Pesquisa mundial indica que após Fukushima cresceu oposição à energia nuclear
Oposição à energia atômica cresce entre população mundial
O acidente nuclear em Fukushima, no Japão, causou um grande impacto na opinião pública. Na Ásia, por exemplo, o número de opositores a esse tipo de energia mais que dobrou nos últimos meses.
Depois da catástrofe de Fukushima em março último no Japão, a empresa de pesquisa de mercado Ipsos ouviu a opinião de cidadãos em todo o mundo sobre a energia nuclear. O estudo foi feito em 24 países e o resultado é claro: em 21 nações, a maioria se diz contra a produção de energia a partir de usinas atômicas. Apenas na Índia, nos Estados Unidos e na Polônia a maior parte dos entrevistados é favorável a esse tipo de produção de energia.
Depois da catástrofe de Fukushima em março último no Japão, a empresa de pesquisa de mercado Ipsos ouviu a opinião de cidadãos em todo o mundo sobre a energia nuclear. O estudo foi feito em 24 países e o resultado é claro: em 21 nações, a maioria se diz contra a produção de energia a partir de usinas atômicas. Apenas na Índia, nos Estados Unidos e na Polônia a maior parte dos entrevistados é favorável a esse tipo de produção de energia.
Nos países onde a pesquisa foi conduzida vivem aproximadamente 60% da população mundial. Metade dos entrevistados (55%) disse ser contra a energia nuclear, e muitos dos que participaram do estudo justificaram sua posição com base no ocorrido no Japão. E ainda: 16% disseram que assumiram tal reticência só após o acidente nuclear em Fukushima. A maioria dos que mudaram de opinião moram na Ásia: na Coreia do Sul, Japão, China e Índia, o número de opositores à energia nuclear dobrou.
Situação na Ásia
Nos últimos anos, nenhum outro continente apostou tanto na expansão da produção nuclear como a Ásia. A energia atômica era tida como opção neutra em emissões de carbono capaz de suprir a demanda energética crescente. No Japão, os 55 reatores em atividades antes do acidente em Fukushima supriam 29% da demanda de energia e o país planejava a construção de 14 novas usinas. Na Coreia do Sul, os 21 reatores suprem 35% da demanda e mais 11 reatores estão sendo planejados.
Também economias em expansão, como China e Índia, têm planos ambiciosos de ampliação. A participação da fonte nuclear no mix de produção energética nestes países atualmente é de cerca de 2%. Para cobrir a demanda, o governo indiano quer construir 23 novas usinas atômicas, a China planeja 77.
Ainda que a maioria da população nestes países apoie os planos de expansão da energia nuclear, a catástrofe em Fukushima foi um choque não apenas para os japoneses, e provocou uma reflexão em todo o mundo. Na Coreia do Sul, país onde o abastecimento nuclear foi o que mais avançou, a mudança de opinião foi a mais clara. Antes de Fukushima, a rejeição era de 20% entre os sul-coreanos. Depois da tragédia, ela saltou para mais de 60%.
De forma repentina, muitos políticos asiáticos se conscientizaram que um acidente nuclear como o visto no Japão poderia também acontecer no próprio país, já que em muitas nações o padrão de segurança não é tão rígido quanto o japonês. A própria China impôs uma moratória referente à construção de novas usinas. Mas, apesar de os governos asiáticos defenderem a expansão de fontes renováveis, eles não desistiram de seus planos atômicos.
Medo nos Estados Unidos
Nos Estados Unidos, as usinas nucleares são responsáveis por 20% do abastecimento de energia. Com uma geração de 100 mil megawatt, o país é o maior produtor mundial desse tipo de energia sem que, no entanto, qualquer nova planta tivesse sido construída nos últimos 20 anos.
Em 1979, os Estados Unidos escaparam por pouco de uma catástrofe nuclear: devido a uma série de panes, a unidade de Three Mile Island, na Pensilvânia, ficou várias semanas fora de controle. O núcleo do reator derreteu, mas a temida explosão de hidrogênio não aconteceu.
