quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Macaúba é saída para biodiesel

Você já ouviu falar em macaúba? Se ainda não, grave bem este nome. A palmeira macaúba (Acrocomia aculeata) ou coco-baboso ou coco-de-espinho é uma espécie da floresta Amazônia e de outras regiões brasileiras e é apontada pela Embrapa como alternativa na produção de biocombustível. Suas vantagens são bem maiores que a soja e o dendê, outra espécie pesquisada. Pode-se encontrar a palmeira desde o Pará até São Paulo.
Um estudo do governo aponta que o Brasil possui pelo menos 10 mil plantas com potencial comestível, farmacológico e energético. Apenas 5% desse total foram pesquisados. Por essa razão, a Embrapa está investindo em pesquisas de biocombustíveis. As projeções da Agência Internacional de Energia (AIE) mostram a demanda por biodiesel crescerá 300% em pelo menos oito países até 2020. Passará de 34,7 milhões de toneladas em 2010 para 133,8 milhões.
Os Estados Unidos se manterão como o principal consumidor, saltando de 14,8 milhões para 51,5 milhões de toneladas, mas percentualmente o maior incremento será mostrado pelo Brasil cujo potencial de consumo será de 20 milhões de toneladas em 2020, cerca de 900% acima dos dois milhões de toneladas de 2010. É dentro dessa perspectiva de mercado que a Embrapa insere a macaúba, cuja vocação para produzir óleo foi pesquisada pela Embrapa com bons resultados na década de 80, quando a palavra biodiesel, assim como a macaúba hoje, era desconhecida da grande maioria das pessoas.
A macaúba chega a atingir 30 toneladas de biomassa por hectare, quando o volume da soja é de apenas 4%. Significa dizer que a espécie por resultar em cerca de 5 mil litros por hectare ante 1 mil litros da soja. Outra vantagem da macaúba, uma palmeira rústica caracterizada por espinhos longos e pontiagudos, consome bem menos água que seu concorrente. Tal situação ganha importância maior, uma vez que no mundo inteiro os cientistas e governos buscam soluções sustentáveis para enfrentar os problemas climáticos e de escassez de água.
As vantagens da macaúba e outras quatro palmeiras foram tema do II Simpósio Brasileiro de Palmeiras Oleíferas. O encontro aconteceu nesta quinta-feira, 27, em Montes Claros (MG). Durante o simpósio, o pesquisador Leonardo Bhering, da Embrapa Agroenergia, expôs resultados de estudos referentes à diversidade genética da cultura e a importância da realização de um manejo sustentável da macaúba.
Consórcio com pecuária e lavoura
Um dos estudos, por exemplo, ensina como fazer a coleta de frutos para evitar um "estrangulamento genético" na espécie. Bhering disse que a unidade a Embrapa desenvolve várias linhas de pesquisa com a carnaúba e já constatou, por exemplo, o alto potencial da espécie para produção de biodiesel. A planta é capaz de produzir 4 mil litros de óleo por hectare.
Outro debate ministrado pelo professor Sérgio Motoike, da Universidade Federal de Viçosa, também chamou a atenção dos participantes. Ele falou sobre a qualidade de mudas e micro propagação da palmeira macaúba. Além de abordar a qualidade de mudas, micropropagação, manejo fitotécnico de culturas em implantação, arranjos populacionais, consórcio, sistemas de produção e adubação, Motoike disse que é possível fazer o melhoramento da carnaúba e propiciar a sua interação com a lavoura e a pecuária.
Ainda no encontro a pesquisadora Marina Vilela, da Embrapa Cerrados, explicou sobre o mapeamento por satélite das palmeiras oleíferas. Rosemar Antoniassi, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, expôs os estudos sobre o rendimento e a qualidade do óleo da macaúba para a produção de biocombustíveis.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Novo relatório sobre agrocombustíveis

O Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis da Repórter Brasil lança o quinto volume do relatório O Brasil dos Agrocombustíveis, que avalia novos impactos do sebo bovino, dendê, algodão, pinhão manso, canola e girassol.
Sebo bovino leva problemas da pecuária à cadeia no biodiesel.
Repórter Brasil publica relato sobre a exploração do sebo bovino e inclui também algodão, dendê, pinhão-manso, girassol e canola para a produção de biocombustíveis.
A ONG Repórter Brasil acaba de publicar o quinto relatório do Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis (CMA) com um estudo inédito sobre a utilização da gordura animal para produção de biodiesel, além de dedicar atenção especial ao girassol e a canola. Outra novidade são os estudos de caso sobre o uso de óleos vegetais para geração de energia elétrica em comunidades isoladas da Amazônia.
A publicação se diferencia pela heterogeneidade dos temas, organizados em dois grandes campos: o do agronegócio e o da agricultura familiar. No primeiro, estão o sebo bovino e o algodão, não por acaso as outras duas matérias-primas do biodiesel (além da soja) que aparecem nos indicadores mensais de produção da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biodiesel (ANP). No segundo, oleaginosas tão diversas quanto o pinhão-manso, o dendê, o girassol e a canola.
“Procuramos fazer com que este relatório seja uma ferramenta para a sociedade de fiscalização dos aspectos e impactos sociais, trabalhistas, ambientais, fundiários e sobre populações tradicionais e indígenas causadas por culturas utilizadas para a produção de agrocombustíveis no Brasil”, diz Marcel Gomes, coordenador do CMA.
Para a elaboração do relatório, a ONG percorreu 27,9 mil quilômetros por meio aéreo e terrestre, com passagem pelos estados do Amazonas, Bahia, Mato Grosso, Pará, Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo e Tocantins. O apoio financeiro foi dado por Cordaid, Fundação Doen e Solidaridad.
Conheça os principais assuntos do relatório:
Sebo bovino
A gordura animal é a segunda matéria-prima mais utilizada para a produção de biodiesel no Brasil, atrás apenas do óleo de soja e bem na frente do óleo de algodão ou das oleaginosas que são a aposta principal do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB).
As 65 usinas de biodiesel autorizadas pela Agência Nacional de Petróleo e Gás Natural (ANP), em geral, têm tecnologia adaptada para processar tanto óleos vegetais de diversas fontes quanto gorduras animais. A produção de biodiesel com foco no aproveitamento da gordura animal está concentrada em quatro estados: São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia
São Félix do Xingu (PA) possui o maior rebanho bovino do Brasil (IBGE/2007) e a maior área de floresta amazônica destruída (MMA/2008). É também o município no qual o crescimento do rebanho entre 1996 e 2006 foi o maior do país. E, não por coincidência, o campeão no ranking nacional do trabalho escravo: entre 1º de janeiro de 2002 e 30 de junho de 2009, o município teve 108 casos fiscalizados, segundo dados compilados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).
A gordura animal dificilmente é associada à produção de biodiesel. A empresa Biocapital, por exemplo, não costuma divulgar que sua usina localizada em Charqueada (SP) é a maior do País a utilizar 100% de sebo bovino como matéria-prima. O governo federal, também não dá visibilidade à gordura animal, preferindo destacar oleaginosas vistas como estratégicas para a agricultura familiar, embora elas atinjam menos de 2% da matéria-prima utilizada para produção de biodiesel em junho deste ano, segundo dados da ANP.
A explicação para o silêncio pode estar nos graves problemas sociais, ambientais e trabalhistas da pecuária no Brasil. Associar a cadeia do agrocombustível a esses impactos negativos certamente prejudicaria a boa imagem de “combustível limpo” que empresários e gestores públicos tentam criar. Omitir dos consumidores a relação entre pecuária e produção de biodiesel no país, por outro lado, significa enganá-los com o falso discurso da sustentabilidade.
Algodão
Ao longo da safra 2008/09, o algodão manteve participação minoritária entre as matérias-primas usadas pela indústria brasileira de biodiesel. Mas, o potencial de seu óleo para ocupar uma parcela, ainda que complementar, da cadeia produtiva do biodiesel, existe e já é realidade. Essa condição determina que empresas, governos e organizações da sociedade civil atentem para as condições socioambientais de produção do algodão no País, cujas áreas de cultivo estão distribuídas por pelo menos catorze Estados brasileiros, incluindo diversas fronteiras agrícolas.
Entre os sete municípios pesquisados por satélite no Oeste da Bahia, a devastação é maior em Luís Eduardo Magalhães, cidade considerada exemplo regional de desenvolvimento e um dos pólos nacionais do algodão. No município, há 43% do solo com vegetação nativa, 42% com atividade agrícola e 7% com pecuária. Além da questão ambiental, o Oeste da Bahia também enfrenta problemas trabalhistas. A região foi um dos destaques da última atualização da “lista suja” do trabalho escravo – cadastro do governo federal que aponta empregadores flagrados na exploração de pessoas em condições análogas à escravidão – em julho de 2009.
Mas há iniciativas positivas. No Oeste, ONGs, governos e iniciativa privada se unirem em prol de um projeto de regularização e recuperação ambiental. A parceria envolve a organização não governamental The Nature Conservancy (TNC), a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), governos federal e estadual, Ministério Público e ambientalistas. No Mato Grosso, o Instituto Algodão Social (IAS), vinculado aos produtores do Estado, concede o “Selo de Conformidade Social” ao cotonicultor que preencher 95 requisitos que comprovem sua adequação com a legislação trabalhista.
Dendê
Apenas a Agropalma, maior produtor de dendê do País, faz biodiesel de óleo de palma. Mas a empresa utiliza a maior parte do agrocombustível na própria frota de veículos, entregando à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biodiesel (ANP) apenas 2.625 m3 em 2008 e 1.036 m3 de janeiro a julho de 2009.
No âmbito governamental, porém, o dendê passou a ocupar um espaço importante na agenda do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), que usou a cultura como bandeira para defender mudanças no Código Florestal. Para o MAPA, que quer que o Código Florestal permita que áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia (reservas legais) sejam recuperadas com espécies não nativas, o dendê poderia ocupar de imediato 1 milhão de hectares de áreas degradadas.
Ambientalistas são contra esta medida, já que as reservas legais têm a função de proteger a biodiversidade na Amazônia. Plantar dendê, ou outras espécies exóticas, como eucalipto ou pinus, onde deveria ter floresta nativa, não só não cumpre a função da Reserva Legal, como pode ameaçar a biodiversidade amazônica.
Os ambientalistas argumentam ainda que as áreas já degradadas da Amazônia (cerca de 70 milhões de hectares) são “disputadas” pela soja e pela pecuária. A Amazônia produz 15% da soja brasileira, e a pecuária ocupa cerca de 74 milhões de hectares na região. A entrada do dendê nesta “disputa” levaria obrigatoriamente a mais desmatamentos, principalmente porque o dendê é plantado em grandes áreas e em forma de monocultivos, que deverá levar à derrubada das manchas de floresta entre as áreas degradadas.
Pinhão-manso
Governo e instituições públicas de pesquisa, como Embrapa e Epamig, continuam muito reticentes em relação ao pinhão-manso, que teve o seu cultivo reconhecido oficialmente apenas em janeiro de 2008. O governo argumenta que não existem pesquisas suficientes sobre o comportamento da planta em diferentes condições de solo e clima, e frente a diversas condições fitossanitárias, o que impede a criação de políticas públicas para a cultura.
Já o setor privado não está esperando pelo governo e tem investido no pinhão, cuja área plantada praticamente duplicou no último ano e meio, de acordo com a Ass. Brasileira dos Produtores de Pinhão-manso.
Não há produção de biodiesel de pinhão-manso. A maior parte da produção é utilizada como semente para a reprodução da cultura. Sendo uma cultura que exige muita mão de obra, o pinhão-manso já teve dois casos de trabalho degradante e escravo: em novembro de 2008 na área da empresa Bioauto MT Agroindustrial LTDA, no Mato Grosso, e em março de 2009 na Fazenda Bacaba, da empresa Saudibras, no Tocantins.
Girassol e Canola
Em Santa Cruz do Sul (RS), o relatório reporta a realidade dos agricultores familiares fornecedores do fumo que movimenta a indústria do cigarro na região – e que desenvolvem uma experiência na área do biodiesel, buscando alternativas para o segmento. O projeto conta atualmente com 23 produtores envolvidos, e tem no girassol sua matéria-prima central. A proposta busca estimular os fumicultores a diversificar sua produção e fontes de renda.
Em Passo Fundo (RS), a BSBios, uma das dez maiores usinas de biodiesel do Brasil, aposta firme na canola para garantir seu crescimento e o acesso a novos mercados. Sobretudo aqueles situados na Europa. O investimento da empresa na nova cultura traz alento para os agricultores familiares da região, preocupados com as dificuldades na produção do trigo e alçados a parceiros da empresa no fornecimento da matéria-prima. O avanço da canola no degradado bioma do Pampa gera preocupações. Seja em termos dos futuros impactos ambientais, seja quanto aos riscos assumidos pelos agricultores, fica patente a importância de os investimentos na canola não seguirem o modelo de monocultivo aplicado a culturas como a da soja e da cana.

sábado, 26 de setembro de 2009

Árvore genealógica dos biocombustíveis

A possibilidade de usar o álcool da cana-de-açúcar como combustível alternativo é conhecido há mais de um século. No início do século XX, o Brasil já usava o álcool extraído da cana para fins energéticos. Em outubro de 1973, o cenário mudou e o mundo viu diante de si o risco de desabastecimento energético. Em 1981, o etanol de cana passou a ser oficialmente misturado à gasolina, até então importada. Foi o primeiro choque do petróleo que promoveu o interesse mundial por fontes alternativas de energia e levou os países a buscarem as soluções mais adequadas, considerando as peculiaridades nacionais. A crise internacional elevou os gastos do Brasil com importação de petróleo, aumentou a dívida externa brasileira e promoveu a escalada da inflação.
Em 1975, foi lançado o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), que o governo criou condições necessárias para que o país surgisse na vanguarda do uso de biocombustíveis. O Brasil apresentava diversos pré-requisitos para assumir esse pioneirismo: possuía um expressivo setor açucareiro e usinas com alta capacidade ociosa. Paralelamente, as altas no preço do petróleo colocavam em risco o abastecimento interno. A saída encontrada foi reunir num grupo de trabalho, ou seja, o governo, institutos de pesquisa, indústria automobilística, refinarias e usineiros para debater as características do produto e as metas do Programa.
As primeiras especificações do álcool (anidro e hidratado) foram lançadas em 1979, depois que pesquisadas as razões do problema de corrosão de motores.
Em virtude da redução do preço do petróleo, no final dos anos 80, e do aumento da cotação do açúcar no mercado internacional na década seguinte, ocorreu forte escassez de álcool hidratado nos postos de abastecimento. Isto abalou a confiança do consumidor, refletindo-se numa queda brutal das vendas de carros movidos a álcool no país. Na década de 90, com o fim dos subsídios a usinas e consumidores, o uso do álcool hidratado como combustível foi reduzido. Contrariando a tendência de mercado, a mistura de álcool anidro à gasolina foi incentivada pelo governo.
Em 1993, estabeleceu-se uma mistura obrigatória de 22% de álcool anidro em toda gasolina distribuída pela revenda nos postos, gerando uma expansão de mercado pelo combustível vegetal que vigora até hoje. Ao longo de quase quarenta anos, o uso do álcool, em substituição à gasolina, promoveu uma economia de um bilhão de barris equivalentes de petróleo, correspondentes a 19 meses de produção em 2007. Graças ao álcool combustível, entre 2000 e 2007 deixaram de serem importados US$ 61 bilhões em barris de petróleo.
A supremacia da cana-de-açúcar, como matéria prima para a produção do etanol PRIMEIRA GERAÇÃO começou a ser ameaçada pelo desenvolvimento de novas tecnologias.
A mais promissora tecnologia permite a produção de etanol a partir de lignocelulose ( açúcar que compõe todas as fibras vegetais). Trocando em miúdos, trata-se da possibilidade de produzir o combustível utilizando todas as partes de plantas de diversas espécies. Hoje em dia, os processos do etanol estão ancorados na utilização de açúcares de cadeira curta (sacarose, glicose e frutose, principalmente), que as leveduras são capazes de consumir. As principais matérias-primas utilizadas em 2007 eram a cana-de-açúcar no Brasil, a beterraba na França e o milho nos Estados Unidos.
O etanol de SEGUNDA GERAÇÃO, produzido a partir da celulose, presente nos resíduos da cana-de-açúcar e em outras matérias-primas vegetais, é uma alternativa fundamental aos cerca de cem países capazes de produzir o combustível renovável que desejam fazê-lo sem prejudicar a produção de alimentos. O cenário foi destacado por Christoph Berg, diretor geral da F.O.Licht, consultoria alemã de mercado de commodities durante sessão plenária que abordou o tema de segurança energética na Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, que reuniu delegações de 92 países em São Paulo, neste ano, para a discussão dos desafios e oportunidades de mercado. Do ponto de vista da oferta, as tecnologias de primeira geração deverão garantir um crescimento relativamente constante no mercado de etanol até 2018. A partir daí, os produtores mundiais precisarão de tecnologias da geração seguinte. Caso contrário, teremos o limite da oferta em relação à competição entre o uso da terra para a geração de energia e a produção de alimentos.
Segundo Berg, que é membro do Grupo Consultivo sobre Biocombustíveis da Comissão Européia, apontou que o etanol, nesse período de tempo, tem capacidade de atingir uma participação no mercado global de combustíveis de até 10%, considerando a estrutura tecnológica atual.
Num parêntesis aqui feito, aproveitamos para inserir que, seguindo a corrida pelas pesquisas tecnológicas e políticas públicas em relação aos biocombustíveis, o Brasil apresentou no dia 17 do corrente mês, o Plano de Zoneamento Agroecológico que proíbe plantio da cana em 81% do território brasileiro. Como o uso da terra para plantio de cana-de-açúcar nos dias de hoje era de cerca de 1% da terra agricultável, espera-se que as oportunidades surjam como fruto das novas tecnologias em andamento, até que se possa, eventualmente, sugerir correções neste diploma legal. .
Pesquisas realizadas confirmam que o etanol de segunda geração ampliará o leque de matérias-primas utilizando até mesmo o bagaço e as folhas da cana-de-açúcar. Com a disseminação da tecnologia de produção do etanol de celulose, o potencial de produção do álcool será imensamente maior. Com isso, será possível aumentar significativamente a produção do combustível, sem a necessidade de ampliar de forma drástica a área cultivada aproveitando-se o bagaço e a palha da cana-de-açúcar. Esta solução poderá se constituir num sério problema para as usinas, que atualmente aproveitam o bagaço para gerar a energia que consome, e em alguns casos, vendem. A saída para o problema tem sido considerada o desenvolvimento de métodos e tecnologias baseados no conceito de integração energética, uma alternativa que vem apresentando bons resultados, afirma a professora Silvia Nebra, da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) e do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (NIPE), ambos da Unicamp. Assim será necessário utilizar ao máximo a energia disponível na indústria, de maneira mais inteligente.
O uso otimizado da energia disponível é a saída para o iminente problema, diz a professora. Como o bagaço e a palha da cana poderão ser empregados para a obtenção de etanol, obviamente faltará insumo para a produção de energia. Surgiu como alternativa o aproveitamento da lignina, subproduto que surge do processamento do bagaço como combustível para a geração do vapor. Além disso, comenta Silvia Nebra, o conceito de integração energética contempla outras medidas, como a transferência de calor de correntes quentes para correntes frias. Segundo Silvia, muitas vezes, isso exige não apenas o uso de novos equipamentos, mas também a mudança de layout das indústrias.
Um exemplo de integração energética vem de uma tecnologia desenvolvida a partir de pesquisa coordenada pela própria Sílvia Nebra, voltada ao melhoramento da capacidade térmica da indústria sucroalcooleira.
Trata-se de um equipamento que aproveita os gases emitidos pelas caldeiras da usina para secar o bagaço de cana. Com a matéria-prima previamente seca, a sua queima torna-se muito mais eficiente, melhorando consequentemente o desempenho do sistema como um todo. Dentro do mesmo contexto da integração energética, uma proposta que vem sendo investigada pela equipe da docente é utilizar o calor da vinhaça, subproduto advindo da produção do etanol.
A Embrapa também tem pesquisas em biocombustíveis no sentido de caracterizar a parede celular da cana-de-açúcar. O intuito é compreender melhor a composição e a estrutura da parede celular, para manipulá-la de maneira específica, e aumentar a produção de etanol de segunda geração.
Em Minas Gerais, cerca de R$ 1 milhão será investido no município de Ituiutaba, no Triângulo Mineiro, para a instalação de uma Unidade Básica de Apoio à Pesquisa (Ubap) voltada ao desenvolvimento de etanol de segunda geração. Essa decisão foi anunciada no início da 2ª quinzena de agosto passado, em Belo Horizonte, na sede da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior ( Sectes), onde representantes das instituições envolvidas e lideranças políticas se reuniram para discutir alguns aspectos do projeto. Do volume total de recursos para a implantação da Ubap, R$ 800 mil virão de emenda parlamentar, por meio do Ministério da Ciência e Tecnologia, enquanto R$ 200 mil virão da contrapartida do Governo de Minas.
As algas, consideradas a TERCEIRA GERAÇÃO dos biocombustíveis, são as maiores produtoras de oxigênio do Planeta. Ajudam a limpar as águas por se alimentarem de matéria orgânica. Biólogos trabalham em pesquisa que cultiva a alga no Brasil. A Kappaphycus Alavarezii já é conhecida e explorada há anos em diferentes pontos do mundo, especialmente na Ásia. No Brasil, até agora, só houve autorização de plantio entre a Baía de Sepetiba no Rio, e Ilhabela, em São Paulo. O cultivo fácil e rápido. Em 45 dias, a alga está no ponto de colheita. O prof. Maulori Cabral, pesquisador da UFRJ afirma que a pesquisa já dura dois anos. A alga chega bem diferente do que vimos no mar, depois de passar por um processo simples de secagem. Segundo Maulori, se tudo der certo, em 2013 o projeto sai do papel. Ainda é preciso aumentar a produção de algas, melhorar as técnicas, investir em novas pesquisas. Só assim teremos a que está sendo considerada a terceira geração do álcool combustível. Ainda falta muito tempo para isso se tornar realidade. Segundo os pesquisadores, existem vantagens de se retirar álcool de alga. Se comparado com o de cana: é possível uma produção bem maior na mesma área plantada e não ocupa terra, solo, não é preciso usar água doce para irrigar. E ainda, a cana tem que ser moída rapidamente. Já a alga, depois de seca pode ser estocada servindo para regular a safra.Oxalá as pesquisas sejam ambientalmente corretas e bem sucedidas em sua grande maioria para esta e futuras gerações.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Cientistas transformam penas de galinha em biodiesel

Aquelas pesquisas no departamento de engenharia química e de materiais da Universidade de Nevada em Reno estão de volta. No ano passado, elas mostraram ao mundo que era possível produzir biodiesel a partir de café moído. Dessa vez, são as penas de galinha. Em um artigo no Journal of Agricultural and Food Chemistry, Mano Misra, Susanta K. Mohapatra e colegas descreveram como extraíram gordura da farinha de penas de galinha e a transformaram em biodiesel de boa qualidade.
Farinha de penas, tipicamente usada como fertilizante ou ração animal, é um subproduto da criação em grande escala de aves para consumo e geralmente inclui sangue e vísceras. A farinha pode conter até 11% de gordura. Os pesquisadores extraíram a gordura fervendo a farinha em água e a convertendo em biodiesel através de um processo chamado transesterificação.
Eles dizem que existe farinha de penas suficiente produzida apenas nos Estados Unidos para criar cerca de 570 milhões de litros de biodiesel por ano. Isso é apenas uma gota no oceano, mas os pesquisadores observam que a produção corrente de biodiesel usa óleo vegetal e, com o crescimento da demanda por combustível, é possível haver competição por óleo para uso alimentar e como combustível.
Portanto, é importante, os pesquisadores dizem, buscar fontes alternativas para a produção de biodiesel - com o objetivo, como eles colocam, de dar "alimentos para a fome e restos para combustível."

