sexta-feira, 28 de abril de 2017

É possível um mundo sustentado por 100% de energia renovável até 2050?

“Se você construiu castelos no ar, não pense que desperdiçou seu trabalho; eles estão onde deveriam estar. Agora construa os alicerces” - Duzentos anos do nascimento de Henry Thoreau (1817-1862).


Existe um sonho na praça que vai acirrar o debate entre os tecnófilos e os tecnofóbicos. O mundo pode ser abastecido 100% pelas energias renováveis até 2050. A lógica para tal revolução energética adviria dos altos custos ambientais da energia fóssil e da possibilidade do custo das energias renováveis (solar, eólica, geotérmica, ondas, etc.) permanecer abaixo do custo de produção dos combustíveis fósseis. Nesta situação, o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis e as próprias forças do mercado promoveriam a substituição das fontes geradoras de altos níveis de dióxido de carbono para as fontes de baixa geração de carbono.
Artigo de Thomas Overton, no site Power Mag (03/01/17), mostra que o boom das energias renováveis, impulsionado pela queda dramática dos custos, levou alguns especialistas e figuras políticas a começar a falar seriamente sobre o que outrora era ficção científica: um mundo totalmente alimentado por geração de energia renovável.
Ele questiona se é realmente viável ou econômico viabilizar tal projeto. O gráfico abaixo mostra que o preço da energia solar caiu 100 vezes de 1911 a 2013 (e continua caindo). Desta forma, uma série de estudos sugere que é – embora com algumas ressalvas importantes.
O artigo relembra que, em 1950, a ideia de alimentar um país inteiro com energia solar era ficção científica. Mas em 2017, muitos especialistas e políticos estão falando que é um objetivo inteiramente viável. Diversos municípios em todo o mundo fizeram da meta de 100% renovável​​uma questão de lei. Grandes corporações como Google, Apple e Amazon declararam intenções de atender todas as suas necessidades de energia a partir de fontes renováveis. Até alguns países como a Dinamarca estão alvejando a geração 100% renovável. O tratado climático da COP21, o Acordo de Paris, estabeleceu uma meta de 100% de renováveis ​​em todo o mundo até 2050, no conceito equivalente a 100% renovável.


Diversos trabalhos acadêmicos publicados tratam da meta “100% renovável”. O professor Mark Jacobson e o pesquisador Mark Delucchi escreveram uma série de estudos detalhando como o mundo e os EUA poderiam satisfazer todas as necessidades energéticas com uma combinação de geração hidrelétrica, geotérmica, eólica e solar.
Eles descrevem como uma estimativa de 20,6 TW da demanda mundial total de energia em 2050 poderia ser fornecida por cerca de 52,1 TW de capacidade renovável mais ganhos de armazenamento e eficiência energética.
■ 2,5 milhões de turbinas eólicas de 5 MW (mistura 60/40 de on- e off-shore) (37%)
■ 409.000 geradores de onda de 0,75 MW (0,5%)
■ 935 usinas geotérmicas de 100 MW (0,7%)
■ 1.058 usinas hidrelétricas de 1,3 GW (4%)
■ 30.000 turbinas de maré de 1 MW (0,06%)
■ 1,8 bilhões de sistemas residenciais fotovoltaicos (PV) de telhado residencial de 5 kW (15%)
■ 75 milhões de sistemas fotovoltaicos comerciais de 100 kW (12%)
■ 250.000 usinas fotovoltaicas de 50 MW (21%)
■ 21.500 centrais de 100 MW de energia solar concentrada (CSP em inglês) com armazenamento térmico (10%)
■ 13.000 CSP de 100 MW
A combinação de tecnologias que os autores chamam de “vento, água, e solar” (ou WWS em inglês) poderia fornecer o mix energético necessário. A lista acima inclui recursos já existentes, particularmente hidroelétricos. A estimativa pressupõe avanços em eficiência energética, redução da demanda e redução do consumo de energia em um mundo sem combustíveis fósseis. Sob este cenário, o mundo alcançaria 80% de fontes renováveis ​​até 2030 e cerca de 95% até 2040.
O roteiro para a transição para 100% de energia renovável global prevê um mundo alimentado quase inteiramente por energia solar e eólica, com pequenas quantidades de energia hidrelétrica e geotérmica. Mas existem gargalos em termos de recursos naturais. Um dos quais é a disponibilidade de neodímio (Nd) necessária para geradores de turbinas eólicas, pois a produção mundial de Nd precisaria ser quintuplicada para atender à demanda, algo que talvez não seja viável. O mesmo acontece com o Lítio que é um recurso escasso e pode não ser suficiente para as baterias caseiras e dos carros elétricos. A reciclagem destes materiais teria que ser de uma eficiência além do que é conhecido hoje.


Quanto custaria tudo isso? Segundo Thomas Overton, custaria muito. Em valores de 2013, o custo estimado é de US$ 125 trilhões, mais do que o PIB mundial atual. Mas se argumenta que grande parte desse dinheiro seria gasto de qualquer maneira em outros recursos energéticos fósseis. O principal beneficiário seria evitar impactos na saúde e ao desastre das mudanças climáticas. Ainda segundo o artigo, embora a maioria dos estudos recomendem uma variedade de políticas para apoiar a transição, a questão de saber se tal programa é politicamente e socialmente viável permanece aberta.
Artigo de David Roberts (Vox, 07/04/2017) diz que há razões para ceticismo e para otimismo em relação à meta de 100% energia renovável até 2050. Para o caso dos EUA, o vento e a energia solar geram um pouco mais de 5% da eletricidade (Nuclear gera 20 por cento). A luta para passar de 5% para 60% deverá ser épica. As barreiras políticas e sociais devem retardar esse crescimento do que qualquer limitação técnica, especialmente a curto e médio prazo. Os especialistas em energia entrevistados pela REN21, acreditarem que a previsão de 100% das energias renováveis é uma hipótese “razoável e realista”, mas eles não esperem que isso aconteça em meados do século.
Contudo, mesmo que os 100% de energia renovável na rede elétrica sejam alcançados, a mudança da matriz energética é apenas um dos elementos para evitar a degradação do meio ambiente. Pode ser que 2050 já seja uma data muito remota para evitar o colapso ambiental e o agravamento da crise ecológica até um ponto de não retorno. As necessidades de transformação do modelo “Extrai-Produz-Descarta” e o aumento da entropia requerem uma grande transformação da forma de produção e consumo do mundo. As mudanças requeridas são gigantescas. Mas, certamente, a mudança da matriz energética é uma necessidade indispensável e inadiável na busca de qualquer solução para salvar o Planeta. (ecodebate)




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