Ao chegar a algumas propriedades do Condomínio de Agroenergia do Rio Ajuricaba, no oeste do Paraná, um visitante distraído pode estranhar as salvas de palmas para as vacas que estão dentro do curral. Esta, contudo, é uma atividade corriqueira por ali, depois que um dos criadores observou que o bater das mãos imitava o som dos dejetos do animal caindo no chão. Como os bovinos tendem a imitar o grupo, eles são estimulados a evacuar quando ouvem este barulho.
Mas, por que estimular os animais a estercar todos ao mesmo tempo e, o mais importante, dentro do curral? Esta é uma maneira de aumentar a produção de um rico produto da sua fazenda. O dejeto dos animais é a matéria-prima do biodigestor instalado ao lado do curral de cada propriedade.
Ao limpá-lo com jatos de água (acumuladas da chuva em uma caixa d´água), o produtor direciona os dejetos para uma rede de dutos que leva ao biodigestor. Este, por sua vez, produzirá biogás e, depois, biofertilizante, que terá como destino as plantações de milho da sua propriedade.
No final de agosto, o Instituto Ideal foi conferir de perto o Condomínio de Agroenergia do Rio Ajuricaba, um projeto inédito da Itaipu Binacional na área de aproveitamento energético de biogás, desenvolvido em parceria com a prefeitura de Marechal Cândido Rondon, a empresa de assistência técnica e extensão rural do Paraná (Emater-Paraná), a Copel (Companhia Paranaense de Energia) e a Embrapa.
O principal diferencial do projeto é trabalhar com uma escala reduzida de produção de resíduos orgânicos, o que não tornaria viável a geração de energia individualizada. Para garantir este aproveitamento energético, a solução encontrada foi instalar uma rede de 25,5 quilômetros de gasodutos que transportam o biogás até uma microcentral termoelétrica, com capacidade para gerar cerca de 445 mil kWh por ano de energia elétrica.
Ao todo, o conjunto de propriedades gera 16 mil toneladas de dejetos por ano, que tratados sanitariamente nos biodigestores podem gerar 266 mil metros cúbicos de biogás anualmente.
Benefícios econômicos e ambientais - Parte do biogás já pode ser aproveitado na propriedade, para o aquecimento de água no sistema de limpeza do curral ou no uso doméstico. O biogás que chega a microcentral, além de gerar eletricidade, poderá também ser usado para a secagem dos grãos colhidos pelos agricultores.
O secador instalado próximo é capaz de secar 500 sacas de grãos em 12 horas e permite uma economia de 30% em relação ao processo tradicional, além de manter as propriedades orgânicas e alimentares através da geração de calor com ar indireto.
A estimativa da Superintendência de Energias Renováveis da Itaipu é que os produtores possam obter 270 mil reais anuais com o novo produto, visto as diversas aplicações do biogás e o uso do biofertilizante. Para gerenciar o sistema, os agricultores criaram uma cooperativa, a Cooperbiogás.
Muito mais do que benefícios econômicos, o projeto garante ganhos ambientais e sociais, já que o sistema elimina o mau cheiro e moscas e preserva os cursos de água da região.
“A economia do biogás é de grande impacto local, pois acontece a partir da descentralização da geração de energia e que deve ser medida em quilowatt hora, mas também em sanidade ambiental e desenvolvimento microeconômico local”, afirma o superintendente de Energias Renováveis de Itaipu, Cícero Bley. (ambienteenergia)
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