores da EMBRAPA e suas insinuações descuidadas, para não dizer enviesadas ou maldosas. Pesquisadores especiais os nossos que criticam antes de pesquisar ou se inteirar corretamente”. Por outro lado, segundo Zecca, a EPAMIG estava num bom caminho, mas faltavam recursos, incentivos e, sobretudo, certa independência.
Em março/2008, segundo o Dr. Kristen Kurczac da BP Biofuels (British Petroleum), a proposta conjunta da BP mais da D1 Oils era produzir 2,0 milhões de t. de biodiesel de Jatropha/ano na Índia, tornando-se as maiores do Mundo na área. Entre 2007 e 2012 iriam investir US$ 160,0 milhões para tanto. A D1 Oils estava incentivando com sementes e mudas o cultivo de 172,0 mil há de Jatropha na Índia, no sul da África e na Ásia.
Mais detalhes sobre biodiesel de pinhão-manso na Índia podem ser obtidos, em inglês, com o Prof. Naveen Kumar – Coordenador do Programa de Pesquisa de Biodiesel do Delhi College of Engineering pelo e-mail naveenkumardce@rediffmail.com
Resultados do cultivo de jatropha curcas na índia, segundo o indian biofuels awareness center
Segundo, o Dr. RatanJyot VanErand, do Indian Biofuels Awareness Center, o cultivo de pinhão-manso (Jatropha curcas) na Índia produz com 4 a 5 anos, podendo ser cultivado em sequeiro. Nos campos de ensaios da Faculdade de Engenharia Agrícola e Instituto de Pesquisa Tamil Nadu Agricultural University, a Jatropha amadureceu e chegou à colheita após 6 meses e 16 dias após o plantio.
Maiores informações contate em inglês o Mr. Mahadeo Vihar da Shivrai Technologies na cidade de Pune (Índia) pelo e-mail info@shivrai.co.in ou o Mr. Satish Lele no satish.lele@gmail.com Eles vendem um livro completo acerca e com mais de 675 páginas.

sábado, 8 de agosto de 2009

Biodiesel do Brasil- "Ciúmes, Lentidão e/ou Espertezas?"

