quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Veículo Elétrico: saída com muitas Belo Monte

As mudanças climáticas têm gerado uma preocupação crescente em relação às emissões de gases de efeito estufa (GEE). Nesse cenário, a substituição dos carros utilizados hoje por equivalentes movidos a eletricidade é vista como uma alternativa bastante atraente para redução das emissões de poluentes. Mas o que muitos ignoram é que tal mudança pode representar um acréscimo significativo na demanda por energia elétrica. Segundo cálculos da consultoria Andrade & Canellas, a substituição dos veículos hoje em circulação no Brasil por modelos elétricos exigiria que o parque gerador brasileiro produzisse mais 190.108 GWh por ano. Ou seja, para que o sistema elétrico nacional gerasse energia suficiente para abastecer toda a frota atual de veículos leves movidos a gasolina ou etanol, seria preciso construir cinco usinas hidrelétricas como a de Belo Monte ou três usinas como a de Itaipu.
Segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), o Brasil possui, hoje, cerca de 39 milhões de veículos leves emplacados. Cada um deles consome, em média, 1,4 toneladas equivalentes de petróleo (tep) por ano, o que resulta num gasto total de 54 milhões de tep pela frota de automóveis leves. Esse volume se deve, em parte, ao desempenho dos motores a combustão interna, que trabalham com níveis de eficiência médios de apenas 27%.
Os motores elétricos apresentam níveis de eficiência superiores, da ordem de 90%. Assim, se toda a frota for convertida para automóveis que utilizam eletricidade, o consumo total cairia para pouco mais de 16 milhões de tep por ano, o que equivale a 190.108 GWh. Mas, apesar da redução no volume de energia utilizada, o montante representa uma quantidade significativa. Só para se ter ideia, a usina de Itaipu produziu cerca de 71.744 GWh no último ano, ou seja, pouco mais de um terço do total que seria gasto pelos carros elétricos. A usina de Belo Monte, quando estiver operando plenamente, deve gerar por volta de 39.360 GWh por ano, valor cinco vezes menor do que a nova demanda.
“Em princípio, os veículos elétricos são opções interessantes para descarbonização da matriz de transportes. Mas é preciso atenção porque a eletricidade para abastecê-los terá de ser produzida de alguma forma, o que exigirá investimentos significativos no parque gerador e na infraestrutura de transmissão e distribuição”, afirma a gerente do Núcleo de Energia Térmica e Fontes Alternativas da Andrade & Canellas, Monica Rodrigues de Souza.
A especialista lembra que, além dos impactos ambientais de cada uma das fontes de energia – sejam elas fósseis ou renováveis –, é preciso considerar algumas questões econômicas. “O Brasil deve ampliar de maneira muito consistente a produção de petróleo nos próximos anos. Diante desse fato e da disponibilidade de etanol a custo competitivo no país, a questão do carro elétrico precisa ser avaliada de maneira ampla, não apenas como uma panaceia que resolverá todo o problema da mudança climática”, conclui Monica. (ambienteenergia)

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