segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Água atmosférica será fonte energética

Água na atmosfera poderá ser fonte de energia.
Cientistas da Unicamp demonstram que água na atmosfera poderá se tornar fonte de energia alternativa.
Durante muito tempo a ciência considerava que a gotículas de água presentes na atmosfera eram eletricamente neutras, assim permanecendo mesmo depois de entrar em contato com as cargas elétricas de partículas dispersas no ar.
Mas um experimento realizado por cientistas brasileiros demonstrou que a água na atmosfera pode adquirir cargas elétricas e transferi-las para outros materiais. A descoberta abre caminho para o futuro desenvolvimento de dispositivos capazes de coletar eletricidade diretamente do ar, utilizando-a para abastecer residências, fábricas ou veículos, por exemplo.
Partículas minúsculas de sílica e de fosfato de alumínio foram utilizadas no experimento. A equipe coordenada por Fernando Galembeck, professor titular do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), demonstrou que, na presença de alta umidade, a sílica se torna mais negativamente carregada, enquanto o fosfato de alumínio ganha carga positiva. A eletricidade proveniente da umidade foi denominada pelos cientistas como “higroeletricidade”.
“Com um dispositivo simples, conseguimos verificar que é possível gerar voltagem a partir da umidade do ar. Essa prova conceitual poderá abrir caminho, no futuro, para que se possa usar a eletricidade da atmosfera como uma fonte de energia alternativa. Mas ainda não podemos prever quanto tempo levará para desenvolver uma tecnologia desse tipo”, disse Galembeck à Agência FAPESP.
O pesquisador, que coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Materiais Complexos Funcionais, apresentou os resultados do estudo em 25/08/2010, durante a reunião da American Chemical Society (ACS), em Boston, nos Estados Unidos. O INCT de Materiais Complexos tem apoio da FAPESP e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Segundo Galembeck, relatos experimentais do século 19 já associavam a interface ar-água a fenômenos eletrostáticos. O britânico William Thomson, conhecido como Lord Kelvin (1824-1907), idealizou um equipamento que ele denominou “condensador de gotas de água” para reproduzir o fenômeno experimentalmente. Mas, até hoje, a ciência não havia sido capaz de descrever os mecanismos do acúmulo e da dissipação das cargas elétricas na interface ar-água.
“Mostramos que a adsorção do vapor de água sobre superfícies de materiais isolantes ou de metais isolados – protegidos em um ambiente blindado e aterrado – leva à acumulação de cargas elétricas sobre o sólido, em uma intensidade que depende da umidade relativa do ar, da natureza da superfície usada e do tempo de exposição”, disse Galembeck.
O aumento das cargas elétricas acumuladas é ainda mais acentuado quando são usados substratos líquidos ou isolantes sólidos, sob a ação de campos externos, conforme a umidade relativa do ar se aproxima de 100%.
De acordo com Galembeck, a descoberta foi um resultado inesperado de uma longa série de estudos relacionados a dois tipos de microscopia de materiais não-isolantes, especialmente polímeros.
“Estávamos trabalhando com microscopia eletrônica de transmissão – que nos permitia montar um mapa da composição química de determinados materiais em escala nanométrica – e com microscopia de varredura, que fornecia um mapa das propriedades e do potencial elétrico desses materiais”, explicou.
O interesse da equipe estava inicialmente limitado aos materiais. “Mas, ao obter esses mapas, começamos a observar muitos fenômenos que não estavam na literatura. Havia, em especial, heterogeneidades inesperadas nas distribuições de cargas elétricas. Embora não fossem contrários a estudos anteriores, os resultados do nosso trabalho iam contra concepções amplamente difundidas. Era preciso entender o que estávamos observando e isso me levou a estudar mais sobre eletrostática”, disse.
Aprofundando as pesquisas, Galembeck percebeu que havia imensas polêmicas na literatura sobre o tema. Apesar disso, essas discussões não estavam no foco dos debates científicos.
“Percebi que havia muitas lacunas, algumas delas muito grandes. Alguns autores se referiam a essas lacunas, mas não conseguiam despertar muita atenção da comunidade científica. Continuei estudando, até que, em 2005, um trabalho de pós-graduação de um aluno gerou a hipótese de trabalho de que existe troca de cargas com a atmosfera”, disse.
No decorrer desse trabalho, o grupo da Unicamp percebeu que, além da sílica e do fosfato de alumínio, alguns metais também adquiriam carga. “A partir daí fizemos também experimentos com os metais. Esse trabalho já começou a gerar resultados também. A primeira publicação saiu na semana passada, na edição on-line da revista Langmuir”, disse.
Longo caminho para a tecnologia
Segundo Galembeck, há um longo caminho pela frente para que essa demonstração de conceito se transforme um dia em aplicações tecnológicas, como dispositivos que coletem a eletricidade do ar e a direcionem para equipamentos elétricos nas casas, de forma semelhante aos painéis que transformam a luz solar em energia.
“De um ponto de vista conservador, eu diria que estamos mais ou menos no ponto em que a energia fotovoltaica estava no começo do século 20. Sabemos que hoje a energia solar tem algumas aplicações, mas a maior parte delas ainda tem alto custo. De uma perspectiva mais otimista, eu diria que o uso da higroeletricidade dependerá essencialmente do desenvolvimento de novos materiais, que é cada vez mais acelerado com os recursos da nanotecnologia”, apontou.
No momento, os cientistas têm duas tarefas principais para fazer com que um dia a nova tecnologia se torne realidade: a identificação dos melhores materiais e a obtenção de dados para fazer a modelagem dos dispositivos.
“Estamos agora trabalhando no levantamento de dados a partir dos materiais que sabemos que funcionam. Por enquanto, são materiais simples como alumínio, aço inox e latão cromado”, disse. “Provavelmente, não serão esses os materiais usados nos dispositivos do futuro, mas o fundamental agora é fazer o levantamento de dados”, disse.
Quando tiverem concluído o levantamento de dados para a modelagem de dispositivos, segundo Galembeck, os cientistas terão boas perspectivas em relação a duas questões fundamentais: quanta energia poderá ser produzida com a higroeletricidade e quais são as propriedades necessárias para os materiais que serão utilizados nos dispositivos.
“Há duas semanas começamos a fazer o trabalho de levantamento de dados para a modelagem. Começamos também a fazer experimentos com a modificação da superfície dos metais. Há uma infinidade de possibilidades para explorar. A dificuldade está em determinar em quais delas devemos nos concentrar”, disse. (EcoDebate)

sábado, 28 de agosto de 2010

Energia eólica no não depende só do vento

Energia eólica no Brasil não depende apenas do vento.
A falta de inovação tecnológica é o principal obstáculo para o desenvolvimento do setor de energia eólica no Brasil, de acordo com Ivonice Campos, diretora executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEE).
Energia eólica no Brasil
O setor de energia eólica está em franca expansão mundial e dá seus primeiros passos no Brasil, onde o potencial energético total é de 143 mil megawatts - praticamente o dobro da potência instalada atualmente no país.
"Temos muito ainda a fazer do ponto de vista tecnológico para tornar a energia eólica competitiva. Precisamos desenvolver tecnologias de torres, de pás, geradores e componentes", disse à Agência FAPESP a engenheira, que também é secretária executiva do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap).
Energias renováveis
Segundo Ivonice, o setor está em plena expansão: em 2006, dos US$ 70 bilhões investidos no mundo em energias renováveis, 35% corresponderam à energia eólica. "O Brasil tem uma grande vantagem competitiva no setor, por ter 70% da população concentrada na faixa litorânea. E nosso maior potencial está nos litorais do Sul e do Nordeste, exatamente nas extremidades do Sistema Interligado Nacional de energia", disse.
O principal obstáculo, segundo ela, é o desenvolvimento tecnológico visando à competitividade, com redução de custos e implantação da fabricação dos equipamentos no Brasil. "A tecnologia de inovação é o principal vetor para o desenvolvimento do setor eólico", afirmou.
Turbinas e sensores
De acordo com a engenheira, diversas iniciativas estão sendo tomadas em universidades e centros de pesquisa brasileiros para o setor. A mais nova delas é o Centro de Excelência em Energia Eólica inaugurado no último dia 8 pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
"O centro conta com novas instalações, instrumentos e túneis de vento para avaliar o desempenho de turbinas eólicas e calibrar sensores que medem a velocidade do vento", disse.
Turbinas eólicas
O centro já apresentou resultados do desenvolvimento de novos modelos de turbinas eólicas de eixo vertical com a instalação de uma unidade para testes em Imbé, no Rio Grande do Sul. A turbina tem um rotor que trabalha com o vento em todas as direções, além de ter um gerador elétrico fixado no nível do solo, facilitando o acesso à manutenção.
"O Brasil já tinha um Centro Nacional de Energia Eólica, com características semelhantes, na Universidade Federal de Pernambuco. As iniciativas não param de aparecer em todos os estados", destacou.
Aerogeradores
Segundo Ivonice, na inauguração do centro da PUC-RS a ABEE solicitou a ativação da Rede Brasileira de Tecnologia Eólica. "Atualmente, São Paulo tem dado uma contribuição decisiva, principalmente com a Universidade de São Paulo (USP), reunindo pesquisadores de diversas áreas", disse.
Segundo ela, a USP desenvolveu um projeto de energia eólica offshore de 10 mil megawatts, no mar do Ceará - um empreendimento do porte equivalente ao de Itaipu. "Nesse projeto se pretende colocar aerogeradores de 5 megawatts, cuja tecnologia altamente inovadora o Brasil ainda não tem, porque está em processo de desenvolvimento", disse.
Eficiência energética
Ivonice aponta que a engenharia de materiais é um dos principais focos de pesquisa no setor, sendo fundamental para a definição das estruturas e design das torres. Outro foco é a questão de eficiência energética propriamente dita, reduzindo perdas dos sistemas de transmissão.
"Precisamos também criar modelos de pás e geradores apropriados para aproveitamento das características das jazidas eólicas em cada local. Cada região tem características diferentes de vento, de topografia e de complementaridade energética com outras fontes em cada local. Combinando diferentes fontes, consegue-se gerar o ano inteiro", afirmou.
Questões legais
Além da tecnologia, o desenvolvimento do mercado de energia eólica no país precisa, segundo Ivonice, de uma mudança nas modalidades contratuais. "Precisamos de um modelo semelhante ao das hidrelétricas, com prazos de contratos de 20 a 30 anos, com realização de contratos em blocos anuais. As condições de financiamento também devem ser semelhantes às das hidrelétricas", disse. (inovacaotecnologica)

Energia eólica é competitiva no Brasil

Energia eólica já é uma das mais competitivas do Brasil.
Com preço médio de R$ 130,86 o MWh, fonte de energia bate até mesmo as térmicas movidas a gás natural.
A forte disputa verificada nos leilões promovidos pelo governo federal esta semana pôs a energia eólica na lista das mais competitivas do Brasil, abaixo até do custo das térmicas movidas a gás natural, de cerca de R$ 140 o megawatt/hora (MWh). Na média, o preço da energia produzida com o vento foi negociada por R$ 130,86. No leilão do ano passado, cada MWh custou em média R$ 148,39.
"O resultado realmente surpreendeu a todos", afirmou o presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Ricardo de Maya Simões. Ele acredita que há vários fatores para explicar a forte disputa verificada no leilão, que contratou 2.892 MW de capacidade, sendo 70% desse montante de energia eólica.
Um dos fatores é a desaceleração da economia europeia, onde a construção de parques eólicos é tradicional. Com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo menos, o consumo de energia cai e os projetos de geração são adiados. Isso reduz a demanda por novos geradores eólicos e derruba os preços dos equipamentos.
Nesse cenário, destaca Simões, o Brasil se tornou uma nova fronteira eólica no mundo, já que por aqui a demanda de energia elétrica continua em alta. A matriz, que até o ano passado era de 600 MW, deve pular para 4.454 MW de capacidade nos próximos três anos. "Além das multinacionais que já instalaram fábricas no País (Impsa, Alston e GE), outras empresas estão interessadas em construir novas unidades por aqui", afirma o presidente da Abeeólica. Entre elas, estão a espanhola Gamesa, a dinamarquesa Vestas, a indiana Suzlon e investidores coreanos e chineses.
A argentina Impsa não só inaugurou uma unidade em Pernambuco, como tem apostado em novas usinas. Em parceria com o Fundo de Investimento com recursos do FGTS (FI-FGTS), vendeu 211 MW no leilão de dezembro do ano passado e 270 MW, no desta semana. O diretor-geral da empresa, Luis Pescarmona, explica que, além da crise europeia, as condições de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) melhoraram a competitividade dos projetos. O prazo dos empréstimos subiu de 14 anos para 16 anos.
Outro grupo que teve presença importante no leilão desta semana foi a joint venture entre Neoenergia e a espanhola Iberdrola. No total, eles venderam 258 MW, o que deve contribuir para a Neoenergia atingir 3 mil MW de potência instalada no País (já considerando a parcela de Belo Monte), afirma o presidente da empresa, Marcelo Corrêa. Em dois anos, diz ele, essa capacidade deverá subir para 5 mil MW.
Ricardo Simões, da Abeeólica, acredita que o Brasil tem grandes oportunidades para aumentar a participação dessa fonte renovável na matriz elétrica. "O potencial do País em energia eólica é de 300 mil MW", diz ele, que também vendeu 90 MW de energia no leilão da empresa Brennand Energia. O executivo comenta que no Brasil o fator de capacidade de geração está na casa de 40%, ante 22% da Europa. Ou seja, aqui as unidades geram mais energia por MW instalado. (OESP)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ventos favoráveis para grandes negócios

Energia eólica: ventos favoráveis para grandes negócios.
Os ventos estão favoráveis neste final de agosto para a geração eólica no país. Nos dias 25 e 26, o governo realiza dois leilões de energia que contemplam esta fonte. Num deles, chamado de leilão de reserva, foram habilitadas 316 usinas eólicas, somando 8.202 MW. O outro (A-3), com a energia prevista para entrar no mercado em 2013, foram 320 eólicas, com 8.304 MW. Para completar a força que esta alternativa mostra nos últimos anos, de 31 de agosto a 2 de setembro, a indústria estará reunida no Brazil Windpower 2010, uma grande conferência de negócios do segmento, com 50 empresas expositoras de diversos países.
E os indicativos mostram que os ventos continuarão soprando nos próximos anos pela força desta alternativa limpa. Com a atualização do mapeamento eólico do país, a cargo do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), projeta-se um potencia de 350 a 400 gigawatts. O parque instalado brasileiro de eólica, hoje, conta com 45 parques, que somam 794 MW de potência. O crescimento desde dezembro de 2008 ficou em 132,8%. Segundo dados da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), o mercado já tem contratados 1808 MW, devendo movimentar de R$ 6 bilhões a R$ 7 bilhões, até julho de 2012.
Em entrevista exclusiva à Agência Ambiente Energia, o secretário-executivo da ABEEólica, traça um panorama do atual momento do segmento de eólica, destacando pontos como tecnologias para aumentar a eficiência desta geração, potencial brasileiro, financiamento e conexão dessas usinas ao sistema elétrico, entre outros pontos.
Da Agência Ambiente Energia - Estados como São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul estão mapeando seus potenciais eólicos. Ao que o senhor atribui o interesse pela energia eólica?
Pedro Perrelli- A energia eólica é uma fonte limpa, não utiliza água no processo ou para resfriamento dos equipamentos, não gera gases de efeito estufa (GEE), favorece a fixação do homem no campo, pois gera renda e valoriza as propriedades nas quais são feitos os empreendimentos. E, além disso, atua em harmonia com a agroindústria, pois permite a utilização das áreas para atividade agrícola e pastoris. No Brasil, ela é 100% complementar com a hidráulica, inclusive por localização regional.
Agência Ambiente Energia – Estima-se que o país tenha um potencial para instalar até 150 mil MW de energia eólica. É isso mesmo?Pedro Perrelli - Segundo o Atlas Eólico Brasileiro, elaborado em 2000 pela Eletrobras, publicados em 2001, e que está desatualizado, o potencial eólico identificado é de 143 GW. Hoje, o Cepel está estudando a atualização do atlas a partir de solicitação de estudo do Ministério de Minas e Energia.
Agência Ambiente Energia – Quanto temos hoje instalados?
Pedro Perrelli - Hoje, o Brasil tem 45 parques eólicos instalados em operação, totalizando 794 MW de potência instalada.Agência Ambiente Energia – Se levarmos em conta que este potencial foi medido com torres menores e hoje já temos torres acima de 100 metros, este potencial pode chegar a quanto?
Pedro Perrelli - A atualização do estudo poderá indicar um potencial que se situará em torno de 350 GW a 400 GW.
Agência Ambiente Energia – Um dos problemas para a expansão era a produção local dos equipamentos. Que impacto a chega de grandes fabricantes vai trazer para o setor?
Pedro Perrelli – O maior efeito foi o aumento da competitividade a condições de vento presentes em cada área. A variação dos modelos de aerogeradores permitiu uma melhor adaptação e, consequentemente, uma maior produção de energia em cada área, tornando os preços mais competitivos.
Agência Ambiente Energia – A busca pela eficiência e mais rendimento é uma tônica de hoje em dia. O que há de novo em termos de tecnologias para aumentar a produtividade das turbinas eólicas?
Pedro Perrelli - Basicamente, hoje existem máquinas mais “inteligentes”, que proporcionam um aumento da força tirada do movimento cinético do ar e um melhor perfil aerodinâmico das pás. Podemos citar também o aumento da altura das torres eólicas e o diâmetro dos rotores.
Agência Ambiente Energia – Este mês, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ampliou de 14 para 16 anos o prazo para amortização de empréstimo para fontes alternativas, como a eólica. O que esperar desta medida?
Pedro Perrelli – Um prazo maior de carência e de pagamento facilita o retorno dos investimentos. Esse aumento iguala a condição entre a eólica e a hidráulica e isso é um sinal claro de que houve um forte interesse por parte do governo para mostrar que essas duas fontes energéticas têm a mesma importância.
Agência Ambiente Energia – Pelo número de projetos de eólicas listadas nos próximos leilões de alternativas, que acontecem esta semana, o preço da energia eólica está atraente. Eu posso fazer esta leitura ou o preço desta energia ainda está aquém?
Pedro Perrelli - Está no limite da competitividade atual do segmento (o preço nos leilões é 167,00/MWh). Para que haja uma melhora, é necessário um regime tributário específico e que seja realizado, anualmente, um leilão exclusivo para a eólica com contratação média de 2.000 MW, durante 10 anos. Isso fará com que a base industrial cresça e o preço fique mais competitivo, como já aconteceu em outras indústrias como microinformática e a automobilística, para citarmos duas das mais significativas.
Agência Ambiente Energia – Vender excedentes para o mercado livre (voltado para os grandes consumidores de energia elétrica) pode ter que impactos para os investidores em eólicas?
Pedro Perrelli - Poderá ter um impacto maior, caso os preços sejam compensadores. Hoje, a ABEEólica está montando um grupo de trabalho para estudar a implementação de energia eólica no mercado livre.
Agência Ambiente Energia – E a questão da conexão das usinas à rede está equacionada com os leilões de ICGs?
Pedro Perrelli - Não está completamente equacionada, principalmente, pela falta de uma linha principal, que sirva como uma espinha dorsal, que facilite conexões futuras de novos parques, principalmente no Nordeste, onde existe uma carência na capacidade de conexões na atual malha de transmissões.
Agência Ambiente Energia – O que teremos de novidades no Brazil WindPower 2010?
Pedro Perrelli – Vários fabricantes de aerogeradores, além de novas empresas de outras especialidades que estão entrando no mercado brasileiro, terão estandes para mostrar produtos que não são conhecidos pelo público em geral. O Brasil possui grande destaque na América Latina, pois representa 65% da produção de energia desta região. Além disso, o evento contará com palestrantes como Ricardo Simões, presidente da ABEEólica, Stve Sawyer, presidente da GWEC, e Stephen Miner, da AWEA. (ambienteenergia)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Amazônia terá miniusinas solar

Amazônia terá miniusinas solar para áreas isoladas.
A Eletrobrás Amazonas vai utilizar miniusinas fotovoltaicas para levar energia elétrica para 222 famílias de 12 comunidades isoladas na Amazônia. O sistema, que recebeu da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorização para usar o sistema pré-pago de energia, apresentado em 13 de agosto de 2.010, último dia do 5º Congresso Internacional de Bioenergia, que ocorre em Curitiba (PR).
Segundo a Eletrobrás, o sistema foi projetado para suportar dois dias sem captação de luz solar. Como é modular, a solução permite agregar um novo bloco gerador, casa haja aumento da demanda. O projeto, cuja licitação foi vencida pelo consórcio Guascor / Kyocera, está na fase de pesquisa de campo sobre as dificuldades logísticas, para então ocorrer a instalação das usinas nos seis municípios beneficiados – Autazes, Barcelos, Beruri, Eirunepé, Maués e Novo Airão.
O sistema pré-pagamento funciona com o consumidor comprando um número, impresso num tíquete, na mercearia ou mercado próximo a sua casa, que dá direito a 30 kW/h por R$ 7,00. Ele então digita o número no medidor de consumo residencial e passa a consumir aquela quantidade contratada.
“Quando faltar um determinado número de kW/h, que ainda será definido, para o fim da conta, o sistema alerta com sinais sonoros e uma luz piscando no medidor, possibilitando o consumidor adquirir mais créditos sem precisar interromper o fornecimento de energia”, explica Geraldo Vasconcelos Arruda Neto, um dos engenheiros da Eletrobrás Amazonas Energia que elaboraram o projeto. (ambienteenergia)

Água aquecida, mesmo com baixa insolação

O sistema de aquecimento solar ainda enfrenta sérios desafios no país. Um deles, no entanto, acaba de ser vencido pelo engenheiro eletricista João Luiz Florio. Ele desenvolveu um dispositivo eletrônico de monitoração e controle que pode ser usado em todos os modelos residenciais de aquecedores de água por energia solar. Baseado em uma plataforma microcontrolada, o sistema funciona automaticamente e permite ao usuário obter água na temperatura e no tempo desejado, independentemente dos dias ensolarados. Além disso, também é possível obter um rendimento de até 30% a mais de água quente por meio de um processo chamado circulação forçada. Mas uma das principais vantagens está na economia de energia elétrica, pois evita o desperdício nos períodos de baixa insolação.
A ideia, conta Florio, surgiu a partir de situações vividas dentro de sua própria casa. Ele destaca que faz uso do processo de aquecimento solar há mais de dez anos por acreditar na sua eficiência, mas algo que o inquietava era a dificuldade de conseguir água quente em períodos longos de chuva. “Em dias com sol, o aquecedor funciona muito bem. No entanto, com o tempo nublado ou chuvoso, era outra história. Em testes dentro da minha própria casa, descobri que os sistemas existentes no mercado são desprovidos de tecnologia e não são eficientes”, reclama. A partir da constatação, o engenheiro eletricista passou a estudar uma forma de melhorar a eficiência do sistema residencial e chegou a um dispositivo comerciável já patenteado.
Como possui uma microempresa que desenvolve equipamentos eletrônicos, em Sorocaba, não foi difícil aliar a necessidade doméstica à atividade no trabalho. O auxílio financeiro do CNPq, dentro do programa de incentivo à inovação e sob orientação do professor José Antonio Siqueira Dias, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), onde João Florio apresentou dissertação de mestrado, o estimulou a colocar no mercado um dispositivo eletrônico que pode melhorar e, muito, a eficiência dos aquecedores por energia solar residenciais, mesmo aqueles já instalados. Todo o processo consiste em um sistema inteligente que funciona a partir de dados sobre capacidade do boiler ou reservatório de água, temperaturas e horários informados pelo usuário. Só deve ser instalado por um profissional especializado. Uma vez programado, o sistema calcula automaticamente ativação do boiler com uma economia de 20% a 25% nos períodos de baixa incidência solar. A circulação forçada, outra vantagem do sistema, aumenta em até 30% a disponibilidade de água quente. “Este aspecto é importante no caso, por exemplo, de o proprietário da casa precisar ter maior disponibilidade de água”, explica.
Já o dispositivo anti-freezing evita uma das dores de cabeça não tão rara para quem tem o aquecedor solar: em dias muito frios e de queda vertiginosa da temperatura, é possível ocorrer o congelamento da água acumulada dentro dos coletores. Neste caso, é necessário um serviço de manutenção oneroso para solucionar o problema, sob o risco de danificar todo o sistema. Situação também vivida por João Florio em sua residência.
A próxima etapa, segundo o engenheiro, será otimizar o sistema e tentar baixar o custo. “Uma das possibilidades seria a venda do dispositivo junto com o sistema, pois o preço ainda é inviável para o consumidor adquirir em separado. A intenção é oferecer um produto com preço acessível”, explica. No entanto, ele destaca que os argumentos são fortes quando se trata de economia de energia elétrica, tomando como exemplo o grande vilão de consumo que é o chuveiro elétrico. “Se pensarmos que 8% da energia elétrica gasta no Brasil se dá em razão do chuveiro e que, nos horários de pico entre 18 e 20 horas, este índice sobre para 18%, temos bons motivos para investir em tecnologia que melhore a eficiência do sistema de aquecimento solar”, conclui. (ambienteenergia)

