Durante seis meses, quatro
ônibus da Autoviação Redentor circularam com o Diesel R5 na cidade de Curitiba
(PR). O teste foi conduzido pela Petrobras, Vibra Energia, Mercedes-Benz, URBS
(órgão que gerencia o transporte coletivo e comercial em Curitiba), além da
Autoviação Redentor. O teste de frota despertou o interesse do mercado pelo
produto. Na primeira quinzena de setembro/2022, a produção de 1.500 m³ foi
comercializada com distribuidoras. A previsão é que no ano que vem, novos lotes
de diesel com conteúdo renovável estejam sendo oferecidos no mercado.
Para a produção do novo
combustível na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), uma das unidades
coloca à venda pela estatal, em Araucária, Paraná, foram necessários
investimentos no recebimento e transferência da matéria prima renovável. A
produção ocorre a partir do coprocessamento (processamento conjunto) de
matérias primas renováveis, neste caso, óleo de soja refinado, com óleo diesel
mineral, utilizando unidade operacional já existente.
"HVO é o produto que mais cresce no mercado e o coprocessamento existe nos principais produtores do mundo. A produção mundial se faz tanto por plantas dedicadas como por coprocessamento. Não é uma jabuticaba brasileira, é uma tecnologia própria da Petrobras, mas a produção é comum no mundo e muito utilizada", explicou o executivo.
Querosene de aviação
A produção de HVO também é
fundamental para que a empresa siga as normas mundiais do bioQAV, querosene de
aviação sustentável que será obrigatório em 2027. Também estão nos planos da
companhia desenvolver biobunker (combustível de navio) e asfaltos menos
poluentes.
"Esperamos de forma
muito positiva que isso seja regulado, é importante para novos investimentos,
principalmente para plantas dedicadas, que é um investimento maior. Todos os
produtores de HVO estão interessados que seja regulado, porque hoje o HVO já é
competitivo com o biodiesel em qualquer cenário", afirmou. A regulação
será feita pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP).
Batizado de diesel R e
iniciado com teor de 5% de carga vegetal (R5), o novo produto da Petrobras
ainda tem uma escala pequena para concorrer com o biodiesel, disse Barreto, e
mesmo que outros agentes entrem nesse mercado após a decisão de ontem, 21, do
Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que liberou o mandato da
mistura ao diesel para o HVO, a possibilidade de ter os dois biocombustíveis
disponíveis só traz ganhos para a sociedade, observou.
O anúncio feito no início da noite de 21/11/2022, após reunião extraordinária do CNPE, pegou o setor de biodiesel de surpresa. Os produtores temem perder espaço para o diesel R, ou diesel verde, como também é chamado, e criticam o alto teor fóssil do produto da estatal. Atualmente apenas o biodiesel pode ser misturado ao diesel, segundo um acordo feito em 2008, que previa o aumento crescente da mistura, que partiu de 2% e chegaria ao teto de 15% em 2023. Este ano, o percentual deveria ser de 14%, mas o governo decidiu reduzir a mistura para 10%, para frustração do setor.
Congresso
A Frente Parlamentar Mista do
Biodiesel (FPBio), formada por parlamentares, anunciou que vai tentar suspender
a decisão do CNPE, ou por projetos de decretos legislativos ou recorrendo ao
novo governo eleito.
"Acho natural
(críticas), mas é importante cada vez mais ressaltar que na visão da Petrobras,
é muito possível e saudável para a sociedade brasileira a convivência dos dois
produtos. A sociedade brasileira ganha com a escolha e não vamos acabar com o
setor de biodiesel", afirmou o executivo. Para ele, o HVO vai gerar uma
pressão positiva para melhorar a qualidade do biodiesel, e, por sua vez, o
produtor de HVO vai ganhar estímulo para tornar o preço competitivo com o
biodiesel.
Barreto explica que uma das vantagens do HVO é poder crescer até o teor de 100% de carga vegetal. A limitação do diesel R5, para testes comerciais em Curitiba, seguiu uma visão econômica, mas o teor pode ser elevado dependendo da preferência do cliente. "Você consegue rodar 100% com HVO, da mesma maneira que roda com o diesel. Isso é importante para o Brasil, que é um País agrícola e utiliza diesel no transporte rodoviário por caminhões. Com o HVO eu consigo manter os motores atuais, o que tem um custo alto na transição energética", explicou.
Além de benefícios para o motor, a cada 9.500 litros consumidos de R5 são evitadas emissões de 1 tonelada de CO2, na comparação com o diesel mineral.
Barreto
destaca que a tendência é que a exigência por motores menos poluentes aumentem
com o tempo, e que haverá espaço suficiente para as duas rotas tecnológicas
(HVO e biodiesel). A própria Petrobras já reservou US$ 600 milhões em seu Plano
Estratégico 2022-26 para o segmento, incluindo uma planta totalmente dedicada
ao HVO no Sudeste, e pode espalhar plantas de coprocessamento em outras refinarias
da estatal. Guardado a sete chaves, o próximo Plano Estratégico da companhia
para o período 2023-27 também terá a carteira de biocombustíveis como destaque,
mas ainda é cedo para dizer se o volume de investimentos será maior,
desconversa Barreto.
"Eu acho que a gente vai continuar com toda a questão da transição energética, com força, isso está no mote da Petrobras e vai aparecer com destaque no plano como apareceu no outro", afirmou. "O objetivo maior é reduzir as emissões de CO2 nas operações da empresa, tanto na produção de petróleo e como no refino", completou.
Ele explica que a opção de começar a produção de HVO pelo coprocessamento com a produção de diesel foi a forma mais rápida de colocar o novo produto no mercado. "Como a unidade já está ali, o Capex já está instalado, a gente tem que fazer algumas implementações de melhorias (nas refinarias), é mais simples e a gente consegue implementar com mais velocidade, mas o nosso plano não para aí", disse Barreto, afirmando que a Petrobras está vendo a possibilidade de antecipar a produção de BioQAV antes da entrada da planta dedicada. (biodieselbr)
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