terça-feira, 22 de setembro de 2009

As Pequenas Centrais Hidrelétricas e o seu impacto ambiental

Apesar dos baixos impactos ambientais, muitas vezes as PCHs têm sido penalizadas pelos órgãos ambientais que a tratam como se fossem grandes centrais hidrelétricas, com os mesmos impactos. O que não é verdade. A constatação é do professor Geraldo Lucio Tiago Filho, que conversou por e-mail, com a IHU On-Line sobre os projetos e as PCHs que estão em funcionamento no país. Segundo ele, as PCHs, assim como a eólica e a biomassa, constituem um importante potencial disponível em nosso país, além de ser uma forma de energia pouco impactante.
Geraldo Lucio Tiago Filho é Engenheiro mecânico, especialista em Estudos de Projetos e Construção de Pequenas Centrais e em Planejamento e Economia em Energia de Meio Ambiente. É mestre em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Itajubá e é doutor em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo. Hoje, é professor da Unifei.
Confira a entrevista.
P. IHU On-Line – As Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCHs – têm mesmo menos impacto ambiental?
R. Geraldo Lucio Tiago Filho – As PCHs deveriam ser consideradas como empreendimentos com baixo impacto ambiental pelos seguintes motivos:
- Geralmente são a fio d’água e não requerem a construção de grandes barragens;
- As microcentrais são normalmente construídas nas cabeceiras dos rios e com pouco impacto na ictiofauna;
- Quando colocadas em trechos de rios planos, a barragem pode trazer impactos à migração de peixes, mas isso pode ser evitado com escadas para peixes;
- Como são, geralmente, centrais de desvio e com operação a fio d’água, o maior impacto ambiental presente neste tipo de central é a diminuição da vazão do curso d’água no trecho seco (trecho entre a barragem e a casa de máquinas). Para minimização dos impactos, a legislação exige que se deixe neste trecho uma vazão mínima, um valor suficiente para manter a biodiversidade e o uso consultivo no trecho.
Em princípio, as PCHs resultam em pequenos impactos ambientais, considerando que, normalmente, as áreas alagadas são menores, limitadas a três quilômetros quadrados, mas podendo chegar a treze quilômetros quadrados, desde que atenda a expressão: S? 14,3 . P/H, p[MW] H[m]. Além disso, por ser uma forma de geração de eletricidade que se utiliza de potenciais distribuídos no território nacional
Por exemplo: No Programa PROINFA, estão sendo construídas em torno de 63 empreendimentos de PCH, que resultam em 1200 MW e uma área alagada de 200 quilômetros quadrados. Enquanto que a UHE Sobradinho, com uma potência de 1050 MW, tem uma área alagada de 4381 quilômetros quadrados. Temos que levar em conta que Sobradinho possui a função de regularizar a vazão do rio São Francisco e as PCHs funcionam sem regularização.
Apesar dos baixos impactos ambientais, muitas vezes, as PCHs têm sido penalizadas pelos órgãos ambientais que a tratam como se fossem grandes centrais hidrelétricas, com os mesmos impactos. O que não é verdade, pois:
1) Possuem reservatórios com pequenas áreas alagadas;
2) Não há deslocamento populacional por ocasião das implantação das PCHs;
3) Não há deplecionamento (abaixamento do nível da água armazenada durante um intervalo de tempo específico) do reservatório;4) Não há regularização de vazões;
5) Normalmente não há interferência com a transposição dos peixes, pois o local onde são instaladas são constituídas por cachoeiras com desníveis consideráveis, que constituem uma barreira natural à piracema.
P. IHU On-Line – Existem mais de mil projetos de pequenas usinas em análise pela Annel. O Brasil precisa de toda essa energia?
R. Geraldo Lucio Tiago Filho – Sim. O que a legislação atual fez foi permitir ao setor privado investir no aproveitamento de potenciais que a priori, é da nação, ou seja, de toda a população brasileira. O que o governo faz é permitir que um empresário invista em um setor onde o próprio governo é que tem a prerrogativa e que deveria investir. Por isso, ele concede uma autorização (no caso das PCHs. E uma concessão, no caso das UHE e/ou qualquer central de serviço público).
Se o setor privado não puder, não quiser ou não se interessar em investir, o governo é que deverá investir para atender o crescimento da demanda natural de uma economia que cresce e de uma sociedade que vê, a cada dia, sua qualidade de vida melhorar. Se há uma melhora nos índices de qualidade de vida e da economia, automaticamente, há um aumento da demanda da energia. Por isso, far-se-á necessário o nosso país investir, com capital privado ou estatal, nacional ou estrangeiro, cada vez mais em energia.
E as PCHs, assim como a eólica e a biomassa, constituem em um importante potencial disponível em nosso país, além de ser uma forma de energia pouco impactante. Depois da eólica, são as PCHs que apresentam os menores índices de impacto ambiental.
P. IHU On-Line – O senhor pode nos falar sobre a atual situação das PCHs em operação no país hoje?
R. Geraldo Lucio Tiago Filho – Atualmente, há no Brasil 343 PCHs em operação que, com potência média em torno de 2.767 MW, representando 2,65% na Matriz energética Nacional. Isso é bastante, considerando que as eólicas ainda representam apenas 0,4% da matriz.
P. IHU On-Line – A construção de PCHs tem se mostrado um bom projeto para investimento internacional. O que isso traz de consequência para o país?
R. Geraldo Lucio Tiago Filho – Em princípio, é o aumento do capital investido no país. Isso ocorre em função do aumento da confiança dos investidores estrangeiros no mercado brasileiro, na constância das regras de mercado, nas altas taxas de retorno do capital investido.
P. IHU On-Line – A crise financeira internacional influenciou o desenvolvimento dos projetos sobre as PCHS?
R. Geraldo Lucio Tiago Filho – Em princípio, houve uma retraída em novos empreendimentos. Logo, quando a crise eclodiu, muitos dos projetos que ainda estavam em estudo ou estruturando o financiamento pararam. Mas os investimentos mais amadurecidos continuaram.
Além disso, a crise coincidiu com a mudança nas regras de registro dos empreendimentos junto à Aneel (Revisão da Resolução 395). Quando houve uma corrida para o registro dos empreendimentos de acordo com a regra antiga, e praticamente estacaram após a emissão das novas regras.
P. IHU On-Line – Qual sua opinião sobre as hidrelétricas que estão sendo construídas, ou projetadas, para serem implementadas na Amazônia?
R. Geraldo Lucio Tiago Filho – Os grandes potenciais hidráulicos já se extinguiram nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. O Brasil tem um grande potencial hídrico e sua matriz de geração de eletricidade é baseada na geração hidrelétrica. E assim deve continuar, pois se constitui de uma das matrizes mais limpas do planeta, visto que a maioria dos países tem como base o uso de combustível fóssil, tais como o petróleo, o gás e o carvão.
Atualmente, os grandes potenciais brasileiros estão localizados no Centro-Oeste e região amazônica. Então, é natural que os estudos e investimentos tomem essa direção.
Se o Brasil não investir em grandes hidrelétricas ele será obrigado a investir em centrais térmicas a gás, a carvão e nuclear. Tecnicamente e economicamente não há como atender o crescimento da demanda do país apenas utilizando fontes não convencionais de energias renováveis, tais como eólica, solar e biomassa.
A forma mais perene e segura que temos ainda é e vai continuar sendo a hidroeletricidade.

