sexta-feira, 28 de julho de 2023

Vulnerabilidades do setor elétrico brasileiro frente à crise global

Vulnerabilidades do setor elétrico brasileiro frente à crise climática global e propostas de adaptação.
O Brasil ainda não tem uma política concreta para enfrentar os impactos da mudança climática sobre seu sistema elétrico. Essa informação consta no estudo Vulnerabilidades do setor elétrico brasileiro frente à crise climática global e propostas de adaptação. Segundo o material, lançado pela Coalizão Energia Limpa, ao não considerar adequadamente as alterações no clima, o planejamento elétrico nacional está contando com um volume de chuvas representado pelo histórico de precipitação que pode não ocorrer, obrigando a tomada de medidas emergenciais que encarecem e poluem a matriz energética, como verificado na crise hídrica de 2021.

O estudo, que consiste em uma revisão dos principais achados científicos recentes, foi liderado pelos pesquisadores José Wanderley Marangon Lima, professor titular voluntário da UNIFEI (Universidade Federal de Itajubá), consultor da MC&E e Secretário de P&D do INEL; José Antonio Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Modelagem, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden); e Lincoln Muniz Alves, pesquisador do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e Autor Líder do Sexto Relatório de Avaliação do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima), a pedido do ClimaInfo.

As mudanças climáticas vão impactar cada vez mais o sistema brasileiro de energia, tornando o abastecimento frágil. Isso significa que precisamos investir em resiliência, adaptação e diversificação. Contudo, isso deve ser feito sem novos investimentos em fósseis e com resguardo dos direitos humanos e dos povos tradicionais.

É urgente e necessária a construção de um novo modelo para o setor elétrico, ancorado em novos paradigmas que atendam a critérios de justiça social e sustentabilidade.

A melhor opção para o Brasil é um sistema hidro-solar-eólico

O Brasil pode exercer um papel estratégico na geopolítica global, sendo pioneiro na transição energética viabilizada a partir da construção de um sistema hidro-solar-eólico. Isto permitiria a redução dos custos da energia elétrica e uma maior competitividade global dos produtos brasileiros, o que, por sua vez, contribuiria para a retomada da economia e a redução das desigualdades sociais que assolam o país.

Crise hídrica – Crise energética no Brasil

O Brasil é um dos grandes produtores mundiais de energia hidrelétrica, respondendo por 10% da produção mundial.

60%

(quase ) da energia produzida no Brasil é hidroelétrica, ou seja, renovável!

A produção de energia elétrica no Brasil é muito dependente das variações climáticas, pois é baseada, em sua maioria, em usinas hidrelétricas.

Os regimes de chuvas, cada vez mais alterados devido às mudanças climáticas, causam grave ameaça à geração de energia elétrica do país.

O Brasil sofreu suas piores secas na última década e, em 2021, a pior crise hídrica dos últimos 90 anos.

Isso causa redução da disponibilidade hídrica em importantes bacias hidrográficas. Essas bacias são uma das principais responsáveis por garantir o abastecimento do sistema elétrico brasileiro.

A seca de 2014/2015, na região Sudeste, afetou fortemente várias bacias hidrográficas. A Usina Hidrelétrica de Três Marias, em Minas Gerais, paralisou quatro de suas seis turbinas. O volume útil de água do reservatório da usina chegou a 4,1% de sua capacidade máxima.

Não estamos lidando com esse problema

No âmbito das políticas públicas, não existem medidas concretas suficientes para isso. Se as alterações do clima não forem consideradas adequadamente, todo o planejamento de geração de energia torna-se vulnerável e comprometido. Não é mais aconselhável trabalhar com o histórico dos regimes de chuvas para gerir as hidrelétricas, pois isso significa esperar um volume de chuva médio que pode não ocorrer devido às mudanças climáticas.

Investir nos combustíveis fósseis não é a solução

O sistema elétrico precisará ser mais resiliente ao clima sem ficar mais sujo, como aconteceu no passado recente, com a contratação de termelétricas fósseis, principalmente movidas a gás fóssil. A diminuição máxima possível das emissões deve ser uma diretriz norteadora de todos os segmentos da economia.

Os Direitos Humanos e o Direito ao território dos Povos Indígenas, Quilombolas e das Comunidades devem ser sempre garantidos.

É fundamental que o Estado brasileiro planeje e oriente a expansão das energias renováveis sem que, no entanto, repita-se o modelo historicamente adotado para o setor, pelo qual os Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais são invariavelmente violados na garantia de seu direito territorial. O processo de aprovação e licenciamento deve assegurar a aplicação de salvaguardas que garantam os direitos territoriais e a consulta livre prévia e informada aos Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais.

Ou seja, a conta não fecha.

Gerar energia por meio de fontes fósseis = conta de luz cada vez mais cara + agravamento da crise climática global.

Não diversificar as fontes de energia elétrica + mudanças climáticas = risco de desabastecimento de energia elétrica.

Desconsiderar as mudanças climáticas na geração de energia + priorizar combustíveis fósseis = agir na contramão de todas as recomendações científicas

Financiar termelétricas + mudanças climáticas = contribuir para o aumento da temperatura do planeta acima de 1,5°C.

É preciso diversificar a matriz elétrica Brasileira 

Ao diversificar a nossa matriz elétrica, podemos construir resiliência para lidar com as mudanças climáticas.

Sugerimos três passos para alcançar este objetivo:

• 1. Mapeamento de vulnerabilidades.

• 2. Traçar um plano de resiliência e adaptação para o setor.

• 3. Construir uma maior reserva de potência no sistema interligado e um maior armazenamento de energia.

É possível agir agora!

Processos decisórios e melhores práticas:

1. A diminuição das precipitações – esperada no Nordeste e no Norte do Brasil – não recomenda a implantação de novas centrais hidrelétricas, principalmente se forem usinas a fio d´água. É o caso, por exemplo, do complexo de usinas no Rio Tapajós, previsto para depois de 2030. Ele precisa ser reavaliado à luz das projeções climáticas.

2. O incremento nos ventos e na radiação solar projetados para o Nordeste brasileiro sugere que a região deverá ser uma grande exportadora de energia renovável.

3. Sistemas distribuídos tendem a ser mais resilientes a eventos extremos climáticos. Entre as soluções locais, neste sentido, está a instalação de baterias com geração fotovoltaica. Ela pode minimizar os efeitos adversos do clima.

4. Com a diversificação da matriz, especialmente a partir de fontes renováveis (como a solar e a eólica), bem como por meio do desenvolvimento de tecnologias – armazenamento (baterias), hidrogênio verde e usinas hidrelétricas reversíveis – para lidar com situações de estresse climático, o acréscimo de novas termelétricas fósseis à matriz deve se dar somente em caráter emergencial e temporário.

5. Elaboração de um plano de resiliência do Sistema Integrado Nacional frente às mudanças climáticas nos segmentos de geração, transmissão e distribuição.

6. Incentivo para pesquisas em tecnologia de armazenamento de energia. (climainfo.org)

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