Após iniciar no Brasil em 1982 ainda no Governo Figueiredo, com testes positivos pela COCAMAR do Paraná, nosso Programa de Biodiesel foi oficializado em 2004, mas desde então está sendo visivelmente prejudicado por ciúmes, lentidões e/ou espertezas de grupos e de Entidades que, simplesmente, não se entendem, sobretudo, em termos de pesquisas e de disseminação. Na Índia iniciou em 1999 e, de forma séria, já se planeja chegar a 13,4 milhões de há de pinhão-manso.
Enquanto isto, nossas Empresas processadoras vão fechando, desempregando e retirando a esperança de muitas pequenas Cidades de regiões pobres e o Presidente Lula que tanto lutou por elas e, inclusive, as inaugurou, vêm perdendo credibilidade no Tema. De todas as usinas de biodiesel autorizadas pela ANP somente 30% estão em funcionamento e precariamente. Pior ainda é que para o SEBRAE Agroenergia, o biodiesel brasileiro já teria em torno de 82 mil famílias da agricultura familiar envolvidas na produção de culturas alternativas, principalmente de mamona.
Também, há muita teimosia e desconhecimento. Desde o inicio algumas Universidades informaram que seria impossível produzi-lo, economicamente, a partir de mamona, pois o óleo tem viscosidade muito acima do biodiesel e o seu preço de venda como óleo lubrificando especial sempre estará bem acima do valor do biodiesel.
Também agora se sabe e se AVISA que o biodiesel de soja está com os dias contados, pois se trata de alimento especial e cujos preços pagos estão bem acima da realidade mundial, sendo preciso desenvolver-se, rapidamente e desde 2004, outras fontes como de palmáceas, aí destacando a palma e o babaçu; de crambe; de tungue; de pequi, e, principalmente, de pinhão-manso.
Atualmente, o preço de venda no último leilão da ANP foi de US$ 1,35/litro (R$ 2,70/litro) e para um custo de produção de R$ 1,70/litro, sendo que o biodiesel de pinhão-manso da Índia é vendido no mercado por apenas US$ 0,75/litro e com tendências de baixar, à medida de ampliação da oferta. Considera-se que para ser consumido nas bombas brasileiras, o biodiesel deveria ter preço máximo de R$ 2,00/litro ao consumidor, isto é, exceto fretes, impostos e margens. Assim, nosso Ponto de Equilíbrio do menor preço necessário está distante de ser alcançado e nunca o será via soja (aliás, hoje, comandada até especulativamente pelas Bolsas de Dalian e de Chicago). Atualmente, o óleo de soja se tornou um dependente e quase subproduto do farelo de soja, que vinha sendo embalado pelas maiores produções e crescentes exportações de carnes de aves e carne de suínos, mas agora no pós-crise tudo mudou e deve demorar até 2011 para reverter.
Hoje a principal aposta asiática e de sucesso comprovado para biodiesel, inclusive superando a palma que tem custo de introdução e de produção elevadíssimos, o pinhão-manso é hoje, palavra quase proibida no Brasil do biodiesel, exatamente pelos ciúmes, lentidão e/ou espertezas? Trata-se de cultivo não-alimentício que nunca gerou interesses da pesquisa no Brasil, exatamente por ser pouco comercial anteriormente, mas que agora pode ser o alvo da vez de grandes empresas como a PETROBRÁS e grandes multinacionais como a British Petroleum.
A partir de janeiro/2010, o Brasil se prepara para adicionar 5% de biodiesel ao óleo diesel derivado do petróleo. Contudo, para a adoção deste padrão sabe-se que nem soja temos. A saída seria importamos biodiesel. Aproximadamente 80% do biodiesel comercializado nos leilões da Agência Nacional do Petróleo (ANP) vêm da soja, especialistas alertam que, a partir do B5, o volume do grão produzido no País não será suficiente para abastecer a demanda do mercado interno, já que, além do crescimento do consumo nacional, a cotação da commodity define a oferta no mercado interno. Quando o produto está em alta, o interesse da produção se volta para a exportação. Atualmente, a soja está cotada em R$ 1,7 mil a tonelada, mas o grão já atingiu o dobro deste valor, estimulando as vendas internacionais. Desde julho/2009, já estamos com o B4 e, certamente, já vai ser bem mais difícil obter-se óleo de soja para tanto.
Enquanto internamente brigamos sobre os resultados das pesquisas; a posse dos cultivares mais produtivos sem nunca pensarmos em importar, tais cultivares já foram plenamente desenvolvidos e amplamente testados na Índia e outros países semelhantes ao Brasil e poderiam facilmente serem importados como se deu no caso do algodão, também não-comestivel e até do trigo. Enquanto o biodiesel de pinhão evolui rapidamente na Ásia, nós continuamos naquela de “quanto pior melhor” e dizendo “bem que nós avisamos que a produtividade do pinhão seria irrisória, pois não há cultivares e nem tecnologia testadas” ou ainda “bem que dissemos que a mamona não serviria”. Só que se esquece de dizer por que isto ocorre e que a mamona pode e deve ser cultivada, só que como não paga bons “royalties” quase não interessa a pesquisa, embora seja produtora de óleo bem mais nobre e vendido por valor bem maior que o biodiesel.
Estudo mostra como a Índia vem implementando seu projeto de pinhão-manso, sendo que o Governo no inicio cultivou experimentalmente 10,0 mil hectares em Hyderabad para testes e produção de sementes e mudas.
Agora, em 27 de julho de 2009, chegou a vez de se debater sobre o famoso “zoneamento econômico-ecológico do pinhão-manso” na EMBRAPA e sem o qual o Crédito Rural necessário para o Setor é proibido. Duvido que saia agora.
Aliás, somente com uma grande produção de sementes e mudas distribuídas gratuitamente (isto é sem royalties) pelas Prefeituras, Associações, Cooperativas, Sindicatos e Empresas é que poderíamos ter um projeto inicial de cultivo, isto como foi e continua sendo feito no caso do café e de algumas frutas. Incentivar Empresas desconhecidas com seus técnicos de outros Estados e humildes produtores locais a irem para o interior cultivar, como foi feito, é quase um suicídio negocial. Sem viveiros locais bem conduzidos e sem, realmente, uma boa atuação da Extensão Rural não há como ter produção local segura. Sem boa oferta e sem escala mínima, as Empresas fecham e mesmo recebendo muitos créditos inclusive subsidiados. Produzir em áreas com menos chuva é possível, mas sem mudas, fertilizantes e agroquímicos adequados e nos volumes e momentos recomendados é só por Milagre e Divino.
No Brasil, com tanto erros, a produtividade “experimental” do pinhão ainda é de 600 kg/ha e o rendimento de óleo entre 17% e 35%. Na Índia, já se chega a 7.000 kg/há/ano e com rendimento de 28% de óleo.
Por outro lado, estudos já comprovam a possibilidade de se utilizar o biodiesel diretamente nos motores, após prensagem simples, e até nas pequenas propriedades, inclusive há Projeto de Lei, recente, do Senador Gilberto Goellner (MT) autorizando e incentivando tais usos.
Obviamente, tudo o que os pesquisadores e extensionistas mais detestam são articulistas estudando bem os assuntos, externa e internamente, e divulgando/comparando os erros e acertos dos programas, mas, neste caso, eles estão nos devendo acertos e resultados desde 1982, ou seja, não estão fazendo o que lhes é solicitado e para que seja realmente pagos, e não adianta chiar.
Assim, o programa de biodiesel no Brasil precisa urgente, ser melhorado, e repensado, inclusive banindo/punindo rapidamente interesses e ciúmes institucionais e/ou pessoais.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