domingo, 20 de setembro de 2009

Pesquisadores discutem processos de produção dos biocombustíveis

Diversificar para competir. Para chegar a um processo de produção do etanol de segunda geração que seja economicamente viável, torna-se necessário também diversificar as matérias-primas a serem utilizadas. Esse foi um dos diagnósticos levantados pelos participantes do BIOEN Workshop on Process for Ethanol Production, realizado na sede da FAPESP no dia 10.
O evento – que fez parte das atividades do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia – reuniu cientistas do Brasil e dos Estados Unidos para discutir o panorama das pesquisas no setor, além da produção global e sustentável de bioenergia, nova geração de biocombustíveis, demandas tecnológicas e processos utilizados na produção do etanol.
Diversos aspectos foram levantados que vão da produção e comercialização do etanol à preocupação crescente com o meio ambiente e com a segurança.
“Há um grande potencial de uso do bagaço, de folhas e de palhas. Já temos inclusive a produção de bioeletricidade disponível. Não importa o tipo de matéria-prima que se use, a diversidade aumenta a competitividade, o que é algo muito bom”, disse Wilson Araújo, pesquisador da DuPont Biofuels LA, que apresentou a atuação da empresa e o panorama das pesquisas feitas por ela sobre a biomassa a partir da cana-de-açúcar.
Parte dos estudos apresentados focou a ampliação das possibilidades de uso de matérias-primas para a produção do etanol – como o bagaço e a palha da cana, no caso brasileiro, ou o milho, em relação à produção de etanol nos Estados Unidos.
Mas o maior volume das discussões se concentrou nos processos de tratamento da matéria-prima utilizada, a fim de tornar a produção do biocombustível economicamente viável. As palestras abordaram tanto o pré-tratamento do bagaço de cana, passando pelo processo de fermentação, como o tratamento do caldo, e a necessidade de demandas tecnológicas e de monitoramento na produção em larga escala.
Justin van Rooyen, diretor de desenvolvimento de negócios da empresa Mascoma, apresentou as inovações incorporadas nos Estados Unidos na produção de etanol produzidos a partir do milho.
Segundo ele, há grande disponibilidade de matéria-prima barata, como aparas de madeira, bagaço de cana ou sabugo de milho, mas o problema é que, por serem formados por celulose, só podem se transformar em biocombustíveis quando submetidos a reações de hidrólise (processo químico de quebra de moléculas).
“Quando consideramos os custos de uma instalação química, os números de etapas do processo aumentam o valor final e encarecem o produto”, disse Van Rooyen. No caso da produção de biocombustíveis, as etapas envolvem a produção de enzimas, sacarificação, fermentação de pentoses (açúcares de cinco carbonos) e fermentações de hexoses (açúcares com seis carbonos).
Segundo Van Rooyen, o custo para o fornecimento de enzimas é o segundo principal fator que eleva o preço. “Nos níveis atuais de fornecimento de enzimas, há muito pouca chance de chegar a uma solução que possa competir com a gasolina derivada de petróleo”, apontou.
“O que tentamos solucionar é como pegar essa biomassa e quebrá-la em açúcares que possam ser usados para produzir combustíveis químicos”, disse ao falar do processo denominado de “bioprocessamento consolidado”. Na técnica, desenvolvida por seu grupo, as quatro transformações biológicas envolvidas na produção do bioetanol – produção de enzimas, sacarificação, fermentação de hexoses e fermentação de pentoses – ocorrem em uma única fase.
Subprodutos e uso da água
Microrganismos geneticamente modificados produzem enzimas com melhor atividade que as utilizadas pelos outros processos, segundo Van Rooyen. A Mascoma, que tem como cofundador Lee Rybeck Lynd, da Thayer School of Engineering, que também esteve no woorkshop na FAPESP, obteve a patente de micróbios capazes de produzir enzimas utilizadas na hidrólise.
“O uso do processo biológico com enzimas externas é muito caro e economicamente inviável. Estamos simplificando o processo, por duas razões: reduzir o custo e eliminar as enzimas”.
Segundo ele, a técnica de bioprocessamento consolidado permite a conversão de biomassa de uma vez. “Com isso, conseguimos remover a necessidade de enzima externa e uma parte do capital necessária no processo”, disse.
As bactérias desenvolvidas conseguem romper e quebrar a biomassa do milho. “Mas precisamos programá-las para que parem de produzir os outros subprodutos e produzam só o etanol”, apontou.
Nos testes iniciais feitos com leveduras houve uma melhora de cerca de 3 mil vezes nos níveis de expressão da celulose. O problema é que elas produzem uma série de outros subprodutos. O grupo conseguiu resolver o problema do uso da biomassa, mas, segundo o pesquisador norte-americano, é preciso olhar para outras dimensões em relação ao uso da matéria-prima.
No Brasil, existe a oportunidade para o bagaço da cana, uma matéria-prima interessante. Outra provavelmente mais fácil de processar é o lodo de papel, derivado das usinas de celulose. Tem muita celulose que é perdida no processo de fabricação.
Questionado por alguns participantes do workshop sobre o impacto do consumo de água para o processo industrial dessa alternativa de produção de biocombustíveis, Van Rooyen concordou ser esta uma preocupação, em especial nos Estados Unidos, porque o milho consome muita água para crescer.
“Mas o vantajoso nesse processo é que grande parte da água que é necessária já vem da biomassa. O teor de umidade na madeira analisada ficou em cerca de 50%. Não sei qual o teor da umidade do bagaço, mas em uma instalação química usamos água não consumida”, disse.
Mais informações: www.fapesp.br/bioen

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Caminhão começa a testar o flex

Depois de conquistar mais de 85% de participação na produção nacional de automóveis e comerciais leves, a tecnologia flex fuel, com base no etanol, está sendo preparada para abocanhar também parte do mercado de motores de grande porte, como caminhões, ônibus e até aviões. Para isto, os principais fabricantes de componentes e veículos, além das pesquisas, já começaram os testes com os protótipos. No caso dos aviões, o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial está coordenando as pesquisas.
Ainda que não se espere a mesma adesão que aconteceu nos automóveis, a indústria acredita que existe espaço para caminhões e ônibus flex fuel, principalmente em regiões aonde a produção de cana de açúcar é forte.
A adoção do etanol como combustível complementar, vale lembrar, já ocorreu em outros segmentos que não o de automóveis. Nas motocicletas, a Honda lançou seu primeiro modelo flex neste ano. Em tratores e máquinas agrícolas, desde o ano passado já existem exemplares circulando próximos de usinas de açúcar e álcool.
No caso dos caminhões e ônibus, fabricantes de motores, como Cummins e MWM International, informam que, mesmo sem um prazo definido para os lançamentos, as pesquisas estão avançadas e os testes em curso.
Imagina-se até a interação entre o biodiesel e o etanol. “Este seria o mais interessante em termos de meio ambiente. Um produtor de cana de açúcar, por exemplo, vai conseguir produzir os dois combustíveis e abastecer sua frota inteira”, declarou Michael Ketterer, diretor de vendas e marketing da MWM na América do Sul, ao lembrar que as usinas do país já sabem como obter o biodiesel a partir da cana.
Mas com o diesel disponível hoje no mercado brasileiro, segundo ele, é possível imaginar um motor flex para caminhões e ônibus que no melhor cenário utilize até 65% de etanol na mistura. “A ideia é aproveitar a força, durabilidade e performance do diesel e atribuir ainda emissões reduzidas e o preço favorável do álcool”, acrescentou o executivo.
Isto significa que, na visão dos fabricantes, é praticamente impossível abrir mão do diesel nestes veículos. “Não existe nenhuma tecnologia ideal desenvolvida para banir a utilização do diesel.
Sabemos que tem GNV, etanol, biodiesel e até o híbrido, mas nenhuma delas é perfeita ainda”, declarou Luis Pasquotto, diretor-geral da unidade de motores da Cummins no Brasil.
O executivo, no entanto, acredita que para determinados nichos de mercado, o caminhão flex deverá ser uma realidade no país. “Para um veículo pesado é complicado por causa do consumo”. Já para caminhões médios e pequenos existe espaço, em sua opinião. “Estamos com testes de alguns protótipos em andamento. Acho que vai vingar”, afirmou Pasquotto.
Assim como os fabricantes de veículos, a indústria de motores e componentes não cita prazos para que os veículos estejam disponíveis no mercado. Neste sentido, o biodiesel é uma alternativa muito mais próxima dos consumidores, pois a maior parte das montadoras já estão avançadas no assunto.
Para o vice-presidente da Bosch na América Latina, Besaliel Botelho, o mercado brasileiro demanda alternativas de bicombustíveis. “Como toda a indústria, também estamos trabalhando no assunto”, reconheceu. Segundo ele, como o caminhão e o ônibus consomem mais que os veículos normais, e não são em todas as regiões do país que o preço do etanol é atrativo, uma possibilidade poderia ser a utilização de um kit etanol, assim como foi feito o kit gás para os automóveis. “Acho que podem ser soluções específicas para determinadas aplicações. Não diria que são de grande escala”, explicou Botelho.
O objetivo da indústria para viabilizar o lançamento de um motor flex para caminhões e ônibus é atingir uma taxa de substituição do diesel de ao menos 50%. João Irineu Medeiros, diretor de engenharia da Fiat Powertrain Technologies (FPT), acredita que entre 12 e 15 meses já existirão motores com esta características no mercado. Segundo ele, sem esta proporção não seria um produto vantajoso comercialmente.
No caso dos ônibus, principalmente os que circulam em grandes centros, a pressão para reduzir os níveis de poluentes podem ser uma influência para a adoção deste tipo de tecnologia, como já acontece com o uso de biodiesel e GNV. Mas para isto, a adoção do kit seria uma forma mais viável, na opinião de Ketterer, da MWM. Para ele, como muitos veículos deixam de circular nos grandes centros e depois são revendidos no interior do país, nem sempre os compradores estarão interessados em pagar mais por algo que não são obrigados ou que não seja vantajoso em termos de preço.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Bélgica terá parque eólico marinho com redução de impacto visual e ambiental

