terça-feira, 20 de setembro de 2011

Só infraestrutura avança na indústria

Ao contrário de outros setores, fabricantes de aerogeradores, navios e trens têm a carteira cheia de pedidos e faturam como nunca.
Nos próximos três anos, a indústria eólica vai fabricar cerca de 4 mil aerogeradores e 4 mil torres; nos estaleiros, 278 embarcações já estão em construção e outras 65 ainda serão contratadas; no setor ferroviário, até o fim da década, a produção deverá atingir 40 mil vagões e 2.100 locomotivas. Ao contrário da indústria tradicional, esses fabricantes não têm do que reclamar: estão com a carteira cheia de pedidos e faturando como nunca.
Investimento. Parque eólico do Ceará opera com máquinas da indiana Suzlon; empresa também constrói uma fábrica de pás eólicas em território nacional.
Alguns são estrangeiros e estão estreando no mercado brasileiro. Outros decidiram reativar antigas estruturas abandonadas por causa da falta de demanda. Há ainda aqueles que já atuavam no País e tiveram de ampliar a produção por causa dos novos pedidos. Sem grandes negócios no mercado internacional, impactado pela crise mundial, as empresas decidiram se concentrar nos mercados emergentes.
No Brasil, elas estão aproveitando para faturar em cima da baixa oferta da infraestrutura brasileira, que representa inúmeras possibilidades de investimentos. O setor ferroviário é um deles. Nos últimos cinco anos, a cadeia produtiva dessa indústria ganhou 78 novas empresas, afirma o diretor do Negócios nos Trilhos, Gerson Toller, destacando que o segmento agora tem 428 fornecedores com produção nacional. Uma das primeiras a enxergar o potencial do setor foi a GE, que retomou a produção de locomotivas no País, em 2008. O presidente da divisão de transportes para América Latina da multinacional americana, Guilherme Melo, lembra que a década de 90 foi muito difícil. Naquela época, só havia demanda para repotencializar máquinas antigas. "Com a privatização, o mercado voltou. Hoje temos 120 pedidos de locomotivas, o dobro do ano passado."
Para o executivo, as oportunidades de negócios são enormes. Ele lembra que os 28 mil km de ferrovia do Brasil - pouco para a dimensão do País - transportam apenas 26% da carga nacional, a maioria de grãos e minério. Esses números já entraram no radar de outros fabricantes, como a japonesa Hitachi e a americana Caterpillar. As duas anunciaram em julho a construção de fábricas em Sete Lagoas (MG) e Araraquara (SP).
O interesse dos investidores, no entanto, vai além das cargas, destaca o presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Vicente Abate. Segundo ele, a carência do transporte de passageiros nas grandes cidades têm motivado uma série de ampliações e construção de novas fábricas no País.
Além da canadense Bombardier, que produzirá monotrilhos em Hortolândia (SP), a brasileira MPE vai inaugurar em quatro meses uma unidade no Rio de Janeiro. O presidente da companhia, Renato Abreu, afirma que há planos para fábricas em Manaus (AM) e em Cruzeiro (SP). O grupo venceu, em consórcio com a estreante Scomi, da Malásia, a licitação para construção do monotrilho que ligará a estação São Judas do metrô ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
Os asiáticos também estão de olho no potencial eólico do Brasil. Desde a crise de 2008, que praticamente reduziu a zero os pedidos dos Estados Unidos e Europa, fabricantes de todos os continentes desembarcaram no País com apetite voraz. Em três anos, eles conseguiram transformar a energia eólica do Brasil numa fonte tão competitiva quanto a hídrica. Foram contratados cerca de 6 mil MW, que representam investimentos da ordem de R$ 26 bilhões, diz o presidente da Abeeólica, Ricardo Simões.
Eles destaca que, quando chegou na associação, havia 54 associados. Hoje esse número já soma 91. Como são equipamentos grandes e sensíveis ao transporte, os fabricantes buscam se instalar próximo dos parques eólicos. Além disso, para conseguir financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), as usinas precisam contratar equipamentos nacionais (60% do valor tem de ser fabricado no País).
De acordo com dados da Abeeólica, hoje o Brasil tem fábrica quatro fábricas de aerogeradores em operação e quatro em construção. Mas há planos para novas unidades. A argentina Impsa, por exemplo, construiu uma fábrica em Pernambuco, com capacidade para produzir entre 8 e 10 geradores por semana, e já procura local para levantar uma nova planta no Sul ou Sudeste do País. Também vai investir numa fábrica de componentes eletrônicos para usinas eólicas, afirma o presidente da Impsa, José Luis Menghini.
Até 2014, o País poderá ter 7 mil MW de energia eólica no sistema. Isso significa sair dos atuais 0,8% para 3% de participação na matriz elétrica. "Entre os 30 países que usam energia eólica, o Brasil se tornou a nação com a menor tarifa de eólica do mundo", diz o presidente da fabricante indiana Suzlon, Arthur Lavieri. A empresa está construindo, em parceria com a brasileira Aeris, uma fábrica de pás eólicas. A planta nem começou a operar e a companhia já pensa em duplicação. "Se tudo caminhar como estamos planejando, teremos de ampliar a produção no ano que vem."
No setor naval, só as ampliações já não resolvem mais. O jeito tem sido abrir novos estaleiros. São sete empreendimentos em construção no Rio Grande do Sul, Pernambuco e Rio de Janeiro. De inexpressiva no início dos anos 2000, a indústria naval brasileira já representa 4% do volume total de navios em construção no mundo. Essa indústria emprega 56 mil trabalhadores. Até 2014, a expectativa é que sejam criados 15 mil novos empregos diretos no setor.
Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), em maio, o Conselho Diretor do Fundo de Marinha Mercante aprovou prioridade no financiamento de 217 obras embarcações e seis estaleiros num total de R$ 9,8 bilhões. A maioria desses projetos ainda não estão na carteira de encomendas dos estaleiros. (OESP)

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