CPFL vai produzir transformador ‘verde’

O setor elétrico brasileiro começa a aumentar os investimentos de pesquisa e desenvolvimento em estratégias de sustentabilidade, como eficiência energética, fontes renováveis e redução de impactos ambientais. Um exemplo vem da CPFL Energia, distribuidora de energia que atua em oito regiões do Estado de São Paulo.
A empresa teve aval para começar a produzir uma família de transformadores elétricos de baixa tensão "verdes". Trata-se de um equipamento de baixa tensão que usa óleo vegetal no lugar do óleo mineral.
A substituição vai aumentar em até 80% a vida útil dos equipamentos e minimizar o impacto no meio ambiente de vazamentos. O óleo mineral comumente usado em transformadores, quando vaza, pode contaminar o ambiente por até 20 anos. Já o óleo vegetal tende a se dissolver no período de 15 dias, explica Marcelo Corsini, gerente de inovação tecnológica da CPFL Energia.
O protótipo do novo transformador elétrico estava em desenvolvimento desde 2002, mas só este ano a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deu aprovação para a produção do equipamento em escala. A produção deve ter início assim que forem finalizadas as últimas etapas da pesquisa, dentro de seis meses.
Produzirão 850 unidades, que serão incorporadas nos programas de manutenção e expansão da rede de distribuição de energia. O mercado brasileiro para transformadores de baixa tensão utilizados nas ruas é estimado em 1 milhão de unidades.
Ao todo, a CPFL Energia investirá R$ 320 milhões até 2013 em pesquisa e desenvolvimento.
65% desse montante será destinado a inovações na área de sustentabilidade, que incluem eficiência energética e fontes renováveis. Estão estudando nichos de mercado que pode-se atender nas áreas de energia eólica e biomassa. A empresa, que já faz pesquisas com carros e motos elétricas, também trabalha no desenvolvimento de sistemas de distribuição de energia "inteligente", os chamados "smart grid", que pode ajudar o consumidor a economizar energia.
TENDÊNCIA
A busca das empresas do setor de energia por estratégias de sustentabilidade pode ser explicada tanto pela redução de custos como também para garantir uma boa imagem para o setor. Atualmente, as empresas do setor elétrico já correspondem a um terço da carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa, que reúne empresas com bom desempenho socioambiental. Muitas empresas de energia, saneamento e outros serviços públicos negociam ações em bolsa e estão sob constante pressão de consumidores e acionistas.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Bagaço pode virar gás e depois álcool

IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) reúne empresas em projeto de gaseificação de biomassa.
A transformação de caldo em etanol aproveita somente um terço do potencial energético da cana-de-açúcar. Os outros dois terços estão no bagaço e na palha. O IPT está criando, com um grupo de empresas, um projeto para desenvolver uma técnica de gaseificação de biomassa, que permitiria transformar esse material que hoje não é utilizado em vários produtos, como gasolina, diesel, metanol, etanol e fertilizantes.
"Fechamos um acordo com quatro grandes indústrias químicas do Brasil, definindo o modelo de fomento e de propriedade industrial", disse João Fernandes Gomes de Oliveira, diretor-presidente do IPT. "Distribuímos o memorando de entendimento, que deve ser assinado até o fim do mês." A planta piloto de gaseificação será instalada em Piracicaba (SP), em parceria com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).
O IPT tem 30 anos de pesquisa em gaseificação. "É uma tecnologia que funciona muito bem na bancada", afirmou Oliveira. "O desafio é fazê-la funcionar em escala comercial." O processo de gaseificação de carvão é usado comercialmente na África do Sul há muito tempo, desde a década de 50. Lá, eles transformam o carvão mineral em gás para depois convertê-lo em diesel e gasolina.
"Por causa do apartheid (política de segregação racial), eles não podiam importar petróleo", explicou o pesquisador Ademar Hakuo Ushima, do IPT. "O processo é viável economicamente, pois eles continuaram a produzir combustíveis líquidos a partir do carvão depois do fim do apartheid."
Mas não é possível adotar o mesmo processo para trabalhar com bagaço de cana porque as características das matérias-primas são muito diferentes. "Existem gargalos tecnológicos que levam à necessidade de adaptar a tecnologia", apontou Ushima.
O processo de gaseificação acontece da seguinte forma: o bagaço e a palha de cana são colocados num gaseificador, que tem condições de pressão e oxigenação controladas. Eles são aquecidos a uma temperatura de 800º C a 1.200º C, com um terço do oxigênio que seria necessário para a sua combustão. A pressão é de 10 a 30 atmosferas.
O processo dá origem a um gás rico em monóxido de carbono e hidrogênio, que precisa passar por equipamentos e produtos químicos para que sejam retiradas impurezas, como o alcatrão. Depois disso, o gás é colocado em um reator de síntese, que transforma o gás em combustíveis líquidos e outros produtos.
Segundo Ushima, existem três desafios tecnológicos que ainda precisam ser vencidos no processo de gaseificação de biomassa. Um deles é como colocar o bagaço e a palha da cana no gaseificador sem perder a pressão. Outro são os materiais que precisam ser usados no gaseificador. "A cinza da biomassa é diferente", afirmou o pesquisador. Em terceiro lugar está a purificação do gás, pois as impurezas também são diferentes.
O centro de gaseificação de biomassa de Piracicaba deve ficar pronto no fim de 2010. A ideia é que a pesquisa dure três anos, com o objetivo de chegar ao término desse período com o domínio de uma técnica que tenha viabilidade comercial. O IPT está submetendo o projeto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para levantar de R$ 50 milhões a R$ 60 milhões para a pesquisa.
"Se a gaseificação servisse só para produzir etanol, não iria compensar, pois a tecnologia que temos hoje é bastante eficiente", avaliou Alfred Szwarc, consultor da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). "Com os outros produtos, começa a ficar interessante." A gaseificação é uma das alternativas tecnológicas para se chegar ao chamado etanol de segunda geração, criado a partir da celulose.
Com 110 anos de existência, o IPT é o centro de pesquisas mais antigo do Brasil. O centro de gaseificação em Piracicaba faz parte de uma nova estratégia do instituto de reunir empresas em grandes projetos de pesquisa, que dificilmente seriam financiados por somente uma companhia.
Processo de gaseificação
1. Biomassa – Bagaço e palha de cana.
2. Gaseificador – A biomassa é transformada em gás a temperaturas de 800˚C a 1.200˚C, com ⅓ do oxigênio que seria necessário para queimá-la e pressão de 10 a 30 atmosferas.
3. Limpeza do gás – Várias substâncias e equipamentos são usados para retirar as impurezas do gás, como alcatrão.
4. Reator de síntese – Um catalisador transforma o gás, rico em monóxido de carbono e hidrogênio, em diversos produtos.
5. Produtos – O gás pode ser transformado em diesel, gasolina, metanol, etanol, fertilizantes, hidrogênio e gás natural sintético, entre outros.

domingo, 2 de agosto de 2009

Pesquisadores produzem biodiesel a partir de penas de galinha

Os pesquisadores do departamento de engenharia química e de materiais da Universidade de Nevada, em Reno, que no ano passado mostraram ao mundo que era possível produzir biodiesel a partir do pó de café, estão de volta. Agora, é a vez das penas de galinha.
Num artigo, publicado no The Journal of Agricultural and Food Chemistry, Mano Misra, Susanta K. Mohapatra e colegas descrevem como extraíram gordura de penas processadas e a converteram em um biodiesel de boa qualidade.
As penas processadas, que são comumente usadas como fertilizantes ou alimento animal, são um subproduto da produção de aves em grande escala - e muitas vezes incluem sangue e vísceras. A mistura pode conter até 11% de gordura.
Os pesquisadores extraíram a gordura fervendo o alimento em água e convertendo-o em biodiesel por um processo chamado transesterificação.
Eles dizem que, somente nos Estados Unidos, há penas processadas em quantidade suficiente para produzir cerca de 560 milhões de litros de biodiesel anualmente. Isso é apenas uma gota num balde, mas os pesquisadores apontam que a maior parte da atual produção de biodiesel usa óleo vegetal - e, à medida que cresce a demanda pelo combustível, crescem as chances de haver competição por óleo entre uso alimentar e combustível.
Por isso, os pesquisadores afirmam ser importante buscar fontes alternativas para a produção de biodiesel - com o objetivo, como eles mesmos colocam, de "comida para a fome, lixo para combustível".