A principal vantagem deste tipo de plantas eólicas é a redução do impacto visual e ambiental.
O parque eólico marinho de Thorntonbank, que terá 60 turbinas, com uma potência instalada de 300 megawatts, a 30 quilômetros do litoral belga, será referência no setor e terá características únicas na Europa.
“Pela primeira vez na Europa, contamos com turbinas de vento de 5 megawatts (MW) cada, afastadas 30 quilômetros do litoral e instaladas a mais de 35 metros de profundidade”, segundo Filip Martens, executivo-chefe da C-Power, empresa que administra o projeto. Reportagem da Agência EFE.
Em sua fase piloto, em junho, os seis primeiros geradores foram instalados e “já funcionam perfeitamente”, assegurou Martens, durante a apresentação do parque à imprensa. O custo nesta etapa chega a 150 milhões de euros e inclui, além das seis primeiras turbinas, o cabo que transporta a energia desde os moinhos até Ostende, a cidade belga mais próxima.
Mas o objetivo é instalar um total de 60 turbinas, que gerarão 1 terawatt/hora (TWh), equivalente ao consumo de 600 mil pessoas. Segundo os cálculos da C-Power, para isso, serão necessários € 900 milhões, um investimento que está previsto para ser pago depois de 12 anos da entrada em funcionamento do parque eólico.
A principal vantagem deste tipo de plantas eólicas, frente às localizadas em terra, é a redução do impacto visual e ambiental, embora seus elevados custos de construção e manutenção sejam grandes inconvenientes.“O vento também é melhor, 22% ou 23% mais rápido que na terra, mas não o suficiente para suprir o custo adicional de estar situado no mar”, esclareceu Martens. Além disso, a cada quatro horas, o centro de controle da planta tem acesso ao boletim meteorológico, já que o tempo condiciona completamente o trabalho em um parque com estas características. “Na realidade, o grande desafio é trabalhar com a climatologia”, afirmou Martens.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Lançado Motor 100% Etanol para uso agrícola

Sustentabilidade, economia e ecologia são características que se unem no motor Cursor 8 E-100, projeto em desenvolvimento pela FPT, Powertrain Technologies, com uso voltado inicialmente para a indústria da cana-de-açúcar. Trata-se de uma inovação que utiliza o Etanol como força motriz para diversas aplicações nesse segmento, viabilizando, assim, a operação de “indústrias verdes” e mostrando-se uma solução viável para diversas formas de transporte que até então operam exclusivamente no ciclo Diesel.
O Cursor 8 E-100 é um motor turbo intercooler que conta com seis cilindros em linha, com quatro válvulas em cada, gerando potência e torque máximos de 243 kW @ 2.000 rpm e 1.300 Nm @ 1.600 rpm, respectivamente, informa a empresa.
O desenvolvimento desse motor implicou um grande desafio: transformar um motor Diesel em um propulsor 100% etanol. Isso envolveu a aplicação dos sistemas de ignição e injeção indireta Otto em motores de origem Diesel, sendo necessária a modificação do cabeçote para instalação desses sistemas. A FPT realizou, ainda, um trabalho de adequação de componentes para resistir às características químicas do etanol, bem como para efetuar uma calibração específica e conferir durabilidade e confiabilidade ao propulsor.
Todas as modificações garantiram a manutenção do torque original do motor, mesmo com a substituição do combustível, destaca a fabricante. O desempenho do Cursor 8 E-100 é equivalente ao da versão GNV. A utilização do ciclo Otto proporciona uma redução considerável do nível de ruído do motor. Foi possível também obter redução de custo em pós-tratamento, com a utilização de catalisador em três vias. Embora ainda estejam sendo realizados testes nesse a! specto, existe a expectativa de redução dos níveis de emissão de NOx e material particulado.
Somam-se a essas vantagens outras específicas para o setor de cana-de-açúcar. A primeira, e mais clara, é o uso de uma fonte de combustível 100% renovável. A logística do processo produtivo, incluindo transporte e armazenamento de combustível, também é simplificada, uma vez que utilizaria a própria estrutura já existente nas usinas. Tudo isso resulta em um grande ganho ambiental e em sustentabilidade, com o uso de uma fonte de combustível 100% renovável, comenta a empresa.
“O objetivo do desenvolvimento deste motor é ajudar a tornar o ciclo do álcool totalmente carbono neutro. Quando utilizamos combustíveis fósseis, retiramos o carbono do solo e, ao queimá-lo, o despejamos na atmosfera, aumentando assim o efeito estufa”, afirma Franco Ciranni, superintendente da FPT para o MERCOSUL.
Além do fator ambiental, a economia proporcionada pelo uso do Cursor 8 E-100 na indústria sucroalcooleira é outra grande vantagem mesmo considerando que a autonomia de um veículo movido a etanol é 44% da obtida com o movido a Diesel. Isso porque o valor a ser pago pelo etanol pelo produtor é menor que o preço médio do Diesel vendido a grandes consumidores.

sábado, 12 de setembro de 2009

Etanol: Motor diesel convertido pode estar disponível em 2010

Projeto terá como público alvo as usinas de cana-de-açúcar.
Uma multinacional do grupo Fiat, a FPT Powertrain Technologies, está desenvolvendo no Brasil um motor a propulsão que utiliza etanol no lugar de óleo diesel. Previsto para o mercado brasileiro entre o final de 2010 e início de 2011, o equipamento poderá ser usado em caminhões, tratores e motobombas.
Segundo informações da empresa, o projeto terá como público alvo as usinas de cana-de-açúcar. Acreditamos que os clientes potenciais são os produtores de açúcar e etanol, por terem a vantagem de produzir o próprio combustível utilizado neste motor, o que simplifica a logística de produção, informa a companhia.
Alfred Szwarc, assessor de Emissões e Tecnologia da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), informa que a FPT já vem trabalhando com o conceito de alimentação etanol-diesel há mais de um ano e em junho, por ocasião do Ethanol Summit 2009, anunciou que desenvolveria um motor 100% etanol.
“A perspectiva de que em cerca de um ano já tenhamos à disposição do setor sucroenergético um motor para máquinas agrícolas, operando exclusivamente com etanol, é uma excelente noticia. Não somente por permitir que o produtor possa utilizar o seu próprio produto em vez do combustível fóssil, mas também por avançar na autossuficiência energética e ajudar na redução de gases de efeito estufa", avalia o assessor da Unica.
De acordo com Franco Ciranni, superintendente da companhia para o MERCOSUL, o objetivo do projeto é ajudar a tornar o processo produtivo do etanol totalmente carbono neutro. Quando utilizamos combustíveis fósseis retiramos o carbono do solo e, ao queimá-lo, o despejamos na atmosfera aumentando assim o efeito estufa.
Tecnologia
O motor Cursor 8 E-100 movido a etanol é uma variante de modelo a diesel e gás fabricado pela empresa na Europa. Para a conversão do motor foi realizada a aplicação dos sistemas de ignição e injeção indireta Otto (combustão de ignição por centelha) em motores do Ciclo Diesel, sendo necessária a modificação do cabeçote, tampa que fecha a parte superior do bloco de cilindros, para instalação desses sistemas.
Foi feito ainda um trabalho de adequação de componentes para resistir às características específicas do etanol. Todas as modificações garantiram a manutenção do torque original, mesmo com a substituição do combustível, de acordo com informações fornecidas pela FTP.
A FPT possui 16 fábricas e 11 centros de pesquisa e desenvolvimento em oito países. No Brasil, possui unidades em Betim e Sete Lagoas, ambas em Minas Gerais, e em Curitiba, no Paraná.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Etanol: Paquistão adota mistura de 10% na gasolina

