segunda-feira, 4 de março de 2024

O avanço das energias renováveis e a urgência da descarbonização da economia

“Assim como a Idade da Pedra não acabou por falta de pedras, a Era do Petróleo chegará ao fim, não por falta de óleo” - Ahmed-Zaki Yamani

Iniciando com uma notícia boa: o mundo bateu o recorde de aumento da capacidade instalada de energias renováveis em 2023.

Houve uma mudança radical no ano passado, impulsionado pelo mercado solar fotovoltaico da China. As adições anuais globais de capacidade renovável aumentaram quase 50% para quase 510 gigawatts (GW) em 2023, a taxa de crescimento mais rápida das últimos duas décadas, conforme mostra o gráfico abaixo da Agência Internacional de Energia (IEA na sigla em inglês).
O ano passado foi o 22º ano consecutivo que as adições de capacidade renovável estabelecem um novo recorde. Embora o aumento da capacidade renovável na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil atingiram máximos históricos, a aceleração da China foi extraordinária. Em 2023, a China adicionou tanta energia solar fotovoltaica como o mundo inteiro fez em 2022, enquanto suas adições eólicas também cresceram 66% ano a ano. Globalmente, apenas a energia solar fotovoltaica foi responsável por três quartos das adições de capacidade renovável em todo o mundo.

O acordo final da 28ª conferência do clima da ONU, a COP28, realizada em dezembro de 2023, propôs a meta de triplicar a capacidade de geração das energias renováveis globais até 2030. Porém, sob as políticas e condições de mercado existentes, a capacidade renovável global deve atingir 7.300 GW até 2028. Esta trajetória de crescimento representaria um aumento da capacidade para 2,5 vezes o seu nível atual até 2030, ficando aquém da meta de triplicar.

Segundo a IEA, os governos podem completar a lacuna para atingir mais de 11.000 GW até 2030 superando os desafios atuais e implementando as políticas existentes de forma mais rápida. Estes desafios se dividem em quatro categorias principais e diferem conforme o país: 1) incertezas políticas e respostas políticas atrasadas às novas condições macroeconómicas do ambiente; 2) investimento insuficiente em infraestruturas de rede, impedindo uma expansão das energias renováveis; 3) barreiras administrativas pesadas e permissões procedimentos e questões de aceitação social; 4) financiamento insuficiente em países emergentes e economias em desenvolvimento.

Como mostraram Richard Heinberg e David Hughes no artigo “Climate Change and Energy Transition: The 2023 Scorecard” (16/01/2024) a transição energética precisa ser muito rápida para zerar as emissões de carbono até 2050, como mostra o gráfico abaixo.

Os autores mostram que, no início de 2024, a humanidade não está no caminho certo para evitar alterações climáticas catastróficas. Mais de 37 bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono estão a ser libertadas pelas atividades humanas, principalmente pela queima de combustíveis fósseis. A probabilidade de limitar o aquecimento a 1,5ºC (objetivo estabelecido nos Acordos de Paris de 2015) é agora extremamente remota. Na verdade, esse limite foi quase ultrapassado em 2023, pelos dados do Instituto Copernicus que indicou uma anomalia de 1,48ºC em relação ao período pré-industrial. Pelo Instituto Berkeley Earth a anomalia da temperatura em 2023, em relação ao período pré-industrial foi de 1,54ºC.

Se os líderes mundiais quiserem genuinamente mudar estas tendências, serão necessárias medidas drásticas que impliquem a reavaliação das prioridades atuais. Não só os subsídios aos combustíveis fósseis, mas também o crescimento contínuo da atividade econômica global ligada à energia deve ser questionado.

Sol e vento são recursos naturais abundantes e renováveis, mas, indubitavelmente, não podem fazer milagres e nem evitar o imperativo do metabolismo entrópico, como ensina a escola da economia ecológica. A humanidade já ultrapassou a capacidade de carga do Planeta.

Como alertou o ambientalista Ted Trainer (2007), as energias renováveis não são suficientes para manter a expectativa das pessoas por um alto padrão de consumo conspícuo. Ted Trainer prega um mundo mais frugal, com decrescimento demoeconômico, onde as pessoas adotem um estilo de vida com base nos princípios da Simplicidade Voluntária.

Estratégias de descarbonização podem transformar sua empresa em Zero Carbono mais rapidamente.

São tecnologias limpas e processos de produção mais eficientes que tornam possível a aplicação de novas práticas. A economia de baixo carbono vai além do combate às mudanças climáticas, mas estimula também o desenvolvimento sustentável e traz competitividade para o mercado nacional e internacional. (ecodebate)

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