Apesar do risco, o governo norte-americano quer aumentar o uso dessa fonte – e a construção de novas quatro usinas está confirmada. A população convive com um profundo temor de escassez de energia. Uma pesquisa feita pelo jornal USA Today mostrou que 53% dos norte-americanos consideram o imediato abandono da geração nuclear uma ameaça à segurança enérgica.
O caso alemão
Na Europa, o acidente de Tchernobil, em 26 de abril de 1986, foi um ponto crítico. Alguns governos na Europa Ocidental decidiram abandonar a geração atômica, reatores foram desconectados do sistema e obras foram interrompidas. Com o desastre de Fukushima, essa postura de rejeição ganhou um novo impulso.
O sonho de renascimento da energia atômica como resposta à proteção climática, alimentado sobretudo pelo lobby da área, entrou em colapso. A Alemanha, segunda maior produtora na União Europeia, resolveu abrir mão desse tipo de geração. Cerca de um terço do parque nuclear, que correspondia a 22% da produção de energia na Alemanha, foi fechado de imediato. Até 2022, todas as usinas atômicas deverão encerrar suas atividades.
A decisão de grande impacto no maior país da União Europeia gerou nas nações vizinhas tanto reações de entusiasmo como de horror. Enquanto a maioria dos europeus é contrária à energia nuclear – e os italianos reforçaram essa postura em um referendo –, essa decisão representa uma catástrofe para a indústria do setor e para as empresas de energia, devido à expectativa de baixa dos lucros.
Em terreno francês
Especialmente na França, onde a energia nuclear supre 75% da demanda e a indústria atômica tem grande representatividade, o caso japonês e a decisão alemã tiveram grandes implicações. O consenso nacional sobre energia atômica está se desintegrando e abusos estão sendo denunciados. Além disso, o chefe da autoridade nuclear reconheceu que não pode ser descartada a possibilidade de acontecer um grave acidente atômico na França.
Nesse ínterim, mais de dois terços dos franceses passaram a se opor contra as usinas nucleares e querem que o país abandone esse tipo de fonte. Ainda assim, a indústria nuclear francesa continua tendo o apoio do conservador presidente francês, Nicolas Sarkozy. Mas mesmo a chefe do partido Socialista, Martine Aubry, juntamente com os verdes, passou a apoiar o fim da energia nuclear.
Expectativas russas
O governo russo mostra-se interessado em superar o quanto antes a nova crise nuclear. Ainda assim, o presidente Dimitri Medvedev e o primeiro-ministro Vladimir Putin ordenaram uma ampla análise das condições de segurança em todas as usinas. Diante da enorme importância financeira desse tipo de energia, o governo se atém ao planejamento estratégico de expansão nuclear.
A liderança russa espera que o setor atômico dê um impulso em toda a economia. Desta maneira, a estatal Rosatom deve tocar adiante não apenas os projetos russos, como também fortalecer a cooperação internacional.
Estima-se que o setor possa, até 2030, assinar contratos que superem 100 bilhões de dólares. O objetivo do governo é não prejudicar esses negócios. Segundo a pesquisa da Ipso, 62% dos russos são contra as usinas atômicas – a catástrofe de Chernobyl ainda não foi esquecida.
Novas usinas
Um cenário incerto abala a indústria nuclear internacional, mas não apenas devido à catástrofe de Fukushima. Especialistas advertem há anos sobre o alto custo econômico da atividade. Em todo o mundo, o risco de um imprevisto nuclear não é assegurado. Os custos de um acidente como o de Chernobyl ou de Fukushima são pagos, principalmente, pela população. Mas, mesmo sem esses custos, novas instalações nucleares não são, na verdade, lucrativas.
Segundo a especialista Rebecca Harms, que representa o Partido Verde no Parlamento Europeu, uma nova usina custa atualmente cerca de 7 bilhões de euros, sem contar 600 milhões de euros necessários para a disposição final do lixo atômico.
Por esses motivos, as plantas eólicas e solares são, hoje, mais rentáveis. Não é por acaso que muitos cidadãos acreditam que essas fontes renováveis sejam a melhor opção. Ainda segundo o estudo da Ipsos, 90% da população em 24 países pesquisados desejam energia produzida a partir do sol, do vento e da água. (EcoDebate)
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