A cidade de Karachi, segunda maior do Paquistão, foi escolhida para ser a primeira a utilizar a mistura E10 no país. Com a medida, anunciada na segunda quinzena de agosto, o governo paquistanês pretende incentivar a produção de etanol de cana-de-açúcar e diminuir o consumo de combustíveis fósseis importados.
Com este projeto, o Paquistão demonstra ter compreendido a enorme contribuição que o etanol pode dar aos países que precisam reduzir a sua dependência pelo petróleo e diversificar a sua matriz energética. Também significa um avanço na consolidação de um mercado internacional para os combustíveis renováveis, observa Eduardo Leão de Sousa, diretor-executivo da União da Indústria de Cana-de-açúcar (UNICA).
Para Irfan Qureshi, diretor da Pakistan State Oil (OSP), empresa estatal de petróleo que será responsável pela introdução do E10 em Karachi, o projeto deverá impactar numa significativa redução nas importações de petróleo ao país. Segundo Qureshi, o governo vai economizar anualmente de 100 a 130 milhões de dólares em divisas com o consumo do E10. As informações são do jornal paquistanês The News Internacional.
O Paquistão já produz cerca de 400 mil toneladas de etanol por ano, volume que tende a aumentar após a adoção da medida em Karachi. Para atender a essa demanda no futuro, o ministro da Privatização do Petróleo e Recursos Naturais, Syed Naveed Qamar, disse, em entrevista ao mesmo jornal que haverá incentivos fiscais aos produtores agrícolas que cultivam a cana-de-açúcar no país.
Subsídios
No Brasil, ao contrário do que ocorre atualmente no Paquistão, o setor sucroenergético já está consolidado, e as empresas produtoras de etanol não dependem de nenhum subsídio do governo federal para produzirem biocombustíveis.
Entretanto, os motivos que levaram o Brasil a investir na produção de etanol foram os mesmos fizeram os paquistaneses iniciarem o seu programa de energias renováveis: reduzir a dependência do petróleo importado.
A diferença é que o Brasil se antecipou na busca pela solução deste problema há mais de 30 anos. Na década de 1970, o governo lançou o Programa Brasileiro de Álcool, o Proálcool, como uma alternativa para se diminuir a importação de combustíveis fósseis, cujos preços, na época, sofriam grandes oscilações no mercado internacional e causavam prejuízo aos cofres do tesouro brasileiro.
Para estimular a diversificação da cana como matérias primas para a fabricação do etanol combustível além do açúcar, que na época era mais atrativo em termos de remuneração para o setor, o governo e a iniciativa privada incentivaram a indústria automotiva do País a fabricar os primeiros carros 100% movidos a etanol. Após alguns anos, principalmente em função do surgimento de novas tecnologias, como é o caso do desenvolvimento do recurso flex nos automóveis, o setor conquistou sua independência, e o mercado de biocombustíveis se auto-regulou.
As informações partem da assessoria de imprensa da Unica.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Brasil Ecodiesel: Reavalia ativos

Após dar como encerrado seu processo de reestruturação financeira, ocorrido nos últimos 12 meses, a Brasil Ecodiesel trabalha agora na reavaliação de seus ativos para definir, de fato, que passos dará daqui por diante. Usinas de biodiesel, unidades de extração de óleo e áreas de plantio de oleaginosas estão entre os ativos, atualmente fora de operação, que podem voltar à atividade ou mesmo ser vendidos. Antes uma líder inconteste de seu segmento, a Brasil Ecodiesel chegou a responder por cerca de 50% da produção nacional de biodiesel. Em seu atual estágio, contudo, mais do que retomar a liderança, a empresa tem como meta primordial seu ganho de eficiência. “Queremos estar entre os grandes ‘players’, mas, principalmente, entre as mais competitivas”, diz Mauro Cerchiari, que assumiu a presidência da companhia há duas semanas, depois de terminado o processo de reestruturação financeira. “A liderança, se vier, será consequência disso”.
Das seis unidades de produção de biodiesel da empresa, as de Crateús (CE) e Floriano (PI) estão fora de operação por não terem arrematado lotes nos leilões de compra de biodiesel mais recente realizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Não há decisão sacramentada sobre o destino das unidades, reitera o executivo. Retomada de operações ou venda estão em análise. Não se pode dizer que as plantas têm problemas de produtividade, segundo Cerchiari, mas é fato que, por conta da localização, elas penam mais com questões logísticas.
As duas unidades de extração de óleo, de Iraquara (BA) e São Luiz Gonzaga (RS), também estão fora de combate no momento. Antes voltada à produção de óleos como o de mamona, a Brasil Ecodiesel passou a comprar de terceiros o óleo que abastece suas fábricas - agora, de soja, matéria-prima que abastece cerca de 80% do mercado brasileiro de biodiesel.
Sob revisão estão também o uso dos 41 mil hectares de terras próprias e 17 mil de arrendadas, áreas distribuídas entre Ceará e Piauí. “Estamos reavaliando tudo dentro do conceito de melhor integração da cadeia de produção de seu início até o fim”, afirma Cerchiari.
Abatida por dívidas e pela falta de capital de giro, a Brasil Ecodiesel lançou-se à reestruturação, que culminou com a chegada de Mauro Cerchiari, ex-executivo da International Paper, ao comando. Com a reestruturação, o controle da Brasil Ecodiesel foi diluído, parte das dívidas foi convertida em participação acionária e a empresa passou a ter mais recursos em tesouraria que dívidas.

domingo, 6 de setembro de 2009

Energia - esperança vem até de dejetos

Em que se traduzirá, na prática, a decisão do governo brasileiro, anunciada no início da semana, de assumir na reunião da Convenção do Clima, em dezembro, "metas" de redução das emissões nacionais de gases que contribuem para o efeito estufa - metas essas traduzidas em "números", como disse o ministro do Meio Ambiente, mas cobrando "recursos, parcerias tecnológicas"? Até aqui, o Brasil tem-se recusado a assumir compromissos de redução. Esses "números" concretizarão uma mudança real? Seria esse o significado das "ações quantificadas" que o Itamaraty menciona? Improvável. E que estará dizendo o novo inventário brasileiro de emissões, também anunciado para estes dias? Há quem afirme, como o consultor do governo britânico sir Nicholas Stern, que elas dobraram em relação a 1994, quanto atingiram mais de 1 bilhão de toneladas de carbono/ano e mais de 10 milhões de toneladas de metano.
Talvez se desfaça o mistério numa reunião preliminar que a ONU promoverá no próximo dia 22, em Nova York. O próprio secretário-geral da convenção, Yvo de Boer, já disse que considera escasso o tempo para que se chegue a um acordo global - incluído o das duas últimas reuniões preparatórias específicas, em Bangcoc e Barcelona, que antecederão a cúpula de Copenhague, em dezembro. Na verdade, serão apenas 15 dias de negociações para tentar reduzir a umas 30 páginas o documento até agora negociado, que está com cerca de 200 páginas - o que significa que as posições divergentes de cada país ou bloco continuam entre colchetes, como é a praxe nesse tipo de discussão internacional.
Apesar do ceticismo rondante, várias instituições continuam a afirmar que há soluções possíveis, mas dependerão fundamentalmente de pôr em prática tecnologias capazes de reduzir as emissões. E isso pode custar até US$ 400 bilhões por ano - cálculo do World Wide Fund (WWF) -, além de depender de transferência de tecnologias para os países mais pobres. Mas os Estados Unidos e outros países industrializados até aqui deixaram claro nas negociações que não aceitam mudanças no regime de propriedade dessas tecnologias - o que exige pagamento de royalties e outros direitos.
Enquanto isso, sucedem-se as notícias preocupantes. Julho de 2009 foi o mês mais quente no mundo em 130 anos, 0,6 graus acima da média de século 20. No Ártico a temperatura ficou 5,5 graus acima da média. Estudo publicado nos Proceedings of the National Academy of Sciences mostra que as chuvas podem ser 6% mais fortes a cada grau mais elevado de temperatura.
Também há notícias positivas. O próprio secretário-geral da ONU informou que a China acrescentou 4,5 mil MW de energia eólica à sua matriz energética, no primeiro semestre deste ano. Ainda assim, um estudo de assessores científicos do governo chinês afirma que o país precisa de "metas rígidas" (que até aqui a China não aceita) para que o consumo total de energia possa cair - a partir de 2030. Esse país já é o maior emissor no mundo, com 1,8 bilhões de toneladas anuais de carbono, e até 2020 triplicará para 150 milhões o número de veículos em circulação no seu território. Mas também é o maior produtor de painéis fotovoltaicos.
No ritmo atual, diz a Agência Internacional de Energia, o consumo desta aumentará 70% até 2030 e o petróleo só baixará de 38% para 33% na matriz energética, enquanto o carvão cairá de 24% para 22%. Seus especialistas afirmam que será preciso investir US$ 45 trilhões até 2030 para compatibilizar a matriz com a questão do clima. Será possível? A Rede de Políticas de Energia Renovável mostra que esta cresceu 16% em 2008 e chegou a 280 mil MW no mundo, com aumentos de 70% na energia de fotovoltaicos conectados a redes, 29% na energia eólica e 34% nos bicombustíveis. Já o Instituto Pike assegura que os biocombustíveis crescerão 15% ao ano e em 2020 chegarão a US$ 1 trilhão/ano. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente prevê a criação de 20 milhões de empregos na área das energias renováveis em dez anos.
Por aqui, continuaremos a recorrer, nos próximos leilões de energia, as termoelétricas altamente poluidoras. Até o ano que vem, teremos apenas 1,4 mil MW de energia eólica, quando o potencial é de 60 mil MW. Mas a cada dia surgem novas possibilidades, principalmente no campo das bioenergias. No IV Congresso Internacional de Bioenergia, em Curitiba, há duas semanas, por exemplo, houve uma apresentação do projeto de geração de energia a partir de resíduos animais, já em execução no Paraná, com apoio da Itaipu Binacional e da Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO), da ONU, que já tem até livro editado (Agroenergia da Biomassa Residual, coordenado por José Carlos Libânio, Cícero Bley Jr., Maurício Galinkin e Mauro Márcio Oliveira). Nesse processo, os dejetos animais queimados geram biogás, que produz energia; o agricultor a consome diretamente, em especial nos horários de pico, quando a energia da rede é mais cara, e até pode vender a esta o excedente, se houver. Um subproduto do processo é o biofertilizante. E toda a cadeia produtiva de carnes, ao tratar adequadamente a biomassa residual, pode reduzir a emissão de gases que afetam o clima e se candidatar à comercialização de créditos de carbono.
O potencial teórico do processo no País, diz o estudo, é de 1 bilhão de KW/mês, suficiente para abastecer uma cidade de 4,5 milhões de habitantes. Se aos 12 bilhões anuais por esse processo se adicionar o potencial do vinhoto do álcool, chega-se a uma geração distribuída suficiente para suprir, por exemplo, toda a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Como se pode chegar a 2,4% da oferta de energia no País ou 12% da geração de Itaipu. Ou ainda toda a oferta da Usina de Jirau, no Rio Madeira.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Carro movido a abacate

