Usina de Itaipu expande programas socioambientais
Cidades beneficiadas passaram de 16 para 29; meta é proteger nascentes
e, por tabela, a água que chega ao reservatório
O gigante de aço e
concreto que por décadas buscou remediar o inevitável impacto ambiental de suas
obras, encerradas há 30 anos, hoje quer reduzir a influência que sofre de seu
entorno. Desde 2003, Itaipu expandiu os programas socioambientais de 16 para 29
cidades, atuando em toda a bacia do Rio Paraná 3. O motivo, porém, vai além de
contrapartidas obrigatórias: é também uma questão de sobrevivência.
Vertedouro evita cheias no lago de Itaipu: qualidade da água define vida
útil da hidrelétrica.
Mensurar a extensão
da influência da hidrelétrica sobre o ecossistema local é quase impossível - na
época da construção, a prioridade era econômica, e não ambiental, e não foi
feito um inventário detalhado da fauna e flora. Sabe-se, por exemplo, que hoje
há cerca de 70 novas espécies de peixe na região, mas os dados anteriores à
usina são pouco abrangentes.
Há quem se apoie nesta
fragilidade de informações para questionar as mudanças na região. Corre na
Justiça um pedido de indenização de R$ 2 bilhões feito por 1,3 mil produtores
rurais de 13 municípios que margeiam o lago de Itaipu. Eles alegam que a usina
causou alterações microclimáticas em uma área de 700 km2, supostamente
provocando queda de 40% na produtividade. Uma comissão técnica, com a
participação do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), estuda a alegação,
descartada pela empresa. A "cortina verde" formada no reservatório,
alegam ainda, causa danos às lavouras e seria responsável por supostos
prejuízos acumulados há 25 anos.
A reconstrução da
mata ciliar ao redor do reservatório, porém, é um dos maiores orgulhos de
Itaipu e está praticamente concluída. O desafio agora é fazer o mesmo nos 540
km de sub-bacias que desembocam no lago.
"Começamos
elegendo uma bacia por município para recuperar com áreas de proteção, em
acordo com os prefeitos. Hoje, já há cidades que estão perto de 100% de
reflorestamento", diz o diretor-geral de Itaipu, Jorge Samek. "O
processo só não tem sido mais ágil por conta da discussão sobre o novo Código
Florestal, que causou indefinição."
Desvio do rio (1977) - Um dos momentos mais críticos do
projeto foi a mudança no fluxo do poderoso Rio Paraná para a construção da
barragem.
Indenizações (1981) - Mais de 40 mil receberam compensação
para deixar a área onde seria feito o reservatório, levando consigo casas
inteiras.
Reflorestamento (4/1982) - Para garantir a qualidade da água, foi demarcada uma área de proteção com 1 milhão de árvores ao redor do futuro lago.
Inundação (10/1982) - Área de 1.350 km2 foi alagada durante 14 dias para encher o reservatório, submergindo regiões férteis de 16 municípios.
Funcionamento (11/1982) - O vertedouro, com uma vazão equivalente a 40 Cataratas do Iguaçu, foi aberto no dia 5 e inaugurou oficialmente a usina.
Reflorestamento (4/1982) - Para garantir a qualidade da água, foi demarcada uma área de proteção com 1 milhão de árvores ao redor do futuro lago.
Inundação (10/1982) - Área de 1.350 km2 foi alagada durante 14 dias para encher o reservatório, submergindo regiões férteis de 16 municípios.
Funcionamento (11/1982) - O vertedouro, com uma vazão equivalente a 40 Cataratas do Iguaçu, foi aberto no dia 5 e inaugurou oficialmente a usina.
O programa
Cultivando Água Boa intensificou a preocupação com as nascentes, que podem
prejudicar a qualidade da água e ameaçar a vida útil da usina pela aceleração
do assoreamento, entre outros problemas. Após redefinir o ecossistema da região
de Foz do Iguaçu, no oeste paranaense, a maior obra de engenharia já realizada
no País foi atrás de comunidades que, desde 1991, eram beneficiadas apenas pelo
pagamento de royalties.
"Ainda há
muita desconfiança quanto aos programas. A percepção de meio ambiente é
associada a multas e fechamento de fazendas", afirma o diretor de
Coordenação e Meio Ambiente de Itaipu, Nelton Friedrich.
A construção da
usina, porém, deixou marcas duradouras. A maior delas foi o fim das míticas
cataratas de Sete Quedas de Guaíra - decisão unilateral do regime militar.
Centrada só no fornecimento de energia por muitos anos, a binacional deu margem
a mitos que sobrevivem até hoje: um estudo recente da Escola de Engenharia de
São Carlos (EESC) da USP mostrou que 75% da população de Foz acreditam que há
possibilidade real de a barragem ruir.
O valor da produção
de energia de Itaipu, porém, é inquestionável. Responsável por cerca de 20% do
total produzido no País, a usina deve superar a própria marca - por conta das
chuvas no início do ano, já produz 3% a mais que o mesmo período de 2008,
quando atingiu o recorde mundial de 94,6 milhões de megawatts/hora. (OESP)
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