Temos urgência no tempo: existe
cada vez mais a preocupação com os impactos ambientais, de todos, sem exceção,
certa atenção e muito cuidado na especial construção de um mundo sustentável e
solidário. Na discussão, é certo dizer abertamente que os setores produtivos,
de modo especial, estão na berlinda. Por isso, na relação entre a economia e o
meio ambiente, e mesmo na ética global e no modo como hoje organizamos a
sociedade, chama a atenção às estratégias adotadas para ampliar a
imprescindível proteção ambiental.
Essa questão é fundamental, para começar a discutir em grande medida as estratégias de desenvolvimento no Brasil (em referência ao desenvolvimento sustentável e ao cuidado ambiental), quando se pensa na necessária transição energética, no comércio do crédito de carbono, na mudança climática global e, claro, na urgente trajetória sustentável (olhando de perto os objetivos de sustentabilidade), devemos redobrar a atenção, primeiramente, para a qualidade do emprego gerado, e não somente na quantidade, como é de costume.
Parque eólico em área agrícola: expansão de setores ligados à sustentabilidade criará um novo modelo de trabalho.
O emprego verde é uma alternativa
na recuperação pós-pandemia.
A expansão da chamada
economia de baixo carbono pode gerar mais de 2 milhões de vagas no Brasil e
adicionar 2,8 trilhões de reais ao PIB até 2030.
Em um breve olhar, combinando
agenda ambiental com mercado de trabalho, essa qualidade (que requer
aprimoramento na capacitação) não tem apenas nome, mas, sobretudo, tem cor
definida: emprego verde. Isto é, o emprego que necessariamente é gerado, seja
em áreas rurais ou urbanas, pensando na redução do impacto ambiental de empresas
e setores e atividades da economia, entre esses, a construção civil, o manejo
florestal, a pesca, a aquicultura, a reciclagem de resíduos, o setor
energético, e por aí em diante.
Dito de outra forma, isso tudo faz referência à geração dos benefícios que os recursos naturais nos reservam. Avaliando então o alcance da empregabilidade do futuro, com vistas à qualificação de empregos mais ecológicos, digamos assim, o que há, de fato, é uma nova formação de trabalho (com novas aprendizagens) que carregam promissores slogans como carreira verde, talentos verdes, ou mesmo habilidades verdes. Com efeito, resta apenas esclarecer que há muito potencial para cada vez mais “esverdearmos” nossa economia, a partir do desenvolvimento de fontes limpas, o que decerto permite aumentar nossa vantagem competitiva.
Consequência direta de políticas industriais e setoriais tomadas lá atrás, tendo em vista o caso brasileiro, o País já responde hoje por 10% dos empregos verdes no mundo, e pode crescer ainda mais expandindo a economia de baixo carbono. Até 2030, temos possibilidade de abrir mais de 2 milhões de vagas no Brasil, o que incrementaria algo como 2,8 trilhões de reais ao PIB. Falamos aqui, claramente, de empregos que respeitem os princípios de preservação ambiental, desde a instalação de sistemas a fabricação de componentes; de novas funções relacionadas à sustentabilidade a projetos de engenharia puramente verde, em especial, painéis solares e turbinas eólicas.
Antes de qualquer coisa, vale
notar que esse percentual (o nível de “esverdeamento”, queremos dizer) vem
crescendo ao longo do tempo. Em 2015, de mais de 101 milhões de empregos
formais e informais no Brasil, 6,4% correspondiam a empregos verdes –
agricultura, pecuária e produção florestal lideravam os setores produtivos
totalmente e parcialmente verdes.
Estudo “Uma Nova Economia
para Uma Nova Era”, publicado em agosto/2020 e feito pela WRI Brasil, entidade
com presença em mais de 50 países, as vantagens de uma transformação
sustentável foram demonstradas com números. Além da geração de empregos e do
reflexo no PIB, a modelagem econômica utilizada demonstrou o ganho de R$ 19
bilhões em produtividade agrícola e R$ 742 milhões em receitas fiscais
adicionais até 2030. Ao mesmo tempo, as ações preveem a restauração de 12
milhões de hectares de pastagens degradadas e a redução de 42% nas emissões de
gases de efeito estufa em 2025, em comparação aos níveis de 2005.
De toda sorte, esse percentual hoje conhecido (10% dos empregos verdes) nos coloca na segunda posição – atrás apenas da China – entre os países que mais geram empregos na indústria de biocombustíveis sustentáveis e energias renováveis (solar [a energia que mais cresce aqui e no mundo], hidrelétrica e eólica). Somente com as energias renováveis, a Agência Internacional de Energia Renovável (Irena) estima a criação de mais de 38 milhões de novos postos no mundo até 2030.
Cabe um destaque: como lição mais importante, todo o esforço de criação de novos empregos verdes, note-se bem, tem sido pensada em cima de novas políticas de desenvolvimento industrial e de compromissos climáticos, uma espécie de nova ordem e cultura globais, indicativo de que a temática ambiental ganha cada vez mais espaço. Desse ponto em diante, isso significa pensar a economia global no seio da biosfera, algo que ainda incomoda muito o pensamento econômico convencional, historicamente amarrado à ideia de que a prosperidade vem apenas de mais crescimento, ignorando-se na base e na ponta que esse excesso (crescimento além do razoável) choca-se com os limites do planeta (base de toda economia).
Todavia, ainda há mais uma
ressalva: estamos longe de nos habituarmos a produzir e consumir de outra
maneira, assim como também estamos distante de aprender a fazer mais com menos.
Hoje, mais do que nunca, priorizamos a economia (e os negócios rentáveis)
fechando os olhos para a questão ambiental planetária e para o colapso
ecológico.
Fórmula cômoda, o discurso
moderno é conhecido: todos propõem sempre mais crescimento (a partir de
necessidades artificiais e de consumo acelerado) e seu reducionismo
materialista, sem preocupação ecológica. Em linguagem corrente, intensifica-se
a exploração insustentável da natureza. No jogo de cartas marcadas, a tradução
disso, bem sabemos, é simples de entender: estamos vivendo do capital da Terra,
como aponta em poucas palavras Pavan Sukdev. Essa definição, por si só, aponta
para o atual estado de vulnerabilidade em que toda a humanidade se encontra,
principalmente em matéria de bem-estar planetário.
Ocorre que é chegado o momento de virar esse jogo. No fim das contas, para fazer o contraponto e desafiar de vez o antropocentrismo, vem daí a importância de se pensar com mais seriedade na geração de empregos verdes, resgatando-se, antes ainda, um compromisso com a qualidade de vida presente e futura.
Seja como for, incorporando as exigências ecológicas (o que obviamente seria uma solução vantajosa para todos), isso significa, em primeiro lugar, pensar com mais seriedade que outro mundo é possível. Ainda assim, longe de oferecermos aqui uma proposta fechada, é nesse contexto e nessa realidade que a estratégia de crescimento verde, se bem feita, pode sim dissociar o crescimento do esgotamento do capital natural.
A aposta está feita! (ecodebate)
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