Afinal, do que não se consegue biocombustível?
O fruto dá álcool e óleo, as matérias-primas essenciais do biodiesel. Desafio para extração é falta de tecnologia adequada.
O Brasil é o terceiro produtor mundial de abacate, com cerca de 500 milhões de unidades por ano. Cultivado em quase todos os estados, mesmo em terrenos acidentados, a produção se dá o ano inteiro, com 24 espécies que frutificam a cada três meses.
Só esses dados já seriam mais que suficientes para que se pensasse a respeito do assunto: produzir biodiesel a partir do óleo da polpa e álcool a partir do caroço do fruto.
Segundo pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (UNESP), o abacate apresenta vantagem em relação a outras oleaginosas estudadas ou usadas para a produção de biocombustível, como a soja. “O objetivo principal da pesquisa era a extração do óleo para produção de biodiesel. Mas, ao tratarmos o resíduo, que é o caroço, conseguimos obter álcool etílico. Isso, por si só, é uma grande vantagem, já que da soja é extraído somente o óleo e a ele é adicionado o álcool anidro”, explica Manoel Lima de Menezes, professor do Departamento de Química da Faculdade de Ciências da UNESP, em Bauru, e coordenador da pesquisa que teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio a Pesquisa – Regular.
Não são todos os óleos vegetais que podem ser utilizados como matéria-prima para produção de biodiesel, pois alguns apresentam propriedades não ideais, como alta viscosidade ou quantias elevadas de iodo, que são transferidas para o biocombustível e o tornam inadequado para o uso direto em motor de ciclo diesel.
De acordo com Menezes, o teor de óleo do abacate varia de 5% a 30%. As amostras coletadas na região de Bauru (SP) apresentaram, no máximo, 16% de teor de óleo. “Esse índice é similar ao teor de óleo da soja que, na mesma região, é de 18%”, compara.
Teoricamente, é possível extrair de 2,2 mil litros a 2,8 mil litros de óleo por hectare de abacate. O número é considerado elevado pelos especialistas quando comparado com a extração de outros óleos: soja (440 a 550 litros/hectare), mamona (740 a 1 mil litros/hectare), girassol (720 a 940 litros/hectare) e algodão (280 a 340 litros/hectare).
Já o caroço do abacate tem 20% de amido. Com base nesse percentual, estima-se que seja possível extrair 74 litros de álcool por tonelada de caroço de abacate. Valor próximo ao da cana-de-açúcar, que possibilita a extração de 85 litros por tonelada, enquanto a mandioca fornece 104 litros por tonelada.
A viabilidade econômica do biodiesel de abacate não foi foco dessa etapa do estudo nem é a especialidade desse grupo de pesquisa, segundo o coordenador. O custo do biodiesel ainda é alto. Produz-se óleo de soja a um custo de R$ 1,20 o litro. O álcool anidro para adicionar é comprado a R$ 0,74 o litro. O abacate tem a vantagem de oferecer as duas matérias-primas e, por enquanto, a um custo mais baixo que o da soja, segundo Menezes.
A extração do óleo e álcool do abacate ainda demanda investimentos em equipamentos. De acordo com o professor da UNESP, é necessário estudar o desenvolvimento de um despolpador – para separar a polpa do caroço – e produzir a centrífuga para obter máximo rendimento. O estudo resultou na apresentação de quatro trabalhos em congressos nacionais.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Eficiência energética ganha espaço nas empresas

Programas de uso racional de energia se tornam parte da gestão estratégica das companhias.
A crise financeira, a necessidade de reduzir custos e as preocupações com sustentabilidade e com o suprimento de energia no longo prazo está ampliada o mercado no Brasil para as empresas que realizam projetos de eficiência energética, conhecidas como escos. Em 2008, o setor faturou R$ 1,4 bilhão, um aumento de 35% em relação a 2007. Para este ano, o salto deve chegar a 70%.
As escos começaram a ganhar espaço com o apagão energético de 2001, quando o setor privado se viu às voltas com a necessidade de economizar energia. “Agora, a eficiência energética está sendo incorporada à gestão das companhias. Hoje é um movimento mais estrutural, não para remediar uma situação pontual de falta de energia”, diz Maria Cecília Amaral, diretora executiva da Abesco, a associação que reúne as empresas do setor e que realiza, na semana que vem o sexto Congresso de Eficiência Energética, em São Paulo. Segundo ela, o potencial de mercado para essas empresas é ainda maior, uma vez que o País perde, todo ano, R$ 17 bilhões com o desperdício de energia.
A seguradora Porto Seguro é uma das empresas que precisou economizar energia na época do apagão e que transformou a necessidade em um programa mais abrangente de eficiência energética. Em 2001, a empresa começou a fazer, com a ajuda de uma esco, a Nittoguen, o mapeamento do consumo de energia em sua sede, no bairro de Campos Elíseos, em São Paulo, onde trabalham em torno de 4,5 mil pessoas.
“Descobrimos que o ar condicionado e o sistema de iluminação do prédio, que tem mais de 50 anos de construção, estavam consumindo energia demais”, conta Adriano Almeida, coordenador do setor de obras e projetos da Porto Seguro.
Uma vez detectado o problema, os passos seguintes foram modernizar as instalações elétricas, trocar os equipamentos obsoletos e, num segundo momento, expandir as reformas para os demais imóveis da empresa – 260 em todo o Brasil. O investimento de R$ 3 milhões se pagou em três anos, com uma economia de energia da ordem de 20% em relação a 2001.
“Os resultados foram surpreendentes”, diz Almeida. De 2001 até hoje, a empresa conseguiu registrar uma economia anual de 900 megawatts/ano, o equivalente à produção de uma pequena central hidrelétrica. Quem envereda por esse caminho da eficiência energética acaba gostando.
Expansão
Outro fator que tem impulsionado a atuação das escos é a lei da eficiência energética (Lei 10.295/01), que prevê que as concessionárias de energia elétrica destinem 0,5% de sua receita líquida para projetos de uso racional de energia. Grande parte desses projetos está voltada para famílias de baixa renda. São programas de troca de geladeiras antigas e de regularização de instalações elétricas em favelas e palafitas.A MGD Engenharia, de São Paulo, é uma das escos que têm realizado projetos desse tipo, em parceria com concessionárias como Elektro e CPFL Energia. “Conseguimos regularizar 20.000 residências de baixa renda nos últimos 3 anos”, diz Norberto Duarte, presidente da MGD Engenharia. A empresa também realiza projetos para a indústria, e tem clientes como Vicunha Têxtil, Kaiser e Eaton. A demanda está crescendo 30% ao ano e deve continuar nesse ritmo.