sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Pesquisa analisa viabilidade ambiental

Pesquisa analisa viabilidade ambiental do etanol.
O efeito estufa e o aumento das concentrações atmosféricas dos principais gases relacionados a este processo tem ganho grande destaque nos últimos anos. Paralelo a intensificação do efeito estufa caminha a escassez das reservas mundiais de petróleo, fator que aumenta a demanda por biocombustíveis, pois estes substituem os combustíveis fósseis com a vantagem de emitirem menor quantidade de gases do efeito estufa (GEE) durante a combustão.
Para que um biocombustível seja realmente benéfico sob o ponto de vista ambiental, é necessário analisar o somatório das emissões de GEE durante todo o processo produtivo, sendo este um parâmetro fundamental para determinar sua contribuição na mitigação do aquecimento global. Assim, para obter mais dados em relação a essas emissões em áreas de cana-de-açúcar no estado de São Paulo, Diana Signor desenvolveu a pesquisa “Estoques de carbono e nitrogênio e emissões de gases do efeito estufa em áreas da cana-de-açúcar no estado de São Paulo”, sob orientação do professor Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, do departamento de Ciência do Solo (LSO), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ).
De acordo com Diana, no Brasil, o principal biocombustível é o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar, cujas emissões associadas à combustão são inferiores às da gasolina, porém ainda resta compreender as emissões da GEE associadas ao processo produtivo da matéria-prima. “A adoção da colheita de cana-de-açúcar sem queima, na qual as folhas da cultura são deixadas no campo ao invés de serem queimadas, evita as emissões decorrentes da queima da biomassa vegetal. Além disso, parte do material orgânico adicionado ao solo na forma de palhada sofre decomposição e se transforma em compostos orgânicos estáveis, configurando o acúmulo de carbono no solo”, afirma a pesquisadora.
No estudo, Diana aponta que uma das principais fontes de emissão de GEE na produção de cana-de-açúcar colhida sem queima é a aplicação de fertilizantes nitrogenados ao solo que eleva, principalmente, as emissões de óxido nitroso (N2O). “O armazenamento e vinhaça nos canais a céu aberto para aplicação na cultura, responsável pela emissão de metano (CH4), a decomposição da palhada adicionada ao solo e o processo de reforma do canavial, associados à emissão de CO2, também contribuem negativamente”, reforça Diana.
O objetivo da pesquisa conduzida na ESALQ foi quantificar as emissões de N2O associadas ao uso de fertilizantes nitrogenados na adubação das soqueiras de cana-de-açúcar. “O N2O é importante porque possui potencial de aquecimento global 298 vezes maior que o CO2″, diz Diana. Na avaliação das emissões foram conduzidos estudos em laboratório e campo para avaliar as emissões de diferentes doses de dois fertilizantes: uréia e nitrato de amônio.
Os experimentos da pesquisa mostraram que as emissões de N2O são diferentes para as duas fontes de nitrogênio (N) adicionados ao solo. “O experimento conduzido em laboratório indicou que as emissões de N2O são maiores para uréia. Considerando a aplicação de uma dose de 120 kg ha-1 de nitrogênio, a emissão de N2O, quando se aplicou uréia ao solo, foi 2,5 vezes maior do que quando o nitrato de amônio foi usado. Já em condições de campo, devido à organização dos constituintes do solo, pode haver simultaneamente locais com disponibilidade e com deficiência de oxigênio. E nessas condições, as emissões de N2O foram praticamente as mesmas para as duas formas de nitrogênio até uma dose aproximada de 110 kg ha-1 de N. Acima desta dose, as emissões do nitrato de amônio foram muito maiores que as da uréia”, explica Diana.
A pesquisadora lembra que alguns trabalhos publicados anteriormente em outros países haviam sugerido que as emissões de N2O aumentam linearmente com o aumento da dose de fertilizante nitrogenado, enquanto outros autores haviam sugerido que este aumento seria exponencial. Contudo, o intervalo de doses testado nos trabalhos consultados foi menor que o testado neste estudo. O uso de várias doses de nitrogênio, de 60 a 180 kg ha-1 de N, foi importante para que fosse obtido um resultado que não havia sido descrito nos trabalhos tomados como referência. As emissões de N2O aumentaram exponencialmente num primeiro momento, mas atingiram um ponto de máximo. Ou seja, em doses maiores, o aumento da quantidade de N adicionada ao solo não implica em aumento das emissões de N2O. “Este comportamento das emissões é perfeitamente aceitável, já que os processos de transformação do nitrogênio no solo são mediados por microorganismos e, portanto, estão sujeitos às condições de máximo desenvolvimento”, detalha a mestranda.
Diana enfatiza que os resultados que sugerem a existência deste patamar nas emissões foram obtidos apenas quando se testou a uréia. “Para o nitrato de amônio, a curva de emissão de N2O cresceu exponencialmente com a dose de nitrogênio adicionada ao solo. Isto não reduz a importância do trabalho e sugere que outros estudos sejam feitos com outras fontes de nitrogênio e em doses maiores, para verificar se este comportamento também ocorre com outros fertilizantes nitrogenados e a partir de que dose isto aconteceria”.
Finalizando, a pesquisadora afirma que sob o ponto de vista da produção de cana-de-açúcar, ainda é necessário encontrar um ponto de equilíbrio entre a adubação adequada para a manutenção da produção e a redução das emissões de N2O. “Este trabalho foi apenas uma pequena etapa na avaliação das emissões de GEE associadas ao processo produtivo de cana-de-açúcar, mas foi importante para que se comece a compreender a dinâmica das emissões de N2O em função da forma e da quantidade de nitrogênio adicionada ao solo”, conclui. (ambienteenergia)

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