Eletromobilidade
atingirá 30% do mercado automotivo até 2030, prevê consultoria.
O compromisso com a
sustentabilidade do meio-ambiente e os avanços tecnológicos despontam como
principais aliados ao processo de eletrificação de veículos no Brasil, que
tende a aumentar gradativamente em até 30% nos próximos 12 anos, conforme
indica um levantamento realizado pela Consultoria McKinsey, que investiu
esforços para entender este mercado e as principais tendências, tanto
globalmente como de forma regional.
Apresentado em setembro no
Congresso de Mobilidade – C-Move, em São Paulo, o estudo também assinalou os
principais desafios para a implementação da eletromobilidade no país, que vão
desde a questão da regulação quanto a incentivos fiscais e leis mais severas em
relação a emissões de poluentes à queda no preço das baterias e a necessidade
de uma infraestrutura de recarga, o que acabará contribuindo para uma maior
segurança e aceitação por parte de novos usuários.
Para Bernardo Ferreira,
especialista de Indústrias Avançadas da McKinsey & Company e responsável
pela apresentação do estudo no evento, a ideia central para o mercado é de que
preço do carro elétrico fique semelhante ao de um veículo à combustão. Para
isso, um dos principais fatores é o custo das baterias, que embora venha caindo
nos últimos anos, ainda não é viável para tornar o VE competitivo no mercado.
“Acredito que nos próximos
cinco ou dez anos veremos esse break even do carro elétrico
compatível com a combustão. O problema é que esse nível no Brasil demora mais,
e quando as coisas chegam aqui ficam mais caras”, comentou o especialista.
Segundo ele, o levantamento
apontou três fatores para se ter sucesso com os VEs no país: “demanda dos
consumidores, disponibilidade dos produtos e a parte de regulamentação”,
mostrando que globalmente boa parte dessas demandas chegam a partir de
incentivos fiscais de governos, como por exemplo o caso da Noruega, que possui
30% das vendas no mercado automotivo representado por carros eletrificados.
De acordo com a pesquisa,
outros países como Alemanha e Estados Unidos, apresentam indicadores baixos no
ranking, chegando aos máximos 2%. Já o Brasil aparece ainda mais abaixo desse
percentual, não atingindo sequer 1%. Um dos motivos para esse desaquecimento do
mercado por aqui é a realidade do carro popular nacional, que se soma a falta
de poder de compra e confiança da população em gastar com uma tecnologia ainda
incipiente. “Outro motivo é que nosso governo tem outros tipos de prioridades
atualmente, como saúde, educação, entre outros”, completou Bernardo.
Uma questão que se desprende
do estudo explica em parte o baixo engajamento do país ao longo dos últimos
anos, quanto a investimentos e incentivos à eletrificação: somos uma nação que
emite pouco CO2, quando comparada a outras, o que automaticamente
reduz a pressão no governo para adotar essa transformação com certa agilidade.
“Aqui se gasta, por pessoa,
uma vez menos CO2 do que nos Estados Unidos ou cinco vezes menos do
que na Alemanha. Sob este aspecto, podemos nos entender como uma sociedade
limpa”, salientou Bernardo, que depois criticou a demora para uma
regulamentação sobre os VEs, as quais estamos cinco ou dez anos de defasagem,
apesar dos avanços dos últimos anos. “Não temos essa urgência que outros países
tem”, completou.
Quanto aos incentivos, o
especialista destaca o Programa Rota 2030, aprovado em julho deste ano, como
uma das principais regulamentações no setor, “um norte para melhorias na adoção
de carros híbridos e elétricos”. O documento define metas obrigatórias de
eficiência energética, segurança veicular e investimento em pesquisa e
desenvolvimento. Também prevê a redução do Imposto sobre Produto Industrializado
(IPI) para esses veículos, custando de 7% a 25%.
A medida deverá durar 15
anos, com três ciclos de investimentos programados para começar em 2019. Com
isso, o Governo concederá até R$ 1,5 bilhão por ano em créditos às montadoras,
que deverão investir em novas tecnologias e sustentabilidade até 2033.
Segundo o especialista, o
Brasil vende dois milhões de carros por ano, com os elétricos representando
apenas 3 mil dessa fatia. “Apesar das vendas baixas, começamos a enxergar
algumas mudanças de comportamento, incentivo da indústria e investimento em
novas tecnologias. Por isso precisamos entender o que precisa ser melhorado
para avançarmos ainda mais”, concluiu.
Paralelo ao C-Move, a Feira
de Veículos Elétricos Latino-Americano reuniu expositores, fornecedores,
investidores, usuários e entusiastas. A ideia foi oferecer conteúdo e
conhecimento do lado da tecnologia, mercado e sociedade, mostrando o que
significa a adoção desta tecnologia e cultura para o país.
“Em geral podemos falar que o
evento foi um sucesso, com expositores felizes, militantes conscientes e congressistas
muito satisfeitos com o que foi apresentado”, revelou Friedel Nimax, gerente da
feira Veículos Elétricos Latino-Americano.
Sobre a feira, o tema de
transporte público elétrico chamou a atenção de Bernardo Ferreira: “Quando
olhamos nas ruas e vemos a fumaça preta que sai desses veículos, e como
poluímos, assusta. Se resolver isso vai ser algo muito legal para a sociedade”.
Entre os principais
expositores, a Toyota apresentou uma novidade mundial: o modelo hibrido Flex,
um carro que consegue andar à combustão, álcool ou eletrificado. A Volvo trouxe
a versão híbrida do XC70, modelo mais vendido no mundo, segundo afirmação do
gerente da feira, que também contou com apresentações de grandes recargadoras
industriais e demais soluções de recarga, que respondem pelos componentes
instalados nas rodovias.
“Sabemos de negociação que
foram feitas, principalmente sobre compra de ônibus. Conseguimos reunir as
pessoas e montadoras certas, desde agentes no setor político quanto ao próprio
consumidor”, contou Friedel.
No congresso C-Move, além do
estudo da Mc Kinsey, o destaque ficou para participação do secretário municipal
de mobilidade são Paulo, João de Xavier Neto, que falou sobre a importância da
eletrificação dos veículos dentro da pauta municipal, que hoje tem a realidade
perpassada por altos investimentos, desde o usuário final ao inicial.
Para Friedel Nimax, com o
preço das baterias caindo, a sensação que fica é de que os ônibus elétricos
irão tomar frente da eletromobilidade, tornando-se uma opção mais viável devido
ao seu tamanho, que admite espaço para uma bateria maior e consequentemente uma
maior independência para percorrer maiores distâncias.
Ele lembra o exemplo de São
Paulo, onde há uma política para que os usuários de carros elétricos não paguem
o IPVA, só que até agora esse valor não está sendo ressarcido devido a
problemas burocráticos da medida. “A política é você paga e depois pega de
volta, só que o processo para esse retorno ainda não foi alinhado. Temos
aqui a questão da receita federal. É um subsídio bem pequeno, mas importante”,
ressaltou o gerente. (eletronenergy)
Nenhum comentário:
Postar um comentário