domingo, 22 de agosto de 2010

Alternativas energéticas

Alternativas: indústria aponta evolução
O Relatório de Infraestrutura de julho de 2010, publicado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), prevê, no cenário otimista, a expansão de 31 de mil MW no período 2010/2014, o que representa um crescimento médio de 3,3% da capacidade instalada de geração de energia elétrica. No cenário conservador, esta evolução teria um aumento de 1,4%, com mais 17.028 MW. No primeiro cenário, a CNI considera somente as usinas sem restrições para entrada em operação. No segundo, leva-se em conta as usinas sem restrições à entrada em operação e as com impedimentos (licença ambiental não obtida, obra não iniciada e contrato de combustível indefinido).
Segundo o boletim, entre 2010 e 2014, o cenário conservador aponta para um crescimento de 10% no avanço da base hidrelétrica, com sua participação caindo para pouco menos de 65%. Em 2009, as hidrelétricas respondiam por 68% da capacidade instalada total do país. Os dados da CNI sinalizam avanços para as térmicas a biomassa e das pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), que passariam, respectivamente, de 5,6% para 6,9% e de 2,7% para 29% em 2014. Até este período, de acordo com o boletim, as eólicas teriam crescimento de 0,7%.
As PCHs, no cenário conservador, deverão contribuir com 709 MW até 2012, não havendo outros empreendimentos previstos para os anos de 2013 e 2014. Deste total 22% (156 MW) correspondem à potencia de 10 usinas do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) que estão em obras. O cenário otimista mostra a adição de 1,3 mil até 2013, dos quais 204 MW (16%) do Proinfa.
No caso da biomassa, a estimativa, no cenário conservador, é de acréscimo de 2,5 mil MW até 2014. No cenário otimista, esta participação salta para 4,5 mil MW no período. Nos dois cenários, 70 MW são de projetos ligados ao Proinfa. Para as eólicas, o cenário conservador aponta a soma de 123 MW em 2010, subindo para 736 MW, na visão otimista. Neste segundo caso, 561 MW pertencem ao Proinfa.
No cenário conservador, segundo o boletim da CNI, não há previsão para usinas eólicas entrarem em operação no período 2011-2014. Ainda não foram contabilizadas nas previsões da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) as usinas vencedoras do segundo leilão de energia de reserva. (ambienteenergia)

Brasil é o 5º em energias renováveis

Energias renováveis: Brasil em 5º, com US$ 7,8 bilhões
Os investimentos em energia sustentável em 2009 chegaram a US$ 162 bilhões, resultado 7% abaixo dos US$ 173 bilhões verificados em 2008, segundo o estudo Tendências Globais de Investimentos em Energia Sustentável 2010 – Análise de tendências e problemas no financiamento das energias renováveis e eficiência energética.
Segundo o documento elaborado pela United Nations Environment Programme (Unep/ONU), apesar da queda, o valor foi o segundo maior investimento anual e representou quatro vezes o aplicado em 2004. De acordo com os números, o Brasil ficou em quinto lugar entre os que mais investiram em energias renováveis no ano passado. O volume de investimentos chegou a US$ 7,8 bilhões. No entanto, o resultado mostra uma queda de 39% para os R$ 12,8 bilhões de 2008.
O estudo também revela uma maior participação governamental nos investimentos. De acordo com o documento, os governos em 2009 começaram a investir cerca de US$ 188 bilhões em “estímulo verde” referentes a compromissos assumidos. Também houve um aumento no número de políticas de apoio para a energia limpa.
Dados do REN21 Renewables de 2010, também divulgado em julho, mostram que mais de 100 países, em 2009, tinham algum tipo de política de promoção das energias renováveis até 2010. No ano passado, a China assumiu a liderança dos investimentos em energias renováveis, deslocando os Estados Unidos para o segundo lugar. (ambienteenergia)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Rio transformará lixo em energia elétrica

Rio terá usina para transformar lixo em energia elétrica.
A prefeitura do Rio de Janeiro pretende licitar, em seis meses, uma usina de geração de energia elétrica que usa o lixo dos cariocas como combustível
O Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe) começa a elaborar a proposta de construção de uma usina para transformar o lixo da capital fluminense em energia elétrica. O anúncio foi feito ontem (17) pelo coordenador técnico do projeto e pesquisador do Coppe, Luciano Basto, durante a assinatura do convênio entre o instituto e a Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro (Comlurb).
Com o acordo, pesquisadores das duas instituições vão analisar a viabilidade técnica e ambiental da instalação de uma unidade de tratamento no bairro do Caju, na zona portuária da cidade, por onde passa metade do lixo produzido pelos fluminenses. Luciano Basto acredita que o estudo, com o cálculo de custos e identificação de tecnologia, seja entregue à prefeitura do Rio em dois meses.
“O investimento pode ser até mais caro do que as tradicionais soluções para destinação de lixo e oferta de eletricidade. Mas como lixo é um combustível a custo negativo, pelo qual a sociedade paga para se livrar do problema, e o tratamento energético do lixo evitaria emissões de gases de efeito estufa, essas receitas adicionais podem ser contabilizadas como benefícios para esse tipo de aproveitamento energético”, estimou o pesquisador.
Basto disse ainda que o aproveitamento energético seria de 100%, considerando que a usina será instalada dentro da cidade, diferente, segundo ele, das hidrelétricas que atendem 80% da matriz energética do país. Por estarem distantes dos grandes centros urbanos, as hidrelétricas registram perda de cerca de 15% da eletricidade gerada.
Atualmente, o Rio de Janeiro produz 9 mil toneladas de lixo por dia. Os detritos são encaminhados a três estações de transferência da cidade: Caju (zona portuária), Irajá (zona norte) e Jacarepaguá (zona oeste). Dessas estações, o lixo é transportado para dois aterros sanitários.
A usina na estação do Caju, que recebe o maior volume de detritos da cidade, poderia chegar a 500 megawatts de potência instalada. Pelos cálculos do Coppe, a transformação de 9 mil toneladas de lixo em energia seria suficiente para abastecer 1,5 milhão de residências, com consumo médio de 200 quilowatts/hora por mês.
A presidente da Comlurb, Ângela Nóbrega Fonte, garantiu que a empresa vai fornecer todo o material para os estudos e espera abrir o processo de licitação para a construção da usina em 6 meses. “Além do que já temos feito no aterro [sanitário] de Gramacho, minimizando a emissão de gases do efeito estufa, e em Seropédica, onde será construído um aterro sanitário controlado com licenciamento ambiental, essa novidade é muito importante para a população. Isso vai trazer mais recursos para a cidade e o meio ambiente vai agradecer”, comemorou Ângela Nóbrega. (EcoDebate)

Aterros sanitários para geração de energia

Gerar energia elétrica a partir de material proveniente de aterro sanitário em cidades com mais de 200 mil habitantes pode se tornar realidade. A Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) poderiam votar, em 3 de agosto de 2010, projeto de lei com esse objetivo. Do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), o projeto consta é um dos nove que constam da pauta da comissão, e terá que ser analisado ainda pela Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI), onde cabe decisão terminativa.
O relator da matéria na CMA, senador Jayme Campos (DEM-MT) apresentou parecer pela sua aprovação, com quatro emendas. Ele suprimiu alguns artigos e modificou a redação de outros para tornar mais clara sua compreensão. Dessa forma, acrescenta artigo à Lei de Licitações (Lei 8.666/93), impondo que os municípios com mais de 200 mil habitantes sejam obrigados a oferecer, ao estabelecerem contratos de prestação de serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, a utilização do potencial de geração de energia elétrica dos aterros sanitários.
Pela proposta, também será feita alteração nos planos de prestação de serviços públicos de saneamento básico (Lei 11.445/07), para esses mesmos municípios que, terão, entre seus requisitos mínimos, também a possibilidade de utilização do potencial de geração de energia elétrica dos aterros sanitários.
Outro dispositivo acrescentado a essa lei prevê que a autoridade ambiental competente estabeleça metas para a substituição progressiva de lixões por aterros sanitários. Esse dispositivo trata dos requisitos de qualidade no atendimento aos usuários dos serviços de saneamento básico, à suas condições operacionais e de manutenção de seus sistemas.
Controle de obras inacabadas
A criação de um cadastro nacional de obras inacabadas também está na pauta da comissão. O projeto, do senador Fernando Collor (PTB-AL), será votado em caráter terminativo na CMA e recebeu parecer favorável do relator Jefferson Praia (PDT-AM).
Pela proposta, o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea) será obrigado a fazer um levantamento das obras inacabadas e paralisadas com participação financeira da União, com base em cadastro geral de obras públicas da União, a ser criado.
O relator considera que o Confea poderá realizar um trabalho de reforço àquele atualmente desempenhado pelo Tribunal de Contas União (TCU), o que avalia como “corretíssimo”. Jefferson Praia acredita que “quanto mais as autarquias detectarem obras ainda não registradas, tanto mais cumprirão sua própria missão institucional” e, em consequência, elas terão aumento de arrecadação.
Para o senador, esse ponto intermediário permitirá inserir o Confea “na atuação integrada de controle de obras pública”, o que considera factível, ao contrário de uma “falsa solução” como previsto na proposição inicial em que caberia a um conselho profissional executar, em nome da União, aquilo que nem a própria União sabe o que é”. O parlamentar referia-se à inexistência do cadastro geral de obras inacabadas e paralisadas.
Cargas ferroviárias
Substitutivo a projeto de lei da Câmara, do deputado Vinícius Carvalho (PTdoB-RJ), que trata da proteção de minérios e cargas a granel transportadas por trens está em exame na comissão de Meio Ambiente e tem parecer pela aprovação do relator César Borges (PR-BA). A proposta ainda submetida à Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI) para aprovação definitiva.
O texto obriga as empresas transportadoras a adotarem medidas de proteção para impedir o derramamento do material transportado e de partículas em suspensão, que poluem a atmosfera. A medida tem por objetivo, diz o relator, proteger os trabalhadores do setor e a população que vive ou trafega próxima às linhas férreas.
Audiência pública - Na reunião desta terça-feira, deverá ser votado requerimento da senadora Kátia Abreu (DEM-TO) que propõe realização de audiência pública para debater desvio de recursos públicos destinados a projeto de cooperação entre o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnud), voltado para a preservação do meio ambiente e melhoria da qualidade de vida de comuniades. O suposto desvio já originou ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal (MPF). (ambienteenergia)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Híbridos e elétricos: caminho sem volta

Diante das pressões para se reduzir consumo e emissões dos veículos, assistimos a uma intensa atividade global no setor automotivo para o desenvolvimento de veículos elétricos. Projeções, pronunciamentos, investimentos, incentivos e novas e interessantes iniciativas na área são apresentadas quase que diariamente. No final de 2009, o megainvestidor Warren Buffett fez um pronunciamento de que ‘em 20 anos todos os veículos nas estradas seriam elétricos’ e, logo em seguida, comprou uma importante participação acionária na chinesa BYD, empresa que quadruplicou suas vendas entre 2003 e 2009 no setor de baterias e veículos elétricos.
E não é à toa. Um pouco antes, em 2008, o jornal ‘The Register’ noticiou que a Dinamarca lançou um projeto de eletrificação total de sua frota de veículos. A meta é que o governo daquele país implante 500 mil pontos de carga e 150 postos de troca de bateria e conceda importantes incentivos aos compradores. Já nos Estados Unidos, Barack Obama anunciou incentivos de cerca de U$ 2,4 bilhões para o desenvolvimento de baterias com maior autonomia. Aliás, por lá, vários estados já possuem objetivos de médio prazo que exigem participação crescente de veículo de emissão zero nas suas frotas.
O Japão também já está se mexendo. Recentemente, a prefeitura de Tóquio, juntamente com a empresa Better Place, especializada em serviços na área de veículos elétricos, anunciou um ambicioso projeto de eletrificação de todos os táxis da cidade, responsáveis por 20% das emissões. O projeto também inclui a construção de postos de troca de baterias. Países como China, Índia e Portugal possuem estratégias governamentais de incentivo ao uso de veículos de emissão zero, com metas arrojadas de curto de médio prazo. Todas as grandes montadoras lá fora têm importantes projetos de veículos híbridos e elétricos puros, com inúmeros lançamentos previstos para os próximos anos.
No Brasil há também algumas iniciativas, como o projeto VE da Itaipu em parceria com a Fiat e outras empresas para o desenvolvimento de carros elétricos, os projetos da CPFL Energia, também neste sentido, entre outras. A Mitsubishi, por exemplo, acaba de anunciar o lançamento futuro do I-MiEV. O movimento é intenso, mas não há ainda uma política nacional de introdução, como vemos no exterior.
Enquanto isso, algumas cidades já tomam a dianteira. A prefeitura da capital paulista, por exemplo, assinou com a Renault-Nissan a compra de modelos elétricos Nissan Leaf para a frota da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) do município. Outras montadoras também anunciam a oferta de modelos híbridos no médio prazo.
As iniciativas são importantes, sem dúvida, porém, qual seria a real velocidade de introdução destas tecnologias? Há exagero ou otimismo? Haveria mesmo uma substituição total da tração veicular, ou, seguindo a sabedoria chinesa que vem de Confúcio, de haver um caminho do meio, teríamos lugar para todas as tecnologias, segundo o uso e a aplicação?
Há ainda vários problemas a serem resolvidos, como a disponibilidade de pontos de carga, a oferta de baterias, a própria tecnologia para maior autonomia do veículo etc. Mas é para isso que a engenharia existe, ou seja, resolver problemas! Inclusive, os engenheiros se reunirão em outubro próximo para debater o assunto e seus desdobramentos do ponto de vista das montadoras, sistemistas e concessionárias de energia elétrica em um dos painéis do Comitê de Veículos Leves do Congresso SAE Brasil 2010, que será realizado em outubro, em São Paulo.
Os veículos elétricos não são novidade. Na verdade, se desenvolveram simultaneamente aos de combustão interna, por volta de 1873. O auge foi entre 1900 e 1913, mas houve um declínio com a descoberta das grandes reservas de petróleo no Texas, nos Estados Unidos, e a introdução dos motores de partida em 1911.
Na década de 1970 houve um recomeço, com a crise do petróleo e, atualmente, vivemos um período de renascimento dos elétricos, sejam híbridos (com motor a combustão que pode efetuar a tração juntamente com o motor elétrico, ou apenas servir de auxiliar na carga das baterias), ou os elétricos puros, com bateria. Há também a célula de combustível, que ainda está em seus primórdios.
Sem dúvida, os veículos elétricos têm grande apelo na questão do aquecimento global, dispensa série de sistemas químicos e mecânicos no veículo, mas o ‘calcanhar de Aquiles’ ainda é a questão da autonomia, que já vem sendo resolvida. Muito já se caminhou e hoje já se alcança autonomia na faixa dos 150 km. Além disso, há grande movimento na estratégia de baterias intercambiáveis, como no projeto dos táxis de Tóquio.
Certamente se trata de campo palpitante, cujos desdobramentos ainda estamos assistindo, mas que deverão mudar consideravelmente o panorama do setor. Como em toda mudança de paradigma, há resistências e céticos, porém, a julgar pela quantidade de iniciativas globais, certamente esse é um caminho sem volta. (ambienteenergia)

Carros ecológicos darão volta ao mundo

Carros darão volta ao mundo em 'corrida com emissão zero'.
"Carro elétrico"
Um grupo de engenheiros dará início em agosto de 2010 a uma corrida de carros ao redor do mundo com veículos elétricos. A energia consumida pelos carros ao longo do período será compensada com geração de eletricidade por fontes renováveis, fazendo com que a corrida tenha "emissão zero" de dióxido de carbono.
Os engenheiros correrão em quatro equipes diferentes, com chegada e partida na cidade suíça de Genebra.
Em 80 dias de corrida, eles planejam dar a volta ao mundo, passando por Berlim, Kiev, Moscou, Xangai, Los Angeles, Cidade do México, Lisboa e outras 150 cidades.
Ao longo do percurso de 30 mil quilômetros, os participantes vão promover coletivas de imprensa e eventos de conscientização sobre o meio ambiente.
Compensação
O evento Zero Emissions Race foi idealizado pelo ambientalista e aventureiro suíço Louis Palmer, que em 2008 deu a volta ao mundo em um carro movido a energia solar. No projeto, batizado de SolarCar, Palmer percorreu 54 mil quilômetros durante 18 meses.
"Nós queremos mostrar que mobilidade elétrica e energias renováveis são uma solução para se ter uma vida ecologicamente equilibrada neste planeta", afirma Palmer.
Em novembro, os engenheiros passarão pela Cidade do México, onde será realizada uma conferência da ONU sobre mudanças climáticas.
"Carro elétrico"
Quatro equipes de países diferentes - Suíça, Coreia do Sul, Austrália e Alemanha - vão competir entre si.
Cada uma desenvolveu um carro elétrico diferente. Os carros serão abastecidos com energia elétrica ao longo do caminho, em cada uma das paradas.
Para reduzir as emissões a zero, cada equipe será responsável por gerar a mesma quantidade de energia elétrica consumida pelo veículo no seu próprio país usando apenas fontes renováveis, como energia solar, vento, ondas ou geotérmica. Essa energia é alimentada no sistema elétrico de cada um dos quatro países.
Um dos carros, o sul-coreano Yebbuyana, por exemplo, vai consumir 84,7 watts-hora por quilômetro. Para todo o percurso de 30 mil quilômetros, a equipe terá de gerar 2,54 megawatts-hora - que será produzido por painéis solares na região de Geon-nam, na Coreia do Sul.
Os carros, com lugar para dois passageiros no mínimo, precisam ter capacidade de percorrer no mínimo 250 quilômetros a uma velocidade de 80 quilômetros por hora, antes de pararem para abastecimento.
Por dia, cada carro precisa percorrer no mínimo 500 quilômetros.
A corrida será vencida não por quem chegar antes, mas sim pela equipe que conseguir percorrer o caminho gastando menos energia. (verde.br.msn.com)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

‘A energia hidrelétrica não é limpa, nem barata’

O professor de pós-graduação em Energia do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP desmistifica os benefícios de o Brasil aproveitar o potencial energético dos rios da região Amazônica: “Belo Monte representa simbolicamente a possibilidade de transformar todo o territorio amazônico em um grande conjunto de jazidas de megawatts”.
Célio Bermann foi assessor do Ministério de Minas e Energia durante os dois primeiros anos do governo Lula e se afastou em desacordo com o que considera desvirtuamento da política do governo para o setor. Crítico assíduo do planejamento energético brasileiro, Bermann não só rejeita a construção de usinas hidrelétricas como a de Belo Monte, mas propõe uma nova direção de desenvolvimento econômico para o país.
Qual é a importância econômica da Usina de Belo Monte para o Brasil?
Bermann: A importância da usina deve ser medida pela sua capacidade de produção de energia, pelo tempo que a energia produzida estará disponível para o consumo da sociedade e pelos problemas de ordem social e ambiental que essa usina representa, inclusive sob o ponto de vista de custos. A importância econômica da Usina de Belo Monte para o Brasil é negativa, porque ela vai custar muito. O governo fala em 19 bilhões de reais de investimento, mas as empresas envolvidas na obra, na fabricação dos equipamentos, dizem que a obra não sai por menos de 30 bilhões. Os problemas sociais e ambientais, muitos deles, não têm custo financeiro. Mas imagine a perda do valor cultural do rio Xingu, que é sagrado para as populações indígenas. E esse tipo de raciocínio não está incorporado na decisão de construir um empreendimento. A obra é superdimensionada, porque a quantidade de água para tocar a usina na capacidade proposta, de 11 mil MW (Itaipu produz 14 mil MW, para se ter uma idéia do tamanho da usina), estará disponível apenas três meses ao ano. Na época de estiagem, por exemplo, em setembro e outubro, a usina não vai produzir mais do que 1 mil MW. Então porque investir numa obra com essa dimensão se o retorno econômico/financeiro é baixo? Não é a toa que o capital privado desistiu de participar da construção.
E porque então construí-la? Qual é o interesse do governo se não haverá esse retorno?
Bermann: Eu vejo a obra de Belo Monte como um projeto de longo prazo. É preciso levar em consideração que mais da metade do chamado potencial hidrelétrico, para construir hidrelétricas no Brasil, está localizado na região amazônica, onde há problemas de ordens sociais e ambientais. O fato de ter esse potencial para a construção de hidrelétricas faz com o governo aponte para essa direção irreversível: a de construir essas usinas custe o que custar. Porque isso? O que chama atenção, como sempre, é a perspectiva do apagão, de se ter falta de energia. Ninguém quer ficar sem energia elétrica. Então essa forma de propagandear, de alardear que vai ter apagão, faz com que se aceite usinas com essas características. Não é particularmente o governo Lula, porque essa obra está sendo pensada há 30 anos.
O problema é que o governo Lula vai ficar na história como aquele governo que decretou o fim das populações indígenas e da cultura na região do Xingu. Para responder o por quê dessa obstinação do governo, é porque se conseguirem validar a construção da usina de Belo Monte, todas as outras usinas vão se validar também, principalmente no critério de impactos socio-ambientais. A Balbina (1) é conhecida como a pior concepção de hidrelétrica do mundo, porque ela está na planície amazônica, ocupa um reservatório enorme de mais de 2500 km2, para gerar 250 MW, sendo que a potência firme dela é de apenas 120 MW. Numa situação dessa, o critério lógico é abandonar o projeto. Isso não foi feito, na década de oitenta. De lá pra cá, aumentou o número de planos de hidrelétricas. Belo Monte representa simbolicamente a possibilidade de transformar todo o território amazônico em um grande conjunto de jazidas de megawatts. Embora frágil, com populações tradicionais que precisam ser respeitadas, populações indígenas que precisam ser consideradas, a perspectiva que Belo Monte aponta é de priorizar a geração de energia a partir das águas do rio Amazonas. E o resto? Bem, o resto é o resto.
O Brasil tem um papel de protagonismo internacional em geração de energia limpa. No caso das hidrelétricas, temos enormes reservas de água que podem ser vantajosas para o país. Não se deve aproveitar essas vantagens?
Bermann: O maior erro desta política energética que está sendo implementada é o fato dela se apoiar em inverdades. Uma delas é de que a energia hidrelétrica é limpa e barata. Ela não é. Estudos mostraram que Balbina, Tucuruí e Samuel, as três maiores hidrelétricas construídas na região amazônica até agora, emitem gases de efeito estufa mais ou na mesma proporção que usinas a carvão mineral. Isso pode parecer uma surpresa, mas nos primeiros dez anos de operação de uma usina da Amazônia, a matéria orgânica, a mata, ela apodrece porque a água a deixa encoberta permanentemente. E o processo de apodrecimento é muito forte, acidifica a água e emite metano, que é um gás 21 vezes mais forte que o gás carbônico, principal gás do efeito estufa. Isso é conhecido pela ciência, mas não é considerado porque não é de interesse de quem concebe essas usinas. O que interessa é a grande quantidade de dinheiro que vai ser repassado para as empresas construtoras de barragens, turbinas e geradores. O restante, o problema ambiental, as populações que serão expulsas, a cultura indígena que está sendo desconsiderada, isso não entra na conta.
Ainda não entendi porque construir essa usina se a energia é suja, cara e provoca todos esses impactos socioambientais. O Brasil precisa dessa energia ou não?
Bermann: Se o Brasil persistir nessa direção de desenvolvimento econômico, sim. Mas é isso o que precisa ser mudado. No Brasil, 30% da energia gerada é gasta por empresas que consomem muito: fábricas de aço e de alumínio, principalmente. Todas as empresas presentes na Amazônia, e que usam a energia de Tucuruí, são produtoras de alumínio, que é exportado. Então é essa lógica que está por trás disso. Fala-se em crescimento econômico, mas a fabricação industrial é direcionada para essa produção e para a exportação.
Seguindo essa lógica, fatalmente o Brasil precisará de energia. O problema que precisa ser aberto para a população brasileira é se a gente quer um crescimento econômico com esse perfil. Ou se com a mesma energia disponível, não podemos produzir produtos que contenham mais tecnologia, mais mão de obra, que tenham maior valor agregado e aí sim, exportá-los. É o que o Japão faz. Na década de 80, todas as indústrias de alumínio foram fechadas. O Japão passou a importar o alumínio, transformá-lo em chips, para então vendê-los com um valor 20 vezes maior do que ele pagou pelo alumínio utilizado. É possível crescer economicamente gastando menos energia, se diversificarmos a nossa matriz energética para que ela não priorize a hidroeletricidade, como ela vem sendo priorizada hoje.
É falsa a idéia de que ela é mais barata do que as outras. Colocado na ponta do lápis, esse custo de 30 bilhões da usina de Belo Monte será financiado pelo BNDES, com o nosso dinheiro, porque as empresas privadas não quiseram entrar. O banco público vai bancar 80% dos investimentos e pagar empresas privadas para construir a usina. E a energia elétrica, muito provavelmente, vai servir para ampliar esse perfil industrial eletro-intensivo. Vai vir alguma coisa para o consumidor residencial brasileiro, mas poderíamos conseguir essa energia diversificando as fontes, não tendo essa idéia de privilegiar grandes blocos de consumo, como esse tipo de indústria faz. A gente tem, na economia brasileira, demonstrações de que existem setores que atendem ao requisito de menor consumo de energia, maior tecnologia e maior incorporação de mão de obra. Então porque não insistir nessa direção?
E quais são esses setores?
Bermann: Por exemplo, a fabricação de aviões. Dentro da pauta de exportação brasileira, é o que mais se sobressai, em termos de receita que advém da venda desses equipamentos. Não dá para persistir na idéia de um país da dimensão do Brasil, com as necessidades sociais que tem, como exportador de soja, de café, de açúcar, de etanol. Exportar aço, celulose, alumínio, é restringir a capacidade que o conhecimento brasileiro tem, a capacidade de trabalho que o país tem de consumir energia de uma forma mais inteligente, de uma forma que degrade menos a força de trabalho de sua gente e o meio ambiente.
Você acha que a sociedade brasileira está a par do que está acontecendo na Amazônia?
Bermann: É fundamental que a discussão das usinas hidrelétricas da Amazônia seja disseminada para que as idéias que hoje justificam essas obras possam passar pelo crivo da sociedade, e não apenas de especialistas, e aí eu me incluo, que mostram seu ponto de vista cientifico do por quê condenar o empreendimento dessas obras. O projeto brasileiro é de construir 28 usinas na região amazônica. Hoje tem quinze, mas de porte são Tucuruí, Balbina e Samuel. Desse conjunto que se pretende, mostra que 80% da capacidade de geração de energia elétrica prevista até 2020 vão vir de 28 usinas hidrelétricas da Amazônia.
E a questão permanece: a que custos sociais e ambientais? Vale a pena? A gente não vai conseguir substituir a necessidade de energia de uma indústria de alumínio com o vento, ou com energia solar. Mas ela consegue suprir de uma forma diversificada parte da necessidade de consumo da população, de atividades de indústria de ponta, ou de comércio e serviços. Não devemos permanecer nessa dependência de grandes usinas hidrelétricas que custam caro, estão numa distância muito grande do consumo e representam do ponto de vista socio- ambiental, pesados óbices para um país como o Brasil aumentar a renda, a geração de emprego e melhorar a qualidade de vida da população.
A renda no Brasil é absurdamente concentrada e os esforços recentes nessa direção ainda são pouco significativos frente à dimensão que hoje se estabelece. Metade da população ganha a mesma renda que 5% dos brasileiros. Isso mostra porque temos problemas de segurança, baixa escolaridade, baixa capacitação de mão de obra para se qualificar e se inserir no mercado de trabalho. É um conjunto de problemas que se verifica e que poderiam ser resolvidos a partir dessa redefinição do que se quer de um país e como a energia pode contribuir numa qualidade de vida mais elevada. O problema é que estamos muito longe dessa direção.
Quais são as alternativas de geração de energia?
Bermann: Para pequena escala serviria energia solar, dos ventos, dos resíduos agrícolas. A política energética atual tem incorporado essas alternativas de uma forma muito tímida, deveria ser multiplicada na sua escala. Alegam que essas energias alternativas são caras, mas se a gente considera a hidroeletricidade com todos os problemas que eu apontei e com todos seus custos, elas passam a ser viáveis, e passam a potencialmente poder compor a cesta energética brasileira. Existe uma falsa questão na hidroeletricidade quando ela é comparada aos combustíveis fósseis e não tem uma vírgula sobre isso no projeto de Belo Monte.
Eu estranhei o espaço que a usina de Belo Monte tem tido na mídia, nunca vi a imprensa defender tanto o meio ambiente. Você acha que existe uma questão política por trás dessa discussão?
Bermann: Eu já estive muito próximo do governo Lula. Participei dos primeiros dois anos do governo como assessor de do Ministério de Minas e Energia. E me afastei por ver a direção que o governo Lula tomava e a sua forma de assegurar governabilidade, se aliando ao PMDB, particularmente à figura do senador Sarney. Isso implicou um redirecionamento político, inclusive nesse comportamento em relação às usinas hidrelétricas. Todo o staff hoje das empresas públicas elétricas é de homens do Sarney. Então a forma da oposição combater politicamente a obra de Belo Monte é em função do que é evidente, dos custos, dos problemas socio-ambientais, para com isso alimentar a crítica, mas que é de fundamento político, à obra. Eu nao vi ainda a oposição dizer que não construiria Belo Monte. Não vi o candidato de oposição se referir à usina de forma incisiva. Então eu vejo que o comportamento da mídia em relação à Belo Monte, que poderia resultar no envolvimento da sociedade com relação à usina e criar condições para que o governo revisse a decisão, foi usado muito na atitude de jogar pedra no telhado de vidro, quando eu suponho que seria o mesmo telhado se tivéssemos outro governo.
Um país subdesenvolvido pode ter um desenvolvimento sustentavel? Quer dizer, um país com tantas necessidades sociais quanto o Brasil pode pensar nesses termos em longo prazo?
Bermann: Deveria. Mas na construção de hidrelétricas, não se pensa no meio ambiente em longo prazo. Enquanto houver minérios na Amazônia, vamos aproveitar. Uma usina hidrelétrica dura até 100 anos. Nos EUA, quando as hidrelétricas já não funcionam mais, estão tentando recuperar a vida do rio, porque a vida do rio morre com a usina hidrelétrica. A água que corria agora fica parada, aumenta sua acidez, diminui o oxigênio, no lago começam a formar macrófitas (algas). São evidências de que a coisa não está indo no bom caminho se a gente pensa em longo prazo. A sociedade não está informada, não participa do processo decisório. Quem participa são essas pessoas que eu mencionei, com suas teias de interesse já definidas. O deputado que hoje está na frente de uma empresa de geração de energia elétrica pública, ele garante com esse tipo de articulação, caixas de campanha para a próxima eleição. Eles embolsam o dinheiro indiretamente, o que torna impossível de registrar, documentar e ser uma peça importante num processo judicial de apuração de responsabilidades.
O Delfim Netto escreveu coluna na revista CartaCapital argumentando em defesa da construção da usina de Belo Monte. Segundo ele, os não índios na região se beneficiariam com a criação de emprego e a movimentação da economia. Termina a coluna citando uma frase que um jornalista publicou no Estadão: “As questões ambientais ou indígenas são vistas pelos locais como argumentos de quem tem sobrevivência garantida. Não é o caso de boa parte dos 60 mil habitantes de Altamira”.
Bermann: A afirmação do Dep. Delfim Neto apenas confunde. A sobrevivência das populações tradicionais está e sempre esteve em permanente ameaça. A população urbana de Altamira tem vários problemas que não são enfrentados pelo município ou pelo estado. A ausência de políticas públicas acaba conduzindo a população carente a acreditar que a usina seria a redenção para a região. Como já havia sido, décadas atrás, a construção da Transamazônica.
A Usina Hidrelétrica de Balbina, no Amazonas, começou a ser construída em 1973 no rio Uatamã e passou a funcionar em 1988. (EcoDebate)

sábado, 14 de agosto de 2010

Algas e plantas aquáticas são fontes de biocombustíveis

Algas e plantas aquáticas são fontes promissoras de biocombustíveis e ainda limpam a água.
Geradoras de energia e de limpeza
Elas têm estruturas mais simples e se reproduzem em velocidades muito maiores do que as dos outros vegetais. Essas características colocam as microalgas e as pequenas plantas aquáticas da família das Lemnaceaes na fronteira das pesquisas sobre novas fontes de biocombustíveis.
Especialistas nessas duas matérias-primas apresentaram resultados de seus estudos no 2º Congresso Pan-Americano sobre Plantas e Bioenergia, que terminou em 11/08/2010, em São Pedro (SP).
O caráter sustentável da produção de algas, que têm grande capacidade de aborver dióxido de carbono (CO2), foi ressaltado por Richard Sayre, diretor do Instituto Erac para Combustíveis Renováveis, em Saint Louis, Estados Unidos. Mantido pela iniciativa privada, o Erac é um dos maiores centros mundiais de pesquisas em plantas, reunindo 170 pesquisadores e 95 PhDs.
Sayre apontou a importância de se investir em fontes renováveis de energia que forneçam combustível em forma de óleo, como é o caso das algas. “A gasolina pode ser substituída por etanol, porém outros combustíveis e produtos derivados de petróleo dependem de matérias-primas baseadas em óleo”, afirmou.
Por esse motivo, somente metade do petróleo usado no mundo poderia ser substituído por etanol. Além disso, o óleo, segundo o pesquisador, contém o dobro da densidade energética do etanol.
Ao se comparar fontes de biodiesel, as algas também apresentam uma produtividade muito superior às das demais matérias-primas, segundo Sayre. No estudo do Erac, as algas produziram 58.700 litros de óleo por hectare de cultivo, contra 5.950 litros de óleo de palma, a segunda colocada.
“Essa é uma estimativa modesta, que considera a extração de 30% de óleo da biomassa, mas podemos extrair até 70% elevando a produtividade para 136.900 litros de óleo por hectare”, afirmou.
Além disso, as algas não possuem tecidos heterogêneos, como folhas, galhos e raízes, o que facilita um dos maiores obstáculos da obtenção dos biocombustíveis de plantas: a quebra da parede celular.
Outra vantagem apontada pelo pesquisador é o alto teor de óleo das células das algas, que podem apresentar até 50% de lipídios não polares, mais fáceis de serem quebrados, e possuem de 10% a 45% mais energia do que as matérias-primas obtidas de carboidratos.
O especialista norte-americano propõe também que as algas sejam aplicadas na solução de outro problema das grandes cidades: o tratamento de esgoto. Algas capazes de decompor matéria orgânica poderiam ser cultivadas em estações de tratamento. Além da limpeza da água, o cultivo produziria biodiesel e absorveria uma boa parte do CO2 da atmosfera.
No exemplo de Sayre, o tratamento de esgoto de uma cidade como Nova York produziria 10 milhões de litros de biodiesel de algas por ano e absorveria 40% do CO2 emitido por uma termelétrica de 200 MWh movida a carvão. “Também haveria ganhos adicionais com a produção de metano e de produtos para ração animal”, completou.
O desafio da equipe do Erac está em desenvolver melhorias genéticas a fim de aprimorar a conversão de energia solar no interior das células. Essa conversão depende do tamanho de estruturas chamadas de complexo LHCII. Por serem muito grandes, essas estruturas recebem mais energia do que conseguem processar e o excedente (cerca de 60%) acaba sendo desperdiçado.
A viabilidade econômica da produção de biodiesel de algas foi conquistada ao longo dos anos graças aos avanços obtidos em pesquisa. “Hoje, conseguimos produzir biodiesel de algas ao custo de US$ 2 por galão, sem subsídio algum do governo. Há três anos, esse mesmo galão custava US$ 100”, comparou.
Lentilhas d’água
A menor planta do mundo capaz de produzir flores é outra fonte promissora de biocombustível, de acordo com o professor Eric Lam, do Departamento de Biologia e Patologia Vegetal da Universidade do Estado de New Jersey – Rutgers, nos Estados Unidos.
Conhecidas no Brasil como lentilhas d’água, as plantas da família Lemnaceae são capazes de se reproduzir sobre água doce ou salobra. São cinco gêneros e 40 espécies conhecidas que se espalham em regime perene por praticamente todo o planeta, com exceção das regiões desérticas e polares.
Nos Estados Unidos, elas são chamadas de duckweeds (“erva de pato”), por servirem de alimento às aves aquáticas que aproveitam as estruturas ricas em gordura, proteínas e amido da planta.
Assim como as algas, as lentilhas d’água se reproduzem com velocidade muito maior que a dos demais vegetais. “Os exemplares da espécie Wolffia microscopica dobram de quantidade a cada 30 horas”, disse Lam.
Essa proliferação se deve ao fato de as Lemnaceaes se propagarem principalmente de maneira assexuada, produzindo clones genéticos. Outra diferença é que essas plantas aquáticas são extremamente pobres em lignina, macromolécula responsável pela defesa imunológica, pelo transporte de água e nutrientes e, especialmente, pela estrutura física da planta, conferindo-lhe suporte mecânico.
Lam especula que a pouca concentração de lignina nas lentilhas d’água seria um fruto da adaptação desses vegetais ao habitat aquático, no qual não seria necessária igual rigidez.
A baixa presença de lignina é uma considerável vantagem na fabricação de biocombustível, pois quebrar essa molécula tem sido um dos maiores desafios da pesquisa em combustíveis de origem vegetal.
De maneira similar às algas, as Lemnaceaes têm a capacidade de recuperar águas contaminadas, uma vez que reduzem coliformes, absorvem metais pesados e consomem parcelas consideráveis de nitrogênio e fósforo. Elas também têm um papel importante no ecossistema ao estimular a presença de anfíbios e de outros animais aquáticos.
Em uma experiência realizada em uma fazenda de porcos nos Estados Unidos, o professor Jay Cheng, da Universidade do Estado da Carolina do Norte, conseguiu em 12 dias eliminar completamente altas concentrações de nitrogênio e potássio que a criação emitia no lago da fazenda apenas com aplicação de lentilhas d’água.
O mesmo experimento utilizou as plantas na produção de combustível e obteve uma produtividade cinco vezes maior por unidade de área cultivada em comparação com o etanol obtido do milho.
A planta ainda pode ser obtida em regiões em que ela se prolifera como invasora. Lam apresentou dois exemplos, um no lago Maracaibo, na Venezuela, e outro em Nova Jersey, nos Estados Unidos. Em ambos, as Lemnaceaes ocuparam quase toda a superfície dos lagos, prejudicando o ecossistema.
“As autoridades locais vão adorar se você se dispuser a retirar essas plantas dos lagos. É uma fonte abundante e gratuita para o produtor de biocombustível”, disse Lam.Segundo ele, algas e Lemnaceaes são fontes por excelência de biocombustível, pois, além de recuperar águas contaminadas e absorver CO2, elas não competem por terras agriculturáveis nem com a produção de alimentos como milho e soja. (EcoDebate)

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Os impactos ambientais dos reservatórios artificiais

As principais bacias hidrográficas do Brasil estão sendo reguladas pela construção de reservatórios, os quais isoladamente ou em cascata causam importantes impactos qualitativos e quantitativos nos principais ecossistemas das águas interioranas.
Os reservatórios de grande porte são utilizados para diversas finalidade: hidroeletricidade, reserva de água para irrigação, reserva de água potável, produção de biomassa (cultivo de peixes e pesca intensiva, transporte (hidrovias), recreação e turismo.
Inicialmente, a construção de hidrelétricas e a reserva de água para diversos fins foi o principal propósito. Nos últimos vinte anos, os usos múltiplos desses sistemas diversificaram-se, ampliando a importância econômica e social desses ecossistemas artificiais e, ao mesmo tempo, produzindo e introduzindo novas complexidades no seu funcionamento e impactos. (Tundisi, 1994).
Esta grande cadeia de reservatórios tem, portanto, um enorme significado econômico, ecológico, hidrológico e social; em muitas regiões do país esses ecossistemas foram utilizados como base para o desenvolvimento regional. Em alguns projetos houve planejamento inicial e uma preocupação com a inserção regional; em outros casos, este planejamento foi pouco desenvolvido. Entretanto, devido às pressões por usos múltiplos, estudos intensivos foram realizados com a finalidade de ampliar as informações existentes e promover uma base de dados adequada que sirva como plataforma para futuros desenvolvimentos (Arcifa et alii, 1981; Paiva et alii, 1994; Barrow, 1987; Garzon, 1984, Tundisi, 1990, 1993; Tundisi et alii, 1991; Braga et alii, 1998).
Em todas as regiões do Brasil há, portanto, um grande número de reservatórios: os menores com 1,5 milhões de metros cúbicos de água, e os maiores com 100-200 bilhões. A morfometria dos reservatórios varia, mas, de um modo geral, o padrão dendrítico predomina, com muitos compartimentos o que complica o estudo, a amostragem e o manejo desses reservatórios. Baixa declividade e inundação de grandes áreas são, portanto, características da maioria dos reservatórios hidrelétricos no Brasil. Áreas alagadas associadas a esses reservatórios, são fatores de heterogeneidade espacial e são importantes compartimentos a considerar. Estas áreas alagadas podem ser utilizadas como região de reprodução para peixes, podem funcionar como sistemas tampão para a eliminação de Nitrogênio (por denitrificação) e Fósforo (por incorporação na biomassa). Nestes grandes sistemas, tal como naqueles do Amazonas, São Francisco, Goiás, Tocantins ou do Estado de São Paulo, a variabilidade horizontal pode ser considerada em uma escala macrogeográfica. Os principais tributários contribuem com muitas fontes de material dissolvido e particulado, produzindo grande variabilidade espacial.
A esta variabilidade espacial sobrepõe-se uma variabilidade temporal produzida por alterações climatológicas principalmente precipitação e ventos e o sistema operacional das represas, o que depende de seu uso. A descarga do reservatório, é também uma função de força fundamental que atua, tanto a jusante quanto a montante. Precipitação e vento estabelecem padrões climatológicos fundamentais. Durante intensa precipitação, a matéria inorgânica em suspensão aumenta em grande quantidade reduzindo a transparência, a produção primária fitoplanctônica, e a sobrevivência das macrofitas. A concentração de oxigênio dissolvido na água pode reduzir-se em até 70%.
As diferenças em tempo de retenção introduzem novos mecanismos de alteração dos reservatórios, principalmente composição das comunidades zooplanctônicas e fitoplanctônicas (composição de espécies, sucessão, biomassa, produtividade e colonização).
Os impactos da construção de represas são relativamente bem documentados para muitas bacias hidrográficas. Estes impactos estão relacionados ao tamanho, volume, tempo de retenção do reservatório, localização geográfica e localização no continuum do rio. Os principais impactos detectados são:
• inundação de áreas agricultáveis;
• perda de vegetação nativa e da fauna nativa terrestres;
• interferência na migração dos peixes;
• mudanças hidrológicas a jusante da represa;
• alterações na fauna do rio;
• interferência no transporte de sedimentos;
• aumento da distribuição geográfica de doenças de veiculação hídrica;
• perdas de heranças históricas e culturais, alterações em atividades econômicas e usos tradicionais da terra;
• problemas de saúde pública, devido à deterioração ambiental;
• problemas geofísicos devido a acumulação de água foram detectados em alguns reservatórios com grandes volumes.
• perda da biodiversidade, terrestre e aquática;
• efeitos sociais por relocação.
Todas estas alterações podem resultar de efeitos diretos ou indiretos.
Reservatórios em cascata como os construídos nos rios Tietê, Grande, Paranapanema, São Francisco, Tocantins, etc., produzem efeitos e impactos cumulativos, transformando inteiramente as condições biogeofísicas, econômicas e sociais de todo o rio.
A construção de barragens em cascata, produz extensas modificações gerais nos seguintes processos nos rios:
• Alteração do regime hidrológico devido à regulação do fluxo e do nível, e conseqüentemente, modificações na altura das variações hidrométricas. Com isto modificam-se regimes de inundação e áreas alagadas.
• Modificações nos ciclos biogeoquímicos. As represas retém fósforo e exportam nitrogênio a jusante. A retenção de fósforo é realizada em função da precipitação de fosfato férrico no sedimento devido à anulação e reoxigenação. Devido a estas alterações, o sistema e o acúmulo de nutrientes modificam-se produzindo um método de eutrofização nos sistemas a jusante. Neste caso, a entrada de nutrientes de montante é reduzida (para o caso do Fósforo).
• Alterações no sistema de reprodução de peixes e na fauna e flora das áreas de inundação. As modificações no regime hidrológico e na vazão, com as barragens, interferindo nos ciclos de reprodução dos peixes, impedindo a migração.
• Retenção de sedimentos nos reservatórios a montante, com isto acentua a capacidade de erosão da água a jusante. A retenção de sedimentos interfere com os ciclos biogeoquímicos e a qualidade da água.
Deve-se ressaltar o efeito conjunto das represas em cascata e seus impactos cumulativos.
A construção de represas é capaz de produzir grandes alterações na biota de águas interiores do Brasil. As grandes alterações ocorrem principalmente com a fauna de peixes, uma vez que as espécies sul americanas estão adaptadas a rios com correntes rápidas, migrando para a reprodução. A zona pelágica dos reservatórios é muito pouco utilizada pelos peixes. Além da alteração produzida pela construção de barragens, muitas represas foram repovoadas com espécies exóticas, tornando a rede alimentar a composição das comunidades e a exploração comercial extremamente complexas.
O impacto na biodiversidade também é grande, pois a biota das águas interiores está submetida a uma série de variados impactos decorrentes das atividades humanas nas diferentes bacias hidrográficas tais como:
• Poluição, contaminação e introdução de substâncias tóxicas;
• Introdução de espécies exóticas predadoras;
• Remoção da vegetação ciliar em rios, represas e lagos;
• Atividades excessivas de pesca;
• Aumento do material em suspensão na água devido a atividades agrícolas;
• Uso excessivo de equipamentos de recreação;
• Deterioração da margem de rios, represas e lagos;
• Remoção e destruição de áreas alagadas;
• Eutrofização excessiva;
• Alteração na flutuação do nível da água e interferência no sistema hidrológico;
• Remoção de espécies de grande importância na rede alimentar;
• Aumento de navegação e transporte;
• Desmatamento em geral e perda da vegetação inundável;
• Intensificação das atividades de mineração;
• Alterações nas condições químicas e físicas das águas (qualidade da água) – temperatura, oxigênio dissolvido, pH (por acidificação), nutrientes (por eutrofização).
Qualquer programa de conservação da biota deve ser baseado no conhecimento das interações entre o reservatório e a bacia hidrográfica. A manutenção da diversidade regional da biota e da qualidade da água são um desafio importante para o desenvolvimento sustentado dos recursos hídricos e do seu componente biológico. A preservação de áreas de sistemas naturais com alta biodiversidade e espécies endêmicas é fundamental para a recuperação de ecossistemas e para o conhecimento mais profundo de processos de interação entre os componentes abiótico e biótico do sistema.
Verdesio (1990) assinala que a formação de reservatórios tem sido outro elemento deturpador do meio ambiente, afetando este de diversas maneiras:
• modifica o ambiente lótico que passa a ser béntico, com mudanças drásticas da fauna aquática;
• inunda extensas áreas, destruindo ambientes e terras, às vezes de alto valor agrícola, ecológico, ou arqueológico;
• serve de barreira ecológica para a migração de fauna;
• provoca ocupação descontrolada na sua bacia, favorecendo a erosão dos solos e afetando o próprio reservatório;
• favorece a proliferação de doenças transmitidas por vetores aquáticos.
Estudos realizados pela Universidade de Nagoya no Japão, tem demonstrado que a grande quantidade de água retida artificialmente no interior, tem provocado pequenas mudanças no movimento de rotação da Terra, fato que com o passar do tempo inevitavelmente afetará o magnetismo do Planeta, com modificações na Magnetosfera. Esse fator se concretizado afetará a camada de ozônio e a atmosfera baixa da Terra como conseqüência da irradiação dos gases cósmicos cuja vida no planeta será colocada em estado de risco.
O preenchimento rápido dos reservatórios, ainda impede a retirada da madeira e esta, a medida que entra em decomposição libera na atmosfera grande concentração de metano. Além do que, a vegetação inundada que abrange uma grande área, deixa de sequestrar carbono, aumentando dessa forma as concentrações deste elemento na atmosfera, contribuindo para aumentar o efeito estufa.
Portanto, se pretendemos ainda vislumbrar algum futuro, não é possível mais brincar com questões tão serias pensando somente na premissa falsa de um bem-estar momentâneo. (EcoDebate)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Desperdício de gás aumenta 53%

Perda nas plataformas equivale ao consumo do Estado do Rio.
A queima ou perda de gás nas plataformas de petróleo da Petrobrás aumentou 53,5% no primeiro trimestre de 2009, atingindo o recorde de 10,1 milhões de m³ por dia em março. O volume equivale ao consumo do Estado do Rio. O problema é fruto do crescimento da produção de petróleo na Bacia de Campos, sem mercado equivalente para o gás que sai dos poços associado ao óleo. Além do prejuízo financeiro, a queima de gás provoca emissão de gases do efeito estufa.
Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), as plataformas de petróleo brasileiras queimaram ou perderam 730,9 milhões de m³ nos três primeiros meses de 2009, o que representa um crescimento de 53,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. O volume é equivalente a uma média de 8,1 milhões de m³ por dia. Em março, houve grande aumento da média, que atingiu 10,1 milhões de m³ por dia.
A Petrobrás diz que o aumento da queima é pontual, pois reflete a entrada em operação de três novas plataformas de petróleo (P-51, P-53 e Cidade de Niterói), que ainda não estavam conectadas a sistemas de escoamento do gás. Segundo a empresa, o volume diminuiu em abril/2010, com a conexão da P-53 a um gasoduto. As outras duas unidades devem começar a escoar gás a partir de julho.
A queima de gás causa prejuízos para a empresa, que tem de pagar royalties sobre o combustível desperdiçado. Além disso, é motivo de preocupação ambiental, o Banco Mundial tem um grupo que estuda maneiras de atenuar a emissão de gás carbônico pelos queimadores de gás natural das plataformas. O Brasil figura no segundo escalão entre os países mais poluidores nesse sentido, lista encabeçada por grandes produtores, como a Rússia.
Com base em dados de 2007, quando as queimas no Brasil situavam-se em torno dos 5,5 milhões de m³ por dia, a entidade estima que as plataformas brasileiras contribuam com emissão de volumes entre 4 e 7 milhões de toneladas de gás carbônico por dia - o dado varia de acordo com o ritmo de queima de gás. A Petrobrás diz que "continua buscando novas soluções para aproveitar ainda mais o gás produzido".
No primeiro trimestre, menos da metade dos 5,02 bilhões de m³ de gás produzidos pela empresa chegaram ao mercado consumidor. Além das queimas, parte do gás é consumido nas unidades da companhia e outra parte, reinjetado nos reservatórios. O volume de produção, porém, caiu 2% em relação ao mesmo período do ano anterior.
A diretora de Gás e Energia da Petrobrás, Graça Foster, disse que há hoje uma oferta excedente de 20 milhões de m³ por dia. Na tentativa de encontrar consumidores, a companhia realiza leilões para entrega de gás em contratos de curto prazo, mas a procura é pequena. Um alívio, porém, foi provocado pela seca no Sul do País, que levou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a religar as térmicas a gás das Regiões Sul e Sudeste.

Software dimensiona biodigestores

Software dimensiona biodigestores para uso em propriedades rurais.
Um software capaz de ajudar o produtor rural a tomar a decisão de instalar ou não um biodigestor (equipamento que transforma biomassa em biogás) em sua propriedade foi apresentado em 04/08/2010 durante o workshop “Como dimensionar biodigestores para geração de energia a partir de resíduos animais”, realizado no auditório da Diretoria Geral da Administração (DGA) da Unicamp.
De acordo com um dos desenvolvedores do programa de computador, Aurélio Souza, a ferramenta deverá estar disponível para ser baixada gratuitamente pela internet pelos criadores de gado (leiteiro e de corte) e suinocultores nas próximas semanas. O evento foi organizado pelo Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio), instalado no Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP.
O projeto que culminou com o desenvolvimento do software, conforme Souza, contou com a participação do Cenbio, USP, empresa Usinazul e duas entidades internacionais, a Winrock International e a The Renewable Energy & Energy Efficiency Partnership (Reeep). Ele esclareceu que antes de ser colocado no ar, o programa ainda deverá ser refinado, de modo a fornecer dados ainda mais precisos. Dito de maneira simplificada, a ferramenta é constituída por uma série de planilhas, que precisam ser alimentadas com diversas informações.
Entre as variáveis consideradas estão o tamanho do plantel, a quantidade de resíduos produzida pelos animais num dado período e o consumo de energia elétrica da propriedade. Essas informações são cruzadas com outras, principalmente as relativas aos investimentos necessários para a instalação do biodigestor. Ao ser acionado, o software promove os cálculos e aponta qual o tamanho adequado do biodigestor para aquela situação, quanto o ruralista gastaria no projeto de instalação e qual a taxa de retorno. “Embora os dados não sejam absolutamente precisos, eles fornecem uma direção para que o usuário tome uma decisão”, esclarece Souza.
O objetivo final, acrescentou, é possibilitar que a propriedade alcance a autossuficiência energética e reduza os impactos que os resíduos animais causam ao ambiente. Além de Souza, também participaram do workshop a coordenadora do Cenbio, professora Suani Teixeira Coelho, e a pesquisadora do Centro, Vanessa Pecora Garcilasso. Ambas falaram sobre os projetos que têm sido desenvolvidos pelo órgão na área do biogás. Segundo Vanessa, entre as ações executadas está um projeto de geração de energia elétrica e iluminação a gás no Centro de Tratamento de Resíduos (CTR) de Caieiras, na Grande São Paulo.
O biogás é um combustível gasoso com elevado valor energético. É composto basicamente por metano (cerca de 60%), dióxido de carbono (35%) e outros gases (5%). É obtido por intermédio da decomposição anaeróbica (sem a presença de oxigênio) da matéria orgânica, que ocorre pela ação de determinadas espécies de bactérias. Pode ser utilizado para geração de energia elétrica, térmica ou mecânica, sobretudo em propriedades rurais, contribuindo dessa forma para a redução dos custos de produção. (EcoDebate)

domingo, 8 de agosto de 2010

Avança o monopólio da terra

Avança o monopólio da terra para produção de agrocombustíveis.
O monopólio da terra segue como tema central diante do avanço do capital sobre recursos estratégicos em todo o mundo. Nesse contexto, a produção de agrocombustíveis cumpre o papel de justificar este processo, a pretexto de servir como suposta alternativa para a crise climática. Porém, quando falamos sobre mudanças climáticas, estamos realmente nos referindo a mudanças no uso do solo, com a expansão dos monocultivos, da mineração, das grandes barragens, e outros projetos de controle de recursos energéticos, que estão na raiz da crise climática.
No Brasil, os velhos usineiros, agora travestidos de empresários “modernos”, em consequência da propaganda sobre as supostas vantagens do etanol, intensificam suas campanhas internacionais para vender o produto. Recentemente, ganharam um reforço especial, com o anúncio do governo sobre acordos trabalhistas e de zoneamento ambiental. Porém, um breve relato sobre as atuais tendências do setor é suficiente para mostrar que estas são apenas medidas de fachada.
As características que historicamente marcaram a oligarquia rural no Brasil permanecem inalteradas. Ou seja, o monopólio da terra, a exploração do trabalho e de recursos naturais estratégicos. A principal mudança tem sido a presença crescente do capital internacional na indústria dos agrocombustíveis. Há alguns anos verifica-se um aumento do ritmo de aquisições no setor sucroalcooleiro, com um crescimento na participação de empresas estrangeiras e um aumento na concentração do poder econômico de determinados grupos.
A participação de empresas estrangeiras na indústria da cana no Brasil cresceu de 1% em 2000 para 20% em 2010. Existem cerca de 450 usinas no Brasil, controladas por 160 empresas nacionais e estrangeiras. De acordo com estudo do grupo KPMG Corporate Finance, de 2000 a setembro de 2009, ocorreram 99 fusões e aquisições de usinas no Brasil. Entre estas, 45 negociações aconteceram no período de 2007 a 2009, sendo que em 22 casos ocorreu a compra de uma usina nacional por um grupo estrangeiro.
Em outubro de 2009, a empresa francesa Louis Dreyfus Commodities anunciou a compra de cinco usinas da Santelisa Vale, de Ribeirão Preto (SP). A fusão criou o grupo LDC-SEV Bioenergia, tornando-se o segundo maior produtor mundial de açúcar e etanol. O grupo pretende produzir 40 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano e tem participação acionária das famílias Biaggi e Junqueira, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e do banco Goldman Sachs.
Uma nova característica da indústria do etanol, se comparada ao Pró-Alcool da década de 1970, é a aliança entre setores do agronegócio com empresas petroleiras, automotivas, de biotecnologia, mineração, infraestrutura e fundos de investimento. Neste cenário, não existe nenhuma contradição destes setores com a oligarquia latifundista, que se beneficia da expansão do capital no campo e do abandono de um projeto de reforma agrária.
Em 2009, a empresa petroleira britânica British Petroleum (BP) anunciou que irá produzir etanol no Brasil, com um investimento de US$ 6 bilhões de dólares nos próximos dez anos. A BP irá atuar através da Tropical Bioenergia, em associação com o Grupo Maeda e a Santelisa Vale, em Goiás, que contam com uma área de 60 mil hectares para a produção de cana no estado.
Em julho de 2009, a Syngenta divulgou a aquisição de terras para produzir mudas de cana-de-açúcar na região de Itápolis (SP). O projeto inclui a produção de mudas transgênicas e pretende se expandir para outros estados, como Goiás, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul.
No início de 2010, ocorreram novas fusões. Em janeiro, a multinacional agrícola Bunge anunciou a compra de quatro usinas do Grupo Moema, incluindo a usina Itapagipe que tinha participação acionária de 43,75% da empresa norte-americana Cargill. Com a negociação, a Bunge passará a controlar 89% da produção de cana do Grupo Moema, estimada em 15,4 milhões de toneladas por ano.
Em fevereiro, foi anunciada a fusão da ETH Bioenergia, do grupo Odebrecht, com a Companhia Brasileira de Energia Renovável (Brenco), que pretende se tornar a maior empresa de etanol no Brasil, com capacidade para produzir três bilhões de litros por ano. Alguns dos acionistas da Brenco são Vinod Khosla (fundador da Sun Microsystems), James Wolfensohn (ex-presidente do Banco Mundial), Henri Philippe Reichstul (ex-presidente da Petrobrás), além da participação do BNDES. Já a Odebrecht tem sociedade com a empresa japonesa Sojitz. O novo grupo irá controlar cinco usinas: Alcídia (SP), Conquista do Pontal (SP), Rio Claro (GO), Eldorado (MS) e Santa Luzia (MS).
O conglomerado ainda participa da construção de um alcoolduto entre o Alto Taquari e o porto de Santos, e pretende instalar usinas na África. A empresa pretende captar R$ 3,5 bilhões até 2012, dos quais pelo menos 20% virão do BNDES, além de outros R$ 2 bilhões que o banco já investiu anteriormente na Brenco.
Nesta mesma linha, em fevereiro de 2010, a gigante petroleira holandesa Shell anunciou uma associação com a Cosan para a produção e distribuição de etanol, com o objetivo de produzir 4 bilhões de litros até 2014. Ao divulgar a operação, a nota da Shell afirmava que pretende criar “um rio de etanol, correndo desde as plantações no Brasil até a América do Norte e a Europa”. Apesar da repercussão internacional da prática de trabalho escravo na Cosan, a empresa segue como líder no setor.
Seguindo esta tendência, a Vale anunciou que pretende produzir diesel a partir do óleo de palma na região amazônica a partir de 2014, através de uma parceria com a empresa Biopalma da Amazônia S.A. A intenção é produzir 500 mil toneladas de óleo de palma por ano. Parte do combustível será utilizada nas locomotivas da estrada de ferro e nas minas de Carajás, no Pará.
A expansão do monocultivo de cana-de-açúcar
Em relação ao avanço territorial do monocultivo de cana, dados da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) mostram que, em 2006, eram 4,5 milhões de hectares e, em 2008, chegaram a 8,5 milhões de hectares. Na a safra de 2009 houve um aumento de 7,1% em relação a 2008. Esta expansão é estimulada por recursos públicos. Entre 2008 e 2009, estima-se que o setor sucroalcooleiro tenha recebi do mais de R$ 12 bilhões do BNDES. Esta verba é extraída, em grande medida, do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Segundo a CONAB, 45,08% da safra foi destinada à produção de açúcar e 54,9% à produção de etanol, que resultou em 25,87 bilhões de litros do produto. A expansão da área plantada foi de 6,7%, ou cerca de 473 mil hectares. A maior expansão ocorreu na região do Cerrado, principalmente em Mato Grosso do Sul (38,80%) e Goiás (50,10%).
Dados do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), da Universidade Federal de Goiás, indicam que o ritmo atual de desmatamento do Cerrado poderá elevar de 39% para 47% o percentual devastado do bioma até 2050. A pesquisa demonstra ainda que a destruição do Cerrado coloca em risco a disponibilidade de recursos hídricos para o Pantanal e a Amazônia, pois estes biomas estão interligados.
Trabalho escravo
As usinas de cana se tornaram campeãs em trabalho escravo nos últimos anos. De acordo com dados da Campanha Nacional de Combate ao Trabalho Escravo da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 2007, dos 5.974 trabalhadores resgatados da escravidão no campo brasileiro, 3.060, ou 51%, foram encontrados no monocultivo da cana de açúcar. Em 2008, dos 5.266 resgatados, 2.553, ou 48% dos trabalhadores mantidos escravos no país estavam em plantações de cana. De janeiro a junho de 2009, este número era de 951 trabalhadores, que representavam 52% do total. Ao final de 2009, o Ministério do Trabalho registrou a libertação de 1.911 trabalhadores nas usinas de cana nos estados de Goiás, Mato Grosso, Pernambuco, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Em 2009, o Ministério do Trabalho inclui grandes usinas na chamada “lista suja” do trabalho escravo. Uma delas foi a Brenco, que tem participação acionária de 20% do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Entre 2008 e 2009, o BNDES liberou R$ 1 bilhão para usinas da Brenco em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Ao mesmo tempo, o Grupo Móvel expediu 107 autos de infração contra a empresa, que é presidida pelo ex-presidente da Petrobras Henri Philippe Reichstul. Apesar da prática de trabalho escravo, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, anunciou a continuidade do financiamento para a Brenco.
Em 31 de dezembro de 2009, foi a vez do grupo Cosan – a maior empresa do setor sucroalcooleiro do país, com produção anual de 60 milhões de toneladas de cana. Apesar da prática de trabalho escravo, a Cosan recebeu R$ 635,7 milhões do BNDES em junho de 2009, para a construção de uma usina de etanol em Goiás. O BNDES manteve o financiamento para a Cosan, mesmo após a evidência de trabalho escravo. A Cosan possui 23 usinas, controla os postos da Exxon (Esso do Brasil) e teve um faturamento de R$ 14 bilhões de reais em 2008.
Em outubro de 2009, o Grupo Móvel libertou 55 trabalhadores escravizados na Destilaria Araguaia (chamada anteriormente de Gameleira), no Mato Grosso. Segundo o auditor fiscal Leandro de Andrade Carvalho, que coordenou a operação, os trabalhadores estavam sem receber salário há três meses. Esta foi a terceira libertação realizada em oito anos na mesma usina. A Destilaria Araguaia pertence ao Grupo Eduardo Queiroz Monteiro (EQM) – um grande conglomerado econômico com sede em Pernambuco. O grupo controla outras usinas em Pernambuco, Tocantins e Maranhão, além de participar como acionista em veículos de comunicação como o jornal Folha de Pernambuco, a Rádio Folha de Pernambuco, Folha Digital de Pernambuco e Agência Nordeste.
Em junho de 2009, fiscais do Ministério do Trabalho e do Ministério Público detectaram irregularidades em usinas fiscalizadas na região de Ribeirão Preto, em São Paulo, entre elas a Bazan, Andrade, Central Energética Moreno Açúcar e Álcool, e Nardini Agroindustrial. As usinas não forneciam equipamento adequado (como luvas, sapatos e caneleiras) e foram constatadas irregularidades no pagamento da jornada de trabalho. Os trabalhadores declararam que cortam cerca de 20 toneladas de cana por dia. Os fiscais também registraram condições precárias de moradia, como superlotação, locais com risco de incêndio e falta de condições de higiene.
Ainda em 2009, o Ministério Público do Trabalho (MPT) conseguiu uma liminar que obriga a usina São Martinho, em Limeira (SP), a corrigir irregularidades trabalhistas. Durante fiscalizações nas safras de 2007 e 2008, o MPT constatou a falta de equipamentos de proteção, de segurança no trabalho, de cuidados médicos, de condições de higiene e de alimentação adequadas. A ação judicial inclui ainda a condenação da empresa ao pagamento de R$2 milhões aos trabalhadores por dano moral.
Desemprego e trabalho degradante
A expansão de monocultivos para a produção de agroenergia gera desemprego, pois causa a expulsão de camponeses de suas terras, impede que outros setores econômicos se desenvolvam e gera dependência dos trabalhadores a empregos precários e temporários.
José Alves é cortador de cana no interior de São Paulo e explica, “Esse serviço é muito ruim, a gente só vem porque precisa mesmo. Eu vim de Minas e lá não tem outro serviço. Mas a gente nunca sabe quanto vai receber, porque tem muito desconto do salário. Eu recebo uma média de $700 por mês, mas tudo é caro – aluguel, alimentação, e não sobra nada. A gente sabe que a usina rouba no pagamento, mas temos que ficar calados.”
A expansão e a crescente mecanização do setor canavieiro têm gerado maior exploração da força de trabalho. A maioria dos trabalhadores não tem controle da pesagem de sua produção diária. “A gente nunca sabe quanto vai ganhar e o pagamento vem com muitos descontos. A usina rouba no peso ou na qualidade da cana cortada. Por exemplo, uma cana que vale $5 reais a tonelada, eles pagam só $3 reais. É assim que a usina engana os trabalhadores”, denuncia D.S., cortador de cana em Engenheiro Coelho, SP.[1]
Outro trabalhador da região, Jacir Pereira, confirma a denúncia: “A gente ganha pouco e o salário não confere com o que a gente corta, nem com o acordo coletivo. O acordo diz que o preço da tonelada é $5,85, mas a usina paga só $3,87. Eu tenho que cortar 18 toneladas de cana por dia, trabalhando de segunda a sábado. Só de aluguel eu pago $700,00 e não sobra quase nada”.
As mulheres, apesar de discriminadas pelas usinas, também se arriscam no trabalho pesado, como conta a trabalhadora Odete Mendes, “Eu corto dez toneladas de cana por dia e ganho $190 reais por semana. Só de aluguel, eu gasto $270 por mês. Eu vim do Paraná, mas não quero ficar mais aqui. A gente vive num quarto muito pequeno, tem que dormir no chão. Eu já quebrei o braço e nem aguento mais pegar no facão. Sinto falta de ar, às vezes parece que vou morrer”.
Os movimentos repetitivos no corte da cana causam tendinites e problemas de coluna, descolamento de articulações e câimbras, provocadas por perda excessiva de potássio. Carlita da Costa, presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Cosmópolis, conta que “Quando começa a safra, você vai na roça e vê o pessoal todo com o pulso enfaixado, porque abre o pulso e eles não conseguem movimentar a mão, não aguentam a dor. O pessoal tem muita tosse, muita dor de cabeça, muita câimbra”.
Os ferimentos e mutilações causados por cortes de facão são frequentes. Porém, raramente as empresas reconhecem estes casos como acidentes de trabalho. Muitos trabalhadores doentes ou mutilados, apesar de impedidos de trabalhar, não conseguem aposentadoria por invalidez. “Já quebrei o braço duas vezes. Quando alguém passa mal durante o trabalho, não recebe atendimento. Outro dia um companheiro feriu o olho e a enfermeira da usina não quis atender. Querem o nosso serviço, mas não temos assistência médica quando alguém se machuca”, diz J. S., trabalhador da usina Ester em São Paulo.
Como forma de evitar que os trabalhadores morram de exaustão, as usinas passaram a distribuir estimulantes com sais minerais, após a divulgação de dezenas de casos de morte nos canaviais. “Um dos trabalhadores que cortava mais cana na usina Ester era o Luquinha, conhecido como “podão de ouro”. Em pouco tempo, ele ficou doente, sentia dores em todo o corpo, não conseguia comer nem andar. Morreu aos 34 anos. O sistema do pagamento por produção é que causa a morte dos trabalhadores”, explica Carlita da Costa, presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Cosmópolis, SP.
“É comum ouvir tosse e gritos nos canaviais. Temos que inalar os agrotóxicos e a cinza da cana queimada o dia todo. Uma vez eu caí no monte de cana e senti um gosto de sangue na boca. Percebi que o corte da cana estava me matando”, completa Carlita.
Migração
Em São Paulo (maior produtor do País), a maioria dos trabalhadores no corte da cana é formada por migrantes. O desemprego causado pelo modelo agrícola baseado no monocultivo e no latifúndio aumenta o contingente de trabalhadores que se submetem a trabalhar em lugares distantes de sua origem, em condições degradantes. Estes trabalhadores são aliciados por “gatos” ou “turmeiros”, que realizam o transporte e fazem a intermediação das contratações com as usinas.
A história do trabalhador E. S. ilustra a situação dos migrantes, “Tenho 27 anos e vim da Paraíba, porque lá não tem trabalho. Tem muito nordestino aqui. A gente ganha uns $20 reais por dia, mas o custo de vida é muito alto. A usina baixa o preço da cana e não temos controle”.
Ana Célia tem uma história parecida, “Tenho 24 anos e vim de Pernambuco. A usina rouba no peso da cana. A gente corta 60 quilos e recebemos somente por 50 quilos. Tenho problema na coluna, sinto dor no corpo todo. Já emagreci nove quilos nessa safra. Meu marido cortava cana, mas foi afastado porque ficou doente. Quero ir embora”.
A trabalhadora Edite Rodrigues resume a situação no corte da cana. “Tenho 31 anos e vim de Minas Gerais. Tenho três filhos e preciso trabalhar, mas a gente não vê a hora de ir embora. Quando termina o dia, o corpo está todo quebrado, sinto câimbra e ânsia de vômito. Mas no outro dia, começa tudo de novo. A cinza da cana ataca o pulmão e não sara nunca. A terra fica seca com o sol quente e vem aquele pó. Às vezes só ganho $50 reais por semana porque a usina engana a gente.”
Carlita da Costa conclui que, “Vai continuar morrendo gente, o roubo vai continuar até o dia que acabar o trabalho por produção. Esse método de pagamento mata os trabalhadores”.
Luta camponesa
Apesar de ocupar apenas um quarto da área, o Censo mais recente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) constatou que a agricultura camponesa responde por 38% do valor da produção (ou R$ 54,4 bilhões). Em relação à geração de empregos, de cada dez trabalhadores no campo, sete estão na agricultura camponesa, que emprega 15,3 pessoas por 100 hectares. No caso da agricultura extensiva, em cada 100 hectares são gerados apenas dois empregos.
Segundo análise de Frei Sergio Görgen, dirigente do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), “No Plano Safra 2009/2010 foram destinados R$ 93 bilhões para o agronegócio e R$15 bilhões para a agricultura camponesa, sendo que 1 hectare da agricultura camponesa teve, em média, uma renda de R$ 677,00, enquanto que 1 hectare do agronegócio teve, em média, uma renda de apenas R$ 368,00. Daquilo que vai para a mesa dos brasileiros, 70% é produzido pelos pequenos agricultores”.
Além de receber subsídios de forma desproporcional, o latifúndio se beneficia com outras formas de privilégio, como a Medida Provisória que legaliza a grilagem de terras na Amazônia, a “flexibilização” da legislação ambiental e trabalhista, a continuidade da prática de trabalho escravo, entre outras. O monopólio da terra impede que outros setores econômicos se desenvolvam, gerando desemprego, estimulando a migração e a submissão de trabalhadores a condições degradantes. Este cenário significa que a resistência dos camponeses é estratégica, já que se encontram no centro da disputa por recursos estratégicos, com o avanço do capital no meio rural.
Nota:[1] Estas entrevistas foram realizadas em setembro de 2009. Alguns nomes de trabalhadores foram substituídos por suas iniciais, para evitar retaliação por parte das usinas. A autora agradece o Sindicato de Trabalhadores Rurais de Cosmópolis, ao Movimento Sem Terra e a Comissão Pastoral da Terra pelo apoio a pesquisa. (EcoDebate)