quarta-feira, 8 de julho de 2009

Energia verde no deserto chinês

País avança na construção de usinas elétricas eólicas e solares e desacelera projetos a base de carvão.
No momento em que os Estados Unidos dão seus primeiros passos para obrigar empresas de energia a gerar mais eletricidade de fontes renováveis, a China já tem um requisito semelhante e está investindo bilhões para se refazer como uma superpotência de energia verde.
Com uma combinação de ameaça e persuasão, Pequim começa a mudar a maneira como o país gera sua energia. Embora o carvão continue a ser a maior fonte de energia e muito provavelmente continuará sendo, a ascensão da energia renovável, em especial a eólica, ajuda a desacelerar o forte crescimento das emissões de gases que contribuem para o aquecimento global no país.
Enquanto a Câmara de Representantes aprovou na semana retrasada um requerimento para que as empresas de eletricidade americanas gerem uma parte maior de sua energia de fontes renováveis e o Senado vai analisar propostas parecidas nos próximos meses, já faz dois anos que a China impôs esse requisito.
Neste ano, a China estará prestes a ultrapassar os Estados Unidos como o maior mercado mundial para turbinas eólicas - após dobrar sua capacidade de energia eólica em cada um dos últimos quatro anos. As companhias estatais de eletricidade estão competindo para ver qual delas conseguirá construir usinas solares mais depressa, embora esses projetos sejam muito menores que os projetos eólicos. E outros projetos de energia verde, como a queima de resíduos agrícolas para gerar eletricidade, estão pipocando por todo o país.
Dunhuang, uma cidade oásis nas profundezas do Deserto de Gobi ao lado da famosa Rota da Seda e as vastidões circundantes de dunas de areia e cascalho, tornou-se o centro do impulso da China para liderar o mundo nas energias eólica e solar.
Uma série de projetos está sendo construída no planalto quase sem vida a sudeste de Dunhuang, entre os quais seis imensos projetos de energia eólica que estão sendo construído por toda a China, cada um com uma capacidade de mais de 16 usinas de eletricidade a carvão. Cada um dos seis projetos "ofusca totalmente todo o resto, qualquer outra coisa no mundo", disse Steve Sawyer, o secretário-geral do Global Wind Energy Council, uma associação setorial em Bruxelas.
Algumas autoridades reguladoras chinesas chegam a recear que as ordens de Pequim estejam impelindo as companhias a irem longe demais e rápido demais. As companhias podem oferecer deliberadamente preços abaixo do valor real para construir projetos novos pensando em voltar posteriormente ao governo e pedir uma compensação quando os projetos estiverem perdendo dinheiro.
"O problema é que temos muitas empresas obtusas", disse Li Junfeng, que é vice-diretor-geral de pesquisa energética na principal agência de planejamento econômico da China e secretário-geral da estatal Associação de Indústrias de Energia Renovável.
O HSBC prevê que a China investirá mais dinheiro em energia renovável e energia nuclear entre agora e 2020 que em eletricidade à base de petróleo e carvão. Isso não significa que a China se tornará um gigante verde da noite para o dia. Em primeiro lugar, o consumo de energia no país deve subir consistentemente na próxima década, quando 720 milhões de chineses rurais começarem a adquirir aparelhos de ar-condicionado e outras amenidades consumidoras de energia que já são comuns entre os 606 milhões de moradores urbanos do país.
No início do ano passado, a meta do governo chinês era ter 5.000 megawatts instalados de energia eólica até o fim do ano seguinte, ou o equivalente a oito grandes usinas de eletricidade movidas a carvão, uma pequena proporção do consumo de energia da China e uma ninharia no momento em que o país estava construindo quase duas usinas a carvão por semana.
Mas em março do ano passado, quando as companhias de eletricidade começaram a acelerar a construção de turbinas eólicas, o governo emitiu uma projeção de que 10 mil megawatts seriam efetivamente instalados até o fim do ano. E agora, apenas 15 meses depois, com a construção de usinas a carvão tendo desacelerado para uma por semana e em queda, parece que a China terá 30 mil megawatts de energia eólica até o fim do próximo ano, que era a meta anterior para 2020, disse Li.
Um grande impulso foi o requisito do governo, emitido em setembro de 2007, de que grandes empresas de energia gerassem pelo menos 3% de sua eletricidade de fontes renováveis até o fim de 2010. O cálculo exclui a energia hidrelétrica, que já responde por 21% da energia chinesa, e a energia nuclear, que responde por 1,1%. As companhias chinesas terão de gerar 8% de sua energia de fontes renováveis excluindo a energia hidrelétrica até o fim de 2020.
O projeto de lei da Câmara dos EUA lembra a abordagem da China ao impor um padrão de energia renovável para grandes fornecedoras de eletricidade. Mas os detalhes tornam difícil comparar padrões. O projeto da Câmara exige que os grandes provedores de eletricidade dos EUA derivem pelo menos 15% de sua energia até 2020 de uma combinação de economia de energia e energia renovável - incluindo usinas hidrelétricas construídas a partir de 1992.
As companhias energéticas chinesas estão ávidas para investir em energia renovável não só pelas determinações do governo, mas porque estão cheias de dinheiro e os bancos estatais estão ávidos para lhes emprestar mais. E são poucos os obstáculos regulatórios.
Mesmo com obstáculos, como tempestades de areia e a insuficiente rede de transmissão elétrica, oficiais de Dunhuang investem em novos projetos. "É o Deserto de Gobi", disse Wang Yu, o vice-diretor de planejamento econômico. "Não há muita outra utilidade para ele."

Nenhum comentário: