Construção de usinas nucleares não deve desacelerar após Fukushima
Em debates sobre energia sustentável e segurança energética após o desastre no Japão, realizados no Fórum Econômico Mundial, na China, ficou claro que a necessidade de energia em países em desenvolvimento falará mais alto que o risco de acidentes.
Desastre. Usina nuclear Daiichi, em Fukushima, palco de tragédia ambiental em março.
Contrariando as previsões surgidas após o vazamento da usina nuclear de Fukushima, há seis meses, o desastre japonês não deve levar a uma redução drástica dos planos de construção de usinas nucleares, especialmente nos países em desenvolvimento.
É o que ficou claro nos debates sobre energia sustentável e segurança energética pós-Fukushima na edição de verão do Fórum Econômico Mundial, na semana passada, em Dalian, na China.
"O abandono de usinas nucleares pode ser viável em um país rico como a Alemanha, mas não no Paquistão, onde a população precisa urgentemente de energia de qualquer fonte, de qualquer lugar", afirmou o ministro da Ciência e Tecnologia do Paquistão, Khan Jamali.
Entre os emergentes, a China é o melhor exemplo da aposta nesse tipo de energia. Com demanda crescente, tem 28 plantas em construção e planos de iniciar outras 24 - no mundo todo, são 440 usinas em operação e outras 52 em construção. Depois de Fukushima, o governo determinou a revisão das normas de segurança de todas as plantas existentes e em obras, mas não suspendeu o plano de expansão das usinas. O Brasil também não descarta construir mais delas.
Sem escolha. A rica Coreia do Sul mantém o cronograma de construir 12 novas unidades, que se juntarão a 20 já em operação. "Nós não temos como gerar eletricidade de outra maneira. Não temos escolha", ressaltou o professor Suh Nam Pyo, presidente do Instituto Coreano de Ciência e Tecnologia. Atualmente, 30% da energia consumida na Coreia vem de fontes nucleares.
Apesar de ter oferta abundante de petróleo e gás, os Emirados Árabes Unidos também constroem usinas nucleares, com o objetivo de diversificar sua matriz energética. "Nossa estratégia não vai mudar em razão de Fukushima. Não podemos condenar toda a indústria por causa do desastre no Japão", disse o ministro da Energia dos Emirados Árabes Unidos, lembrando que existem mais de 400 reatores em operação no mundo.
Na plateia do painel sobre segurança energética, o deputado da região alemã da Bavária, Markus Blume, disse que seu país fez uma aposta no futuro ao decidir abandonar o uso de energia nuclear até 2022. Se a escolha der errado, terá consequências negativas sobre a competitividade econômica. Se for bem-sucedida, dará aos alemães liderança no setor de energia renovável.
A transformação da matriz energética do país exigirá investimentos de 100 bilhões e será especialmente desafiadora na Bavária, onde 60% da energia tem origem nuclear, observou o parlamentar.
Representante da indústria, o russo Artem Volynets, executivo-chefe da EN+Group, não acredita que haverá significativa redução no uso de energia nuclear. "Pode haver uma desaceleração, mas não será drástica", avaliou Volynets.
Custo elevado
Estudo da ONG Greenpeace mostra que o Japão teria de investir US$ 280 bilhões até 2020 para substituir a energia nuclear pela solar e eólica. (OESP)
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