O estudo, que consiste em uma
revisão dos principais achados científicos recentes, foi liderado pelos
pesquisadores José Wanderley Marangon Lima, professor titular voluntário da
UNIFEI (Universidade Federal de Itajubá), consultor da MC&E e Secretário de
P&D do INEL; José Antonio Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e
Modelagem, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais
(Cemaden); e Lincoln Muniz Alves, pesquisador do INPE (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais) e Autor Líder do Sexto Relatório de Avaliação do IPCC
(Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima), a pedido do ClimaInfo.
As mudanças climáticas vão
impactar cada vez mais o sistema brasileiro de energia, tornando o
abastecimento frágil. Isso significa que precisamos investir em resiliência,
adaptação e diversificação. Contudo, isso deve ser feito sem novos
investimentos em fósseis e com resguardo dos direitos humanos e dos povos
tradicionais.
É urgente e necessária a
construção de um novo modelo para o setor elétrico, ancorado em novos
paradigmas que atendam a critérios de justiça social e sustentabilidade.
A melhor opção para o Brasil
é um sistema hidro-solar-eólico
O Brasil pode exercer um
papel estratégico na geopolítica global, sendo pioneiro na transição energética
viabilizada a partir da construção de um sistema hidro-solar-eólico. Isto
permitiria a redução dos custos da energia elétrica e uma maior competitividade
global dos produtos brasileiros, o que, por sua vez, contribuiria para a
retomada da economia e a redução das desigualdades sociais que assolam o país.
Crise hídrica – Crise
energética no Brasil
O Brasil é um dos grandes produtores mundiais de energia hidrelétrica, respondendo por 10% da produção mundial.
60%
(quase ⅔) da energia produzida no Brasil é hidroelétrica, ou
seja, renovável!
A produção de energia
elétrica no Brasil é muito dependente das variações climáticas, pois é baseada,
em sua maioria, em usinas hidrelétricas.
Os regimes de chuvas, cada
vez mais alterados devido às mudanças climáticas, causam grave ameaça à geração
de energia elétrica do país.
O Brasil sofreu suas piores
secas na última década e, em 2021, a pior crise hídrica dos últimos 90 anos.
Isso causa redução da
disponibilidade hídrica em importantes bacias hidrográficas. Essas bacias são
uma das principais responsáveis por garantir o abastecimento do sistema
elétrico brasileiro.
A seca de 2014/2015, na
região Sudeste, afetou fortemente várias bacias hidrográficas. A Usina
Hidrelétrica de Três Marias, em Minas Gerais, paralisou quatro de suas seis
turbinas. O volume útil de água do reservatório da usina chegou a 4,1% de sua
capacidade máxima.
Não estamos lidando com esse
problema
No âmbito das políticas públicas, não existem medidas concretas suficientes para isso. Se as alterações do clima não forem consideradas adequadamente, todo o planejamento de geração de energia torna-se vulnerável e comprometido. Não é mais aconselhável trabalhar com o histórico dos regimes de chuvas para gerir as hidrelétricas, pois isso significa esperar um volume de chuva médio que pode não ocorrer devido às mudanças climáticas.
Investir nos combustíveis fósseis não é a solução
O sistema elétrico precisará
ser mais resiliente ao clima sem ficar mais sujo, como aconteceu no passado
recente, com a contratação de termelétricas fósseis, principalmente movidas a
gás fóssil. A diminuição máxima possível das emissões deve ser uma diretriz
norteadora de todos os segmentos da economia.
Os Direitos Humanos e o
Direito ao território dos Povos Indígenas, Quilombolas e das Comunidades devem
ser sempre garantidos.
É fundamental que o Estado
brasileiro planeje e oriente a expansão das energias renováveis sem que, no
entanto, repita-se o modelo historicamente adotado para o setor, pelo qual os
Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais são invariavelmente violados na
garantia de seu direito territorial. O processo de aprovação e licenciamento
deve assegurar a aplicação de salvaguardas que garantam os direitos
territoriais e a consulta livre prévia e informada aos Povos Indígenas e
Comunidades Tradicionais.
Ou seja, a conta não fecha.
Gerar energia por meio de
fontes fósseis = conta de luz cada vez mais cara + agravamento da crise
climática global.
Não diversificar as fontes de
energia elétrica + mudanças climáticas = risco de desabastecimento de energia
elétrica.
Desconsiderar as mudanças
climáticas na geração de energia + priorizar combustíveis fósseis = agir na contramão
de todas as recomendações científicas
Financiar termelétricas +
mudanças climáticas = contribuir para o aumento da temperatura do planeta acima
de 1,5°C.
É preciso diversificar a matriz elétrica Brasileira
Ao diversificar a nossa matriz elétrica, podemos construir resiliência para lidar com as mudanças climáticas.
Sugerimos três passos para
alcançar este objetivo:
• 1. Mapeamento de
vulnerabilidades.
• 2. Traçar um plano de
resiliência e adaptação para o setor.
• 3. Construir uma maior
reserva de potência no sistema interligado e um maior armazenamento de energia.
É possível agir agora!
Processos decisórios e melhores práticas:
1. A diminuição das
precipitações – esperada no Nordeste e no Norte do Brasil – não recomenda a
implantação de novas centrais hidrelétricas, principalmente se forem usinas a
fio d´água. É o caso, por exemplo, do complexo de usinas no Rio Tapajós,
previsto para depois de 2030. Ele precisa ser reavaliado à luz das projeções
climáticas.
2. O incremento nos ventos e
na radiação solar projetados para o Nordeste brasileiro sugere que a região
deverá ser uma grande exportadora de energia renovável.
3. Sistemas distribuídos
tendem a ser mais resilientes a eventos extremos climáticos. Entre as soluções
locais, neste sentido, está a instalação de baterias com geração fotovoltaica.
Ela pode minimizar os efeitos adversos do clima.
4. Com a diversificação da
matriz, especialmente a partir de fontes renováveis (como a solar e a eólica),
bem como por meio do desenvolvimento de tecnologias – armazenamento (baterias),
hidrogênio verde e usinas hidrelétricas reversíveis – para lidar com situações
de estresse climático, o acréscimo de novas termelétricas fósseis à matriz deve
se dar somente em caráter emergencial e temporário.
5. Elaboração de um plano de
resiliência do Sistema Integrado Nacional frente às mudanças climáticas nos
segmentos de geração, transmissão e distribuição.
6. Incentivo para pesquisas
em tecnologia de armazenamento de energia. (climainfo.org)
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