O caminho seguro e paulatino
para a eletrificação, cujos custos ainda são proibitivos para a conversão
completa da frota, passa pela utilização de alternativas, como o uso de
biocombustíveis para caminhões, e pelas mudanças no processo de produção de
carros elétricos.
Por enquanto, o desafio da
indústria é eleger as melhores alternativas para diminuir a pegada de carbono e
oferecer retorno para o investidor.
Essas foram algumas das
conclusões do painel sobre eletrificação no setor de transportes ocorrido em
29/01/24, durante a 11ª edição do Latin America Investment Conference (LAIC).
Evento organizado pelo UBS, o
painel teve participação de Christopher Podgorski, CEO da Scania Brasil, e
Alexandre Baldy, presidente da BYD Brasil.
“O futuro não será só
elétrico, mas eclético”, diz Podgorski. “Diferentes tecnologias vão competir
entre si, pois o Brasil – um país de dimensões continentais – vai exigir
diversas soluções de descarbonização até a eletrificação”, diz Podgorski.
Segundo ele, fontes de
energia verde como biodiesel, biometano e HVO (óleo vegetal hidro tratado) já
estão sendo incorporadas à frota de caminhões da Scania.
“Dentro dessa busca por
alternativas viáveis visando à descarbonização, temos 7 mil caminhões movidos a
biometano circulando na América Latina, um combustível que reduz 90% das
emissões de carbono”, afirma o executivo da Scania, lembrando que é preciso
oferece um portfólio de soluções no curto, médio e longo prazo.
Podgorski conta que a Scania
começou esse processo em 2014, com a fabricação de ônibus híbridos para
aplicação urbana e conurbana. Dois anos depois, com o Acordo de Paris, a
estratégia de descarbonização foi aplicada no plano de negócios da montadora.
A Scania se comprometeu, com base na frota de 2015, a reduzir em 20% da emissão de carbono dos seus caminhões até 2025. “O fim da história é a eletrificação, vários estudos sobre os sistemas de transportes apontam que até 2050 é possível”, diz Podgorski.
Aposta no plug-in
Baldy, da BYD, diz que o
Brasil não é uma ilha e, a despeito dos custos ainda elevados dos carros
elétricos, a agenda de descarbonização da frota se dará por etapas.
“Os carros elétricos híbridos
plug-in têm uma aceitação mais relevante que os carros puramente elétricos,
precisamos inicialmente de um tempo de transição e adaptação para uso urbano”,
afirma Baldy.
O executivo da montadora
chinesa explica como a BYD conseguiu reduzir o preço de seus veículos, que são
em média US$ 10 mil mais baratos que os fabricados por outras marcas.
Segundo ele, a solução para
reduzir custos foi ampliar o índice de verticalização na produção, com
fabricação própria de maior volume de peças para depender menos de
fornecedores, uma estratégia alinhada com a crise pós-pandemia de cadeias de
suprimento.
“Essa capacidade disruptiva
da empresa busca uniformidade na composição de fornecimento e competitividade,
uma vez que para um veículo elétrico que custa em média US$ 50 mil, a diferença
de US$ 10 mil é significativa”, diz Baldy.
Para os dois executivos, o
desafio no curto prazo é convencer os clientes a deixar de usar caminhões e
veículos a combustão.
Baldy diz que, no caso dos
carros elétricos, é preciso romper o que ele chama de resistência cultural. “O
brasileiro tem uma relação com automóveis de passeio diferente dos europeus e
americanos, nas camadas sociais menores, o carro aqui é visto como um ativo de
seu patrimônio”, afirma.
Ele diz que o carro híbrido,
primeiro passo para a transição, ainda é novidade, daí o receio de aderir ao
novo mercado. “A implementação de infraestrutura de carregamento de bateria e o
início da produção aqui no Brasil vão dar velocidade a essa transição”, afirma
Baldy.
A tarefa da Scania também é complexa. “A eletrificação de caminhões tem custo elevado, mas a manutenção tem custo menor de componentes e, no longo prazo, é possível recuperar o investimento”, diz Podgorski, acrescentando que aas empresas de transporte tendem a relevar num primeiro momento os custos adicionais para cumprir metas de descarbonização.
“Essas curvas de custos de elétricos versus veículos a combustão em algum momento ainda vão se encontrar”, diz Podgorski. “O óleo diesel é duro de abater, mas a jornada já começou e não tem volta”. (biodieselbr)
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