Investigação revela que danos do acidente nuclear de Fukushima são piores do que se imaginava
Os danos ao núcleo de pelo menos um dos reatores que foram afetados pelo derretimento na usina nuclear de Fukushima Daiichi podem ser bem piores do que se imaginava, o que gerou novas preocupações quanto à estabilidade da usina e complicou gravemente a limpeza pós-desastre, mostrou uma investigação interna recente.
Os resultados da investigação, divulgados nesta semana pela operadora da usina, também lançam dúvidas quanto à declaração do governo japonês de três meses atrás, de que o local devastado está agora sob controle.
Durante a crise que se seguiu ao poderoso terremoto e tsunami em março de 2011, tanto a operadora da usina, a Tokyo Electric Power, ou Tepco, quando o governo foram acusados de minimizar os perigos representados pelo derretimento dos reatores nucleares. Revelações subsequentes de que o evento era de fato mais grave do que eles divulgaram prejudicaram muito sua credibilidade, a ponto de quase qualquer declaração das autoridades hoje ser vista como suspeita pelo desconfiado público japonês.
Os sistemas de refrigeração essenciais da Fukushima Daiichi foram destruídos nos primeiros estágios da crise no ano passado. Os núcleos de urânio dos seis reatores da usina logo derreteram, rachando as paredes de contenção e desencadeando um vazamento massivo de radiação.
Três reatores foram mais tarde balançados por explosões de hidrogênio, que destruíram suas paredes externas.
O que aconteceu foi um esforço frenético para manter as partes internas dos reatores inundadas com água refrigerada para evitar que seus núcleos se superaquecessem novamente. Funcionários da Tepco disseram anteriormente que a operação estava tendo sucesso, e as barras de combustível danificadas foram submersas em água de forma segura.
Mas, no início desta semana, um exame num dos reatores mostrou que o nível da água no núcleo estava bem mais baixo do que os níveis estimados anteriormente, gerando temores de que restos quebrados das barras de urânio podem não ter sido completamente submersos e correm o risco de aquecer novamente.
A água refrigerada no reator número 2 da usina estava a apenas 60 centímetros do fundo do recipiente de contenção do reator, uma estrutura em forma de copo que envolve as barras de combustível. Isso foi bem abaixo do nível de dez metros estimado por funcionários quando o governo declarou que a usina estava estável em dezembro.
Os níveis baixos de água também geram preocupações de que a água radioativa possa estar vazando para fora do reator mais rápido do que se imaginava, possivelmente para uma parte do reator conhecida como câmara de supressão, e para uma rede de canos e câmaras sob a usina – ou para o oceano. No reator número 2, os trabalhadores ainda bombeiam 9 toneladas de água por hora para manter o núcleo refrigerado.
A investigação também revelou que os níveis atuais de radiação dentro do recipiente de contenção estão em 72,0 sieverts, o suficiente para matar uma pessoa em questão de minutos, bem como provocar mau funcionamento do equipamento eletrônico.
Kazuhiko Kudi, professor de engenharia nuclear na Universidade Kyushu no sudoeste do Japão, disse que agora há suspeitas de que o combustível nuclear não tenha sido adequadamente resfriado. E se algumas partes do combustível continuam acima da água, há risco de que ele possa aquecer e derreter novamente. Isso poderia desencadear um aumento perigoso na pressão dentro do recipiente de contenção, e fazer com que mais radiação escape do reator, disse ele.
Os altos níveis de radiação complicariam muito o trabalho para localizar e retirar o combustível danificado e a desativação dos seis reatores da usina – um processo que deve levar décadas.
“Com níveis de radiação extremamente altos, precisaríamos desenvolver equipamentos que possam tolerar alta radiação”, disse Junichi Matsumoto, um executivo da Tokyo Electric Power, em 03/04/12.
Para medir os níveis de água dentro do recipiente de contenção no reator número 2, funcionários vestidos com roupas de proteção inseriram um endoscópio equipado com uma minúscula câmera de vídeo, termômetro, dosímetro para medir radiação e um instrumento para medir o nível da água.
Dois outros reatores que foram muito danificados – o 1 e o 3 – podem estar em condição ainda pior. Explosões de hidrogênio destruíram as paredes externas desses reatores, e funcionários acreditam que mais combustível nuclear passou para o recipiente de contenção no reator número 1 do que nos outros.
Especialistas também se preocupam com um quarto reator que não estava funcionando na época do acidente, mas que representa um risco por causa do grande número de barras de combustível nuclear usadas guardadas num tanque refrigerador. O reator número 4 também foi atingido por uma explosão de hidrogênio nos primeiros dias da crise, possivelmente por conta do hidrogênio que vazou no reator da unidade adjacente número 3.
As barras de combustível usadas no reator número 4 representam uma ameaça particular, dizem os especialistas, porque elas ficam desprotegidas do lado de fora do recipiente de contenção da unidade. A Tokyo Electric está correndo para fortificar a parede externa destruída do reator e para manter o tanque cheio de água. Mas se um problema também surgir com o resfriamento do combustível usado, a usina pode correr o risco de outro vazamento colossal de radiação, dizem os especialistas.
Os muitos tremores subsequentes que continuam atingindo a região de Fukushima também são uma fonte de preocupação.
“A usina continua em um estado precário”, disse Kudo da Universidade Kyushu. “Infelizmente, tudo o que podemos fazer é continuar bombeando água dentro dos reatores e esperar que não tenhamos nenhum outro grande terremoto.” (EcoDebate)
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